Muitos anos atrás, um monsenhor que estava visitando as missões do Oceano Pacífico, desembarcou numa pequena ilha semideserta. Foi acolhido com entusiasmo por três velhinhos que ele considerou bem esquisitos por parecerem quase selvagens. O prelado começou a interrogá-los:
- Meus filhos, como vocês vivem aqui? Como ocupam o seu tempo?
- Eu estou sempre muito atarefado – respondeu o primeiro – todos os dias, vou pescar para alimentar os meus irmãos.
- Eu também vivo muito ocupado – respondeu o segundo – caço animais e curto as peles para vestir e calçar os meus irmãos.
- E eu – respondeu o terceiro – construí uma cabana e zelo para que fique em ordem, nunca me sobra tempo.
- Mas quando é que vocês rezam? – perguntou o monsenhor.
- Rezar? – responderam juntos os três velhinhos – Nós não sabemos como.
Então, o prelado começou a ensinar-lhes, com muita paciência, o Pai-Nosso. Depois foi embora, continuando a sua viagem. Dois dias depois, um fenômeno impressionante foi visto do navio onde o monsenhor estava. Uma luz fulgurante avançava sobre o mar. Quando esteve perto da embarcação, todos puderam ver os três velhinhos caminhando sobre as águas. Eles subiram no navio e com muita humildade pediram ao prelado:
- O senhor nos perdoe, mas somos homens ignorantes e esquecemos a sua oração: poderia voltar a repeti-la para nós, por favor?
Como sempre não precisamos acreditar nos exemplos que os antigos contavam. No entanto, a mensagem desta pequena história não quer desmerecer a oração do Pai-Nosso, a única oração que o Senhor Jesus ensinou a pedido dos seus discípulos. Ao contrário, quer nos ajudar a entender o que deve acompanhar a verdadeira oração.
Mais do que de palavras repetidas, a oração é feita de atitudes e de gestos concretos que ela própria motiva e ilumina. É fácil entender. Não adiantaria chamar Deus de Pai, acreditar e confiar pessoalmente nele, para, depois, nos esquecermos do compromisso de exercer a mesma paternidade bondosa com os nossos irmãos, tornando-nos, assim, cada vez mais semelhantes a Ele no amor e na generosidade. Teria, também, pouco sentido pedir a Deus o perdão de nossas culpas para depois não saber perdoar a quem nos tem ofendido. É verdade que os três velhinhos da história não conheciam as palavras do Pai-Nosso, mas o zelo em cuidar uns dos outros fazia deles uma verdadeira família. Cada um era “pai”, “mãe” e “irmão”, isto é, zeloso cuidador do outro.
Nós conhecemos a Oração do Senhor muito bem ao ponto de rezá-la, muitas vezes, sem dar nenhuma atenção às palavras e ao sentido delas; rezamos às pressas como uma qualquer peça decorada. O Pai-Nosso, porém, mereceu um capítulo próprio no Catecismo da Igreja Católica. Significa que é o modelo de toda oração, não só por ser palavra de Jesus, mas porque recolhe as afirmações e os pedidos essenciais da nossa fé. Por exemplo, no Pai-Nosso tudo é no plural. É a oração do Povo de Deus que pede o que é necessário para o bem, a paz e a alegria de todos. No Pai-Nosso não pedimos pela saúde de um ou de outro, mas sim para que venha a nós o Reino do Senhor. Não pedimos um carro ou uma casa para cada um, pedimos somente o pão de cada dia para todos, para que ninguém seja obrigado a se humilhar por causa da fome. Os bens materiais são também fruto do nosso trabalho, mas o Reino de Deus e a sua justiça são dons que pedimos diretamente ao Pai, porque acreditamos que venham dele e valham mais do que todo o resto. Jesus prometeu que, se buscarmos o Reino como bem supremo, as demais coisas nos serão dadas por acréscimo (cf. Mt 6,33).
Devemos bater à porta do coração de Deus e insistir não para vencê-lo pelo cansaço e nem pela impertinência do pedinte. Insistimos porque buscamos os bens mais preciosos pelos quais somos nós a não poder cansar. A desistência da procura revelaria que, no fundo, aqueles bens não eram tão importantes para nós. Agarramo-nos a bens passageiros, nenhum dos quais, porém, nos satisfará plenamente, porque nada pode substituir o dom do Espírito Santo que o Pai quer doar a quem o pedir.
Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá (AP).
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