Em cada palavra devemos ter um provedor que se chama prudência, cautela e maturidade. As palavras que Sua Santidade o Papa Francisco deixou como legado ao Brasil e ao mundo, na 28ª Jornada Mundial da Juventude, certamente, vai perdurar no coração de quem as levou a sério. O Papa em cada discurso emocionava a todos. Sua metodologia, solenizada numa cultura da simplicidade, colocava a palavra certa na hora certa para o publico certo. Seus gestos, como que grifando o que queria plantar / semear no coração, encantavam, além do que transmitiam. Era Deus falando pela boca do sucessor de Pedro (Mt 16, 18). Por isso, sempre digo: “Metade da palavra é sua a outra metade é de quem a escuta”. Mesmo fora o escrito, em suas passagens pelo meio do povo escreveu com seu olhar, gestos que nos fazem recordar as palavras de Jesus: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11, 28). Sua Santidade passou para todos nós a cultura da acolhida. Já se fala muito por aí: “Quem acolhe também evangeliza”. Acredito que o contato coração a coração trás o que o Evangelho tem de mais saudável, Jesus o que acolheu sem discriminar ninguém.
Quem se habilita a manobrar ou acionar a palavra pode crer que está usufruindo de uma fonte inesgotável de sentimentos que curam o âmago de quem as vivencia nas estradas da vida. Palavra é jardim cortado por numerosas ruas entrelaçadas e intrincadas. Podemos estar seguros e vislumbrar os mais altos índices de segurança, em nós, que quem pronunciar uma palavra deve saber que sua criação não é mais sua, mas de quem a ouve. O mais difícil não é exprimir ou balbuciar, mas dizer tudo, no pouco que se diz. O Romano Pontífice nos assegurou isso. Assevera-nos Clélia Romano: “Nossa palavra estala como gravetos pisados na floresta, crepitam como lenha queimando, lacrimejando meus olhos chorando”.
No sombreado, muitas vezes grifada de negrito, cada palavra se descortina, igual tablado ou estrado destinado às representações, uma peça para o palco da vida. Na subjetividade da exposição, buscamos a objetividade para refletirmos, bendizermos e louvarmos o que o coração sente ou poderá sentir. No serpenteado de seus ritmos, nossa imaginação vai além mar, passando o cabo da boa esperança. Sentimo-nos em mares nunca antes navegados, onde suas ondas nos convidam a seguir em frente. Se o mar é “infinito” o mesmo acontece com a palavra que quer guarnecer a consciência com os mais vivos valores da inteligência de seu autor. O Papa Francisco nos ajudou a atravessar os mares da vida. Alegra-nos Diana Ackerman: “As palavras são pequenas formas no maravilhoso caos que é o mundo. Formas que focalizam e prendem idéias, que afiam os pensamentos, que conseguem pintar aquarelas de percepção”.
A palavra é labirinto onde edificamos nossas exposições, discursos, textos, poemas, poesias e outros. É uma terapia, um acréscimo aos nossos conhecimentos, uma fonte copiosíssima onde restabelecemos a “saúde” de nosso bem estar e debelar o que nos amarga. Ela oferece-nos a oportunidade de nos mostrar, não só o que somos, mas também o que podemos vir a ser. Quando falo devo mergulhar no oceano do pensar, revitalizar com prudência tudo o que está no meu inconsciente que grita sem cessar. Devo me corrigir, não só para me justificar, mas para ver onde posso acertar mais. Mário de Andrade testifica: “Escrevo sem pensar, tudo o que o meu inconsciente grita. Penso depois, não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi”. Sua Santidade, o Papa, passou para nós o mapa da cada palavra.
Palavra é bússola que norteia os horizontes da vida. Com ela aproximamos as pessoas, ou distanciamos quem amamos. Por meio desta força poderosa unimos corações. Com ela erigimos ódios ou edificamos o amor. Esta unidade pertencente a uma das grandes classes gramaticais é como faca de dois gumes. Devemos gerenciar a palavra e fazer dela nossa força motriz, pois quem é usuário desta faculdade de expressar idéias por meio de sons articulados, deve possuir um provedor que se chama prudência, cautela, maturidade, nas ondulações da vida. Nunca se esqueça que metade da palavra é sua a outra metade é de quem a escuta. Pensemos nisso.
Cônego Manuel Quitério de Azevedo
Arquidiocese de Diamantina (MG).
Nenhum comentário:
Postar um comentário