A Palavra de Deus

A Palavra de Deus

DOPAS

DOAÇÃO, ORAÇÃO, POBREZA, ALEGRIA E SIMPLICIDADE

8 de maio de 2014

A DOUTORA E SUAS MÃES

Um livro de mil páginas não seria suficiente para falar de Zilda Arns. Também não o seria para falar de seu irmão mais velho Dom Paulo Arns. A Igreja e o Brasil lhes devem muito. Em tempos difíceis eles assumiram a catequese de atitudes. Repercutiram o evangelho, porque é disso que trata o "catechein". Creram e agiram. 

Dom Paulo ainda está conosco. Neste começo de ano o terremoto do Haiti levou a Doutora Zilda. Morreu entre os mais pobres da América Latina. Se lhe fosse oferecida uma escolha de onde e como morrer, imagino que é escolha que teria feito: morrer entre os pobres e ensinando a sair da pobreza. Era mulher de orar, de falar e de fazer. 

Todos perdem com sua partida. Milhões de mães do Brasil e milhares de outras mães do mundo perdem a cúmplice, que, a conselho e incentivo do irmão cardeal e com o apoio de irmãos católicos e de outras igrejas criou e desenvolveu a Pastoral da Criança. Presidentes e governos estaduais e municipais do Brasil perdem uma aliada sorridente, exigente e competente. Extensos programas de radio e de televisão, revistas e jornais já falaram dela e certamente ainda falarão. 

Quem pensava que a era das Terezas de Calcutá e de Irmã Dulce terminara, não sabia da Doutora Zilda e não sabe de centenas de outras que vivem pelos pobres, agem para libertar e para promover os outros. A fé, com elas, se traduz em gestos concretos. Doutora Zilda mirou as mães e suas crianças. 

Felizmente, ouço dizer, a doutora criou deitou raízes, multiplicou-se por mais de 160 mil corações solidários que entenderam sua mensagem. Com pouco se faz muito, desde que haja união, espírito e equipe e senso de comunidade. Outra vez a história dos cinco pães e dos dois peixes deu certo. Começou e os governos e grupos de serviço perceberam que, nas mãos dessas mulheres cúmplices em favor da vida, as coisas aconteciam e custavam bem menos do que a burocracia do poder. Era o poder das mães em ação. 

Nós católicos quando vemos um herói da solidariedade e da justiça o proclamamos pessoa santificada, eleita, escolhida. Dizemos que viveram em Cristo por Cristo e com Cristo, nos outros, com os outros e pelos outros. Os santos erram, mas se corrigem, perdoam, pedem perdão e apesar de seus pecados e limites, ajudam como podem e como sabem. Milhares de cristãos fazem pelos sofredores coisas que o mundo só fica sabendo quando morrem. Felizmente, de Dra. Zilda já sabíamos pelos resultados da sua Pastoral da Criança. Fez, fazia e fará falta! 
Pe Zezinho scj

A ESPIRITUALIDADE MARIANA DE JOÃO PAULO II


Falar da espiritualidade mariana de São João Paulo II torna-se ainda mais significativo , após a canonização dele. Estamos falando da devoção a Virgem Maria, que levou Karol Wojtyla a tamanha santidade que os fiéis o queriam proclamado santo logo depois da sua morte: “santo súbito”.

Ainda seminarista, um grande tratado de espiritualidade mariana o ajudou a tirar as dúvidas que tinha em relação a sua devoção a Nossa Senhora e a centralidade de Jesus Cristo na vida e na espiritualidade cristã. A espiritualidade mariana do grande João Paulo II o levou a uma vida inteiramente dedicada a Deus, principalmente nos seus mais de 25 anos de pontificado. Com João Paulo II, este santo dos nossos dias, podemos aprender a espiritualidade que o fez de um dos Papas mais extraordinários de todos os tempos e que o elevou à glória dos altares.


A obra que marcou profundamente a vida e, consequentemente, a espiritualidade de Wojtyla foi o “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, de autoria de São Luís Maria Grignion de Montfort. O Papa João Paulo II disse, na Carta às Famílias Monfortinas, que o Tratado é um “texto clássico da espiritualidade mariana”1, que teve singular importância em seu pensamento e em sua vida. Segundo o Pontífice, o Tratado é uma “obra de eficiência extraordinária para a difusão da ‘verdadeira devoção’ à Virgem Santíssima”2. João Paulo II experimentou e testemunhou essa eficácia do Tratado: “Eu próprio, nos anos da minha juventude, tirei grandes benefícios da leitura desse livro, no qual ‘encontrei a resposta às minhas perplexidades’ devidas ao receio que o culto a Maria, ‘dilatando-se excessivamente, acabasse por comprometer a supremacia do culto devido a Cristo’3. Sob a orientação sábia de São Luís Maria compreendi que, quando se vive o mistério de Maria em Cristo, esse risco não subsiste. O pensamento mariológico do Santo, de fato, ‘está radicado no Mistério trinitário e na verdade da Encarnação do Verbo de Deus’”4.

A perfeição, ensina São Luís Maria, consiste em ser conformes, unidos e consagrados a Jesus Cristo. Por isso, a mais perfeita de todas as devoções é, sem dúvida, a que nos conforma, une e consagra mais perfeitamente a Ele. Por conseguinte, foi Maria a criatura que mais se conformou ao seu Filho, por isso, “entre todas as devoções, a que consagra e conforma mais uma alma a nosso Senhor é a devoção a Maria, Sua Mãe santa, e que quanto mais uma alma estiver consagrada a Maria, tanto mais estará consagrada a Jesus Cristo”5.

Dirigindo-se a Jesus Cristo, São Luís Maria exprime como é maravilhosa a união entre o Filho de Deus e a Sua Mãe Santíssima: “Ela é de tal forma transformada em Ti pela graça, que não vive mais, não existe mais: és unicamente Tu, meu Jesus, que vives e reinas nela… Ah! se conhecêssemos a glória e o amor que tu recebes nesta maravilhosa criatura… Ela está tão intimamente unida… De fato, ela ama-Te mais ardentemente e glorifica-Te mais perfeitamente do que todas as outras criaturas juntas”6.

Em Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus, somos realmente filhos do Pai e, ao mesmo tempo, filhos da Virgem Maria e da Igreja. Com a Encarnação do Verbo eterno de Deus, de certa forma é toda a humanidade que renasce. À Mãe de Jesus podem ser aplicadas, de maneira mais verdadeira que São Paulo as aplica a si mesmo estas palavras: “Meus filhos, por quem sinto outra vez dores de parto, até que Cristo se forme entre vós”7. Nossa Senhora dá à luz, todos os dias, os filhos de Deus, enquanto não estiver formado neles Jesus Cristo, seu Filho, na plenitude da sua idade8. Essa doutrina encontra a sua expressão mais bela na oração: “Oh! Espírito Santo, concede-me uma grande devoção e uma grande inclinação para Maria, um apoio sólido sobre o seu seio materno e um recurso assíduo à sua misericórdia, para que, nela, tu possas formar Jesus dentro de mim”9.

Na espiritualidade monfortina, o dinamismo da caridade é expresso especialmente pelo símbolo da escravidão do amor ou consagração total a Jesus, a exemplo e com a ajuda materna de Maria. “Trata-se da comunhão plena na kenosis (despojamento) de Cristo; comunhão vivida com Maria, intimamente presente nos mistérios da vida do Filho”10. Segundo São Luís Maria, “não há nada entre os cristãos que faça pertencer de maneira mais absoluta a Jesus Cristo e à Sua Santa Mãe como a escravidão da vontade, segundo o exemplo do próprio Jesus Cristo, que assumiu as condição de escravo por amor a nós formam servi accipiens11 e da Santa Virgem, que se considerou serva e escrava do Senhor12. O apóstolo honra-se do título de servus Christi. Várias vezes, na Sagrada Escritura, os cristãos são chamados servi Christi”13. Jesus Cristo, o Filho de Deus, veio ao mundo em obediência ao Pai na Encarnação14, humilhou-se fazendo-se obediente até a morte de Cruz15. Em comunhão com o Filho, “Maria correspondeu à vontade de Deus com o dom total de si, corpo e alma, para sempre, desde a Anunciação até à cruz, e da cruz até à Assunção”16.

Esta consagração ou escravidão de amor a Virgem Maria deve ser interpretada à luz do admirável intercâmbio entre Deus e a humanidade no mistério do Verbo encarnado. Este é um verdadeiro intercâmbio de amor entre Deus e os homens, na reciprocidade da doação total de si. O espírito desta devoção é uma resposta ao amor de Deus, que consiste em “tornar a alma interiormente dependente e escrava da Santíssima Virgem e de Jesus por meio dela”17. Ao contrário do que podemos pensar, este “vínculo de caridade”, esta “escravidão de amor” torna-nos plenamente livres, com a verdadeira liberdade dos filhos de Deus18. Trata-se de nos entregar totalmente a Jesus Cristo, respondendo ao Amor com que Ele nos amou por primeiro. Qualquer pessoa que viver esta consagração, esta escravidão de amor, pode dizer como São Paulo: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”19.

Assim como São João Paulo II, façamos do Tratado o nosso livro de cabeceira: “Li e reli muitas vezes, e com grande proveito espiritual, este precioso livrinho ascético de capa azul”20.

Esse precioso clássico de espiritualidade mariana ajudou o Santo Padre a entender que “a Virgem pertence ao plano da salvação por vontade do Pai, como Mãe do Verbo encarnado, por Ela concebido por obra do Espírito Santo. Toda a intervenção de Maria na obra da regeneração dos fiéis não se põe em competição com Cristo, mas d’Ele deriva e está ao seu serviço. A ação que Maria realiza no plano da salvação é sempre cristocêntrica, isto é, faz diretamente referência a uma mediação que acontece em Cristo”21. A partir do entendimento destas verdades de fé pelo Tratado, João Paulo II abraçou a escravidão de amor a Santíssima Virgem Maria: “Compreendi, então, que não podia excluir da minha vida a Mãe do Senhor sem desatender a vontade de Deus-Trindade, que quis ‘iniciar e realizar’ os grandes mistérios da história da salvação com a colaboração responsável e fiel da humilde Serva de Nazaré”22. Como João Paulo II, este homem extraordinário, abracemos também a escravidão de amor a Virgem Maria, para que como ele sejamos fiéis a Jesus Cristo.
Natalino Ueda - Missionário da comunidade Canção Nova

O SEGREDO PARA TER UM CASAMENTO FELIZ

Pequenos gestos que reforçam os laços da vida conjugal feliz

Não é difícil de encontrar casais que relatam suas dificuldades no casamento, ainda que estejam casados há poucos meses. A impressão que a maioria desses casais têm é de que, enquanto estavam namorando, tudo era bem diferente. Eles comentam que, antes de oficializar o casamento, viviam melhor.

Se formos considerar a longevidade da proposta conjugal, certamente alguns poucos anos corresponderiam a um período de lua de mel. É o começo de uma vida nova que se desdobra.


O segredo para ter um casamento feliz é os casais aprenderem a deixar de conjugar os verbos na primeira pessoa – eu vou, eu quero, eu faço… – para conjugá-los na primeira pessoa do plural – nós vamos, nós queremos, nós faremos…

Muitas são as queixas de ambos. Parece que o romantismo vivido por eles no namoro e nas primeiras semanas de casados foi abandonado.

Se ficarem presos às coisas que deixamos para trás ou às situações que têm sido motivos de brigas, em muito pouco tempo os casais começarão a pensar em se separar, antes mesmo de fazerem a experiência da verdadeira vida conjugal, além da cama.

Diante das primeiras crises, eles reclamam que o cônjuge já não se preocupa em ser a mesma pessoa atenciosa com quem, um dia, se casaram. Com isso, muitas farpas são trocadas. Na tentativa de fazer valer sua opinião, o casal se prende ao objetivo de vencer uma batalha, na qual as palavras são as armas.

Obcecados em vencer a briga, eles se esquecem de que o objetivo da vida a dois está em eliminar os motivos de desavenças e não criar barreiras contra alguém que está no mesmo time.

Numa guerra, ainda que o soldado não seja morto, certamente alguns arranhões ele trará consigo. Tal situação não seria diferente para aqueles que travam uma guerra de palavras. Ainda que haja um vencedor, ambos perdem por causa dos resquícios das ofensas lançadas contra o outro.

Poderíamos fazer uma lista com muitas dicas usadas pelas revistas, mas nenhum conselho poderá ser útil se não houver a atitude de resgatar o primeiro objetivo que tiveram ao optar pelo casamento: ser feliz junto com a pessoa por quem se apaixonou. No entanto, nada será diferente se, nos momentos de crise, a pessoa começar a olhar apenas para os sinais que a fazem infeliz no casamento, pois, em pouco tempo, ela cogitará a hipótese de separação.

Em vez disso, será muito mais proveitoso para o casal fazer uma reflexão, em conjunto, sobre a situação, na tentativa de entender aquilo que poderia os tornar mais felizes dentro do novo estado de vida.

Mesmo que as nossas atividades e os nossos trabalhos não permitam que estejamos juntos, podemos fazer outras pequenas coisas que reforçam também os laços da vida de casados.
Dado Moura - Comunidade Canção Nova

A ARIDEZ ESPIRITUAL PODE SER UM TRAMPOLIM PARA A SANTIDADE


Seguir Jesus Cristo não é aventura para os fortes, mas caminhada para aqueles que sabem insistir. Se o próprio Jesus caiu três vezes sob o peso da cruz, como esperar que sejamos tão fortes quanto inabaláveis durante o percurso? Persevera não aquele que nunca cai, mas aquele que, no chão, tem a humildade de estender a mão à misericórdia de Deus e se levantar para retomar a caminhada.

A aridez espiritual e os momentos de crise são inerentes à caminhada espiritual. A questão é o que fazemos com as nossas crises. A aridez pode se tornar um trampolim para a santidade ou um peso que nos afunda na infidelidade, como nos ensina São Francisco de Sales (1567-1622).

Caminhar com Cristo significa nos deixarmos purificar por Ele para nos configurarmos a Ele. Quando Cristo nos purifica, ou seja, quando arranca de nós costumes, sentimentos, valores, concepções e consolos, que outrora nos animavam a caminhar e a viver, a tendência natural é entrarmos na aridez. É um momento de “êxodo”, porque tantas vezes perdemos os confortos do Egito, mas ainda não tomamos posse da Terra Prometida, ou seja, da novidade de uma relação mais íntima, livre e pura com Deus. Esse espaço entre o Egito e a Terra Prometida é o lugar do deserto. Este está presente na história de salvação do povo de Deus desde Abraão, passando por Moisés, pelo próprio Jesus e permanecendo na Igreja por meio dos “padres do deserto” dos primeiros séculos, que são a grande imagem dessa realidade perene na Igreja.

Ao deparar-se com a aridez, é preciso discernir o motivo que nos levou a ela. Trata-se de uma causa de conversão ou uma consequência advinda de erros na caminhada? Se descobrirmos o motivo, respondendo a eles como alguém que renova sua decisão por Cristo, mesmo que os motivos sejam ruins, sempre seremos capazes de colher bons frutos. Diz São Paulo em Fl 3,16: “Contudo, seja qual for o grau a que chegamos, o que importa é prosseguir decididamente.”

MOTIVOS DA ARIDEZ

A primeira causa da aridez espiritual é a ação de Deus na alma, na vida do cristão. Muitas vezes, aquilo que nos animava na fé já não é mais motivo de entusiasmo. Isso é bom, porque nossas motivações precisam amadurecer. Temos de entender que “as obras de Deus ainda não são Deus” (Venerável Cardeal Van Thuan – 1928-2002). Nesse sentido, parece-me que podemos perceber três fases:

No início da caminhada, a pessoa, encantada com a beleza das obras de Deus, sente uma empolgação em viver as coisas d’Ele. Na linguagem de Santa Teresa de Jesus (1515-1582), que é mestra nesse assunto, trata-se dos consolos espirituais. Esses consolos de experiências espirituais, comunitárias e missionárias do início são importantes, mas insuficientes para um verdadeiro conhecimento de Deus. Daí, surge uma primeira purificação dessas realidades.

Depois, a pessoa amadurece e vai descobrindo o sentido do serviço ao Senhor. Surge o entusiasmo de dedicar-se às coisas d’Ele, empenhar-se na missão. Isso é ótimo, é profundamente evangélico; porém, o serviço do Senhor ainda não é Ele. Justamente aqui, surgem os cansaços, os fracassos e as frustrações. A tendência é o desânimo. Esse é o momento da descoberta de Deus, o momento da decisão pelo amor. São João diz: “Aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus” (1Jo 3,7). Não tem jeito, somente quando o amor é puro e gratuito nós O conhecemos. Somente quando o amor a Deus é livre de condicionamentos, de sentimentos, afazeres, pessoas e estruturas, é que realmente é livre e puro.

Os erros na caminhada são os motivos negativos que levam à aridez: cansaço espiritual-psicológico. É diferente esse cansaço daquele que é próprio das atividades mesmas. Esse cansaço é um desgaste, um esgotamento espiritual e psicológico que rouba a alegria de viver a vida, a fé e a vocação.

O cansaço e suas causas:

Ativismo: Assumir tarefas e missões sem respeitar o descanso do corpo e da mente, o respeito pela vida e suas realidades belas como, por exemplo, o tempo para uma amizade, a prática de esporte etc. No ativismo, a pessoa se descentraliza do essencial de sua missão motivado por empolgações imaturas, fuga de si mesmo, agitações interiores, vaidade pelo sucesso, necessidade de domínio, centralização das tarefas ou mesmo por um zelo irreal pela obra de Deus.

Falta de disciplina: Leva-nos a dispensar energia para organizar a vida desorganizada. A disciplina nos encaminha com naturalidade aos compromissos. Surge a frustração em não cumprir os compromissos.

O fracasso no apostolado: Paulo experimentou fracassos, com em Atenas, e soube fazer deles causa de conversão (cf. 1Cor 2, 1-5). Mesmo o Evangelho está cheio de situações de fracasso de Jesus junto com o povo, com os Seus e os discípulos, que custaram entender Sua mensagem. Para os orgulhosos, os fracassos são motivo de desânimo ou de acusações. Para os humildes, os fracassos são pistas para retomar o essencial da missão. Beata Elisabete da Trindade (1880-1906) nos traz a ideia de que o fracasso é tão importante, que é como um mandamento.

Uma espiritualidade insuficiente: A pressa na oração, a pouca qualidade na oferta de si mesmo. O cansaço vem quando se perde a identidade e o sentido! Uma fonte de repouso é a redescoberta do essencial de nossa vocação. A oração nos coloca no coração de Deus, mantendo-nos na identidade e no sentido de nossa caminhada.

O adiamento da conversão: Quando não assumimos a decisão de mudança e vamos adiando a conversão, há uma tremenda luta e perda de energia na sustentação da identidade e de práticas antigas. Às vezes, lutamos com realidades em nós que são desnecessárias e carregamos “não o peso suave e fardo leve de Cristo”, ou seja, “a mansidão e a humildade” que é a Sua Doutrina (cf. Mt 11,29), mas o peso de nossas mentiras, de nossos orgulhos: a angústia de quem não perdoa, o azedume de quem critica, a luta de quem tem um coração duro, a desconfiança de quem não confia, o desespero de quem é orgulhoso. O tempo pede a maturidade de ser feliz na doação de si. Contudo, quando se resiste à felicidade da maturidade, e continua insistindo em receber, logo surge uma vida frustrada, e a caminhada humana/cristã se torna infeliz e pesada.

Não aceitação da própria verdade: A mentira a respeito de nós mesmos nos faz desprender energias com coisas desnecessárias, bem como esforço para manter oculta a verdade. Deus nos ama, não apesar de nossa franqueza, mas porque somos fracos. Procuramos o bem, não por méritos, mas como resposta ao Seu amor e, quando parecemos ricos, saibamos que continuamos pobres, porque só Ele é rico. É preciso reconhecer nossas franquezas com liberdade e louvor (cf. 1Jo 1, 8-9; 1Cor 1, 27; 2Cor, 12,10).

Luta contra Deus e Sua Vontade: ter um coração agradecido, louvor à glória de Deus.

Diante disso tudo, é preciso sempre discernir o motivo da aridez. Para tanto, é importante um diretor espiritual. Discernido, especialmente se os motivos são os erros da caminhada, é preciso aplicar os remédios que vêm de encontro a esses erros. Santo Inácio de Loyola (1491-1556) dizia que “na tribulação não se deve tomar nenhuma decisão”. Isso é importante, porque se trata de um momento frágil que o maligno pode usar para nos confundir. Fundamental é que em toda aridez se mantenha a decisão por Cristo, pois Ele mesmo nos diz: “Buscai e achareis. Batei e vos será aberto.Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A quem bate, abrir-se-á” (Mt 7, 7-8).
André L. Botelho de Andrade
Canção Nova

5 de maio de 2014

PEREGRINAÇÃO NACIONAL DA FAMÍLIA


Com o tema “Família: caminhar com a luz de Cristo e a sabedoria do Evangelho”, acontecerão a 6ª Peregrinação Nacional da Família e o 4º Simpósio, nos dias 24 e 25 de maio, em Aparecida (SP). O evento pretende reunir peregrinos de todo o país com a proposta de refletir sobre a realidade da família brasileira. Em 2013, participaram da peregrinação mais de 150 mil pessoas. A expectativa da organização é superar esse número na edição deste ano.

Para o bispo de Camaçari (BA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB, dom João Carlos Petrini, são esperadas muitas famílias das dioceses e comunidades próximas ao Santuário Nacional. Ele destaca que o Simpósio é uma oportunidade de formação.

“É um momento muito importante, não somente para rezar e apresentar as necessidades das nossas famílias à Virgem Maria, mas também para refletir e aprofundar sobre a nossa caminhada e perceber como a luz de Cristo pode iluminar a nossa realidade cotidiana de vida em família”, ressalta.

Diante dos desafios da vida em família, dom Petrini acredita “ser uma ilusão viver sem Deus”. Para o bispo, questões como a violência representa o distanciamento da família da prática espiritual. “A família cresce e se desenvolve tecnologicamente, mas perde em humanidade. Hoje constatamos muita solidão e tristeza. As famílias devem retornar ao desígnio de Deus e a Ele”, aponta.

Reflexão
Segundo dom Petrini a peregrinação nacional, além de ser espaço de formação, confraternização e aprofundamento das questões da família, possibilita visibilidade das famílias brasileiras que estão comprometidas com os valores humanos e cristãos. “A peregrinação é uma oportunidade de mostrar para a sociedade que tem muita gente que deseja ser família assim como Deus a imaginou, exatamente para ser uma fonte de alegria, de felicidade e realização humana”, explica.

O tema proposto para o evento quer refletir com os participantes sobre a vivência da espiritualidade em família, tendo como referências a luz de Cristo e o Evangelho. “Não podemos viver somente com aquilo que nos oferecem. Precisamos de um ponto de referência maior, para sermos permanentemente alimentados na capacidade de amor, de doação e serviço recíproco no interior da família e na sociedade”, enfatiza dom Petrini.

Entre os conferencistas convidados estão o bispo de Palmas-Francisco Beltrão (PR) e doutor em Ciências Bíblicas, dom José Antônio Peruzzo, que irá tratar da espiritualidade da família, e a poetisa, Adélia Prado, que dará seu testemunho sobre a vida em família.

Caravanas
A Comissão motiva as dioceses para que organizem suas caravanas rumo ao Santuário Nacional que está preparando uma estrutura de qualidade para atender as famílias peregrinas. As atividades do Simpósio serão realizadas no Centro de Eventos Padre Vítor, nas imediações da Basílica.

No domingo, 25, uma missa será celebrada no Santuário, às 8h, com transmissão pela TV Aparecida. Também está prevista a apresentação da orquestra de jovens do Santuário durante o 4º simpósio.

Com informações da CNBB
Da redação do Portal Ecclesia.

É PRECISO PERDER O MEDO DE ERRAR


Quem se reconhece e se aceita, quem é humilde, não tem medo de errar. Por quê? Porque se, depois de ponderar, prudentemente, a sua decisão, ainda cometer um erro, isso não o surpreenderá, pois sabe que é próprio da sua condição limitada. São Francisco de Sales dizia de uma forma muito expressiva: “Por que se surpreender que a miséria seja miserável?”.

Lembro-me ainda daquele dia em que subia a encosta da Perdizes, lá em São Paulo, para dar a minha primeira aula na Faculdade Paulista de Direito, da PUC (Pontifícia Universidade Católica). Ia virando e revirando as matérias, repetindo conceitos e ideias. Estava nervoso; não sabia que impressão causariam as minhas palavras naqueles alunos de rosto desconhecido. E se me fizessem alguma pergunta a qual eu não saberia responder? E se, no meio da exposição, eu esquecesse a sequência de ideias?

Entrei na sala de aula tenso, com um sorriso artificial. Comecei a falar. Estava excessivamente pendente do que dizia, nem olhava para a cara dos alunos. Falei quarenta e cinco minutos seguidos sem interrupção, sem consultar uma nota sequer.

Percebi, porém, um certo distanciamento da “turma”, um certo respeito. Um rapaz, muito comunicativo e inteligente, talvez para superar a distância criada entre o grupo e o professor, aproximou-se e me cumprimentou: “Parabéns, professor. Que memória! Não consultou, em nenhum momento, os seus apontamentos. Foi muito interessante!"
Respirei, mas, desconfiado, quis saber: "Você entendeu o que eu disse?" Admirou-se com a minha pergunta; não a esperava. Sorrindo, encabulado, confessou-me: "Entendi muito pouco, e, pelo que pude observar, a 'turma' entendeu menos ainda".

A lição estava clara: "Dei a aula para mim e não para eles. Dei a aula para demonstrar que estava capacitado, mas não para ensinar”. Faltara descontração, didática, empatia; não fizera nenhuma pausa, nenhuma pergunta. Fora tudo academicamente perfeito, como um belo cadáver. Fora um fracasso.

Lembro-me também que, quando descia aquela encosta, fiz o propósito de tentar ser mais humilde, de preparar um esquema mais simples, de perder o medo de errar, esse medo que me deixara tão tenso e tão cansado; de pensar mais nos meus alunos e menos na imagem que eles pudessem fazer de mim. E se me fizessem uma pergunta a qual não soubesse responder, o que diria? Pois bem, diria a verdade, que precisava estudar a questão com mais calma e, na próxima aula, lhes responderia. Tão simples assim.

Que tranquilidade a minha ao subir a encosta no dia seguinte! E que agradecimento dos alunos ao verem a minha atitude mais solta, mais desinibida, mais simpática! Uma lição que tive de reaprender muitas vezes ao longo da minha vida de professor e de sacerdote: a simplicidade, a transparência e a espontaneidade são o melhor remédio para a tensão e a timidez e o recurso mais eficaz para que as nossas palavras e os nossos desejos de fazer o bem tenham eco. 

Não olhemos as pupilas alheias como se fossem um espelho, no qual se reflete a nossa própria imagem; não estejamos pendentes da resposta que esse espelho possa dar às perguntas que a nossa vaidade formula continuamente: "O que é que você pensa de mim? Gostou da colocação que fiz?" Tudo isso é raquítico, decadente, cheira ao mofo do próprio "eu", imobiliza e retrai, inibe e tranca a espontaneidade. Percamos o medo de errar e erraremos menos.
Canção Nova

2 de maio de 2014

RETRATO DE MÃE


Há uma mulher que tem algo de Deus pela imensidade de seu amor, e muito de anjo pela incansabilidade de seu cuidado; 

uma mulher que, sendo jovem, tem a maturidade de uma anciã e que, na velhice, trabalha com o vigor da juventude;|

uma mulher que, se é ignorante, resolve os problemas da vida com mais acerto que um sábio, e, se é instruída, se adapta à simplicidade das crianças; 

uma mulher que, sendo pobre, se satisfaz com a felicidade daqueles que ama, e que, sendo rica, com prazer daria seu tesouro para não sofrer em seu coração a ferida da ingratidão;|

uma mulher que, sendo vigorosa, estremece ao primeiro choro de um pequenino, e que, sendo fraca, se reveste, às vezes, da bravura de um leão; 

uma mulher que, enquanto vive, não sabemos estimar, porque, junto dela todas as dores se esquecem, mas que, 
depois de morta, daríamos tudo o que somos e temos para vê-la de novo um só instante, para receber dela um só abraço e para ouvir dela uma só palavra. 

O nome dessa mulher, se não quereis que eu inunde de lágrimas este álbum, não me exijais, porque ela já passou em meu caminho. 

Quando crescerem os vossos filhos, lede a eles esta página. E eles, cobrindo de beijos a vossa fronte, vos dirão que um humilde peregrino, em paga da suntuosa hospitalidade recebida, deixou, aqui, para nós, um esboço do retrato da sua mãe. 
Romón Angel Yara

CARDEAL DE SÃO PAULO DESTACA O REAL SENTIDO DO TRABALHO HUMANO

Cardeal de São Paulo destacou que o trabalho não é apenas utilitarista, mas tem uma dimensão mais ampla


Nesta quinta-feira, 1º, a Missa celebrada pelos bispos participantes da 52ª Assembleia Geral da CNBB, em Aparecida (SP), recordou a memória litúrgica de São José Operário, data em que celebra-se o Dia do Trabalho. A Solenidade foi presidida pelo Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer.

Na homilia, Dom Odilo enfatizou que a festa de hoje remete à importância do trabalho para a vida humana. “São José, um trabalhador comum, que buscava seu sustento, mas também dava sua contribuição à comunidade com seus dons. Jesus, que também é conhecido como filho do carpinteiro, trabalhou, valorizou o trabalho (…) Vemos neste fato a valorização e a dignidade do trabalho humano”.

O cardeal explicou que a primeira leitura da Missa, apresenta Deus criador (cf. Gn 1,26–2,3), “poderíamos dizer: Deus trabalhador”, pondo ordem ao caos. “E essa ordem Deus dá a Adão e Eva, para que façam a mesma coisa: ‘dominem a terra’, façam o que Deus fez, pondo ordem ao caos”.

Em cada trecho que narra a criação, Deus vê que aquilo que criou é bom, e quando faz o homem e a mulher, Ele diz que era “muito bom”, e no sétimo dia descansou. Segundo Dom Odilo, isso mostra que o trabalho não é um fim em si mesmo, ele tem um objetivo a realizar, uma obra boa, mas por fim é preciso descansar, ter o prazer do trabalho.

“Estamos habituados a ver o trabalho dentro de um sistema, com uma dimensão utilitarista (…) Se estamos acostumados a ver o trabalho apenas como mercadoria, em função do ganho, do acúmulo, nós estaremos desvirtuando a maneira originária de ver o trabalho”, alertou.

Dom Odilo explicou que o trabalho já existia antes do pecado original, e depois do pecado tornou-se desvirtuado e pesado. “O trabalho é a nossa participação criativa na obra comum, na obra solidária da coisa boa a realizar em comum, neste mundo. Cada um dando de sua parte, o dom que Deus lhe deu. O trabalho é nossa forma de assumir nossas responsabilidades sociais e familiares”.

Por fim, o cardeal recordou a Exortação Apostólica Evangelli Gaudium, na qual Papa Francisco destaca que uma das questões fundamentais do nosso tempo é a inclusão social dos pobres, sobretudo através da dignidade do trabalho, que lhes possa ser oferecido.

“Os pobres estão em aumento por causa das crises econômicas, decorrentes de uma visao materialista da economia e do trabalho. Este é um desafio grande da evangelização. Permear novamente o mundo da economia do trabalho com os valores cristãos é missão da Igreja, a fim de que os grandes princípios norteadores da dignidade da pessoa, da solidariedade social e da justiça nas relações de trabalho sejam postos em prática”, ressaltou.

O Arcebispo de São Paulo também rezou por aqueles que vivem a angústia de não ter um trabalho ou não têm acesso a um trabalho digno para sustentar a si e à sua família, ou mesmo para dar sua contribuição na edificação do bem comum na sociedade.
Kelen Galvan
Da redação


MISSIONÁRIO DESTACA ENSINAMENTO DE MARIA PARA MULHER MODERNA


Para Sandro Arquejada, quanto mais a mulher se espelhar em Nossa Senhora, mais descobrirá como viver a essência da feminilidade


Sandro Arquejada, missionário da Comunidade Canção Nova / Foto:Arquivo

O Canção Nova em Foco, neste início de maio, destaca a devoção à Virgem Maria em conversa com o missionário da Comunidade Canção Nova, Sandro Arquejada, autor do livro “Maria, humana como nós”.

O missionário destaca que, ao pensar nos santos, pensa-se somente na dimensão espiritual e se esquece da dimensão humana. “Maria teve de dizer seu ‘sim’ diário à santidade, foi com luta, com esforço igual a mim e a você”, explica.

Em seu livro, afirma que é uma graça descobrir o lado mulher, o ser de Maria, visto que o humano não se desvencilha do divino.

Arquejada destaca que a humanidade de Maria tem muito a ensinar para as mulheres do século XXI, mesmo diante das diferenças culturais “gigantes” da sociedade daquela época para a atual. “Quanto mais a mulher se espelhar em Nossa Senhora, vai descobrir, não como viver as regras daquela sociedade que ela viva, mas como viver a essência da feminilidade”.

Para ele, a essência da mulher continua a mesma, naquele tempo, naquela sociedade, e hoje. “Fico impressionado como Nossa Senhora sabia a hora de fazer as coisas: partia apressadamente, agia pedindo a providência de Jesus (como nas bodas de Caná) ou guardava as coisas no seu coração. Ela tem a sabedoria de lidar com essas situações. Isso é um dom profundamente feminino, a mulher é mais sensível.”

O amor à Virgem Maria e o desejo de que Ela seja mais conhecida e amada, motivou Arquejada a escrever um livro sobre Nossa Senhora. “É um exemplo tão grande de vida, de mãe, de pessoa que acolhe, que segue os preceitos evangélicos.”

Na entrevista, o missionário fala ainda sobre a humanidade de Maria, sobre os inúmeros títulos pelos quais Nossa Senhora é lembrada e conta seu testemunho pessoal com a mãe de Jesus.

“Às vezes, não estou nem me lembrando dela, mas, quando acontece alguma coisa, Nossa Senhora está ali para me proteger.” Ele recorda como se livrou de um acidente de carro e da depressão ao recorrer à Mãe de Jesus.
Luciane Marins
Da Redação

A NOSSA VIDA INTEIRA É UM PROCESSO DE CURA INTERIOR


Ninguém se coloca sob o sol sem se queimar. Se tomarmos sol em excesso, vamos sofrer as consequências dele. Com Deus acontece algo semelhante, pois ninguém se coloca na presença d'Ele sem ser beneficiado por Suas graças. As marcas da presença do Todo-poderoso também são irreversíveis para a nossa salvação. Quando nós nos deixamos conduzir pelo Espírito Santo, Ele nos dá liberdade. Nunca o Senhor pensou em nos trazer para perto d'Ele a fim de tira algo de nós, muito menos para limitar a nossa liberdade. Se Ele não quisesse a nossa liberdade, por que teria nos criado livres?

Nossa liberdade ficou comprometida por nossa própria culpa, porque quem peca se torna escravo do pecado. Pelos erros e pelos vícios que entram em nossa vida, ficamos debilitados. O Pai nos deu Cristo para nos libertar daquilo que nos amarra. Deus nos mostra quais caminhos podemos seguir, mas a liberdade de escolher é nossa. O desejo do Senhor é nos libertar de toda angústia, de toda opressão. O desejo d'Ele é nos ver felizes.

Em Gálatas 5,1 lemos: "É para que sejamos homens livres que Cristo nos libertou. Ficai, portanto, firmes e não vos submetais outra vez ao jugo da escravidão". Cristo nos amou, morreu numa cruz por nossa causa, para que não fôssemos escravos do pecado. O Ressuscitado nos libertou de todo mal, de toda armadilha do inimigo para que permanecêssemos livres. Contudo, ninguém é livre na maldade. Uma vez que o Espírito Santo nos visita, não há brechas para o pecado.

Quem conhece as coisas que há no homem senão o espírito do homem que nele reside? (cf. Coríntios 2,10-16). Assim também ninguém conhece as coisas de Deus senão o Seu Espírito.

Ninguém pode saber o que há em nosso interior se não abrirmos a boca e dissermos o que pensamos. Quando rezamos, Deus Pai nos refaz e o Espírito Santo nos cura e liberta. Rezar é ficar nu na presença de Deus, é abrir-se a Ele. Quando rezamos, colocamo-nos na presença do Altíssimo, nos expomos e somos curados. Quando tiramos a roupa diante do espelho, vemos o que queremos e o que não queremos. Na hora em que estamos rezando, caem as nossas vestes espirituais; assim, vemos aquilo que queremos e o que não queremos. Tudo que fazemos de mau volta para nós no momento da oração. No momento em que o Senhor nos mostra quem somos, Ele também nos mostra quem Ele é. Se Ele nos revela uma coisa que não está boa, é porque precisamos consertá-la. 

Na oração nós aprendemos a ouvir o Senhor. Não existe ninguém que, tendo rezado, Deus não o tenha respondido. E se Ele não lhe responde diretamente, vai fazê-lo por meio de uma pessoa ou de um fato, mas Ele responde. Nós precisamos aprender a ouvi-Lo na oração, para conhecermos os planos que Ele tem para nossa vida.

Nós precisamos, na oração, pedir ao Espírito Santo que nos faça descobrir o que está ruim dentro de nós. Deus sabe o quando fomos machucados e sabe como nos curar.

A nossa vida inteira é um processo de cura interior. Enquanto estivermos com os pés nesta terra, nossa vida será um processo de cura interior. Nós temos de nos apresentar diante de Deus. O Todo-poderoso tem um plano para nossa vida, um plano de amor, de realização e de felicidade para nós. Se não abrirmos o nosso coração para a oração, correremos o sério risco de morrer sem conhecer o plano que Deus tinha para nós.
Canção Nova

O MUNDO E A IGREJA


A Igreja de Jesus Cristo saiu, literalmente, à praça pública, no dia dacanonização de São João XXIII e São João Paulo II, dois Papas de nossa geração, testemunhas das muitas vicissitudes e alegrias do tempo desafiador e maravilhoso em que nos encontramos. Quem acompanhou pessoalmente ou pelos meios de comunicação pôde conferir a diversidade de culturas, línguas e povos ali representados. Chamava à atenção o fato de que chefes de Estado e de Governo compartilhavam espaço e emoção com a multidão presente em Roma. As várias confissões cristãs, representantes de outras religiões e pessoas de convicções diferentes... Um mundo inteiro se sentia atraído por duas figuras ímpares quanto à missão exercida a seu tempo e quanto à têmpera de seu modo de ser homens e cristãos. 

Papa Francisco salientou, em sua homilia da Missa da Festa da Divina Misericórdia, que João XXIII e João Paulo II não tiveram medo de se defrontar com as chagas do mundo e de sua geração. João XXIII quis abrir as janelas da Igreja para que o sopro do Espírito se espalhasse, a fim de alcançar todos os homens e mulheres. João Paulo II, o missionário mais ardoroso de que temos conhecimento nos últimos tempos, além de todo o empenho pela Evangelização, foi ao encontro das pessoas, conversou com todos, não fugiu das situações mais dolorosas da Igreja e do mundo. É que os cristãos se encontram dentro das realidades do mundo, são passíveis de erros e pecados, podem colocar tudo a perder, se não é a graça de Deus que os acompanha e sustenta. 

A chave que abre as portas da esperança e da felicidade é, justamente, o reconhecimento simultâneo das fragilidades humanas e da força de Deus. Aquele que pode abrir o livro da vida das pessoas e da história humana é Jesus Cristo, o Cordeiro Imolado, o Santo de Deus. Só Ele tira o pecado do mundo (Cf. Ap 5, 1-8). Como Deus não nos fez para amassar barro na maldade e no egoísmo, o desejo de ser puros e santos atrai a todos. Por isso, apresentar a Boa Nova de Jesus Cristo, malgrado todos os pecados do mundo, é a estrada mestra para todos, sem exceção. Cabe à Igreja ter a ousadia de apontar para frente e para o alto, fazendo tudo para que o maior número possível de pessoas se envolva nesta grande marcha rumo à perfeição das relações das pessoas com Deus e entre si. Por isso, tantos irmãos e irmãs são inscritos no catálogo dos santos, reconhecidos como modelos no seguimento de Jesus

As imagens do dia da Divina Misericórdia eram suficientemente eloquentes para nos convencermos de que a Igreja tem uma palavra e um testemunho a oferecer ao mundo. Trata-se de sua missão, na qual não pode se omitir. Ela deve ser anunciadora da verdade e lutar pela dignidade das pessoas, assim como há de mostrar que o melhor para todos é o amor ao próximo e o amor a Deus. Ao mostrar este caminho, que tem o nome de santidade, a Igreja e os cristãos aprenderão a se confrontar com as realidades humanas, inclusive quando as diferenças vêm à tona. E o diálogo entre diferentes começa com a valorização recíproca, que comporta superação de julgamentos e preconceitos. Acreditar no bem que existe no outro, seja qual for sua origem, idade ou prática religiosa, é um passo fundamental. Convergem na direção do bem as pessoas que apostam tudo nas próprias convicções e, ao mesmo tempo, se abrem para o bem que existe em quem procede de outras plagas.

As pessoas com quem dialogamos venham também a ter conhecimento de que temos algo a oferecer. Não somos incapazes quanto à humanidade e a cultura. A luz do Evangelho é o que existe de melhor para o mundo. Nada de omissão. Sejam, pois, superados os eventuais complexos de inferioridade com os quais muitos cristãos se apresentam diante das estruturas do mundo. Cresça a presença qualificada dos cristãos nos diversos campos profissionais. Amadureça sua capacidade de dar razão da esperança, segundo o caminho proposto pelo Apóstolo São Pedro: “Se tiverdes que sofrer por causa da justiça, felizes de vós! Não tenhais medo de suas intimidações, nem vos deixeis perturbar. Antes, declarai santo, em vossos corações, o Senhor Jesus Cristo e estai sempre prontos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que a pedir. Fazei-o, porém, com mansidão e respeito e com boa consciência" (1Pd 3,14-16). 

A aventura da santidade se tornou mais atraente ainda com São João XXIII e São João Paulo II. Mas o que fazer para ser santo? Santo é quem olha ao seu redor e não se cansa de colher as flores e os frutos da árvore da vida, plantada pelo próprio Deus. Santo é quem não receia olhar nos olhos dos outros e ver o brilho que neles se acende. Santo é quem não se rende diante da maldade, mas persevera na busca do bem e dá nome ao bem que encontra. Santo é quem se convence de que Deus só sabe amar e olha para as pessoas com amor infinito. Santo é quem gosta do bem, da beleza, da verdade.

Nestes primeiros dias do mês de maio, venha em relevo um campo específico, no qual a santidade pode e deve crescer, o do trabalho. Ninguém separe sua vida de fé das suas atividades profissionais, sejam quais forem. E vale oferecer, justamente para o trabalho, dois outros sinais esplêndidos. Trata-se de Maria, Mãe do Redentor, uma simples Mãe de Família, no mês que lhe é dedicado. Outro é São José, o operário! As duas figuras, indispensáveis na vida cristã, foram mundo e Igreja, mãos que trabalharam e santidade inigualável. Os dois santos, apenas canonizados, souberam oferecer tais exemplos e deles foram devotos. É a hora da Igreja, é a hora do mundo, a quem o Senhor Jesus oferece a salvação, pelos méritos de Sua Paixão, Morte e Ressurreição. Ninguém desperdice o tempo de Deus, que se chama hoje!
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

SACRALIDADE DO TRABALHO


A celebração do dia primeiro de maio, pela consideração reverente ao trabalhador, é oportunidade para reavivar a compreensão do trabalho como necessidade e dom de Deus. A concepção cristã do trabalho tem suas raízes numa articulada e clarividente compreensão antropológica e teológica. Deus, Criador onipotente, Pai de todos, cria o homem e a mulher à Sua imagem e semelhança e lhes confia o cultivo da terra. O Pai sublinha a primazia da humanidade em relação às outras criaturas, que devem merecer cuidados e respeitos. Cultivar a terra, como ponto especial na narrativa da missão do homem e da mulher, no conjunto da obra da criação, significa não abandoná-la. E exercer domínio sobre ela significa comprometimento com o seu cuidado e com sua guarda, como um pastor deve cuidar de seu rebanho. Esse horizonte inspirador é determinante nos rumos escolhidos para a dinâmica da economia com seus desdobramentos incisivos sobre a questão social e política.

Nesse sentido, no atual momento político e econômico, os construtores da sociedade pluralista devem superar a lógica perversa do lucro. Precisam buscar uma efetiva sustentabilidade, necessária para se alcançar o equilíbrio social. Imprescindível é deixar-se iluminar por um horizonte com princípios antropológicos inequívocos. Isso é um enorme desafio para quem se orienta por parâmetros de funcionamentos mecanicistas e, consequentemente, não consegue compreender o que se pode chamar de subjetividade do trabalho. O conjunto de recursos, atividades, instrumentos e técnicas que permite a cada pessoa o exercício adequado de suas tarefas não pode se sobrepor ou minar a dimensão subjetiva do trabalho humano. O respeito a essa perspectiva é a consideração insubstituível de cada ser humano e de sua vocação pessoal. Assim, alcança-se a compreensão de que todo trabalho é imagem e extensão da ação criadora de Deus, de que o homem e a mulher, em suas muitas tarefas, participam da obra da criação.

A Doutrina Social da Igreja enfatiza, por isso mesmo, que o trabalho não somente procede da pessoa, mas também é ordenado a ela e a tem por finalidade. Assim sendo, todo ofício, mesmo aquele mais humilde, é caminho para que cada pessoa tenha preservada a sua dignidade. Consequentemente, o trabalho se torna uma necessidade e, ao mesmo tempo, um dever de todos. Trabalhar refere-se ao respeito moral ao próximo e, por desdobramento, é reverência à própria família e à sociedade. Abominável, pois, é o enquadramento do trabalhador na condição de escravo. Trata-se de um verdadeiro atentado contra a dignidade, ferida na cultura solidária e civilizada, com consequências nefastas também para escravocratas.

A sacralidade do trabalho implica compreendê-lo, na escala de valoração e prioridade, como superior a todo e qualquer fator de produção, inclusive o capital. No horizonte largo e diversificado sobre a sua abordagem como importante chave social, é prioritário considerá-lo como direito. A necessidade do trabalho não se refere apenas ao sustento familiar e pessoal, prioridade incontestável, mas, particularmente, ao bem que promove a cada pessoa. Trata-se de direito fundamental. Por isso, a Igreja considera o desemprego uma perversa calamidade social. E sublinha que uma sociedade orientada para o bem comum tem sua capacidade avaliada, também, com base nas perspectivas de trabalho que ela pode oferecer.

Com a oferta do trabalho, caminha a exigência de se promover a capacitação, já que a manutenção do emprego depende, cada vez mais, da competência profissional. O Estado, então, é chamado à responsabilidade, por seu dever de promover políticas ativas de trabalho, particularmente pela regulação do funcionamento econômico, convocando as corporações a cumprirem seu papel social. As empresas têm o dever de garantir a oferta adequada de emprego. O tratamento desse desafio não pode prescindir de uma correta visão antropológica e cristã pelo respeito à sacralidade do trabalho.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte