A Palavra de Deus

A Palavra de Deus

DOPAS

DOAÇÃO, ORAÇÃO, POBREZA, ALEGRIA E SIMPLICIDADE

13 de setembro de 2013

24º DOMINGO DO TEMPO COMUM / ANO C - 15/09/2013

PRIMEIRA LEITURA - Ex 32,7-11.13-14

INTERVENÇÃO MEDIADORA DE MOISÉS
7O Senhor falou a Moisés: “Vai, desce, pois corrompeu-se o teu povo que tiraste do Egito. 8 Bem depressa desviaram-se do caminho que lhes prescrevi. Fizeram para si um bezerro de metal fundido, prostraram-se em adoração e ofereceram sacrifícios diante dele, dizendo: ‘Israel, aí tens os teus deuses, que te fizeram sair do Egito’”. 9 O Senhor disse a Moisés: “Vejo que este é um povo de cabeça dura. 10 Deixa que a minha ira se inflame contra eles e eu os extermine. Mas de ti farei uma grande nação”. 11 Moisés, porém, suplicava ao Senhor seu Deus, dizendo: “Por que, ó Senhor, se inflama a tua ira contra o teu povo que fizeste sair do Egito com grande poder e mão poderosa? 13 Lembra-te de teus servos Abraão, Isaac e Israel, com os quais te comprometeste por juramento, dizendo: ‘Tornarei os vossos descendentes tão numerosos quanto as estrelas do céu, e toda esta terra de que vos falei, eu a darei aos vossos descendentes como posse para sempre”. 14 E o Senhor desistiu do mal com que havia ameaçado o seu povo.

Decisão e proposta de Deus
Depois que o povo adorou o bezerro de ouro, Deus se inflamou de ira, não reconheceu Israel como seu povo e decidiu exterminá-lo. É aqui que ele faz uma proposta tremendamente sedutora a Moisés. Deus propõe tirar das costas de Moisés este peso que ele carrega de libertar um povo que não sabe valorizar a liberdade, mas prefere continuar na escravidão. Além disso, Deus propõe promover Moisés. Ele seria um novo Abraão, pois Deus faria dele uma grande nação.

Súplica e postura de Moisés
Moisés recusa a proposta de Deus. Ele não pensa em si, mas no povo, na dignidade do próprio Deus. Em súplica comovente, ele pondera com Deus: por que esta decisão de eliminar o povo? Afinal, este povo pertence a Deus. Foi Deus que o libertou com braço forte. Além disso, como ficaria a honra de Deus diante dos egípcios? Eles iriam dizer que Deus libertou o povo com má intenção: queria mesmo é exterminá-lo no deserto! E onde ficaria o processo de libertação? Ficaria interrompido. Como ficariam as promessas feitas a Abraão, Isaac e Jacó?

Deus se arrepende (v. 14)
Através de um diálogo muito humano, ficamos conhecendo a grandeza e dignidade de Moisés, como também a bondade e a misericórdia de Deus. Ao invés de contar com o arrependimento do homem, é o próprio Deus que se arrepende, coloca o perdão à frente e deixa viver o seu povo.
Como vai a nossa fidelidade ao projeto de vida deste Deus tão humano e misericordioso? Temos o coração de Moisés capaz de esquecer-se de si mesmo, rejeitar propostas sedutoras, para buscar o melhor para o povo?

SEGUNDA LEITURA - 1Tm 1,12-17

AÇÃO DE GRAÇAS PELA VOCAÇÃO DE APÓSTOLO
12Sou agradecido àquele que me deu forças, Cristo Jesus, nosso Senhor, pela confiança que teve em mim, colocando-me a seu serviço, 13 a mim que, antes, blasfemava, perseguia e agia com violência. Mas alcancei misericórdia, porque agia por ignorância, não tendo ainda a fé. 14 A graça de nosso Senhor manifestou-se copiosamente, junto com a fé e com o amor que estão em Cristo Jesus. 15 É digna de fé e de ser acolhida por todos esta palavra: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro. 16 Mas alcancei misericórdia, para que em mim, o primeiro dos pecadores, Jesus Cristo mostrasse toda a sua paciência, fazendo de mim um exemplo para todos os que crerão nele, em vista da vida eterna. 17 Ao Rei dos séculos, Deus imortal, invisível, único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém!

A carta foi escrita por um discípulo de Paulo como se fosse ele mesmo. Afinal, é ele que continua orientando suas comunidades e discípulos através da sua escola. Paulo deixa Timóteo em Éfeso e agora lhe escreve diante das filosofias e doutrinas erradas, que estão aparecendo na comunidade, diante dos conflitos e arrogâncias das lideranças. O autor apresenta o exemplo do próprio apóstolo.

O texto de hoje começa com uma ação de graças (v. 12) e termina com um hino de louvor (v. 17). Qual é o motivo da ação de graças? É o chamado de Cristo Jesus. Ele confia no pecador. Ele não nos chama para o ministério, porque somos santos, mas confia em nós por causa de sua própria bondade, misericórdia e gratuidade. Foi assim que aconteceu com Paulo que antes era blasfemo, perseguidor e violento. Fiel mesmo é só Jesus, mas a sua graça transbordou no coração de Paulo. O importante é abrir o coração e acolher a palavra fiel de Jesus: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro” (v. 15).

O exemplo
Paulo não quer se comunicar como modelo de perfeição para os líderes que se afastaram da santidade (v. 6), mas apresenta-se como aquela pessoa, que se deixou moldar por Deus. Jesus foi tremendamente paciente para com ele e, graças à sua abertura, ele encontrou misericórdia (v. 16). Aqui, sim, está o exemplo de Paulo. Ele é exemplo da misericórdia de Cristo para quem crê.

O hino
O hino de louvor é bastante solene, talvez para contrastar com as vaidades, glórias e arrogâncias dos líderes e doutrinas errôneas e extravagantes que estavam aparecendo: “Ao Rei dos séculos, Deus imortal, invisível, único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém!” Quer dizer, a honra e a glória só a Deus, que é absoluto, incorruptível, invisível e único.

EVANGELHO - Lc 15,1-32

A OVELHA PERDIDA. A MOEDA PERDIDA
1Todos os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar. 2 Os fariseus e os escribas, porém, murmuravam contra ele. “Este homem acolhe os pecadores e come com eles”. 3 Então ele contou-lhes esta parábola: 4 “Quem de vós que tem cem ovelhas e perde uma, não deixa as noventa e nove no deserto e vai atrás daquela que se perdeu, até encontrá-la? 5 E quando a encontra, alegre a põe nos ombros 6 e, chegando em casa, reúne os amigos e vizinhos, e diz: ‘Alegrai-vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida!’ 7 Eu vos digo: assim haverá no céu alegria por um só pecador que se converte, mais do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão. 8 E se uma mulher tem dez moedas de prata e perde uma, não acende a lâmpada, varre a casa e procura cuidadosamente até encontrá-la? 9 Quando a encontra, reúne as amigas e vizinhas, e diz: ‘Alegrai-vos comigo! Encontrei a moeda que tinha perdido!’ 10 Assim, eu vos digo, haverá alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte”.
 O FILHO PERDIDO E REENCONTRADO
11E Jesus continuou. “Um homem tinha dois filhos. 12 O filho mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá- me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles. 13 Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada. 14 Quando tinha esbanjado tudo o que possuía, chegou uma grande fome àquela região, e ele começou a passar necessidade. 15 Então, foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou para seu sítio cuidar dos porcos. 16 Ele queria matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isto lhe davam. 17 Então caiu em si e disse: “Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome. 18 Vou voltar para meu pai e dizer-lhe: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti; 19 já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados’. 20 Então ele partiu e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e foi tomado de compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e o cobriu de beijos. 21 O filho, então, lhe disse: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. 22 Mas o pai disse aos empregados: ‘Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. Colocai-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. 23 Trazei um novilho gordo e matai-o, para comermos e festejarmos. 24 Pois este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado’. E começaram a festa. 25 O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. 26 Então chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. 27 Ele respondeu: ‘É teu irmão que voltou. Teu pai matou o novilho gordo, porque recuperou seu filho são e salvo’. 28 Mas ele ficou com raiva e não queria entrar. O pai, saindo, insistiu com ele. 29 Ele, porém, respondeu ao pai: ‘Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. 30 Mas quando chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com as prostitutas, matas para ele o novilho gordo’. 31 Então o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32 Mas era preciso festejar e alegrar- nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado”.  O capítulo 15 é o coração do Evangelho de Lucas. São três parábolas de misericórdia ou a parábola dos três perdidos: da ovelha perdida, da dracma perdida, do filho perdido. Esta parábola do Filho Pródigo deve ser chamada de parábola dos dois filhos e, melhor ainda, parábola do Pai misericordioso.

Introdução - Os "justos" e pecadores (vv. 1-3)
Essa introdução é de fundamental importância. De um lado Jesus e os pecadores. Quem são eles? São pessoas que tinham conduta imoral (adúlteros, mentirosos, prostitutas, etc.) ou exerciam profissões consideradas desonestas ou imorais, (cobradores de impostos, pastores, tropeiros, vendedores ambulantes, curtidores). Do outro lado, os que criticavam a atitude misericordiosa de Jesus: fariseus, doutores da lei, que representavam a classe dominante e se consideravam justos. Jesus conta as parábolas para eles perceberem que a sua atitude é a atitude do Pai.

1ª parte - O pai e o filho mais jovem (vv. 11-24)
O filho pede sua parte da herança ao pai e depois parte para bem distante. Pecar é distanciar-se da casa do Pai com experiências desligadas da fonte do amor e da vida. Mas ele acaba “na lama”, cuidando de porcos, animal imundo para os judeus. Nem comida de porcos ele tinha. Reconhece na miséria absoluta que na casa do Pai até os empregados tinham de tudo. Ensaia sua confissão e decide voltar. Sua esperança é de ser ao menos um empregado. O importante para ele é o pão, que não falta na casa do pai. Mas, em todo caso, ele decide voltar para a casa do Pai. É o retorno que todos nós precisamos estar sempre fazendo. 

O Pai o aguardava ansioso (v. 20). Vendo-o, encheu-se de compaixão e correu ao seu encontro e o restabelece na família com toda a dignidade de filho: o beijo é o sinal do perdão; a veste festiva é para um hóspede de honra; a entrega do anel é a restituição de todos os direitos e poderes na família; os sapatos eram luxo de homens livres; escravos não usavam. A carne era usada só de vez em quando e matar um bezerro era coisa especial para grandes festas. Observe que o texto não diz que o Pai mandou matar um bezerro, mas o bezerro, aquele que estava reservado para um momento especial. Naquela casa voltou a alegria: “vamos fazer um banquete. Porque este teu irmão estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado. Mas... e o filho mais velho?”

2ª parte - O pai e o filho mais velho (vv. 25-32)
O filho mais velho tem todas as qualidades, mas não é capaz de acolher o irmão que volta, nem quer partilhar da alegria do coração do Pai, que insiste com amor e ternura para que ele entre para a festa. Gabando-se de sua conduta justa e irrepreensível, chega a criticar a atitude do Pai. A parábola termina com o Pai justificando a sua conduta misericordiosa. E o filho mais velho entrou ou não entrou na festa? Agora entenderemos os versículos iniciais.

O filho mais novo são todos os pecadores com quem Jesus faz a festa. O filho mais velho são os fariseus e doutores da lei que se consideram justos, mas são incapazes de acolher os irmãos marginalizados e ainda criticavam a atitude de Jesus. E você? Qual a sua postura? É a do filho mais novo ou a do mais velho? Será que, às vezes, não trazemos o modo dos dois filhos dentro de nós? 
Dom Emanuel Messias de Oliveira
Bispo de Caratinga (MG).

12 de setembro de 2013

TENHA CORAGEM DE ENFRENTAR OS SEUS MEDOS


"Até mesmo os cabelos de vossa cabeça estão todos contados. Não tenhais medo! Vós valeis mais do que muitos pardais" (Lc 12,7).

Dizem que, na Bíblia, a expressão "não tenhais medo" está escrita 365 vezes. Isso significa que para cada dia no ano temos de nos lembrar de que podemos vencer esse inimigo.

Mesmo que esta conta não seja exata, o certo é que, nesse duelo "medo x você", Deus quer fazer de você um vencedor. O Senhor não vai lutar por você, mas, com certeza, lutará com você. Não sei se percebeu, mas você já está na arena da vida, a luta já vai começar. Resta saber quem vai vencer: você ou o seu medo.

Existem muitos tipos de medos: medo do passado, do presente, do futuro; medo de pessoas de dentro de casa, medo de pessoas de fora; medo de solidão, de multidão; medo de morrer, de viver; medo de homem, de mulher. Existem pessoas que têm medo de quem está vivo, outras de quem está morto.

Alguns com medo da traição, outros da paixão; outros com medo do perdão (dar ou receber); alguns com medo de falar, outros com medo de calar; alguns com medo do conhecido, outros do desconhecido. Enfim, são muitos tipos de temor e escrever uma lista de todos seria, talvez, algo quase impossível. 

Certa vez, ouvi padre Rufus Pereira dizer que o demônio é o "deus do medo" e que esse sentimento é como um louvor aos infernos: quanto mais uma pessoa o alimenta, tanto mais força tem o demônio de fazer mal a ela. Medo e fé são como água e óleo: não se misturam. Ou uma pessoa tem fé ou tem medo. Se o medo vencer, acabará asfixiando a fé.

O temor, na maioria das vezes, surge da nossa imaginação (como Santa Teresa dizia: "A imaginação é a louca da casa"); por isso, muitas vezes, o medo é como um manipulador, um "cara bom de papo" ou até um ilusionista, que o faz ver o que não existe, acreditar no que não é verdade e assustar-se com fantasmas que já foram sepultados, mas que ele insiste em dizer que estão vivos.

Na grande arena da vida, os ponteiros da decisão apontam a hora de enfrentar os seus medos, não de mãos vazias, mas com "as armas da fé" (cf. Rm 13,12). Não se esqueça também de que todo lutador tem sempre um técnico que lhe diz o que fazer. O seu é Jesus, Aquele que lhe diz: "Não tenhas medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar a vós o Reino" (Lc 12,32).

Quem não tiver coragem de enfrentar os seus medos nunca descobrirá que é maior do que eles, não importa o nome que tenham; você não pode mais lutar de costas, essa é a posição do pânico, dos covardes, dos derrotados. Na luta entre o medo e você, creia que o cinturão da vitória é seu.
Padre Sóstenes Vieira
Comunidade Canção Nova

QUANDO A DIFICULDADE FALA MAIS ALTO: UMA EXPERIÊNCIA DE VIDA

A dificuldade me chama a cumprir o horário da responsabilidade. Toda a pessoa apurado em sua maturidade, alinhado e calibrado em seu caráter, nunca fica alheio ou longe de um obstáculo, estorvo, impedimento na complexidade de coisas que o dia a dia lhe oferece. Neste emaranhado de situações visíveis, a coragem pede para avançar. A isto podemos chamar de dificuldade. Esta é tudo aquilo que se apresenta como obstáculo, objeção, relutância, repugnância, entre outros. Todavia, é aqui que a dificuldade nos convida a ser fortes. Já nos diz Goethe: “As dificuldades crescem à medida que nos aproximamos do nosso objetivo”. Madre Tereza de Calcutá nos assevera: “Deus não nos exige que tenhamos sucesso; ele só quer que você tente”. Quando oferecemos nossos esforços, a coragem se habilita a nos ajudar. O que importa é dar o primeiro passo. Não te preocupes com a distância e o tempo, o que importa é que você fez a sua parte.

Já pensou nas dificuldades de Maria Madalena (Lc 8, 2; Mc 16, 9), Zaqueu (Lc 19, 1-10); Madre Tereza de Calcutá (26/08/1910); Beato Papa João Paulo II (18/05/1920), Martin Luther King (15/01/1929), entre outros, o quanto somaram de árduo, obscuro, exigente em sua trajetória de vida. Contudo, nunca olharam para trás (Lc 9, 51ss). Seu objetivo era mais forte e sua meta precisava ser cumprida. Cícero nos diz: “Quanto maiores são as dificuldades a vencer, maior será a satisfação”. Não conheço ninguém que fez história na vida ou carreira sem passar pela dificuldade. Albert Einstein completa: “No meio de toda dificuldade encontra-se a oportunidade”. Pela dificuldade sabemos o que é somar esforços, multiplicar oportunidades, dividir responsabilidades, e subtrair mal entendidos. Mostramos que somos capazes, não obstante a desconfiança que o mundo nos oferece.

A dificuldade, igual a um professor experiente, nos alerta dizendo que nem todos os caminhos são retos. Nas curvas e contracurvas da vida, nos aclives e declives, somos chamados, não obstante as turbulências, a cumprir o horário que a responsabilidade nos confiou. Émile Zola nos assegura: “As dificuldades, como as montanhas, aplainam-se quando avançamos por elas”. Quantas vezes uma simples cena de um filme ou novela é repetida até que fique no jeito de ir para o ar. Na vida real é a mesma coisa. A perseverança, que precisa ser renovada todos os dias, é que nos dá a vitória para enfrentarmos as dificuldades quotidianas. A dificuldade é como um instrutor, mesmo querendo o nosso bem, muitas vezes tem que nos aconselhar, repreender, dizer segue em frente ou pára para pensar melhor. Ajuda-nos as palavras de Michel de Montaigne: “Os homens só consideram útil o que oferece dificuldade. A facilidade enche-os de suspeitas”. Quem quer tudo fácil, nas mãos, nunca aprende a ser gente de verdade e se torna um mimado na vida.

A dignidade da personalidade, o valor do caráter e a autenticidade dos sentimentos também passam pelo crivo das dificuldades. Até o amor passa por esse arame. Lembremos a parábola do filho pródigo (Lc 15, 11-32). Foi na maior dificuldade que o filho voltou. Esquenta-nos as palavras Orison Marden: “Com amor inquebrantável e propósito definido toda dificuldade se vence e todo obstáculo se transpõe”. Nunca te avalies como um sobrevivente da dificuldade, mas um vitorioso. Mesmo que as dificuldades te surpreendem, leve-as na vida como um teste e verás que o aproveitamento te será útil. Nunca vires as costas às dificuldades. Diz para elas que você existe e que te comprazes em passar por elas. Pense nisso.
Cônego Manuel Quitério de Azevedo
Arquidiocese de Diamantina (MG).

ENFIM, UMA SOLUÇÃO

Os nossos sentidos, auxiliados por dispositivos especiais, sem recursos palpáveis, tem a capacidade de ir além do verificável a olho nu. Assim, conseguem captar ondas de rádio, perceber ultrasons, descobrir a ação de microorganismos, “ver” os átomos e decifrar o DNA. Isso é inalcançável para os animais. Tornou-se princípio muito comum dos cientistas, só aceitar como realidade, aquilo que pode ser comprovado pelos sentidos. Isso alija, de entrada, toda a rica realidade da metafísica, descoberta pelos grandes filósofos da história. Seu instrumento de trabalho, além dos sentidos, foi a inteligência, faculdade que nos projeta para verdades para além dos sentidos, como a descoberta da vida após a morte; a necessidade de haver um Criador, ordenando o cosmos; e de saber conviver com o fato de que tudo no universo tem razão de ser. Mas além disso, existe uma riqueza infinita de realidades sobrenaturais, totalmente herméticas, que só se podem alcançar por uma chave de leitura surpreendente, que chamamos de fé. Se ela não fica na esfera do verificável, não é prova de que as verdades por ela aceitas, não existem. A fé é a grande resposta nossa, para entrarmos num âmbito de belezas inimagináveis. “A fé é um modo de já possuir o que se espera” (Hb 11,1).

Qual é o palco infinito que a fé nos abre? Saber que Deus é um Ser perfeitíssimo, e que seus objetivos para conosco são de partilhar sua felicidade. Descobrimos que não somos frutos do acaso, mas que estamos em seus pensamentos. A fé que acolhemos como dom divino, nos desvenda que Jesus, nosso Salvador, é o ponto máximo de todo o universo, e que a sua vida representa a melhor solução para a nossa plena realização. Aceitamos com alegria total que o Espírito nos concede os dons máximos da Igreja, da salvação eterna, da Palavra divina, da Eucaristia. Neste Ano da Fé, prestes a terminar, queremos dar com coragem, esse salto para o invisível, para usufruir seus enormes benefícios. Segundo nos relatam os noticiários, os sul-coreanos inventaram uma garrafa, que transforma a água do mar em água doce. Há muita gente, em alto mar, morrendo de uma sede atroz. A única maneira de não morrermos de uma sede devoradora, é nos abrirmos para a fé. “O que vence o mundo é a nossa fé” (1Jo, 5,4).
Dom Aloísio Roque Oppermann
Arcebispo emérito de Uberaba, MG.

A FESTA DA MISERICORDIA


Faz parte do equilíbrio entre pessoas e grupos na sociedade o estabelecimento de limites razoáveis entre a liberdade de uns e de outros. Até se repete, de forma adequada, que a minha liberdade vai até onde começa a da outra pessoa. Tudo muito bem organizado! Mais ainda, cresce o clima de reivindicação de direitos, com as maiorias e as minorias que buscam o próprio espaço, a fim de que ninguém fique de fora do concerto que se deseja harmônico. Intrigante é o fato de que sociedades muito organizadas, com tudo bem definido, respeito à ecologia, trânsito bem estabelecido entre pessoas, veículos e ideias, não consigam oferecer-lhes igual realização. Falta algo para que a vida adquira, além dos limites necessários, o horizonte que proporcione felicidade de verdade.

Deus, que entende de vida de gente, por ser Criador e Pai, mostra sua face à humanidade através de um "tempero" inigualável, um amor gratuito, capaz de superar todos os limites, chamado misericórdia, com o qual entra no mais íntimo das pessoas e purifica seus relacionamentos, concedendo de presente o que estas mais procuram. O misterioso é que justamente no mais profundo das dificuldades, crises e falhas dos seres humanos se encontra o caminho da realização. Jesus Cristo, verdadeiro homem e mais humano do que todos, é Deus verdadeiro, com o Pai e o Espírito Santo. Ele é a face humana da misericórdia! Tornou-se pequeno, pobre, obediente, carregou sobre si o peso dos pecados humanos, passou pela noite da morte, ressuscitou e abriu para a humanidade as portas da eternidade. Todas as suas atitudes revelam esta face da misericórdia de Deus. Justamente onde a situação é pior e desesperadora, lá ele entra e liberta. Quando as pessoas se sentem abandonadas e desprezadas, lá dentro é possível, com a presença da graça de Deus, começar a sair de si mesmas, transformando a dor em amor. Quem acolhe seu amor misericordioso experimenta a mudança, mas há de arriscar sua liberdade para vivê-la!

Para conduzir-nos à compreensão dos mistérios do Reino de Deus, Jesus Cristo usou a linguagem das parábolas, comparações tiradas dos fatos da vida e da natureza, com as quais descortina o sentido da existência. Nas chamadas "parábolas da misericórdia" (Lc 15,1-32), um aguçado sentido de humanidade se faz presente, indo ao encontro de situações humanas difíceis e ao mesmo tempo fecundas. Suas atitudes livres desconcertam os interlocutores, pessoas da lei e da organização, ciosas dos direitos e limites de cada grupo na sociedade. Acolher pecadores, infratores, gente que quebra a harmonia da ordem, era demais! Eram pessoas sobre as quais se deveria estabelecer penalidades pesadas e não acolhidas! E Jesus viola estas normas! Para se fazer entender, fala de ovelhas, moeda, filhos! Coisas do dia a dia, mas correspondentes aos valores que norteavam a vida.

Possuir um rebanho até hoje é sinal de boas condições na sociedade. Perder cabeças de gado, por roubo, extravio ou doenças toca no bolso, esta parte tão sensível do ser humano! Pois bem, o pastor da parábola se preocupa com a ovelha tresmalhada, não joga ninguém fora. A ovelha que se identifica com qualquer um de nós certamente aprontou algo para ficar fora do caminho, quem sabe, uma ovelha rebelde! É que cada pessoa humana, para Deus que é pastor a guarda de nossas vidas, vale o sangue de seu Filho amado. A misericórdia toma iniciativa, vai ao encontro e faz festa pelo retorno da pessoa que foi reencontrada! (Cf. Lc 15,3-7).

Dez moedas de prata guardadas, quem sabe, num lenço bem amarrado, escondido debaixo de um colchão! Até segredos podiam estar atrás daquele tesouro, pequeno que fosse para outros, mas significativo. A imagem da casa revirada, para encontrar apenas uma moeda, é magnífica (Cf. Lc 15,8-10). Deus é assim, revira o mundo por causa de cada pessoa que cai. Ele nos leva a sério! Ele gasta com a festa da conversão muito mais do que o valor da moeda perdida!

Enfim, filho, como deveria ser até hoje em toda parte, é bênção! (Cf Lc 15, 11-32) Perder o filho mais novo, jovem desorientado que quer se aventurar pelos caminhos do mundo, dói no mais profundo da alma do pai. Dar a parte da herança talvez tenha sido menos doloroso do que a distância daquele que tinha jogado fora justamente o bem mais precioso, o relacionamento de paternidade e filiação. Deixa de ser humano quem se recusa ao amor em nome da liberdade! O jovem gastador de ontem e de hoje vai ao fundo do poço e sua história se repete diante de nossos olhos. 

"A misericórdia apresentada por Cristo na parábola do filho pródigo tem a característica interior do amor, que no Novo Testamento é chamado 'agape'. Este amor é capaz de debruçar-se sobre todos os filhos pródigos, sobre qualquer miséria humana e, especialmente, sobre toda miséria moral, sobre o pecado. Quando isto acontece, aquele que é objeto da misericórdia não se sente humilhado, mas como que reencontrado e revalorizado. O pai manifesta-lhe alegria, antes de mais por ele ter sido reencontrado e por ter voltado à vida. Esta alegria indica um bem que não foi destruído: o filho, embora pródigo, não deixa de ser realmente filho de seu pai. Indica ainda um bem reencontrado: no caso do filho pródigo, o regresso à verdade sobre si próprio (Cf. João Paulo II, Encíclica Dives in misericordia, 6). Na parábola do filho pródigo não é usado, nem uma vez sequer, o termo «justiça», assim como também não é usado no texto original, o termo «misericórdia». Contudo, a relação da justiça com o amor que se manifesta como misericórdia aparece profundamente vincada no conteúdo desta parábola evangélica. Torna-se claro que o amor se transforma em misericórdia quando é preciso ir além da norma exata da justiça: norma precisa mas, por vezes, demasiado rigorosa” (Dives in misericordia, 5). Trata-se de uma verdadeira revolução nos relacionamentos sociais. Muito além das aparências, vale a realidade do filho amado. O desafio está lançado, para que a convivência humana supere os limites frios do direito e da justiça. Só em Cristo e com ele começará a festa da misericórdia.
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA).

9 de setembro de 2013

OUVIR A VOZ DE DEUS

A Bíblia diz que Deus nos falou .
Nossa religião nos diz que Deus ainda nos fala.
Falou diretamente a Moisés e outros patriarcas.
Falou por intermédio de mensageiros e anjos.
Falou por meio de profetas.Falou por meio de Jesus de Nazaré. Fala pela sua Igreja.
Se não acreditamos nisso então não ha porque seguir uma religião.
Praticamos religião também para ouvir e sentir o que Deus faz nos outros
Se para crermos nele exigirmos que nos fale pessoalmente estamos dizendo a Deus que se tem algo a nos dizer, diga pessoalmente
Deus não aceita condições, nem temos o direito de impo-las.
Se Ele falou e fala e porque quer e nos ama.
E impensável um Deus que não ame nem se comunique.
Mas e impensável alguém crer em Deus e exigir que se comunique
do jeito que queremos ouvi-lo.
Ninguém manda em Deus.
Podemos crer ou não crer que ele de fato falou a Abraão e Moisés.
Podemos dizer que e tudo lenda, ficcao, pedagogia .
Acharam que o ouviram,mas ele não falou...
Nossa Igreja diz que Deus fala e que a fé consiste em procurar ouvi-lo.
Se você manda recados por razoes suas, Deus também o faz.
Os Israelitas, assustados com os sinais de Deus disseram a Moisés
Da próxima vez , fala-nos tu.
Tiveram medo. O desconhecido os assustava.
Então alguém que não se assustava falou do desconhecido.
Nunca ouviremos a voz de Deus ou soprando nos nossos ouvidos.
E com os ouvidos do coração que se ouve a Deus.
E é preciso ler sua mensagem com os olhos do coração.
Se você acha que uma mensagem como a do filho pródigo não vem de Deus
então, de quem ela viria?
Jesus falou em nome de Deus a quem ele conhecia profundamente.
E quem ouve Jesus tem mais chance do que quem o ignora.Jesus e paz.
Nos católicos achamos que nossa Igreja fala em nome de Jesus.
Vale a pena ouvir a voz de Deus nos acontecimentos.
A Igreja ensina a ler e ouvir esta voz. só ela é mãe e mestra.
Eu nunca ouvi Deus me falando.mas tenho certeza de que Ele me fala.
Um dos mensageiros mais fortes e a minha Igreja.
Padre Zezinho, scj

MÉDICOS E PADRES

Não é fácil, e talvez nem convenha, comparar médicos com padres, ou vice-versa. Mesmo que, para se ressaltar a importância da profissão de médico, se costume dizer que ela é um verdadeiro “sacerdócio”. 

Mas aqui a comparação entre médicos e padres, é colocada a propósito da polêmica instaurada nacionalmente, a respeito da contratação, ou não, de médicos estrangeiros para exercerem sua profissão em municípios que não dispõem do atendimento médico por profissionais brasileiros. 

Faltam médicos brasileiros. Faltam padres brasileiros. Aí sim é possível fazer algumas ponderações. 

Diante da falta de padres brasileiros, a Igreja sempre esteve muito aberta para acolher padres estrangeiros. E o povo sempre recebeu bem os padres vindos de outros países, especialmente da Europa, mas também do Canadá e até dos Estados Unidos.

Para dimensionar melhor o que significou para a Igreja do Brasil a presença de padres estrangeiros é revelador conferir quantos deles acabaram sendo eleitos bispos. Nas últimas décadas, somando os que já são agora eméritos, passa de cem o número de bispos estrangeiros colocados à frente de dioceses no Brasil. Isto representa, propriamente, um terço do episcopado brasileiro.

Claro que a análise deste fato comportaria outros ingredientes que ajudariam a explicar a composição do clero brasileiro. Mas o dado mais eloquente a ser levado em conta é, sem dúvida, a disposição de acolher, sem restrições nem reservas, a presença de padres estrangeiros, com plena jurisdição pastoral.

Esta atitude contribuiu, certamente, para confirmar a fama do Brasil ser um país aberto à universalidade, acolhedor da diversidade, sem maiores problemas de convivência com o diferente, pronto para a harmonia de relacionamentos com pessoas de outras culturas.

O fato evidente é este: a presença de padres estrangeiros foi muito positiva, tanto para o atendimento pastoral das comunidades católicas, como para o conjunto do país, que pôde contar com a valiosa contribuição de pessoas capacitadas e laboriosas, que puderam prestar valiosos serviços sociais junto à população.

Diante disto surge espontânea a pergunta: por que não acolher os médicos estrangeiros, ainda mais diante da carência de profissionais que faz com que centenas de municípios brasileiros estejam desprovidos de atendimento médico? 

Diante de situações dramáticas, que precisam de solução urgente, dá para dispensar o apelo à tradição brasileira, de abertura para a diversidade cultural, e centrar nossa motivação na urgência humanitária de socorrer a tantos doentes que acabam morrendo por falta de médico. 

Nenhum médico gostaria de ser acusado de omissão de socorro profissional, causado por sua irresponsabilidade.

Certamente a classe médica do Brasil não quer ser responsabilizada pela falta de atendimento profissional a tantas pessoas que precisam com urgência de socorro médico.

Fica o apelo para que a classe médica do Brasil, através de seus organismos de representação, coloque diante do Ministério da Saúde suas ponderações sobre esta demanda, para que se chegue rapidamente a uma solução, que não comprometa a imagem dos médicos brasileiros, não constranja os médicos estrangeiros, e sobretudo se transforme em medidas eficazes em favor dos doentes, para quem a saúde não tem nacionalidade, pois ela goza de cidadania universal.
Dom Luiz Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP).

NA VERDADE A PAZ

Um importante convite e um grito que precisa ser ouvido ecoam no horizonte de nossa sociedade. O convite vem do coração generoso e interpelante do Papa Francisco. É, na verdade, uma convocação para que todos nós, amanhã, dia 7 de Setembro, nos dediquemos a um dia de jejum e de orações. A intenção particular é a Síria, atingida por gravíssimos conflitos, que estão provocando a morte de muitos civis e inocentes. Esse ambiente de guerra, e tantos outros pelo mundo afora, chama-nos todos a uma intervenção para mudar a realidade desses cenários. 

Os mandatários das nações, por instâncias competentes, têm o dever de intervir, com discernimento e respeito, de modo incisivo e urgente, para acabar com os conflitos, compartilhando tudo o que remete à paz. Uma guerra, seja qual for a sua proporção ou situação geográfica, não é uma questão simplesmente de quem a vive. Traz graves consequências para toda a humanidade. Assim, cada um é chamado a participar dessa reconstrução da paz, partindo do próprio coração até alcançar as proporções organizacionais, nos mais diferentes níveis da sociedade civil e da comunidade internacional. 

O convite é para um dia de jejum e orações, movimento que gera uma força invisível, capaz de alimentar a paz, dom que tem sua fonte principal em Deus e no coração de cada pessoa. Para os brasileiros, será vivido em data marcante, o Dia da Pátria – 7 de Setembro, quando a Igreja, em parceria com outras entidades, realizará o Grito dos Excluídos. Um movimento que, em quase duas décadas de celebração, convoca a pátria a ser mais solidária, particularmente com os pobres. No horizonte, está o dever de acabar com os quadros de exclusão, que na contramão da paz, geram violência. 

Combater a exclusão é sensibilizar-se para as urgentes demandas sociais, um caminho que foi reivindicado pela juventude. Os jovens, protagonistas de significativos acontecimentos ao longo deste ano - a Jornada Mundial da Juventude, a Semana Missionária, a Campanha da Fraternidade 2013 e as manifestações populares pelas ruas de nossas cidades - indicaram a importância dos projetos populares. Ouvir essas demandas sugere uma direção nova, remédio para se vencer a burocratização e as dinâmicas cartoriais, que produzem privilégios injustos, alimentam a corrupção e prejudicam o discernimento de prioridades. 

Mais do que um simples protesto, o Grito dos Excluídos é oportunidade para ouvir aqueles que sofrem. Um movimento para alimentar a indispensável sensibilidade social que emoldura o que se escolhe e o que se faz – da conduta cidadã ao exercício do poder – pela solidariedade que conduz na direção da paz. Sem escutar o grito daqueles que estão desamparados, a sociedade perde o rumo, cai no precipício das guerras, grandes e pequenas.

A vivência do jejum e orações no dia 7 de Setembro, convite do Papa Francisco, é uma oportunidade para esse exercício fundamental de se buscar a paz. É verdade que para alcançá-la são importantes as relações diplomáticas e tratados entre nações. Porém, o convite do Papa permite cultivar na consciência o entendimento de que a chama da paz é mantida, principalmente, a partir do coração de cada pessoa. Os impulsos ditatoriais, a ganância que fomenta o vício venenoso da corrupção, a incompetência que apazigua hipocritamente os corações na convivência com a miséria, a discriminação e a exclusão de cidadãos não estão simplesmente nos ares, nos outros, bem longe. O jejum e a oração, remédios educativos, livram os corações desses males. Permitem o exercitar-se na gramática de Deus, evitando o distanciamento do verdadeiro sentido da vida de cada um e de todos, congregados na diversidade de culturas, povos, línguas e nações. 

Com preocupação, voltados fraternalmente para a Síria, enxergando outros focos de guerra pelo mundo afora e atentos solidariamente ao grito daqueles que são vítimas da exclusão social, estamos convocados a educar nossos corações. Esse processo não tem outro ponto de partida e referência fundamental senão o que Jesus nos revelou: Deus é amor, a vocação maior de cada pessoa é o amor, grande instrumento da paz.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG).

SABEDORIA E RENÚNCIA

O mundo atual nos oferece muitas coisas: o ser, o ter e o poder. Infelizmente muitas pessoas buscam, desenfreadamente, as paixões desordenadas e se esquecem que tudo isso é efêmero e passageiro. O "carpe diem", o "viver o dia de hoje", como se não existisse o dia de amanhã é um erro dos tolos, dos que não são tementes a Deus, que confiam unicamente em suas forças e ignoram o Senhorio de Nosso Senhor Jesus Cristo e a sua realeza sobre a terra. A primeira leitura da liturgia deste vigésimo terceiro domingo do tempo comum nos ensina, com acuidade, a colocar a confiança unicamente em Deus. Ser sábio é confiar na força de Deus. Infelizmente, na nossa vida há coisas negativas que acontecem e devemos tirar destes cenários, destes fatos a graça de Deus que nos sustenta a levantar dos tombos e das dificuldades e a olhar, com confiança para Deus que continuará conduzindo a nossa vida, porque é "em Deus, unicamente, em Deus que devemos colocar a nossa única esperança e a nossa fortaleza!".

O Evangelho nos ensina que devemos optar por Jesus deixando para trás várias coisas que nos impedem de seguir Jesus Cristo: '"Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo. 27Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo". Jesus nos pede uma exclusividade. Devemos ser dele, não levar nada pelo caminho. Como disse o Papa Francisco quando chegou no Brasil, que não trazia nem ouro e nem prata, trazia apenas Jesus Cristo. É este desprendimento que dá a credibilidade para anunciar o Evangelho.

Quando construímos uma casa nós a iniciamos da base. E, no Evangelho de hoje, Jesus nos ensina isso. Para construirmos uma torre devemos planejar bem para que ela seja terminada e não sejamos motivo de "galhofa" para ninguém. Assim é a nossa vida espiritual e a nossa vida pastoral: todos os dias a nossa conversão deve ser construída, como um tijolinho que é colocado no edifício espiritual da nossa vida que nos fortalece da Palavra de Deus e da Eucaristia para anunciar e testemunhar Jesus Cristo Ressuscitado. O anúncio do Evangelho sempre vem com a Cruz, com as incompreensões, com o sofrimento, com a dor, com as calúnias, com as perseguições, com as injúrias. Mas isso é como os tesouros que vamos cravejando em nossa cruz, para que ela se torne suave e tenhamos a coragem de carregá-la para que ela brilhe no mundo.

Num mundo de guerra e de muros de separação como o nosso o Evangelista diz que se o guerreiro não consegue ganhar a guerra que envie embaixadores da paz. Acabamos de rezar, em comunhão com o grande Francisco, o Papa da paz, na Igreja e no mundo, a rezar pela concórdia na Síria. Ouso dizer que antes de rezar pela paz na Síria devemos rezar pela paz interna na Igreja. Creio que devemos cessar as perseguições, o uso excessivo do legalismo, o uso excessivo dos paramentos elitistas. Quanta gente na Igreja só aparece pelas roupas "escarlates" e se esquece de subir aos morros, de ir às periferias, de estar com os mais pobres, de sair da soberba e da arrogância. Quantos eclesiásticos vivem a morder a língua da maledicência e da guerra interna dos "dossiês", das calúnias, das disputas de poder, demonstrando o seu gosto de mandar e de oprimir só para dizer que "eu mando" e pronto. Não devem ter lido o Evangelho de hoje.

A vida cristã nos ensina sabedoria de acolher a todos: a começar pelos mais pecadores e a renunciar ao maior pecado de hoje: a soberba e a vaidade. Vamos, caminhando de ônibus pelas ruas de nossas cidades, procurando as periferias existenciais e anunciando que a Sabedoria de Jesus Cristo nos ensina a acolher a todos, esquecendo o seu passado, e iniciando do hoje, que Cristo nos chama "Vós fostes, Ó Senhor, um refúgio para nós"(cf. Sl. 89).
Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo emérito de Juiz de Fora (MG).

A BÍBLIA E A PRIMAVERA


O mês de setembro chega trazendo a primavera ao nosso hemisfério e, junto com a beleza do tempo, o tema da Sagrada Escritura. O fato de celebrarmos, no dia 30 de setembro, o dia do patrono dos estudos bíblicos, São Jerônimo, fez com que pudéssemos aprofundar esse tema durante este período. Setembro é o mês da Bíblia, sendo que, no último domingo, comemora-se o Dia Nacional da Bíblia.

A leitura orante da Bíblia ou a lectio divina aos poucos vai entrando na realidade de nosso povo, que passa a colocar a Palavra de Deus como início da reflexão que vai iluminar a realidade das pessoas. São passos que, pouco a pouco, os grupos e comunidades começam a dar, sempre em torno da Sagrada Escritura. Ela nos traz a revelação de Deus para a nossa salvação.

Na Sua misericórdia e sabedoria, quis Deus revelar-se a si mesmo a nós na pessoa de Cristo e pela unção do Espírito Santo para que tivéssemos acesso a Ele e participássemos de Sua glória.

Deus se revela ao homem e o convida a partir para uma terra desconhecida que lhe seria mostrada. Nessa caminhada, o Senhor vai se mostrando, revelando-se aos que creem e, quando é chegado o tempo, a revelação se completa em Cristo, a Palavra de Deus: "No principio era a Palavra e a Palavra estava em Deus, e a Palavra era Deus... E a Palavra se fez carne e veio morar entre nós” (Jo 1,1.14). Por Cristo, somos glorificados! E todos nós que recebemos a Palavra e nela acreditamos, tornamo-nos filhos de Deus. Esse caminho Deus faz conosco. Respeita o nosso crescimento intelectual e volitivo, seja na nossa capacidade pessoal, seja na evolução cultural do grupamento humano, de tal forma que podemos sentir em nós mesmos a caminhada do povo de Deus.

À medida que nos abrimos à fé, partimos com Ele nos momentos de contemplação, de glória e, também, como as Escrituras nos mostram, nas traições, quando renunciamos a seu amor e vamos atrás dos “baals” de todos os tempos. Ouvindo a voz penitencial dos profetas, retornamos da “Babilônia” do pecado, que existe em todos os tempos e, também, no íntimo de nós.

Na bondade de Deus, como um resto, voltamos a “Sião”, sempre aguardando a plena revelação de Deus no Seu Filho, que nos salva por Sua morte e nos dá o Seu Espírito para que anunciemos em nós e em toda terra a Sua ressurreição e nossa participação no mistério trinitário de Deus.

A Bíblia Sagrada, com toda a Tradição da Igreja, em seguimento à Palavra de Cristo revela ao nosso coração este plano divino para a humanidade – restaurar tudo em Cristo – e nos envia: “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda a criatura. Aquele que crê e for batizado será salvo; o que não crer será condenado” (Mc 16,15-16).

A Bíblia é o relato da manifestação do amor de Deus que, gradativamente, nos leva por Cristo, em Cristo e com Cristo à intimidade da vida divina e, como consequência, a uma nova vida, fermento de um mundo novo.

Somos o povo que se encontra com a Palavra Viva, o Verbo Eterno, Jesus Cristo! Ele é a nossa vida e o caminho que nos conduz ao Pai. Eis um tempo favorável para aprofundarmos a importância de ser discípulos missionários à luz do Evangelho, procurando em nossos grupos de reflexão deixar a Palavra falar ao nosso coração e nos fazer renovados em Cristo.

A Primavera está associada à Pascoa: a certeza da vida que vence a morte! Que o mês da Bíblia, recém-iniciado, seja uma nova primavera: a certeza da vida que renasce e se abre, vencendo a morte e o pecado.
Dom Orani João Tempesta, O. Cist

NATIVIDADE DE NOSSA SSENHORA


A Igreja celebra, com júbilo, muitas festas e solenidades de Nossa Senhora por ser a Mãe de Deus humanado, por ter dado corpo ao Verbo Divino, para que acontecesse a salvação da humanidade. A celebração do nascimento da Virgem Maria, como disse Santo André de Creta (cf. Ofício das leituras), honra a natividade da Mãe de Deus.

O nascimento de Maria anunciou a alegria e a aproximação da Salvação do mundo perdido; por isso, essa festa é celebrada na Igreja com grande louvor e ação de graças.

Com o seu 'sim' a Deus, Maria respondeu em nome de toda a humanidade ao Senhor e permitiu, então, que o Senhor da História entrasse na história dos homens para salvá-los. Por isso, a Igreja presta à Virgem Santíssima o culto chamado “hiperdulia”, super veneração.

Maria nasceu para ser a Mãe do Salvador, daquele que é “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1,29). Por isso, somente de Maria, como também de João Batista e Jesus Cristo, a Igreja celebra não só o nascimento para o céu, mas também o nascimento para este mundo. Maria foi concebida no ventre de sua mãe Ana, sem o pecado original, para poder gerar o Criador em forma humana. Ela veio ao mundo de forma diferente de todos os demais humanos, não isenta da graça santificante e não sujeita ao pecado, mas, pura, bela, formosa e gloriosa, adornada das graças mais preciosas que convinha Àquela escolhida para ser a Mãe do Salvador. Ela é a Nova Eva, que veio para desatar o nó da desobediência de Eva, e esmagar a cabeça de Satanás (cf. Gn 3,15).

Por isso, esta festa foi sempre celebrada com louvores por muitos Santos Padres, que tiraram suas conclusões da Bíblia. São Pedro Damião, (1007-1072), doutor da Igreja, no seu “Segundo Sermão sobre a Natividade de Nossa Senhora”, diz:

“Deus onipotente, antes que o homem caísse, previu a sua queda e decidiu, antes dos séculos, a redenção humana. Decidiu, portanto, encarnar-se em Maria.

Hoje é o dia em que Deus começa a pôr em prática o seu plano eterno, pois era necessário que se construísse a casa, antes que o Rei descesse para habitá-la. Casa linda, porque, se a Sabedoria constrói uma casa com sete colunas trabalhadas, este palácio de Maria está alicerçado nos sete dons do Espírito Santo. Salomão celebrou de modo soleníssimo a inauguração de um templo de pedra. Como celebraremos o nascimento de Maria, templo do Verbo encarnado? Naquele dia a glória de Deus desceu sobre o templo de Jerusalém sob forma de nuvem, que o obscureceu. O Senhor que faz brilhar o sol nos céus, para a sua morada entre nós escolheu a obscuridade (cf. 1Rs 8,10-12), disse Salomão na sua oração a Deus. Este mesmo templo estará repleto pelo próprio Deus, que vem para ser a luz dos povos.

Às trevas do paganismo e à falta de fé dos judeus, representadas pelo templo de Salomão, sucede o dia luminoso no templo de Maria. É justo, portanto, cantar este dia e Aquela que nele nasceu. Mas como poderíamos celebrá-la dignamente? Podemos narrar as façanhas heroicas de um mártir ou as virtudes de um santo, porque são humanas. Mas como poderá a palavra mortal, passageira e transitória exaltar Aquela que deu à luz a Palavra que fica? Como dizer que o Criador nasce da criatura?”

Esta festa teve origem no Oriente. No Ocidente o Papa São Sérgio (687-701) ordenou que fosse celebrada em Roma. A tradição diz que a Virgem nasceu em Jerusalém, nas proximidades do tanque de Betesda, onde atualmente se venera uma cripta sob a igreja de Santa Ana, como sendo o local onde nasceu Nossa Senhora.
Felipe Aquino
Canção Nova

9 de agosto de 2013

PÓS JMJ: BOTE FÉ, BOTE AMOR, BOTE ESPERANÇA

Após a tão aguardada Jornada Mundial da Juventude no Rio trazemos no coração um novo ardor e uma fé mais viva e disposta a dar testemunho contra a corrente, aliás tão ressaltado pelo papa Francisco. Foram dias de muitas experiências ricas: a unidade na mesma fé, as orações em comuns, a Palavra de Deus refletida, a Eucaristia celebrada, a alegria de ser fiel discípulo do Senhor, que traz em si o desejo de partilhá-la com os demais, o respeito, a paz... A experiência de peregrinar, caminhar, seguir confiando não na mochila que os jovens traziam em suas costas, mas simplesmente confiando no Senhor. “Confia no Senhor e faze o bem, habita na terra e vive tranquilo” (Sl 37, 3).

Sem sombras de dúvida a JMJ marcou positivamente a Igreja no Brasil e a evangelização da juventude. Os milhões de jovens no Rio e acompanhando pelos meios de comunicação se transformou em um dos mais belos testemunhos de fé que o mundo viu. De fato, como o próprio papa lembrou: são os jovens seus herois porque expressam o rosto jovem de Cristo. Os jovens exortados pelo Papa Francisco foram convidados a acrescentarem três elementos em suas vidas: fé, amor e esperança.

É preciso que a cruz plantada no coração de cada católico o faça ser campo aberto, onde haja receptividade para Cristo e sua Palavra. É preciso que se deixe envolver-se e dar-se por Jesus Cristo. O jovem é marcado por grandes ideais, que apostam alto, que querem escolhas definitivas que garantam sentido às suas vidas. E é exatamente estes grandes desejos que encontram em Cristo e em sua Igreja a resposta necessária.

De fato, podemos ter a certeza que a Nova Evangelização empreendida a partir do Beato João Paulo II tem nas jornadas um dos momentos altos, pois elas despertam para a sensibilidade da fé, tira-nos do comodismo para nos lançarmos ao Mistério, que é Deus, ao outro, que é meu irmão. 

As jornadas é o sinal de que a Igreja está próxima, ama, cuida e acaricia os seus fieis. Em um tempo tão marcado pela violência, pelo individualismo, consumismo, corrupção, esvaziamento, depressão; os jovens gritaram no silêncio orante de Copacabana que vale a pena trazer no peito a cruz de Cristo, que vale a pena ter fé e experimentar a proximidade com Cristo. É possível ter fé e dialogar com o mundo. São jovens no mundo, que contra a corrente, na mais variadas vezes, afirmam seu amor a Deus sem perder a alegria e a ternura, tão bem expressados nos cantos, nos sorrisos, nos abraços e nos apertos de mão. Aliás, tais gestos foram a marca da passagem do papa Francisco pelo Brasil – fé e esperança de que vale a pena crer. “Partilhar a experiência da fé, testemunhar a fé, anunciar o Evangelho é o mandato que o Senhor confia a toda a Igreja, também a você. É uma ordem, sim; mas não nasce da vontade de domínio, da vontade de poder. Nasce da força do amor, do fato que Jesus foi quem veio primeiro para junto de nós e não nos deu somente um pouco de Si, mas se deu por inteiro, Ele deu a sua vida para nos salvar e mostrar o amor e a misericórdia de Deus. Jesus não nos trata como escravos, mas como pessoas livres, como amigos, como irmãos; e não somente nos envia, mas nos acompanha, está sempre junto de nós nesta missão de amor” (Papa Francisco).
Geraldo Trindade 
Bacharel em filosofia pela Faculdade Arquidiocesana de Mariana, estudante de teologia no Seminário São José da arquidiocese de Mariana (MG)

FRANCISCO: "SORRISO DE UM BOM CORAÇÃO"!

Caros amigos, quero através destas poucas linhas tentar descrever uma experiência que para mim foi única e sublime; as palavras tentam demonstrar um pouquinho de tudo o que vivi. Estar próximo ao Papa Francisco me trouxe um sentimento de que eu estava representando muitos jovens que tinham o desejo de receber o seu abraço ou mesmo de contemplar de perto o seu sorriso. 

Francisco... Simplicidade até no próprio nome. O primeiro contato que tive com o Santo Padre foi logo que ele desceu da Sacristia improvisada próxima à Capela dos Apóstolos no Santuário Nacional, pois eu iria entrar com ele na procissão de entrada da celebração eucarística. Logo que desceu e nos avistou todos ali o esperando para o início da celebração o Santo Padre já nos saudou com um sorriso gostoso e acolhedor. Durante toda a celebração estive “cara a cara” com o Papa, pois fui o responsável de segurar o microfone para ele (Agüenta coração! Rs). 

Após a celebração nos dirigimos todos ao Seminário Bom Jesus, berço das vocações na Arquidiocese de Aparecida. Ali esperamos por minutos que pareciam não passam aguardando o trajeto do Santo Padre de “papamóvel” do Santuário até o Seminário. Todos ali, na entrada do prédio, ansiosos pela visita do Sucessor de Pedro. Logo que chegou o Santo Padre já esbanjou sua simpatia distribuindo abraços a todos que ali se encontravam; logo também cumprimentou os seminaristas e padres que ali residem. Ao passar por mim senti uma grande paz, era a segunda vez que tinha um contato tão próximo com o Papa. Não perdi a oportunidade, foi ali mesmo que entreguei a ele uma “bandana”, um lenço com os nomes de vários jovens da Paróquia Nossa Senhora da Glória (Guaratinguetá) do meu grupo da JMJ, dos seminaristas e de alguns amigos. Ao entregar a ele o lenço lhe disse “Santo Padre receba um presente de alguns jovens”, ele me acolheu com um surpreso sorriso e me questionou “É para mim mesmo”, mais que pronto respondi “Sim, aí estão os nomes de vários jovens que vão à JMJ” e ele mais que depressa colocou a “bandana” no pescoço e me perguntou “posso usar assim?” e ali os sorrisos e um belo clima de descontração se fizeram presentes. 

Naquele gesto simples senti o amor do Papa pelos jovens. Sua espontaneidade conquista, atrai e envia os jovens em missão. Almoçamos com o Santo Padre no Seminário. E que almoço! Eu não sabia se comia ou se ficava somente contemplando o singelo semblante do Santo Padre. Depois da refeição o reitor do Seminário pediu ao Santo Padre que nos concedesse uma benção e ele mais que pronto lha concedeu, ao término o Papa nos fez o seu insistente pedido: “Rezem por mim!”... Isso tudo me soou tão suave e carinhoso aos ouvidos. Esse foi o terceiro contato com o Santo Padre. 

Após esse momento o aguardamos na saída do seminário. Ao subir no “papamóvel” estávamos do ladinho do mesmo aguardando mais um “tchauzinho” pelo menos; e eis que o Papa nos surpreende vindo ao nosso encontro e dizendo em alto e bom tom “Sean Buenos curas!” (Sejam bons padres!) O que tocou meu coração e que veio como o mandato de um pai que ama os filhos e que querem que eles sejam bons.

Todo esse momento ao lado do Papa me fez ver a maravilha que é ser um Cristão autêntico. Pude fazer uma experiência de estar #seguindoopapa, ou seja, após sua ida para o Rio de Janeiro lá também fui eu participar da JMJ. Que maravilha! Que graça de Deus na vida da juventude de todo o mundo! Como costumo sempre dizer aos que me perguntam, a vinda do Santo Padre à JMJ e suas atividades que nos revelam um servidor, um homem simples, querem nos dizer muito e chamar a nossa atenção para que – mais do que nunca – sejam Cristãos e, especialmente jovens do encontro. Devemos ir ao encontro dos outros que precisam de nós. O mandato foi feito “Ide fazei discípulos entre todas as nações” e agora cabe a cada um de nós jovens levarmos o sorriso, o carinho e a simplicidade de Francisco aos demais jovens que se encontram em meio às drogas, aos vícios... O encontro com o Papa não me “deixou nas nuvens”, muito pelo contrário, me lançou pra frente, me colocou ainda mais os pés no chão e me fez perceber que minha missão é estar entre os jovens para ajudá-los também nos seu processo de encontro com o Mestre Jesus para que também estes sejam missionários. 

Deus abençoe a todos. Aprendi com o Papa a fazer algo muito belo, pedir sempre e insistentemente: “Rezem por mim!”

Paz e Bem! Deus abençoe a todos!
Luiz Fernando Miguel
Seminarista da arquidiocese de Aparecida (SP)

O PAPA FRANCISCO E O OLHAR PARA TRÁS: A JMJ DE 2013

A primeira viagem Apostólica do Papa Francisco, ocorreu na vigésima oitava jornada mundial da juventude. Quis Deus, na sua benignidade, fosse o Brasil, dentro do primeiro ano do seu pontificado. Na sua metodologia ingressou pelo portal do coração. Que linda palavra para demonstrar um dos mais importantes órgãos do ser humano. É ele que nos da vida. Em sua feliz colocação, o Santo Padre, demonstrou o que Jesus disse: “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10, 10). O coração é o promotor da vida. Na simplicidade das palavras do Pontífice, disse: “Permitem-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta”. Referindo-se ao coração, implicitamente, fez uma alusão à porta estreita (Lc 13, 24). Deu a entender, ao dizer, “que não trazia nem ouro nem prata”, mas trazia o mais precioso, Jesus Cristo. É precisamente o Mestre que nos diz: “Quem põe a mão ao arado e olha para trás não é digno de mim” (Lc 9, 51-62). Acredito que o Papa queria renovar a terra e colocar os jovens para trabalhar na Vinha do Senhor. A parábola da Vinha do Senhor é muito oportuna aqui (Mt 20, 1-16). Lá vimos jovens para todas as horas do dia. O que interessa é que nenhum ouse olhar para trás.

Ao abrir as cortinas do palco da JMJ aquela multidão de Jovens, certamente, pensou: Quantas pessoas e coisas vou conhecer e aprender aqui. A figura profética do Sumo Pontífice sua aparência, seu comportamento, suas atitudes / palavras revelam de modo manifesto, a condição de que algo novo iria acontecer. É aqui que devemos ser criativos, considerando a possibilidade de ganhar ou perder, de romper com velhos padrões para aderir aos novos. O Papa com seus textos e mensagens quer que sejamos novos “atores” sociais de uma nova evangelização. O Documento de Aparecida é a bussola. Ele (documento) apresenta-nos o elenco a prudência a habilidade de conduzir nosso contato com mais profundidade orante, deixando o pessimismo e a mediocridade, abrindo-nos ao otimismo encorajador. Esta é a pedra filosofal do Papa ao se referir ao documento de Aparecida ( Cf. V Conferência do Episcopado da América Latina e do Caribe 13 a 31 de maio de 2007). As palavras de Paulo a Timóteo são sempre novas e atuais neste contexto: “Eu sei em quem depositei minha confiança” (2 Tm 1, 12). O Santo Padre nos encoraja.

Eis que vivemos num mundo em constante mudança. Acredito que isso não seja novidade para ninguém. Devido a esta inovação, a cada dia, necessitamos de informações atualizadas e adaptadas. É a realidade da vida. A da Igreja não é diferente. Devemos estar sempre preparados para o novo. Aquele que olha para trás, percebe que foi, exatamente, neste momento que perdeu a grande chance de avançar em “águas mais profundas” (Lc 5, 4). Jesus formalmente nos diz: “Quem olha para trás não é digno de mim” (Lc 9, 62). Para isso, devemos dar importância a cada oportunidade, consultando nossa consciência, ouvindo a “voz” do coração e permeando os sentimentos como grandes conselheiros. A natureza humana tem algo que lhe é intrínseco, a busca. Não enterres o talento que Deus te deu (Mt 25, 14 - 30; Lc 19, 12 - 27). Jovens vocês foram enviados pelo Papa. 

Diante dos altos e baixos, das certezas e dúvidas que a trajetória da sociedade nos oferece, somos convidados a nos engajar sempre numa nova fase, sem nunca olhar para trás, assumindo uma postura diante do eu que nos faz viver e, sobretudo, diante da vida. Não nos podemos achar pequenos ou indefesos diante do nuclear ou da era da informática. Jesus é mais. Não somos nenhum míssil ou algo supersônico. Nós somos o que somos e isso basta. Não temos a pretensão de ser e-mail, que nos lembra a velocidade de anos luz. Somos humanos e como tal queremos e merecemos ser tratados. Jesus nos diz: “Eu vos chamo de amigos” (Jo 15, 15), logo pessoa, gente.

Não queremos ser deslocamento histórico, mas observadores da história. Nossa intenção não é olhar para trás para criticar ou erigir opiniões compulsivas esquecendo o sentimento e a vivência de cada época. Nossa consciência não quer ser cortesia do “eu penso” por “eu sinto”. Não somos “caixa de ferramentas” com peças que só servem para instantes quando algo está errado. Queremos ser “amortecedores” novos de um pensar consciente, desenvolvendo a habilidade de lidar com sentimentos capazes de transformar a intenção em ação e, sobretudo, ter um coração que perceba, sinta e aceite a capacidade que o eu e o outro somando forças podem transformar o mundo. Jesus é explicito: “Eu vos dei o poder” (Lc 10, 19). Não queremos medir ou pesar distâncias, nosso desejo é fazer reinar o primeiro passo. Nossa intenção nos leva avante a exemplo daquele que anunciou o Reino dos Céus comparando-o a um grão de mostarda (Mt13, 31-32; Mc 4,30; Lc 13,18). Não olhe para trás. O Papa nos pede isso.

O ápice da vitória daquele que acredita no não olhar para trás, está naquele que é “Caminho, Verdade e Vida” (Jo 14,6) Jesus Cristo. O vitorioso não se intimida em levar adiante seus sonhos, planos e projetos, mesmo que alguns possam falhar ou não atingir o sucesso almejado. Só o tentar demonstra que você existe. O apogeu do triunfo está no não reclamar de tudo e de todos, bem como, responsabilizar os outros como os eternos culpados por seus problemas, mas organizar suas forças Naquele que disse que somos sal e luz do mundo ((Mt 5, 13 -16). Jovens vocês são vinho novo (Mt 9, 17; Mc 2, 22) em odres novos. Nossa maior aventura é olhar para frente, ser fermento na massa (Mt 13, 33) e jamais alimentar o sentimento de que somos inúteis. Não olhe para trás. Pense nisso.
Cônego Manuel Quitério de Azevedo
Arquidiocese de Diamantina (MG)

AMOR E SEXO NA VIDA CONJUGAL


Dentre as muitas definições que arriscamos fazer sobre a palavra “amor”, nenhuma delas poderá ser eficaz se não houver o comprometimento das pessoas naquilo que lhes traz a realização mútua.

Algumas pessoas vivem seu relacionamento conjugal de maneira bastante turbulenta, com abusos, violência ou em situações de egoísmo que jamais poderiam ser estabelecidas num convívio, o qual tem como princípio o crescimento comum. Tal relacionamento, se assim permanecer, alcançará uma condição insustentável, fazendo com que um dos cônjuges opte pela separação, ainda que tenham se casado por amor.

Todavia, muitos casos de separação não acontecem somente pelas agressões sofridas por um dos cônjuges. Outras situações podem fazer com que os casais vivam a separação silenciosa, a qual facilmente poderá resultar no rompimento do compromisso conjugal ou permitir a abertura para relacionamentos paralelos, alegando que o amor e o encantamento do início tenham desaparecido entre eles.

Muito se comenta sobre a necessidade de o casal fazer o resgate do romantismo, mesmo tendo acumulado algumas dezenas de anos de vida conjugal. Mas o que eu tenho recebido como resposta é a dificuldade em recuperar tal sentimento devido às muitas “cinzas” surgidas sobre “as brasas” daquele amor que originou o casamento. Isso porque a falta de comprometimento e de atenção às outras queixas – inclusive no que diz respeito à vida sexual do casal – esvaziou-se ao longo do tempo.

Conhecemos as responsabilidades e os compromissos que envolvem a vida conjugal, aquilo que é o prático para a manutenção do lar e da família. Dessas atividades, parece ser prioritário tanto para as esposas quanto para os maridos o cumprimento de seus afazeres estabelecidos como metas do dia, mesmo que para isso eles tenham que aplicar todo seu esforço físico. Dentro dessa dinâmica própria da vida conjugal, os casais podem deixar-se envolver pelas muitas atividades que compreendem o seu dia a dia.

Contudo, é importante para eles se lembrarem de também valorizar outras atitudes que alimentam e fazem a manutenção do amor que desejam nutrir na relação entre homem e mulher, pois, se quando eles eram apenas namorados, foram capazes de fazer todas outras coisas e ainda disponibilizar de um tempo para se prepararem para a (o) namorada (o), hoje as manifestações de carinho para com o cônjuge precisam ter o mesmo grau de importância.

Os momentos de namoro entre os casados não podem acontecer ou serem esperados apenas nas ocasiões de celebração como aniversários de casamento ou em uma viagem, tampouco podem ficar presos a dias específicos da semana.

Se as inúmeras tarefas domésticas, tanto para o marido quanto para a esposa, roubam esses momentos, talvez fosse interessante para os cônjuges incluir, naquilo que é de suas ocupações, também a vivência da intimidade como parte integrante do relacionamento.

A falta de atitude para uma mudança desgasta qualquer relacionamento e, no caso do casamento, poderá minar até mesmo o desejo em trocar beijos mais calorosos ou criar outros momentos de sedução, os quais poderiam propiciar a intimidade.

As bases para esses momentos acontecem quando lembramos que o nosso cônjuge também tem desejos íntimos e espera vivê-los com quem se casou. Vale notar que tal momento, mais que extravasar a libido, deverá ser resultado de outros gestos que ratificam uma união, na qual, seus efeitos extrapolam no tempo e no contato físico. Tudo ganha um novo significado.

Assim, para evitar as famosas escapulidas ou justificativas como o cansaço, a falta de disposição, o sono, a preguiça e a mais conhecida de todas as desculpas – a dor de cabeça – para se esquivarem da intimidade conjugal, o casal optaria por aplicar também para a vida sexual o mesmo grau de interesse com que valorizam suas outras obrigações.

É certo que o trabalho, as obrigações com a família e o lazer são importantes, contudo há uma maneira própria de cada um fazer o cônjuge se sentir sempre o “número 1” como foi em tempos de namoro.

Um abraço!
Dado Moura

DECEPÇÃO


“Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem grito, nem dor, porque as coisas anteriores passaram” (Ap 21,4).

Enfrentamos inúmeras situações em nossa história que, com ou sem a nossa autorização, acabam nos trazendo esse terrível sentimento: a decepção. Quem nunca se desencantou com alguém em quem acreditava? Quem já não esperou por realidades que não se concretizaram? Quem já não fez a experiência de não ser correspondido quando amou? A decepção é um sentimento presente na vida humana e nós precisamos aprender a bem administrá-lo.

Em algum momento de nossa história, todos nós nos decepcionamos, todos experimentamos a infelicidade de não nos sentirmos os “prediletos”. Contudo, é preciso compreender que se esse sentimento não for trabalhado e superado, poderá nos marcar com desastrosas consequências.

A decepção é um profundo veneno e, quando faz morada no coração, tende a nos roubar o entusiasmo, a alegria e o ânimo, além de nos fazer desacreditar da vida e das pessoas em geral. Ela nos leva a pensar que nossas lutas são em vão, roubando, assim, o sentido de nossos esforços e crenças. Por isso, precisamos sempre contra-atacar esse sentimento.

Antes de tudo, é preciso destruir definitivamente alguns chavões: “homem é tudo igual, não leva nenhuma mulher a sério”, “meus namoros nunca dão certo”, “eu não paro em nenhum emprego”, “o casamento é ilusão, na prática não funciona” etc. É preciso romper com a mentalidade negativista que a decepção acaba fabricando em nós.

Não é porque uma mulher viveu uma experiência dolorosa com um determinado homem, que todos eles “não prestam”. Há, sim, homens bons. Não é porque o casamento de algum conhecido (até mesmo o seu) não deu certo, que o casar-se tornou-se uma utopia irreal. Não é porque você se decepcionou uma vez, que irá se decepcionar sempre. Nem todas as pessoas são ruins e falsas.

Não temos o direito de desistir de amar pelo fato de termos vivido experiências difíceis. É preciso não se tornar escravo(a) da decepção, acreditar na vida, na família, nas pessoas, em Deus! É preciso tentar de novo, recomeçar.

Amanhã tudo poderá ser melhor, pois, a cada dia que se inicia, Deus nos dá a oportunidade de reescrever nossa história e, com Ele, poderemos dar cor e vida ao que antes era dor e ausência.

Deus é fiel e, diante das desventuras, Ele estará sempre pronto a abrir novos caminhos para que possamos recomeçar. É preciso acreditar e não parar na decepção. É preciso acreditar e não deixar a doçura presente nos dias se amargar. É preciso acreditar sempre!
Padre Adriano Zandoná
missionário da Comunidade Canção Nova.

NÃO SEJAMOS DESERTORES DA VONTADE DE DEUS

Tomai cuidado, diletos, para que os benefícios de Deus, tão numerosos, não se tornem condenação para todos nós, se não vivermos para ele de modo digno e não realizarmos em concórdia o que é bom e aceito diante de sua face, pois foi dito em algum lugar: “O Espírito do Senhor é lâmpada que perscruta as cavernas das entranhas” (Pr 20,27 Vulg.).

Consideremos quão próximo está e que nada lhe é oculto de nossos pensamentos e palavras. É, portanto, justo que não sejamos desertores de Sua vontade. É preferível ofendermos os homens estultos e insensatos, soberbos e presunçosos na jactância de seu modo de falar, a ofender a Deus. Veneremos o Senhor Jesus, cujo Sangue foi derramado por nós, respeitemos nossos superiores, honremos os anciãos, eduquemos os jovens na disciplina do temor de Deus, encaminhemos nossas esposas para todo o bem. Manifestem o amável procedimento de castidade, mostrem seu puro e sincero propósito de mansidão, pelo silêncio deem a conhecer a moderação da língua, tenham igual caridade sem acepção de pessoas para com aqueles que santamente temem a Deus.

Participem vossos filhos da ciência de Cristo. Aprendam que grande valor tem para Deus a humildade, o poder da casta caridade junto d'Ele, como é bom e imenso Seu temor, protegendo a todos que n'Ele se demoram na santidade de um coração puro. Ele é o perscrutador dos pensamentos e resoluções da mente. Seu Espírito está em nós, e, quando quer, retira-o.

A fé em Cristo tudo confirma. Ele, pelo Espírito Santo, nos incita: “Vinde, filhos, ouvi-me; ensinar-vos-ei o temor do Senhor. Qual é o homem que quer a vida e deseja ver dias bons? Afasta tua língua do mal e não profiram teus lábios a mentira. Desvia-te do mal e faze o bem. Busca a paz e persegue-a” (Sl 33,12-15).

Misericordioso em tudo, o Pai benigno tem amor pelos que O temem, concede com bondade e doçura Suas graças àqueles que se aproximam d'Ele com simplicidade. Por isso não sejamos fingidos nem insensíveis a Seus dons gloriosos.
São Clemente I, Papa e Mártir - Século I

6 de agosto de 2013

LEGADO DE LIÇÕES DA JMJ

A Jornada Mundial da Juventude 2013 (JMJ), festa da fé realizada no Rio de Janeiro, deixa um legado de lições a serem vivenciadas pela Igreja Católica e por toda a sociedade. Três delas se destacam. Em primeiro lugar e acima de tudo está a evidência da significação da presença e da centralidade de Deus na vida de cada pessoa e da sociedade. Destaca-se também o testemunho luminoso do Papa Francisco, configurado em simplicidade, ternura, transparência e proximidade, na sua primeira visita internacional, ainda bem no início de sua missão como sucessor do apóstolo Pedro. E no coração deste cenário, obviamente, a razão da Jornada Mundial da Juventude, a presença maciça e envolvente dos jovens procedentes do mundo inteiro. Essas lições se desdobram em muitas outras constituindo a Jornada Mundial da Juventude como fonte de referência.

A presença de Deus no coração de cada pessoa e no grandioso coração da multidão reunida nas ruas e praças, no aconchego das famílias, nas igrejas ou nos ambientes de trabalho e lazer, muda tudo. Abre caminhos na direção do bem e fortalece a convicção de que o amor conduz à fundamental afirmação da vida, lugar comum e inegociável do encontro de todos com suas afinidades e diferenças.

A análise simples do que ocorreu nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, particularmente nos eventos em Copacabana, especialmente a congregação de mais de três milhões de pessoas na Missa de envio, encerrando uma verdadeira “maratona da fé”, comprova o diferencial em razão da centralidade de Deus. Sua presença no coração de cada um configurou uma grande comunidade, pela fé e pelo amor, de irmãos e irmãs de diferentes raças, línguas, povos, culturas e procedências. Um nível de unidade e fraternidade, sem incidentes ou violências, que só a presença amorosa de Deus consegue articular e manter.

Particularmente, merece atenção o admirável silêncio ante o mistério ali celebrado. Silêncio amoroso e de reverência que, certamente, Copacabana jamais presenciou. Essa força de Deus é uma lição para uma nação laica, por suas razões constitucionais, mas com um povo que preza e se sustenta pelo tesouro de sua fé. Uma realidade que adverte e pede a atenção de governantes e construtores dessa sociedade pluralista. Que torna imprescindível considerar esse horizonte de lições se quiserem dar consistência a projetos sociais e políticos no atendimento das demandas do povo.

O testemunho do Papa Francisco, luminoso por seu caráter evangélico e pela proximidade do seu jeito de ser ao de nosso Mestre Jesus Cristo, ilumina o horizonte do caminho missionário da Igreja. Verdadeiro discípulo do Senhor, Francisco ajuda a sociedade a buscar, de modo imprescindível, a fraternidade e a solidariedade. A proximidade junto a todos, especialmente pobres, sofredores, crianças, sua palavra simples, direta e densa de interpelações, tudo cultivado com a alegria de ser servidor de todos, consolida um rumo novo no caminho evangelizador da Igreja. Oferece muito, ou quase tudo o que a sociedade necessita aprender para ser mais justa e solidária.

Por isso mesmo, o testemunho do Papa Francisco, na gravidade de sua responsabilidade e no peso da repercussão singular de seus gestos e palavras, reafirma o horizonte que deve sempre orientar o caminho da Igreja e de todos os discípulos de Jesus. É primordial essa sua missão como sucessor do apóstolo Pedro, o escolhido por Cristo para presidir o colégio dos primeiros apóstolos. Início do caminho bimilenar da Igreja Católica, que atravessa os tempos pela força de testemunhos como o do Papa Francisco.

Sua missão assim vivida aponta decisivamente o rumo e o rosto de nossa Igreja. Fortalece testemunhos, alarga o comprometimento com uma Igreja simples, pobre, próxima, hospitaleira, que testemunha o Evangelho de Jesus Cristo, nele alavancando crescimentos. Virtudes reafirmadas de maneira eloquente na 5ª Conferência dos Bispos Latino-Americanos e Caribenhos no Santuário de Aparecida, em 2007, com presença e decisiva contribuição do então cardeal Bergoglio. Esse testemunho do Papa Francisco toca especialmente a juventude, que tem uma presença envolvente, anseios e dinâmicas próprias dessa fase da vida. Lições que indicam um lugar de escuta e de aprendizagem para introduzir todos no tempo novo da Igreja e da sociedade. 
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG).

JMJ: CHUVA DE GRAÇAS DIVINAS

Foi sucesso inesperado. Tudo parecia meio complicado até o momento de se iniciar a maior concentração popular do mundo ocidental da atualidade. As inscrições pareciam poucas, a crise econômica da Europa parecia um obstáculo forte, a violência praticada por vândalos nas manifestações de rua no Brasil impunha receios, e por fim, a meteorologia indicava situação dificílima, com queda brusca da temperatura, coisa raríssima no Rio de Janeiro. E assim começou a JMJ. Ao início da semana, tempo chuvoso de uma chuva gelada parecia ameaçar a participação nas catequeses em mais de 250 pontos da periferia ao centro do Rio. Não ameaçou. O Campus Fidei, onde a Igreja empregou milhões de reais para a missa de encerramento, alagava a cada dia. A chegada do Papa Francisco parecia ter sido minimizada por autoridades civis que não prepararam bom esquema de trânsito e nem segurança suficiente. 

Grupos agressivos a Cristo, à Fé Católica e ao direito das pessoas de crerem em Deus e de manifestarem sua fé, extremistas e propugnadores de teses contrárias à moral, à ética e aos direitos humanos manifestavam verdadeiro Odium Fidei, e comprometiam a paz, desafiando até mesmo a polícia e o exército com insultos inexplicáveis aos olhos da boa educação e da saúde mental. 

Depois de rezar com fervor, por vários dias, para a melhoria do tempo e pedindo a proteção para todos nós, cheguei a perguntar a Nosso Senhor: que quereis Vós, ó meu Deus, com este perigo de insucesso? Em que nós teríamos errado, Senhor, para sermos punidos desse jeito?

Porém, ao final do evento, pude perceber que tudo estava misteriosamente no coração amoroso de Deus e que mais uma vez se comprova que Ele não desampara o seu povo e dá vitória final a quem nele confia. A multidão dos fiéis, cuja fé foi mais forte que a chuva e o frio, como expressou o Papa Francisco, foi esplendorosamente recompensada pelo Pai Celeste. Ouvir a Palavra de Deus explicada com sabedoria e santidade pelo Papa Francisco; ver o Sucessor de Pedro que tem alma transparente e todas as características de um Pastor autêntico, simples, sem medo nem mesmo de arriscar sua vida só para ter contato direto e imediato com o povo santo de Deus; observar o crescendo da multidão de brasileiros e estrangeiros que iam chegando a cada dia até passar de três milhões e meio; sentir a sede de Deus, o interesse pela fé e a postura piedosa e comprometida dos rapazes e moças nas catequeses, o entusiasmo, até às lágrimas, por Jesus Cristo por parte daquele mar de jovens na praia de Copacabana; observar a atitude não agressiva, orante e marcada pelo amor aos inimigos, como Jesus ensinou, diante das provocações horríveis de manifestantes; sentir o amor de Cristo que quase se podia tocar com as mãos nos momentos da Via Sacra, da Vigília Eucarística e da Missa do Envio, receber a luz maravilhosa do sol brilhante dos últimos dias, ver a beleza natural do Rio de Janeiro presidida pelo Cristo Redentor no Corcovado, e tantas outras maravilhas de Deus acontecerem a olho nu, foi algo de lavar a alma e de criar um ânimo novo e surpreendente na propagação da fé para o povo de nosso tempo. Ouvi de vários jovens expressões como estas: “vale a pena ser católico”, “como a Igreja é bonita”, “cresci na fé”, “sei agora o que é ser totalmente de Cristo”, “Deus é maravilhoso”, e tantas outras falas que nos resultaram em alegria e renovada esperança.

Senti, ao passar dos dias, que tudo foi mudando para melhor até mesmo na compreensão das pessoas alheias à fé católica, na interpretação da mídia e no comportamento das autoridades. Começaram a aparecer cartazes como aquele “Não sou católico, mas amo o Papa Francisco”, ou testemunhos de evangélicos e de ateus que reconheciam e às vezes manifestavam quase entusiasmo por tudo aquilo que estava acontecendo naquela multidão de pessoas do bem e da paz, cuja fé e amor a Deus eram tão evidentes e tão eloquentes.

Não posso deixar de destacar algo que a grande mídia não mostrou: as Semanas Missionárias nas dioceses. Em Juiz de Fora, o Setor Juventude, as paróquias, as famílias, os padres, as casas religiosas, os seminaristas, os voluntários, a juventude em geral foram tão dedicados e fiéis que me encheram o coração de alegria e gratidão. A acolhida dos estrangeiros por parte de milhares de famílias hospedeiras, seja nas Semanas Missionárias das dioceses, seja nos dias da JMJ na cidade do Rio, e os gestos de cordialidade e partilha cristã demonstrados pelos moradores da orla de Copacabana que abriram suas casas para que os jovens pudessem usar seus banheiros, só foram vistos por quem estava por perto. Também o imenso e bonito trabalho dos féis católicos cariocas, sobretudo dos sessenta mil voluntários, dificilmente terá sido percebido por muita gente.

Mas nem a mídia, nem a coordenação e nem quem quer que seja, nem mesmo o Papa Francisco poderão ver nem medir o quanto do amor de Deus ficou impresso na alma dos que participaram e o esplendoroso efeito missionário que a JMJ 2013 representou e representará. Só Deus! 
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora (MG).

INSISTÊNCIAS DO PAPA FRANCISCO

A presença entre nós do Papa Francisco se constituiu em abundante semeadura. Cabe a nós agora cultivar essas sementes, a começar pelas mais necessárias para a caminhada de renovação eclesial em que nos encontramos. 

Tendo presente o conjunto de suas homilias e de seus gestos simbólicos, é fácil perceber algumas insistências do Papa Francisco, fruto de suas convicções. Vale a pena destacar algumas. 

Uma primeira insistência é de ordem espiritual, e propõe uma atitude de muita confiança na misericórdia de Deus. No começo, parecia que esta insistência na misericórdia divina era meramente circunstancial, em vista do “domingo da misericórdia” que estava sendo celebrado no início do seu pontificado. . Mas logo se percebeu que ultrapassava as cicunstâncias concretas, e se constituía em mensagem central do Evangelho. E não deixa de ser verdade, que a misericórdia divina faz parte do núcleo central do Evangelho de Cristo. 

A própria Igreja precisa assumir “as entranhas maternas da misericórdia”. 

Outra insistência do Papa Francisco está ligada à simplicidade, a transparência e à pobreza. A começar pelo testemunho que ele transmitiu, deixando bem claro que ele não se identifica com ambientes de elite, onde prevalecem a ostentação e o luxo. Foi enfático em advertir que não fica bem para as pessoas consagradas para estarem ao serviço do povo se valham desta situação para buscar aparências superficiais e enganosas. 

A constatação de que o próprio Deus se faz de necessitado, mostra o alcance desta atitude de desprendimento e simplicidade. “Deus entra pelo subterfúgio de quem mendiga”. Deus se faz de necessitado, para facilitar a acolhida e o diálogo.


Outra insistência se refere à “conversão pastoral”, que reiteradas vezes apareceu em suas homilias. A recomendação concreta enfatiza a importância da proximidade que a Igreja precisa ter face às pessoas e à sociedade. “A proximidade toma forma de diálogo, e cria a cultura do encontro”. São dimensões que fazem pensar nas situações cotidianas que envolvem a pastoral, e que precisam caracterizar a postura da Igreja, chamada a criar espaços de diálogo e oportunidades de encontro.

Uma insistência “revolucionária” foi expressa pelo Papa Francisco em forma de abertura missionária. A Igreja precisa “abrir as portas”, não só para acolher bem os que a procuram, mas sobretudo para sair de si mesma, e ir ao encontro dos que se estão afastados, ou mesmo já separados da própria Igreja. 

Por aí passa a mudança radical que o Papa está propondo. Se for assumida, mudam as perspectivas eclesiais. De uma Igreja acuada, e refugiada em suas próprias estruturas, se passaria para uma Igreja que vai ao encontro das pessoas e da sociedade, se faz próxima, e se coloca ao serviço das grandes causas do Evangelho.

Na verdade, a grande insistência do Papa se traduz na proposta de uma Igreja que deixa de ser “auto referencial”, de ter a si mesma como medida para sua ação. Mas que, ao contrário, escuta os apelos e os desafios que a realidade de hoje lhe apresenta, para aí situar o sentido de sua presença e de sua atuação.

Ele fala numa Igreja “descentrada”, que deixa de ter suas estruturas como referência, mas se situa na “periferia”, e a partir da periferia ela pode reencontrar sua verdadeira identidade e sua missão própria. 

É importante perceber como o Papa situou suas recomendações no horizonte da “Conferência de Aparecida” com sua proposta de realizar uma “missão continental”, colocando a Igreja em “estado permanente de missão”.

Tudo indica que este documento, com o Papa Francisco, assumirá significado mundial, ultrapassando os limites de sua destinação original para o continente latino americano. Neste contexto, deciframos melhor o que o Papa quis nos dizer com suas valiosas homilias. 
Dom Luiz Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP).