A primeira viagem Apostólica do Papa Francisco, ocorreu na vigésima oitava jornada mundial da juventude. Quis Deus, na sua benignidade, fosse o Brasil, dentro do primeiro ano do seu pontificado. Na sua metodologia ingressou pelo portal do coração. Que linda palavra para demonstrar um dos mais importantes órgãos do ser humano. É ele que nos da vida. Em sua feliz colocação, o Santo Padre, demonstrou o que Jesus disse: “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10, 10). O coração é o promotor da vida. Na simplicidade das palavras do Pontífice, disse: “Permitem-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta”. Referindo-se ao coração, implicitamente, fez uma alusão à porta estreita (Lc 13, 24). Deu a entender, ao dizer, “que não trazia nem ouro nem prata”, mas trazia o mais precioso, Jesus Cristo. É precisamente o Mestre que nos diz: “Quem põe a mão ao arado e olha para trás não é digno de mim” (Lc 9, 51-62). Acredito que o Papa queria renovar a terra e colocar os jovens para trabalhar na Vinha do Senhor. A parábola da Vinha do Senhor é muito oportuna aqui (Mt 20, 1-16). Lá vimos jovens para todas as horas do dia. O que interessa é que nenhum ouse olhar para trás.
Ao abrir as cortinas do palco da JMJ aquela multidão de Jovens, certamente, pensou: Quantas pessoas e coisas vou conhecer e aprender aqui. A figura profética do Sumo Pontífice sua aparência, seu comportamento, suas atitudes / palavras revelam de modo manifesto, a condição de que algo novo iria acontecer. É aqui que devemos ser criativos, considerando a possibilidade de ganhar ou perder, de romper com velhos padrões para aderir aos novos. O Papa com seus textos e mensagens quer que sejamos novos “atores” sociais de uma nova evangelização. O Documento de Aparecida é a bussola. Ele (documento) apresenta-nos o elenco a prudência a habilidade de conduzir nosso contato com mais profundidade orante, deixando o pessimismo e a mediocridade, abrindo-nos ao otimismo encorajador. Esta é a pedra filosofal do Papa ao se referir ao documento de Aparecida ( Cf. V Conferência do Episcopado da América Latina e do Caribe 13 a 31 de maio de 2007). As palavras de Paulo a Timóteo são sempre novas e atuais neste contexto: “Eu sei em quem depositei minha confiança” (2 Tm 1, 12). O Santo Padre nos encoraja.
Eis que vivemos num mundo em constante mudança. Acredito que isso não seja novidade para ninguém. Devido a esta inovação, a cada dia, necessitamos de informações atualizadas e adaptadas. É a realidade da vida. A da Igreja não é diferente. Devemos estar sempre preparados para o novo. Aquele que olha para trás, percebe que foi, exatamente, neste momento que perdeu a grande chance de avançar em “águas mais profundas” (Lc 5, 4). Jesus formalmente nos diz: “Quem olha para trás não é digno de mim” (Lc 9, 62). Para isso, devemos dar importância a cada oportunidade, consultando nossa consciência, ouvindo a “voz” do coração e permeando os sentimentos como grandes conselheiros. A natureza humana tem algo que lhe é intrínseco, a busca. Não enterres o talento que Deus te deu (Mt 25, 14 - 30; Lc 19, 12 - 27). Jovens vocês foram enviados pelo Papa.
Diante dos altos e baixos, das certezas e dúvidas que a trajetória da sociedade nos oferece, somos convidados a nos engajar sempre numa nova fase, sem nunca olhar para trás, assumindo uma postura diante do eu que nos faz viver e, sobretudo, diante da vida. Não nos podemos achar pequenos ou indefesos diante do nuclear ou da era da informática. Jesus é mais. Não somos nenhum míssil ou algo supersônico. Nós somos o que somos e isso basta. Não temos a pretensão de ser e-mail, que nos lembra a velocidade de anos luz. Somos humanos e como tal queremos e merecemos ser tratados. Jesus nos diz: “Eu vos chamo de amigos” (Jo 15, 15), logo pessoa, gente.
Não queremos ser deslocamento histórico, mas observadores da história. Nossa intenção não é olhar para trás para criticar ou erigir opiniões compulsivas esquecendo o sentimento e a vivência de cada época. Nossa consciência não quer ser cortesia do “eu penso” por “eu sinto”. Não somos “caixa de ferramentas” com peças que só servem para instantes quando algo está errado. Queremos ser “amortecedores” novos de um pensar consciente, desenvolvendo a habilidade de lidar com sentimentos capazes de transformar a intenção em ação e, sobretudo, ter um coração que perceba, sinta e aceite a capacidade que o eu e o outro somando forças podem transformar o mundo. Jesus é explicito: “Eu vos dei o poder” (Lc 10, 19). Não queremos medir ou pesar distâncias, nosso desejo é fazer reinar o primeiro passo. Nossa intenção nos leva avante a exemplo daquele que anunciou o Reino dos Céus comparando-o a um grão de mostarda (Mt13, 31-32; Mc 4,30; Lc 13,18). Não olhe para trás. O Papa nos pede isso.
O ápice da vitória daquele que acredita no não olhar para trás, está naquele que é “Caminho, Verdade e Vida” (Jo 14,6) Jesus Cristo. O vitorioso não se intimida em levar adiante seus sonhos, planos e projetos, mesmo que alguns possam falhar ou não atingir o sucesso almejado. Só o tentar demonstra que você existe. O apogeu do triunfo está no não reclamar de tudo e de todos, bem como, responsabilizar os outros como os eternos culpados por seus problemas, mas organizar suas forças Naquele que disse que somos sal e luz do mundo ((Mt 5, 13 -16). Jovens vocês são vinho novo (Mt 9, 17; Mc 2, 22) em odres novos. Nossa maior aventura é olhar para frente, ser fermento na massa (Mt 13, 33) e jamais alimentar o sentimento de que somos inúteis. Não olhe para trás. Pense nisso.
Cônego Manuel Quitério de Azevedo
Arquidiocese de Diamantina (MG)
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