O título se refere a uma canção de Marcos Valle, muito em voga na década de 1970, uma época em que a juventude, insatisfeita com as propostas oferecidas pela sociedade de então, bradava que "outro mundo é possível". "Bradava", porque, infelizmente, seus gritos não deram em nada. A própria "revolução cultural", iniciada na Europa em 1968, foi abortada pela mídia neoliberal, ao levar os jovens a substituir os ideais e valores que os sustentavam pela busca desenfreada do poder e do prazer, alienando-os, assim, dos problemas que afligem a humanidade.
Foi por isso que agradeci a Deus ao descobrir num dos milhares de cartazes e faixas levados por jovens em seus protestos pelo Brasil afora durante o mês de junho, uma inscrição... revolucionária: "Mudemos o Brasil... começando de nós mesmos!". Em sua simplicidade, o convite parafraseava a oração do escritor Paulo Coelho: "No começo, eu tinha o entusiasmo da juventude. Pedia a Deus que me desse forças para mudar a humanidade. Aos poucos, percebi que isto era impossível. Então passei a pedir a Deus que me desse forças para mudar a quem estava a minha volta. Agora já estou velho, e minha oração é muito mais simples. Peço a Deus o que devia ter pedido desde o começo. Peço para que consiga mudar a mim mesmo".
Para William Shakespeare (1564/1616), poeta e dramaturgo inglês, considerado "perito em humanidade", "os velhos desconfiam da juventude porque foram jovens...".
De fato, é desde a antiguidade que os jovens despertam críticas, dúvidas e perplexidades nos adultos. É o que prova uma frase escrita há 4000 anos num vaso de argila encontrado nas ruínas de Bagdá: "A juventude está corrompida. Os jovens são malandros e preguiçosos. Nunca serão como seus colegas de antigamente. Não conseguirão manter a nossa cultura".
Um pouco mais perto de nós, aí pelo ano 2000 antes de Cristo, um sacerdote estava tão transtornado com a situação que percebia ao seu redor, que escreveu aflito: "O mundo atingiu o seu ponto crítico. Os filhos já não obedecem a seus pais. O fim do mundo não pode estar longe".
Sempre apresentada como a pátria do saber, sobretudo no campo da poesia e da filosofia, a Grécia não faz exceção. Entre os poetas, citamos Hesíodo, que viveu entre os anos 750 a 650 a.C.: "Não tenho nenhuma esperança no futuro do nosso país se, amanhã, a juventude tomar o poder. Ela é insuportável e desenfreada, simplesmente horrorosa". Dentre os filósofos, escolhemos Sócrates (470-399 a.C.), um dos mais conhecidos: "A juventude adora o luxo, é mal-educada, caçoa da autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Nossos filhos são autênticos tiranos".
Por sua vez, a Bíblia vê os jovens de acordo com a cultura e o contexto de quem escreveu os livros que a compõem. Eis alguns exemplos. O primeiro, extraído dos Provérbios (400 a.C.), evidencia o que distingue o jovem do idoso: "O orgulho do jovem é a sua força, e a honra do ancião está em seus cabelos brancos" (20,29). O segundo, do Eclesiastes (300/250 a.C.), se aproxima da sabedoria grega: "Jovem, alegra-te na tua juventude e busca a felicidade nos dias da mocidade. Deixa-te levar pelo teu coração e por teus olhos. Lembra-te, porém, que Deus vai te pedir contas de todas essas coisas. Expulsa a melancolia do teu coração e afasta de teu corpo a dor, porque a infância e a juventude são passageiras" (11,9-10). O terceiro (da primeira carta do apóstolo João, em torno do ano 100 d.C.), apresenta a beleza da juventude sadia: "Eu me dirijo a vós, jovens, porque sois fortes, a palavra de Deus permanece em vós e vencestes o Maligno" (2,14).
Como se percebe, os jovens foram e continuam sendo um "sinal de contradição" (Cf. Lc 2,34). Na verdade, assim como a velhice, também a juventude, mais do que um período da vida, é um estado de espírito. Oxalá esse "estado de espírito" seja colocado a serviço de um mundo melhor, aliado à sabedoria dos idosos! Somente assim os jovens revolucionários de hoje não serão os velhos reacionários de amanhã...
Dom Redovino Rizzardo
Bispo de Dourados (MS).
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