Chegamos à semana maior. Ela é especial, porque aprendemos que ela é chamada a ser santa, separada, escolhida. Os dias que estamos vivendo são extraordinários. São 40 dias caminhando com o Bom Mestre, para nesta semana contemplarmos ainda mais de perto os mistérios da Sua Redenção sobre nós. Quantas lições aprendidas durante esse percurso. Hoje quero partilhar de modo particular sobre a quinta-feira santa. Ela por si só nos trás muitos ensinamentos. Mas, se me permitem quero me ater aqui apenas ao amor.
É bonito olhar para aquela noite e ser recordado ali na Santa Ceia que a mais bela oferta de amor que podemos fazer a alguém não é de coisas, presentes, elogios, mas de nós mesmos. Naquela quinta-feira especial, cada gesto e cada fala de Jesus nos ensina que "quando uma pessoa ama, não pode doar nada maior à outra do que a si mesma" (Youcat, 407). Se tivermos um olhar atento, compreenderemos que o dom do pão e do vinho eucarísticos significam para nós tudo aquilo de que temos fome. Temos fome de cuidado, de afeto, de atenção, em uma palavra: de amor. E Jesus se faz alimento para nos nutrir. Faz-Se alimento, porque refeição é devolução, é restituição daquilo que perdemos. Alimentamo-nos diariamente para devolver ao corpo aquilo que lhe foi subtraído e perdido. Cada refeição é lugar e oportunidade de se restituir.
Em Jesus, a refeição é tão redentora que alguns dos Seus encontros se deram no seu desejo de sentar-se à mesa com aqueles que precisavam ter a Vida Plena devolvida. O prato principal não era material, mas sim a vida, o amor! Em algumas refeições temos o encontro com Zaqueu e toda sua família (cf. Lc 19,1-10); depois em Betânia Ele entra na história de Simão, o leproso (cf. Mc 14,3), e finalmente com os discípulos na Última Ceia, onde Ele se senta à mesa para fazer refeição com seus amigos. Interessante é que nas duas primeiras refeições, o Mestre nos ensina que quando nos sentamos à mesa, não nos alimentamos tão somente do que está posto sobre ela, mas, sobretudo de quem se serve dela. Alimentamo-nos do olhar, do amor, dos gestos, do afeto, e de tudo o que o outro significa. O banquete não é lugar para saciar somente a fome do corpo, mas também a fome da alma.
Com os discípulos o significado da refeição fica mais claro e ganha o sentido da Redenção, pois ali a Salvação acontece. Jesus se senta à mesa e torna-Se a refeição na qual todos os convidados se alimentam. N'Ele o verdadeiro amor se traduz. O pão se transforma em Seu corpo e o vinho em Seu sangue. E como se não bastasse, Ele estende o seu amor desde o sacrifício eucarístico até o sacrifício do Calvário. Ali Ele revela e identifica o pão que reparte, com o Seu corpo entregue para a vida do mundo no alto da cruz. Os sacrifícios se abraçam e se tornam um só. O pão na eucaristia passa a ser o amor que na cruz Ele nos doou até o fim. E assim, em resposta a esse amor e ao Seu pedido, temos feito desde então "ação de graças" em Sua memória. Desde aquela quinta-feira, temos atualizado em nossos corações, por meio da eucaristia em cada missa celebrada, aquela única e maior oferta de amor que já recebemos. João, o discípulo amado, aquele que estava reclinado no peito de Jesus durante a Ceia (cf. Jo 13,23), entendeu bem essas lições, e não sem razão nos escreveu dizendo que realmente são "felizes todos os que convidados para este banquete!" (Ap 19,9).
Jerônimo Lauricio - Diocese de Eunápolis (BA).
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