A Palavra de Deus

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DOPAS

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28 de março de 2013

MENSAGEM DE PÁSCOA INSPIRADA EM ADÉLIA PRADO


O evangelista João fala da morte redentora de Jesus usando a metáfora do trigo, que, para produzir outros grãos, tem que morrer enquanto grão e reviver como pé de trigo (Jo 12, 24). No coração daquele grão de trigo está potencialmente um trigal inteiro, mas o trigal só virá após a transformação do grão, que deve ser sepultado, esperar no ventre escuro e silencioso da terra o tempo da nova vida: a páscoa do trigo.

Deixo o evangelista e continuo a mensagem com a poetisa mineira Adélia Prado (POESIA REUNIDA, São Paulo: Siciliano, 1991), que nos fala da morte como uma continuidade desta vida: "No fim da viagem, no fim da noite, / tem uma porteira se abrindo / pra madrugada suspensa" (p. 63). E se alguém pergunta a Adélia: "Como será a ressurreição da carne? / É como nós já sabemos, eu lhe disse:/ tudo é como aqui, mas sem as ruindades" (p. 121).

Instigado pelo filósofo Heráclito, gosto demais de pensar na vida como um constante ir e vir, um constante devir, como Adélia também poetizou: "Eu sempre sonho que uma coisa gera, / que nunca nada está morto. / O que não parece vivo, aduba. / O que parece estático, espera" (p.19). Tudo está impregnado de transformações. A vida borbulha por toda parte. "Infinita vida que para continuar desaparece / e toma outra forma e rebrota, / árvore podada se abrindo, / a raiz mergulhada em Deus" (p. 232).

No silêncio da espera do Sábado Santo, espremidos pela dor da morte e pela semente da esperança da ressurreição, somos inspirados por Adélia: "Branco tão frágil guarda um sol ocluso, / o que vai viver, espera" (p. 28).

Ouvi uma vez o bispo dom Celso Queiroz dizer que o Riobaldo, de Guimarães Rosa, era o seu quinto evangelista. Nesta Semana Santa, relendo Adélia Prado, eu a fiz a minha evangelista preferida. Como faço com os Evangelhos, eu sempre leio e releio os versos de Adélia.

Feliz Páscoa para todos!
Padre Ismar Dias de Matos - Diocese de Guanhães (MG).

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