Enquanto adoramos o nascimento de Nosso Salvador, celebramos também o nosso nascimento. Efetivamente, a geração de Cristo é a origem do povo cristão, o Natal da Cabeça é também o Natal do Corpo. Embora cada um tenha sido chamado num momento determinado para fazer parte do povo do Senhor, e todos os filhos da Igreja sejam diversos na sucessão dos tempos, a totalidade dos fiéis, saída da fonte batismal, crucificada com Cristo na Sua Paixão, ressuscitada na Sua Ressurreição e colocada à direita do Pai na sua Ascensão, também nasceu com ele neste Natal.
Todo homem que, em qualquer parte do mundo, acredita e é regenerado em Cristo, liberta-se do vínculo do pecado original e, renascendo, torna-se um homem novo. Já não pertence à descendência de seu pai segundo a carne, mas à linhagem do Salvador, que se fez Filho do homem para que nós pudéssemos ser filhos de Deus. Se Ele tivesse descido até nós na humanidade da natureza humana, ninguém poderia, por seus próprios méritos, chegar até Ele.
Por isso, a grandeza desse dom exige de nós uma reverência digna de seu valor. Pois, como nos ensina o apóstolo Paulo, nós não recebemos o espírito do mundo, mas recebemos o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos os dons da graça que Deus nos concedeu (cf. I Cor 2,12). O único modo de honrar dignamente o Senhor é oferecendo-Lhe o que Ele mesmo nos deu.
Ora, no tesouro das liberalidades de Deus, o que podemos encontrar de mais próprio para celebrar esta festa do que a paz, anunciada pelo canto dos anjos em primeiro lugar no nascimento do Senhor? É a paz que gera os filhos de Deus e alimenta o amor; ela é a mãe da unidade, o repouso dos bem-aventurados e a morada da eternidade; sua função própria e seu benefício especial é unir a Deus os que ela separa do mundo.
Assim, aqueles que não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas do próprio Deus (cf. Jo 1,13), ofereçam ao Pai a concórdia dos filhos que amam a paz, e todos os membros da família adotiva de Deus se encontrem n'Aquele que é o Primogênito da nova criação, que não veio para fazer a Sua vontade d'Aquele que O enviou. Pois a graça do Pai não adotou como herdeiros pessoas que vivem separadas pela discórdia ou oposição, mas unidas nos mesmos sentimentos e no mesmo amor. É preciso que tenham um coração unânime os que foram recriados segundo a mesma imagem.
O Natal do Senhor é o Natal da paz. Como diz o apóstolo dos gentios, Cristo é a nossa paz, Ele que de dois povos fez um só (cf. Ef 2,14); judeus ou gentios, em um só Espírito, temos acesso junto ao Pai (cf. Ef 2,18).
.: Trecho do livro: "Alimento sólido"
Felipe Aquino - Canção Nova
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