“A morte como perda nos fala, em primeiro lugar, de um vínculo que se rompe de forma irreversível, sobretudo quando ocorre perda real e concreta. Nesta representação de morte estão envolvidas duas pessoas: uma que é ‘perdida’ e a outra que lamenta esta falta, um pedaço de si que se foi. O outro é em parte internalizado nas memórias e lembranças. A morte como perda evoca sentimentos fortes, pode ser então chamada de ‘morte sentimento’ e é vivida por todos nós. É impossível um ser humano que nunca tenha vivido uma perda. Ela é vivida conscientemente, por isso é, muitas vezes, mais temida do que a própria morte. Como esta última não pode ser vivida concretamente, a única morte é a perda, quer concreta, quer simbólica” (KOVACS, 1992).
É interessante avaliar o medo da morte como algo cultural, construído na forma como fomos criados, pois tocamos naquilo que é desconhecido, que um dia viveremos, mas não sabemos quando nem como. Falo de tudo isto, pois saber lidar com a morte é, na verdade, saber lidar com perdas diárias, mesmo que pequenas.
Estes sentimentos são similares, porque se perde o envolvimento afetivo e todas as conquistas que podem ser obtidas por meio daquele vínculo que se perdeu, como, por exemplo, o carinho, uma posição de destaque, o reconhecimento, a proximidade, a troca e tantos outros sentimentos e situações que deixam de ocorrer com a perda.
Elaborar o luto é viver os sentimentos tais como eles são: com choro, com reservas, com necessidade de falar; lidar com a raiva, o desapontamento e todas as formas com as quais a pessoa consiga manifestar, a seu tempo, tudo aquilo que sente. Pessoas de confiança e proximidade são muito importantes neste tempo, mas devem deixar que a pessoa também se manifeste. Frases como: “não chore, não seja fraco, ele não gostaria de te ver chorando” nem sempre ajudam, uma vez que a forma de manifestar a dor, em cada um de nós, é diferente. Como percebemos, viver o luto é um processo que, passo a passo, vai sendo superado. Em datas comemorativas – aniversário, Natal, Dia dos Pais, dentre outras, a pessoa será lembrada e os sentimentos em cada fase serão os mais variados. Apenas quando os sintomas negativos forem persistentes e duradouros demais, podemos pensar que a superação desta perda e suas etapas não foram bem vividas, tanto no mundo externo quanto interno da pessoa.
Se esses sintomas forem fortemente repetitivos, quando se aproximam essas datas este é um forte sinal de que a pessoa não está vivendo corretamente as etapas necessárias para a sua superação, tanto em seu mundo externo, quanto, principalmente, em seu mundo interno.
Em tudo, lembramos ainda que o conforto espiritual é muito importante e até mesmo diferencial em todas as situações que vivemos, especialmente no luto, pois a fé também é o alimento que nos sustenta nesta caminhada sem aquela pessoa que tanto amamos e de quem tanto sentimos falta. Sentir e vivenciar este processo doloroso é essencial para este momento de superação, ou seja, lembrar o que foi bom, perdoar as mágoas, não se culpar por aquilo que eventualmente não tenha feito pela pessoa que se foi e acima de tudo, viver esta dor partilhando com alguém, sem medo de chorar e colocar para fora o que sente e, desta forma, podendo superar esta etapa de vida.
Elaine Ribeiro
Psicóloga
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