A Palavra de Deus

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DOPAS

DOAÇÃO, ORAÇÃO, POBREZA, ALEGRIA E SIMPLICIDADE

13 de outubro de 2010

PALAVRAS IMPRECISAS

             Ser preciso e cuidadoso nas palavras é uma obrigação de quem prega, escreve ou lidera o povo. Por mais cuidadosos que sejamos, podemos errar e erramos. Pior ainda, quando a pessoa não se importa de preparar o que diz e, então, fala ao sabor do momento. E alguns ainda caluniam o Espírito Santo, dizendo que foi ele quem mandou dizer aquilo... 
              Sendo professor de comunicação por muitos anos, corrijo meus ex alunos, amigos bispos cuja santidade e prudência admiro, mas cuja comunicação pode levar a dúvidas, colegas sacerdotes e amigos pastores. Um deles é o uso do verbo "poder" -Que Deus possa abençoar-te neste momento. Alguém a usou, pareceu bonito e hoje muitos usam, sem perceber que a expressão deixa a desejar. Então, Deus pode ou não pode abençoar? Então porque o "possa"? Dá a entender que Deus não pode! 
                 Se dissessem: " Que Deus queira te abençoar" também estaria errado, porque a Bíblia diz que ele sempre quer. Mas, se dissesse: "Que Deus queira te abençoar neste momento" estaria certo, porque pede a Deus que atenda naquela hora. É um pedido respeitoso e suave... 
               Palavras e verbos mal utilizados e mal explicados podem nos colocar em papos de aranha! A esperta jornalista, gentil mas incrédula, me colocou anos atrás, numa situação de pregador que precisa saber ouvir, deixar acontecer e reverter a situação. Ela era boa comunicadora, mas minha Igreja também diz que eu sou. Era arguta, mas meus colegas dizem que também sou. Era jovem jornalista, mas não sabia que eu era professor de comunicação há quase tanto tempo quanto ela tinha de vida.. 
                Saiu-se com essa numa entrevista na qual eu falara dos símbolos da Trindade e nas atribuições do Estado, da Igreja e das comunidades. Diante da minha frase: - Para nós, católicos, com as devidas adaptações, a Santíssima Trindade é o modelo de vida comunitária. 
                   Ela entrou de cheio, arrancando risos dos presentes. Disse: 
                -A Igreja propõe um modelo que ela condena. Afinal, se Deus Pai é pai de Maria e pai de Jesus, então Jesus é neto do Pai eterno e Maria praticou incesto com Deus pai, já que quem a engravidou foi o Espírito Santo. 
                 Foi uma só gargalhada. Sorri levemente e deixei que o riso terminasse. Demorou cerca de dois minutos, com alguns risos atrasados. Diante do meu silêncio de espera ficaram curiosos. Ela também. Queria ver como eu me sairia. 
                Comecei dizendo: -Eu também já ouvi esta piada de outra maneira. É nova para vocês, mas não para mim que, sendo padre há mais de 30 anos, já ouvi de tudo. 
             Perguntei a ela se tudo o que ela presenciava e redigia saia do jeito dela no jornal. Ela tentou fugir da minha pergunta, sabendo para onde eu a levaria. Insisti que respondesse e perguntei à platéia se ela deveria ou não responder antes que eu prosseguisse. Ela disse que não era a entrevistada. E eu lhe disse que viera para ser entrevistado e não achincalhado. Se ela despeitou a fé de um entrevistado não poderia querer que sua palavra de jornalista silenciasse a minha. Se ela tinha o direito de perguntar o que quisesse e opinar como quisesse, eu também tinha o direito à resposta e à minha opinião. 
              Os presentes concordaram. Ela respondeu que nem sempre sai tudo como ela escreve, porque há o redator. Expliquei aos presentes não jornalistas que os jornais têm sua política e sua linha, e as manchetes e o rumo de uma notícia são determinados pela tendência do jornal que transcreve ou reescreve a notícia trazida pelo repórter. Nem sempre o fato que se passa ao leitor é o fato como aconteceu. 
            Pedi tempo para explicar que as sociedades, as religiões e, inclusive, os grupos de comunicadores fazem uso de metáforas, comparações e dicionários de redação que determinam como usarão aqueles símbolos ou palavras para expressar-se. O jornal no qual ela trabalhava tinha tal manual de redação. 
          Disse que, se alguém quisesse, depois da entrevista eu explicaria a noção de Deus nas três grandes religiões do mundo, a noção de pessoa humana e pessoa divina, as teogonias, epifanias, as teodicéias e teologias que estão expressas nas religiões de hoje. Indicaria livros de ateus, de religiosos sobre antropologia, historia das religiões, história de Deus, história de adoção e filiação divinas. Entenderiam o que é um símbolo para a filosofia, para a psicologia e para a religião. 
*** 
           Sete deles ficaram, inclusive ela. Depois da entrevista a conversa foi longe. Ainda ríamos da malícia dela. Mas ela reconheceu que eu conhecia o uso da palavra com precisão e dos símbolos com propriedade. Pelo menos naqueles casos. A paternidade de Deus não é como a paternidade dos humanos. Então é malicia das grandes falar que Deus Pai é avó e pai de Jesus e que Maria traiu o Espírito Santo com o Pai. Muito engraçado, mas muito impróprio para uma jornalista que, naquela hora ao invés de dar a palavra ao entrevistado, puxou para si a entrevista. Ela pediu desculpas e eu a ela. Não houve elevação de voz nem perda de paciência. O desvio foi corrigido no ato! 

Pe Zezinho, Scj

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