A Palavra de Deus

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1 de maio de 2020

Saber viver o sofrimento a exemplo de Cristo e São Paulo


Foto Ilustrativa: Andréia Britta/cancaonova.com








O sofrimento de Cristo

      Ninguém gosta de sofrer e poucos conseguem perceber que o sofrimento é redentor. Para perceber que existe um mistério salvífico no sofrer basta que olhemos como Cristo viveu o seu sofrimento. A Cruz foi para Cristo a coroação do seu sofrimento e o ápice de toda a paixão salvadora.  Durante as dificuldades e sofrimentos da vida, muitos se perguntam “por que eu estou passando por este sofrimento?”

      A resposta para essa pergunta é complexa, porém podemos buscar nos dois grandes exemplos encontrados nos relatos bíblicos, Jesus e São Paulo. Primeiro, Cristo sofre por um fim, existe uma finalidade no padecimento do Senhor. Segundo, o apóstolo São Paulo sabiamente configura-se a Cristo e utiliza dos seus sofrimentos para assemelhar-se mais ainda. Essas duas grandes figuras de maneira geral tem muito a nos ensinar, principalmente quando se fala de dor e sofrimento.

As dores de Cristo

        O livro de Is 53,3-4 quando escreve sobre o Servo sofredor, figura essa que a igreja identifica a prefiguração de Cristo. O relato bíblico é o seguinte: “Era o mais desprezado e abandonado de todos, homem do sofrimento, experimentado na dor, indivíduo de quem a gente desvia o olhar, repelente, dele nem tomamos conhecimento. Eram na verdade os nossos sofrimentos que ele carregava, eram as nossas dores, que levava às costas”.

        Esse trecho do livro de Isaías, retrata o motivo pelo qual Cristo padeceu. Foi para nos livrar das nossas dores, para reparar o erro cometido por nós. Você pode se perguntar e por que ainda sofremos? As ações de Jesus tem sempre um teor de eternidade, por isso, o padecimento de Cristo livrou-nos não do que é passageiro, mas do que é definitivo, ou seja, livrou-nos do sofrimento eterno muito mais do que o sofrimento passageiro.

        A Cruz ao mesmo tempo que retrata a dor e a morte do Senhor, significa ao mesmo tempo sinal de redenção. O que para os judeus era escândalo e para os pagãos loucura, para nós cristãos é sinal de salvação e da glória de Cristo. O Senhor transforma todas as coisas, até mesmo o antigo sentido da cruz que agora torna-se novo com a manifestação de Jesus.

Os sofrimentos de Paulo

      O apóstolo São Paulo começa a Carta aos Colossenses com uma declaração que ao olhar humano pode ser insana: “Alegro-me nos sofrimentos que tenho suportado por vós e completo, na minha carne, o que falta às tribulações de Cristo em favor do seu corpo que é a Igreja” (Cl 1,24). São Paulo não se alegra por ter recebido a liberdade da prisão, por ter recebido o “título” de apóstolo, ou por ser reconhecido pelas pessoas, mas ele se alegra por sofrer. Sim, São Paulo deixa explicitamente que a sua alegria é suportar os sofrimentos e ainda completar o que falta a Cristo.

    O apóstolo não é nenhum tipo de masoquista ou alguém que busca o sofrimento pelo sofrimento, mas assim como Cristo, ele o faz por um sentido. São Paulo sabe que ele pode tirar proveito do que a vida o proporcionou viver, não um proveito pessoal, mas como ele mesmo disse: em favor do corpo de Cristo que é a Igreja. Ele ainda coloca numa progressão geométrica do sofrimento, pois à medida que crescem os sofrimentos de Cristo para nós, cresce também a nossa consolação por Cristo, eis aí o ângulo pelo qual os cristãos entendem o sentido do padecer. O sofrimento tem a condição de fazer crescer o conforto do homem em Cristo.

O meu sofrimento

    O Senhor concede aos homens contribuírem com a humanidade sendo cooperadores de Deus e de seu Reino. O Catecismo da Igreja Católica no n° 307 diz: “os homens podem entrar deliberadamente no plano divino, por suas ações, por suas orações, mas também por seus sofrimentos”. Partindo deste parágrafo do Catecismo e por meio do sacramento do  Batismo, o cristão é convidado a ser outro Cristo assemelhando-se a Ele. Desta forma, a semelhança não pode ser pela metade, ou naquilo que nos convém, mas em tudo, até nas dores.

       Precisamos utilizar dos nossos sofrimentos para remir as culpas obtidas pelos nossos pecados. A sabedoria que são Paulo expressou na Carta aos Romanos 8,18 é de certa forma reconfortante e nos promete uma recompensa sem medidas, impulsionando-nos a bem viver as dores que padecemos: “Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada”. Sabemos que somos peregrinos neste mundo, estamos de passagem e não há porque nos apegarmos desejando aqui nesta vida eternidade, porque a eternidade está na glória de Cristo. A nossa espera deve ser na glória futura, no que Deus ainda tem reservado para os fiéis.

     Foi por consequência da obra salvífica de Cristo da qual o sofrimento faz parte, que o homem passou a ter esperança da vida e da santidade. A linguagem da cruz quer nos comunicar um sentido que só poderá ser entendido se olhado pelas chagas abertas de Cristo, pelas quais o ser humano é salvo. Aprendamos com São Paulo e com Nosso Senhor Jesus Cristo a dar sempre sentido as dores e dificuldades que passamos, pois os insensatos murmuram dos sofrimentos e os sábios tiram proveito para a contribuição na obra de Cristo.

Fábio Nunes
Natural de Fortaleza (CE), é missionário da Comunidade Canção Nova e candidato às Ordens Sacras.  Atua no Departamento de Internet da Canção Nova, no Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários.

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