Novo tecido político
Exercícios precisam ser praticados para que se avance no processo de melhorias do tecido político
A pluralidade ideológico-partidária é um vetor de grande importância para alimentar as dinâmicas que provocam reflexões, discernimentos e escolhas na construção da sociedade. A política partidária, assim, é constitutiva do tecido democrático, porém, neste momento, desenvolve-se sem o respaldo de uma cultura político-cidadã consistente, com capacidade para sustentar os embates pautados pelo inegociável compromisso com o bem comum. A responsabilidade com o país não pode ser jamais negociada por interesses mesquinhos e por esquemas de corrupção. Para além de sua competência específica, os políticos são cidadãos como todos os outros, alimentados no horizonte de uma mesma sociedade, portanto, filhos iguais da mesma cultura. Se essa cultura cidadã, que é básica, está comprometida, será sofrível o nível da política partidária.
A falta de envergadura nos exercícios políticos, ao se constatar equívocos em administrações, mediocridades em representações e obscuridades, evidencia desajustes nessa cultura cidadã. Assim, é indispensável investir num novo tecido político para subsidiar uma cidadania que consiga produzir líderes mais nobres, capazes de abrir frentes e encontrar novas respostas, ajudando no avanço inadiável de instituições e instâncias todas da sociedade. É necessário cultivar uma consistência nova que sustente a cidadania na sociedade brasileira. Esgotou-se a tentativa muito comum, ante os desarranjos da política, de alguém se apresentar no cenário político partidário como “salvador da pátria”, com soluções quase mágicas para os muitos problemas.
A política partidária, ao cair nas mazelas dos interesses mesquinhos pela sedução terrível do dinheiro e do poder, perde a moral e compõe um cenário rejeitado pela população. Candidatos, quando eleitos, com pouco tempo expõem suas fragilidades e inércias. Exercem responsabilidades, quando o fazem, a “passo de tartaruga”. E, no período eleitoral, começa a mesma cantilena partidária. Falta uma dinâmica mais adequada para o exercício da política, o que agrava crises por carência de líderes lúcidos e competentes. Tudo se resume num falatório e em discussões sem força para mudar cenários ou para alcançar respostas assertivas. Há de se considerar o investimento diuturno em busca de um tecido político mais qualificado na sociedade brasileira. Agora é hora oportuna, no enfrentamento das crises, para se abrir um novo horizonte, superar vícios e procedimentos que, mantidos, impedirão transformações importantes e na velocidade esperada. Sem essas mudanças, a sociedade continuará a amargar atrasos e a perda de oportunidades para seu esperado crescimento.
O investimento em educação, sem dúvida, é um ponto de grande relevância, mas não basta somente investir no ensino formal. A intervenção precisa ser mais abrangente no âmbito da cultura. Nessa dimensão, muitos aspectos merecem análises para serem modificados. Sabe-se que não basta apenas ser detentor de conhecimento. É preciso ser capaz de valer-se da riqueza das informações para articulações de alta complexidade e, assim, alargar horizontes, acionar a lucidez da inteligência que aponta soluções e a disposição cidadã de tudo fazer para dar ao conjunto da sociedade o desenvolvimento almejado.
Exercícios precisam ser praticados para que se avance no processo de melhorias do tecido político. Um rosário de tarefas pode ser apontado. Quando se considera os cenários de pobreza e miséria que desenham a sociedade brasileira, é indispensável priorizar os clamores dos pobres, como princípio e lei acima de normas vigentes, de direitos do Estado ou de defesa de interesses particulares. Também é hora do empresariado investir em projetos sérios, de credibilidade. É o momento dos agentes na política partidária abrirem mão de benesses que estão na contramão das expectativas de seus representados. Devem-se qualificar melhor, humanisticamente, para o exercício da liderança. De um modo geral, são necessárias novas práticas cidadãs, o que inclui respeitar tudo o que se relaciona ao bem comum. Não se avançará muito e não se conseguirá superar os graves problemas deste momento se não se encontrar o caminho, as dinâmicas, os modos e a boa vontade de todos para se constituir um novo tecido político.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo - O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte,
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