Ignorar ou reprimir as emoções negativas?
Foto: Wesley Almeida
Na composição integral do ser humano a ciência identifica as dimensões física, psíquica, social e espiritual como sendo, basicamente, as principais que possuímos. Mesmo que em algumas abordagens filosóficas e antropológicas apareçam mais ou menos dimensões, trataremos, por ora, dessas quatro.
No geral, o desejo humano tende a buscar somente o lado positivo de cada uma dessas dimensões, muitas vezes num afã quase neurótico por saúde, beleza, alegria, euforia, êxtase etc. Assim, se estamos em um ambiente espiritual – uma igreja, um grupo de oração ou na santa missa – desejamos sentir aquele arrepio, uma palavra que seja certeira ou uma forte emoção. Se no ambiente social, queremos nos sentir amados e acolhidos, buscamos ser bem vistos e reconhecidos pelas pessoas que estão por perto. Também queremos – às vezes exigimos – reconhecimento profissional quando executamos alguma atividade no trabalho, além de elogios quando tiramos boas notas na escola ou faculdade, ou quando nos parabenizamos por não sermos abalados pelo desânimo ou depressão, entre outras situações semelhantes.
Mistérios reveladores
Se fizermos um honesto exame de consciência, muito provavelmente nos identificaremos com alguns ou muitos desses exemplos. Entretanto, a proposta que faço aqui é para olharmos com mais receptividade para situações tão humanas quanto a alegria, o prazer, o riso, a paz. Como diria o poeta Terêncio: “nada do que é humano me é estranho”; podemos alargar o significado dessa frase reconhecendo que tudo o que é humano pode agregar, trazer mistérios reveladores, apresentar novas realidades que antes estavam encobertas pela luz da harmonia.
Não precisamos buscar sofrimentos; inevitavelmente, as dores se apresentam a todas as realidades humanas. Contudo, é possível fazer escolhas dentro das circunstâncias mais opacas e densas que somos levados a provar vez ou outra. A perda, o luto, o fracasso, a inveja, a tristeza, a vergonha e tantas outras emoções não precisam receber nossa resistência e rejeição. Se adotarmos posturas de negação frente aos sentimentos menos agradáveis, provavelmente eles persistirão e se agravarão ao longo do tempo.
Novo aprendizado
A proposta, assim, é lançar um novo olhar para as emoções negativas e não apresentar resistência a elas. Assim como acolheríamos a alegria, podemos receber a tristeza como uma companheira que tem algo a dizer nesse determinado momento. Quanto tempo essa hóspede irá permanecer? Talvez o tempo da aprendizagem do novo, o tempo da quebra de um tijolo dentro do peito, quem sabe o espaço entre você e a maturidade, entre você e a verdadeira liberdade interior.
Se aparecer a inveja, o ciúme, permita-se um olhar profundo para dentro de si e pergunte-se: o que essas emoções têm a me dizer? Pergunte à angústia, à ansiedade: onde querem me levar? Que lugares dentro de mim devo olhar com mais cuidado, onde devo depositar mais amor, em quais cantos escuros devo me demorar com mais paciência? No final das contas, essas emoções tão facilmente rejeitadas, podem ser amigas que o auxiliarão a encontrar respostas e a despertar o lado criativo que há dentro de você.
Os momentos de passagem tendem a ser desafiadores. Angustiamo-nos quando não enxergamos o outro lado do caminho, quando falta o horizonte e os consolos. Entretanto, se nos dispusermos a abaixar nossas resistências ao que é inesperado e desagradável, haverá a oportunidade de descobrir que, quando estamos na sombra, podemos observar a luz com mais nitidez. E então, o novo se abrirá em forma de maturidade, crescimento, humildade e paz.
Coragem! A aventura do autoconhecimento certamente te levará para vales, montanhas, lagos e abismos, mas é um desafio que te fará mais autêntico, maduro e livre.
Milena Carbonari Krachevski - Psicóloga, Pós-Graduanda em Educação e Terapia Sexual, Missionária dos Jovens Sarados, membro do Apostolado da Teologia do Corpo Brasil.
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