DEVOÇÕES EXPLOSIVAS
Pe. Zezinho scj
Como professor há mais de 25 anos de "Prática e Crítica de Comunicação na Igreja" minha tarefa não é pura e simplesmente elogiar ou criticar a comunicação dos católicos. Tenho mais é a missão de orientar,questionar e alertar quem aceita minhas orientações para os riscos de uma comunicação insuficiente, confusa ou sujeita a criar desvios. O que é bom e correto deve ser elogiado, o que é bom, mas incorreto deve ser corrigido e o que não é bom deve ser fraternalmente questionado.
Sou membro de uma congregação de sacerdotes católicos que tem feito muito bem no mundo, mas cujo fundador, um sociólogo, jornalista e advogado foi duas vezes vetado pela Santa Sé. Uma, por volta dos 40 anos de idade quando, tendo começado uma congregação de sacerdotes oblatos dedicados ao Coração de Jesus, deu ouvidos a dois videntes que pretendiam traduzir novíssimas revelações do Coração de Jesus. Dehon se retratou e quatro meses depois foi-lhe permitido começar outro grupo que é hoje a Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus. Dele a maioria dos dehonianos herdou o cuidado com videntes e com os que dizem que Jesus lhes disse, ou que o Espírito Santo está dizendo a eles alguma coisa. Pelo que sei, a maioria dos meus colegas se pauta por Mateus 24, 24-26. Jesus mandou tomar cuidado com os novos revelados.
A segunda objeção ao nosso fundador, Padre Leão João Dehon, não obstante seus muitos méritos, veio cerca de 80 anos depois da sua morte com o questionamento que algumas autoridades da França fizeram a Roma sobre a sua beatificação. Não negam a santidade pessoal do orante e militante Leão Dehon, mas a oportunidade de declará-lo beato, diante da reação de um forte grupo de judeus da França, que não aceitam seus escritos dos anos l897-l903. Consideram-no pouco ecumênico porque mostrando erros políticos e econômicos de alguns judeus no poder, teria generalizado. Não foi o único do seu tempo a fazer isso, mas sobrou para ele. Os outros não eram candidatos à beatificação. Nós, os dehonianos de hoje, já pedimos desculpas por aquelas palavras. Outros seguidores de outros fundadores talvez um dia tenham que fazer o mesmo, a julgar pelos livros que alguns deles escreveram.
Embora Dehon tenha, em outras passagens, mostrado sua admiração pelo povo judeu, aquelas conferências deixaram frases explosivas. A beatificação foi sustada. Nós dehonianos entendemos. Se isso ajuda a causa do diálogo com os judeus, porque insistir? Santos nem sempre acertam em tudo. Outros disseram coisas bem mais pesadas, como foi o caso de São Jerônimo e São Pio V numa época de grandes conflitos entre judaísmo e cristandade, mas são vistos como santos.
Isso me leva a falar das devoções divulgadas por católicos de vida santa e piedosa, mas que, se não forem explicadas, levarão os fiéis a uma dicotomização do corpo de Cristo. Chamo-as de devoções explosivas. Lidar com dinamite pode dar em explosão se não for bem embalada... Eu mesmo, quando falo de Jesus, devoto que sou do seu Sagrado Coração, sempre explico que não estou adorando aquele órgão motor com sístole e diástole que bombeava o sangue de Jesus. Não adoro uma parte de Jesus. Falo do seu amor, como os pais chamam os filhos de "meu coraçãozinho", ou o casal se chama de "coração". É expressão simbólica. Nunca deixo de explicar, porque não quero que os fiéis adorem um órgão do Cristo. Por isso alerto meus alunos quanto a certas devoções que exclamam: sangue de Cristo, nós te adoramos; cabeça de Cristo, nós te adoramos; mãos de Cristo nós te adoramos...
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