No momento em que esperava para ser atendido, meus olhos admirados passeavam de um objeto a outro, encantados com sua beleza.
Foi quando reparei em um canto um pequeno pedaço de barro. Pareceu-me abandonado. Aproximei-me e, ali mesmo, fui testemunha de uma coisa espantosa. Remodela-me, Senhor! - repetia com ar sofredor a pobre criatura.
Impressionado, dirigi-me ao oleiro:
Amigo, sempre apreciei teu trabalho. Como todos sabem, a m elhor obra é a que sai de tuas mãos, no entanto, me recuso a acreditar que por mero descuido relegaste um pequeno pedaço de barro à mais triste solidão.
Ele me fitou em silêncio, a princípio pensei que fosse condenar minha aflição, mas após alguns minutos se pronunciou:
Caro amigo, aprecio tua preocupação, porém o pequeno barro de nada me serve, te garanto que não tem jeito não.
Como assim, me recuso a acreditar que tão hábil oleiro não saiba o barro aproveitar.
Julgaste-me mal. Este barro é que é um enganador, garanto que milhares de vezes o tomei entre as mãos e todas as vezes decepcionado, me vi forçado a abandoná-lo. É impossível trabalhar com ele, e se o deixo perto de mim é porque mesmo assim o amo de coração. Mas que defeito tão grave é este? É simples, não se deixa modelar. Entendo! - exclamei desconcertado.
Neste dia, deixei a olaria pensativo. Quantas vezes pedimos, imploramos... E não sabemos aproveitar as oportunidades que a vida nos dá. Cada dia uma nova porta se abre à nossa frente. Cada dia somos chamados a fazer a experiência da Ressurreição.
Podemos aceitar o convite e caminhar ou ficar parado, olhando mais uma porta se fechar. Remodela-me, Senhor! - repetia o pequeno barro. Será que ele queria ser remodelado? E você?
Regina Célia Suppi
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