A Palavra de Deus

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DOPAS

DOAÇÃO, ORAÇÃO, POBREZA, ALEGRIA E SIMPLICIDADE

22 de julho de 2020

O amor que sentimos ou o amor que decidimos

Foto ilustrativa: by Getty Images / PeopleImages







É próprio do namoro experimentar o arrebatamento da paixão. Afinal, normalmente é ela que aproxima o casal. É a paixão que provoca o desejo de estar sempre perto, que faz o coração disparar ao pensar no outro, que leva o amante a perder-se eu sua imaginação, criando na mente as mais variadas situações em que consegue conquistar o ser amado. No namoro, a paixão é o combustível que dá disposição para grandes feitos românticos em favor do outro, assim como é ela que motiva as declarações de amor eterno – há às vezes até uma competição para ver quem consegue ser mais exagerado em sua demonstração de amor. Num relacionamento que se encaminha para o casamento, a paixão é desejável, pois a sua chama trata de manter as almas aquecidas no percurso que o casal percorrerá até amadurecer sua decisão de compartilharem juntos uma vida. Sem a paixão, algumas descobertas duras a respeito do outro – duras, mas inevitáveis e igualmente desejáveis – poderiam desanimar e afastar os corações, pondo fim de forma prematura ao relacionamento.

       Ainda que desejável, a paixão por si só não é suficiente para sustentar um namoro, quanto mais um casamento. É que a paixão se baseia nos sentimentos, e estes mudam ao sabor dos ventos – algumas vezes favoráveis, outras nem tanto – da vida. Um namoro ancorado na paixão – ou no “amor romântico”, como muitos chamam – tende a ser um
relacionamento marcado por sentimentos fortes e muitas vezes opostos: grandes momentos de alegria e júbilo e brigas homéricas; juras de amor eterno e raiva (ou tristeza, dependendo do temperamento) quase mortal diante de uma frustração; certeza de que é para sempre agora e certeza de que não vai dar certo daqui a cinco minutos.

Amor e paixão são a mesma coisa?

       Há pessoas que julgam ser capazes de amar muito só porque têm grandes sentimentos. O Papa Francisco nos ensina na Amoris Laetitia1 que isso é uma grande mentira: “Julgar que somos bons só porque ‘provamos sentimentos’ é um tremendo engano”. De nada adianta, nos ensina o Papa, termos todo esse sentimento em nós se não conseguimos lutar pela felicidade dos outros e vivemos confinados nos nossos próprios desejos.

      Todo casal de namorados deve entender o que diz Denis de Rougemont2: “Estar apaixonado não é necessariamente amar. Estar apaixonado é um estado; amar é um ato. Sofre-se um estado, mas decide-se um ato”. Dessa afirmação depreende-se que é possível estar apaixonado sem amar. Num namoro assim, isso significa que quando os ventos mudarem e os sentimentos forem para outra direção, aquele que não mais se sente apaixonado porá fim ao relacionamento. Pois, uma vez que o “estar apaixonado” passa, o que sobra? Num relacionamento em que há o amor, este permanece. Porque o amor, diz o autor, é um ato, uma decisão que independe do meu estado e do meu sentimento agora ou ontem ou amanhã.

        Após alguns anos de casamento, é possível perceber claramente que muitos dos nossos mais meritórios atos de amor pelo nosso cônjuge não são motivados pelos sentimentos, mas apesar deles. Há quem, durante o namoro, ande uma hora para colher uma flor para a amada movido apenas pela expectativa do beijo que receberá como recompensa ou do sorriso emocionado que provocará nela. No casamento, o desafio muitas vezes será levar essa mesma flor ainda que você esteja com raiva ou decepcionado com a esposa por ela ter sido injusta com você. Ou o desafio será calar-se quando os seus sentimentos dizem “grite!”, “reaja!”, “não suporte isso”. Outras vezes, o desafio será dar o primeiro passo e abraçar o cônjuge após uma discussão, para dar início à reconciliação, dizendo-lhe “eu te amo”, mesmo que a vontade seja afastar-se, brigar ou dizer “verdades cruéis” que só machucarão o outro.

Decisão diária

       Não é que o namoro seja um sonho, um parque de diversões, e o casamento seja um pesadelo, uma provação sem fim. Definitivamente não. É que o casamento é, pode-se dizer, a vida real. Por maior que seja a transparência com que se viva no namoro, está sempre presente um esforço para dar o melhor para o outro, para mostrar sua melhor face. No casamento, é impossível manter isso o tempo todo. Você mostrará suas misérias e seu cônjuge também. Se um relacionamento está baseado na paixão ou no amor romântico, encarar essas misérias mútuas costuma ser fatal.

       Por isso, a necessidade de lembrar que o amor – aquele declarado no altar, diante de Deus – é uma decisão que deve ser renovada todos os dias. O Papa Emérito Bento XVI aconselhou jovens namorados a trilhar um caminho de amadurecimento: “a partir da atração inicial e do ‘sentir-se bem’ com o outro, educai-vos a ‘amar’ o outro, a ‘querer o bem’ do outro. O amor vive de gratuidade, de sacrifício de si, de perdão e de respeito do outro”3. Não se pode parar na paixão. O amor conjugal, nos ensina o Papa Francisco, “é uma ‘união afetiva’, espiritual e oblativa, mas que reúne em si a ternura da amizade e a paixão erótica, embora seja capaz de subsistir mesmo quando os sentimentos e a paixão enfraquecem”4.

Qual a qualidade do seu alicerce para um relacionamento?

No casamento, cônjuges que experimentam a verdadeira partilha e a transparência vão ferir um ao outro ao se deixar conhecer, por mais que se esforcem para não o fazer. Faz parte do processo de conhecimento. Deve ser parte desse processo também a consciência de que os sentimentos que tiverem ao longo dessas descobertas dolorosas não determinam o amor entre eles. Para viver isso no matrimônio, entretanto, é necessário que o casal busque uma experiência profunda e autêntica com Deus. Só assim os cônjuges conseguirão decidir-se pelo amor quando precisarem ser pacientes e bondosos; só decidindo-se pelo amor conseguirão não ser invejosos, nem orgulhosos, nem arrogantes, nem escandalosos; não buscarão os seus próprios interesses, não se irritarão, não guardarão rancor, nem se alegrarão com a injustiça. Só sustentado por Deus um cônjuge vai olhar para o outro e decidir tudo desculpar, tudo crer, tudo esperar, tudo suportar.

       A paixão pode acabar, mas o amor, nos ensina São Paulo, jamais acabará. Amparado nessa palavra, você pode hoje olhar para a sua vida e refletir qual a qualidade do alicerce que você tem preparado para o seu relacionamento: são os vistosos, mas frágeis fundamentos da paixão ou a discreta, mas sólida e confiável estrutura do amor? Confiantes em Deus, sabemos que ainda é tempo de mudar quaisquer inadequações estruturais que o nosso relacionamento possa ter. Basta nos decidirmos, nas pequenas e nas grandes coisas, pelo amor.

José Leonardo Nascimento
José Leonardo Ribeiro Nascimento é casado, pai de quatro filhos e membro do segundo elo da Comunidade Canção Nova desde 2007. Natural de Paripiranga (BA),  Ele e sua esposa trabalham, há muitos anos, com a evangelização de casais e de famílias, coordenando grupos e pregando em retiros e encontros.


A importância do controle do peso corporal

Foto ilustrativa: BocosB by GettyImages







O aumento de peso está diretamente relacionado à elevação dos níveis da pressão arterial, tanto em adultos quanto em crianças. A relação entre sobrepeso e hipertensão arterial já pode ser observada a partir dos 8 anos de idade. O aumento da gordura visceral também é considerado um fator de risco. Essa gordura, também conhecida popularmente como “barriga de cerveja”, é aquela que, mais profundamente, localiza-se ao redor de órgãos importantes, como o fígado, o pâncreas e os rins.

          Qualquer excesso de gordura corporal é perigoso para a saúde em geral, mas essa gordura visceral é um fator de risco ainda maior do que a subcutânea. Hoje, sabemos que o tecido adiposo é um órgão endócrino, isto é, libera uma série de hormônios e pequenas proteínas (citocinas) na corrente sanguínea, como a Interleucina-6 (IL-6), que estimula a produção de outras proteínas de fase aguda de inflamação, além de aumentar a secreção de triglicérides pelo fígado, contribuindo para a hipertrigliceridemia associada à obesidade visceral.
Diminuição de peso

Resumindo: a gordura em excesso é pró-inflamatória e precisa ser intensamente combatida. Estudos mostram que a diminuição de peso corporal e da circunferência abdominal correlacionam-se com reduções da pressão arterial.

Em relação à circunferência abdominal, sugere-se manter os seguintes parâmetros:

Mulheres: menor do que 80 cm;
Homens: menor do que 94 cm.

Vamos medir a sua?

      Passe uma fita métrica em torno da barriga relaxada, na altura do umbigo. Certifique-se que toda a fita esteja na mesma altura e que não esteja enrolada em parte alguma. Fazer isso em frente ao espelho ajuda bastante. E, caso você ainda não esteja convencida ou convencido que emagrecer é uma das melhores estratégias para controlar a sua pressão arterial, uma meta-análise publicada em 2008, que analisou estudos já realizados sobre perda de peso e hipertensão, mostrou que: a redução do peso corporal é mais eficaz do que usar medicamentos como Orlistat e Sibutramina, utilizados habitualmente para o tratamento da obesidade.

Dra. Gisela Savioli
nutricionista Clínica Funcional e Fitoterapeuta – Escritora e Jornalista.


7 de julho de 2020

O desafio do diálogo conjugal

Foto Ilustrativa: by Getty Images / fizkes

        Há quase vinte anos, no dia em que minha esposa e eu começamos a namorar, nossa primeira atitude foi nos sentarmos na escadaria lateral da igreja matriz da nossa cidade natal, lá no interior da Bahia, e contarmos as nossas histórias afetivas um para o outro. Trazíamos no coração o desejo de sermos transparentes em nosso namoro e aquele parecia ser o melhor começo possível. Conversamos por algumas horas e firmamos o compromisso da sinceridade e do diálogo franco antes de trocarmos o primeiro beijo.

        Os anos se passaram e já casados fomos nos conhecendo mais profundamente e percebendo as enormes diferenças que nos marcavam. O desejo do diálogo permanecia e era o mesmo nos dois, mas a capacidade de dialogar era muito diferente. Minha esposa não tinha dificuldade em falar dos seus sentimentos. Pelo contrário, ela precisava falar, sentia-se sufocada se não desabafasse, se não deixasse claro como ela se sentia em relação a mim diante desta ou daquela conduta que a magoasse. Quando eu contemplo a mim mesmo nos primeiros anos de casamento, recordo sempre de A dócil, um conto brilhante de Dostoievski que trata de uma tragédia que se abateu sobre um casal que não conseguia dialogar. “Sou mestre na arte de falar em silêncio, passei minha vida toda conversando em silêncio e em silêncio acabei vivendo tragédias inteiras comigo mesmo.”

Tem algo impedindo que o diálogo aconteça?

        Quando li essa frase pela primeira vez, como me identifiquei com o marido, narrador da história! Ele havia se casado com as melhores intenções. Queria viver bem com sua esposa, a quem amava, mas ele não conseguia conversar com ela sobre os assuntos que importavam: seus sentimentos, os sentimentos dela, as dificuldades do casamento. Ele preenchia o tempo e os espaços com seus silêncios, que foram afligindo sua esposa cada vez mais, até se tornarem insuportáveis para a pobre moça. Assim eu me comportava muitas vezes, quando algum ato meu incomodava minha esposa ou vice-versa. Ela tentava iniciar um diálogo, expressando o que sentia, e eu no mais das vezes tentava responder, mas não conseguia. Algo travava na minha garganta e a palavra ficava retida. Em algumas ocasiões, uma palavra – perdão! – seria o suficiente, mas ela não vinha, só o silêncio. Eu não percebia que essa era uma deficiência séria minha. Pensava ser só mais uma das diferenças naturais que há entre os esposos.

        Ocorre que quando algo impede o diálogo, o casamento começa a murchar, porque a conversa entre os cônjuges é como uma poda que deve ser realizada com frequência para que uma árvore cresça saudável. Se o tempo vai passando e espera-se que um galho esteja muito grande para podar, a árvore terá a sua saúde comprometida, porque a cicatrização vai demorar demais. No casamento, essa poda deve ser mais do que diária, deve ocorrer sempre que necessário, instantaneamente.

Ocorreu um desentendimento?

        O casal deve esclarecer tudo ali, no ato, porque a vida conjugal é muito dinâmica e se não houver reconciliação imediata, cada ato subsequente será afetado por aquela pequena mancha que não foi resolvida. Se no início do dia, por exemplo, eu desagrado a minha esposa com um comentário qualquer e ela guarda aquilo, não compartilha comigo a sua insatisfação, é bem provável que isso pese nas reações que ela terá a tudo o que eu fizer ou falar ao longo do dia, iniciando uma reação em cadeia.

        Assim, na hora do almoço, por exemplo, ela será menos tolerante ao elogio que não veio para a comida preparada com esforço e carinho. Ficará de cara fechada e não responderá com bom humor a alguma brincadeira que eu faça à tarde. E à noite resistirá às minhas investidas românticas e a chance de dormirmos chateados um com o outro será grande. E tudo começou com um comentário lá no início da manhã, para o qual não demos a devida importância.

        Foram anos ouvindo a minha esposa, aprendendo com ela e treinando a mim mesmo na arte do diálogo para que eu fosse vencendo essa barreira invisível do silêncio. Como minha esposa teve paciência comigo! De tempos em tempos precisávamos retomar nossos compromissos da época do namoro, de nunca desistirmos um do outro, de sempre sermos transparentes quanto aos nossos sentimentos, de acolhermos a fala do outro com amor. Fui percebendo, por exemplo, como o diálogo exige humildade, já que muitas vezes eu me via coberto de razão em um determinado assunto, mas ao mesmo tempo percebia como o Espirito Santo me impulsionava a tomar a iniciativa e falar com minha esposa. No final da história, tudo ficava claro, e eu me dava conta de que o erro tinha sido realmente meu. Em outras situações, naturalmente, era o inverso que acontecia, e minha esposa não tinha problemas em assumir que havia errado.

Dicas

        Nisso tudo fomos percebendo que há, no nosso casamento, alguns princípios dos quais jamais poderemos abrir mão. Devemos tê-los como a nossa constituição não escrita. Em primeiro lugar, manter vivo na memória que foi Deus que nos uniu. Ter isso sempre à nossa frente coloca todas as demais situações em perspectiva. Qualquer briga se torna menor se temos o nosso casamento como uma casa construída sobre a rocha. É como se sempre lembrássemos a nós mesmos e ao outro: “Tudo bem, você me magoou ou eu magoei você, mas não é o fim do mundo. Foi Deus quem nos uniu. Vamos respirar, rezar e conversar, porque tudo isso vai passar.”

        Em segundo lugar, o diálogo tem que ser aqui, agora. O sol não pode se por sobre o nosso ressentimento. Não vamos deixar para depois do almoço ou para depois que as crianças dormirem. Se necessário, vamos nos trancar no quarto, deixar o filho maior cuidando dos menores e vamos conversar até nos entendermos ou pelo menos até um perdoar o outro.

        Em terceiro lugar, trazer para o casamento o “pensar bem de todos, falar bem de todos, querer o bem de todos”. Se vivo essa realidade lá fora, muito mais a viverei aqui dentro de casa. Se minha esposa me magoou, não tenho o direito de pensar que ela fez por mal. Vou pensar sempre o melhor dela. Ela vai pensar sempre o melhor de mim. Isso é antídoto para muitas brigas. Antes mesmo de reagir com raiva diante de alguma ofensa, eu penso: “Ela não fez por mal. Preciso pensar o melhor da minha esposa. Ela me ama, não quer me ferir.”

        Em quarto lugar, abandonar as supostas certezas. Talvez seja o maior desafio, porque com o passar dos anos, nós começamos a achar que já sabemos exatamente o que esperar do outro e isso se reflete nos desentendimentos: “Eu sabia que você iria dizer isso” ou “eu sabia que você ia fazer isso de novo”. Aqui em casa nós não sabemos de nada, além do fato de que o outro está tentando ser o melhor possível.

        Em quinto lugar, por fim, paciência e amor. Não desistir do outro, por mais que repita os mesmos erros. É o perdoar setenta vezes sete, só que dentro do casamento. É ter a tranquilidade de que diversas vezes eu e minha esposa vamos tropeçar nos passos que acabei de descrever e vamos ter que nos perdoar e recomeçar com um sorriso no rosto, um abraço, um beijo, um carinho.
Aprenda a lidar com os desafios

        Na história de Dostoievski, aquele casamento termina de maneira trágica porque o homem não conseguiu fazer a experiência da conversão. Ele sabia que precisava mudar, tinha consciência da sua miséria, mas não conseguia dar os passos necessários porque faltava-lhe uma experiência transformadora com Deus.

        Cada um de nós vai se deparar com diferentes desafios dentro do casamento. Pode ser o temperamento do outro, que me surpreende negativamente, alguma mania que me desagrada, a falta de paciência do outro ou a incapacidade de falar de si. O que não pode mudar é a disposição de recomeçar, que parte da certeza de que por ser uma vocação, um chamado de Deus, Ele mesmo nos capacitará a viver bem o casamento, como meio de alcançar a santidade e chegar ao céu. Em face dessa certeza, tudo, mas tudo mesmo se resolve com uma boa conversa.

José Leonardo Nascimento
é casado, pai de quatro filhos e membro do segundo elo da Comunidade Canção Nova desde 2007. Natural de Paripiranga (BA), cursou Ciências Contábeis na Universidade Federal de Sergipe e fez pós-graduação em economia por meio do Minerva Program, na George Washington University, nos Estados Unidos. Trabalha, há 18 anos, como Auditor Federal na Controladoria-Geral da União em Aracaju (SE). Ele e sua esposa trabalham, há muitos anos, com a evangelização de casais e de famílias.
O MEDO
Deus ama o pecador, mas detesta o pecado

Foto Ilustrativa: lolostock by Getty


        Um grande aliado do Tentador é o medo. Quantas pessoas se tornaram infelizes, desviaram-se de Deus, entregaram-se a toda espécie de vícios por causa do medo! Medo de Deus, medo do diabo, medo de não ser feliz, medo de não se casar, medo de perder o marido, medo de morrer pobre, de fracassar, de ir para o inferno e, por fim, um dos piores medos: medo da morte!

        Numa busca desesperada de segurança, de garantias e “felicidade instantânea”, um número incontável de pessoas se entregou aos arrastos da carne, aos prazeres pecaminosos e a toda sorte de pecados, procurando vida onde só há morte. Muita gente buscou e ainda busca libertações no espiritismo, no ocultismo e em outros tantos espiritualismos, a fim de manipular o sobrenatural, como se com o barro pudesse do barro se limpar. Até parece que ouvimos o desespero gritar: “Comamos e bebamos, pois amanhã morreremos”.

        Deus ama o pecador, mas detesta o pecado, pois, no Seu amor de Pai, Ele jamais consentirá algo que nos destrua e nos faça infelizes. Não há nenhum pecado que faça bem. Eu nunca vi. Sei que jamais verei o pecado, por si só, gerar verdadeiros benefícios.

O pecado tem a força de destruir o homem

Deus se ofende com o pecado, principalmente, porque este mata o homem, destrói aquele que Deus mais ama.

        O Apocalipse narra: “alegrai-vos, ó céus, e todos os que aí habitais. Mas ó terra e mar, cuidado! Porque o demônio desceu para vós, cheio de grande ira, sabendo que pouco tempo lhe resta” (Ap 12,12). Não podendo nada contra Deus, o diabo. O ofende em Suas criaturas. Quer atingi-Lo pelo Seu amor.

        O que será mais doloroso: machucarem-nos ou machucarem nosso filho ou a nossa mãe, por exemplo? Eu penso que a dor assume proporções gigantescas quando o mal se abate sobre aqueles que amamos. Que sofrimento Deus padece pelo amor que tem por nós! Diz a Sagrada Escritura que o coração de Deus se revolve, que o Senhor se comove, estremece de dó e compaixão pelos Seus filhos que O abandonam seduzidos pelo diabo (cf. Os 11,8c).

Quais são as artimanhas do inimigo?

        Há mais um medo pelo qual o inimigo nos seduz: o medo de perder a nossa liberdade. Tentamos garanti-la defendendo-a de Deus, defendendo-a d’Aquele que nos deu toda a liberdade. Como se Ele no-la quisesse tirar.

        No íntimo do nosso coração, sopra uma vozinha dizendo: “Deus não vai me deixar fazer isso ou aquilo!”; “Olha que Deus está te vendo!”. Pergunto-me se será mesmo só a voz da consciência.

        Deus ama, e quem ama liberta. Porque nos ama, Ele nos respeita. Precisamos defender a nossa liberdade sempre, mas não de Deus, e sim do violador, do príncipe deste mundo que mantém as pessoas prisioneiras pelos seus vícios: álcool, fumo, drogas, jogos, promiscuidade, mentira e uma infinidade de outros que só trazem como salário a morte – primeiro da alma e depois do corpo. Mas, pela oração, podemos desarmar todas as ciladas do demônio.

Trecho extraído do livro "Quando só Deus é a resposta" do Márcio Mendes

Márcio Mendes
Nascido em Brasília, em 1974, Márcio Mendes é casado e pai de dois filhos. Ex-cadete da Academia da Força Área Brasileira, Mendes é missionário da Comunidade Canção Nova, desde 1994, onde atua em áreas ligadas à comunicação. Teólogo.

DECLARAÇÃO
CMI e Fórum Inter-religioso: crise sanitária e climática estão relacionadas

TERÇA-FEIRA, 7 DE JULHO DE 2020, 9H51 MODIFICADO: TERÇA-FEIRA, 7 DE JULHO DE 2020, 10H31


        Declaração foi apresentada na 44ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que acontece desde 30 de junho, em Genebra

Vatican News

        Emergência da Covid-19 e mudanças climáticas de origem antrópica são os dois lados da mesma crise cuja raiz há “um sistema econômico injusto e ecologicamente insustentável”, com profundas consequências para os povos do mundo inteiro e para os direitos humanos. Este é o ponto de partida da declaração conjunta publicada pelo Fórum Inter-religioso sobre Mudanças Climáticas, Direitos Humanos e Meio Ambiente (Gif), em Genebra, na Suíça, do qual fazem parte o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), os Dominicanos pela Justiça e Paz e a Federação Luterana Mundial.

        A declaração foi apresentada na 44ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que se reúne desde 30 de junho a 17 de julho, em Genebra, de onde o Fórum Inter-religioso sobre Mudanças Climáticas, Direitos Humanos e Meio Ambiente, por ocasião da Cúpula da ONU, organizou uma série de seminários on-line centrados no tema “Direitos humanos, ética e mudanças climáticas”.

        O texto sublinha a estreita ligação entre as crises sanitária e climática que o mundo está vivendo, por causa de seu impacto sobre os direitos humanos fundamentais dos mais vulneráveis, começando pelo da saúde, estabelecido pela ONU como terceiro Objetivo do desenvolvimento sustentável (SDG3). Vários estudos destacam que a seca causada pelas mudanças climáticas e a má qualidade do ar pioram os sintomas da Covid-19 e confirmam que o maior preço em termos de vidas humanas é pago pelas categorias desfavorecidas: os pobres, as mulheres, as minorias, os povos indígenas, os migrantes e os refugiados.

“As duas emergências”, prossegue a declaração, “também estão ligadas por suas consequências econômicas: o confinamento levou a um aumento dramático do desemprego e também da pobreza e da fome em todo o mundo, mas as mudanças climáticas também estão corroendo os meios de subsistência, em particular dos agricultores, pescadores e populações indígenas e minando os direitos à alimentação e à água, junto com outros direitos econômicos, sociais e culturais. Mais uma vez, as pessoas com poucos meios socioeconômicos e que vivem às margens são as mais atingidas”, observa o documento.

        Recordando as palavras do Papa Francisco na Laudato si’, o Fórum Inter-religioso afirma que essas crises “revelaram claramente a nossa interconexão como única humanidade e o fato de fazermos parte de uma comunidade mais ampla de vida, bem como a indivisibilidade e a interdependência de todos os direitos humanos e a necessidade de investir decisivamente nos sistemas de assistência para proteger esses direitos”.

        O organismo faz um apelo a “remodelar radicalmente as políticas e sistemas econômicos a fim de promover os direitos humanos e apoiar a saúde e o bem-estar das pessoas e do planeta”. Isso envolve ações coordenadas, coerentes e transformadoras da parte dos Estados em colaboração com todos os setores da sociedade”, ressalta ainda o Fórum Inter-religioso.

        A Declaração se conclui com quatro recomendações: reconhecer o direito humano a um ambiente seguro, limpo e saudável para todos, protegendo a biodiversidade e reduzindo as emissões de gases de efeito estufa em todos os países; garantir o respeito dos direitos humanos na aplicação das medidas contra a Covid-19; assegurar a fruição plena e equitativa dos direitos econômicos, sociais, culturais, civis e políticos e a transição para uma economia e uma sociedade sustentável e sem emissão de gás carbônico na era pós-Covid; e por fim, cancelar a dívida dos países mais pobres e reformar o sistema tributário em todo o mundo.

27 de junho de 2020

Por que tenho pressão alta?

Foto ilustrativa: Madrolly by Getty Images

        Na maioria das pessoas que sofrem de pressão alta, não se encontra uma causa definida, embora admita-se que fatores genéticos e ambientais estejam envolvidos na gênese dessa doença. Por conta de não se conhecer a sua etiologia, é chamada de hipertensão primária. Embora não causais, vários fatores de risco estão forte e independentemente associados à hipertensão primaria, como:
Alguns fatores que cooperam com a pressão alta

• Idade – idade avançada está associada ao aumento da pressão arterial, particularmente da sistólica; além disso, com o avançar da idade, aumenta a incidência de hipertensão arterial.

• Obesidade – aumento do peso e, consequentemente, da massa gordurosa do corpo é fator de risco importante para a hipertensão. O que vale a pena dizer é que, para muitos pacientes que chegam à nossa clínica com excesso de peso e hipertensos, após reeducação alimentar, conseguimos reduzir a quantidade de medicamentos que tomam e, em alguns casos, até suspender totalmente qualquer tipo de remédio para a pressão alta.

• História familiar – se sua mãe e/ou seu pai são hipertensos, você tem duas vezes mais chances de um dia ter pressão alta do que aqueles cujos pais são normotensos.

• Raça – em negros, a hipertensão tende a ser mais comum, ser mais grave, ocorrer mais cedo na vida e ser associada a maiores danos nos órgãos-alvo, como rins, por exemplo.

• Dieta com alto teor de sódio – excesso de ingestão de sódio (por exemplo: > 3000 mg/dia) aumenta o risco de hipertensão.

• Consumo excessivo de alcoól – associado à ocorrência de hipertensão arterial.

• Inatividade física – aumenta o risco de hipertensão, e o exercício é um meio efetivo de baixar a pressão arterial.

• Diabetes e dislipidemia – presença de outros fatores de risco cardiovasculares como diabetes e dislipidemias (aumento do colesterol e triglicérides no sangue) parece estar associada a maior risco de desenvolver hipertensão.

• Traços de personalidade e depressão – hipertensão pode ser mais comum entre aqueles indivíduos com atitudes hostis, impaciência quanto ao tempo, bem como entre aqueles com depressão e ansiedade.

Texto extraído do livro “Hipertensão Arterial - Uma Visão Integrativa“, de Dr. Roque e Dra. Gisela Savioli.

Dr. Roque Savioli
CRMESP 22.338
Formado pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos em 1974. Residência Médica em 1975 e 1976 no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, obtendo o título de especialista em Cardiologia, pela Segunda Clínica Médica, Serviço do Prof. Luis Vénere Décourt. Desde 1977 é integrante do Corpo Clínico do Instituto do Coração do HC-FMUSP , atualmente lotado como Médico Supervisor da Divisão Clínica – Unidade de Cardiogeriatria. Doutor em Medicina pela FMUSP e integrante da Sociedade Paulista e Brasileira de Cardiologia .
Apresentador do programa “ Mais Saúde “na Rede Canção Nova de Radio (AM).
Fixe sua alma em Deus

Foto Ilustrativa: Arquivo CN/cancaonova.com

“Deixo-vos a paz; a minha paz vos dou. Não vos-la dou como o mundo a dá. Não permitais que vosso coração se preocupe, nem vos deixeis amedrontar” (João 14,27).

        O grande perigo da agitação dos nossos dias está em perdermos nossa alma ou, em outras palavras, perdermos o sentido da nossa própria vida, perdermos o contato com o nosso centro, nosso verdadeiro chamado como pessoa, nossa essência, nossa missão, nossa tarefa neste mundo. Ao perdermos a nossa alma, tornamo-nos tão distraídos e preocupados com tudo o que está acontecendo em torno de nós que acabamos fragmentados, confusos e inseguros, sem sentido, sem reconhecermos, de fato, quem somos.

Deus quer que tenhamos uma vida de oração

        Jesus é muito consciente deste perigo e nos ensina: “Tome cuidado para não ser enganado porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Eu sou o único e o tempo está próximo'” (Lucas 21,8). Somos chamados a seguir Jesus com fidelidade, sem nunca perdermos o contato com nossa essência. E isso é possível? Sim, por meio da oração.

        Santa Teresa de Jesus afirma que: uma das maiores vitórias do demônio é convencer alguém de que não é preciso rezar, ou seja, quando o assunto é vida de oração, é preciso termos a consciência de que se trata de um luta espiritual e que, para vencermos, o único caminho é rezar com ou sem vontade. Se eu escolho deixar-me guiar apenas pelo meu querer, corro o risco de perder o contato com minha essência e passar por este mundo levada pela insegurança, sem saber quem sou, de onde vim e para onde vou. Fixar nossa alma em Deus é o meio para a vitória contra todo mal.

Oração

Senhor, eu quero voltar ao primeiro amor e experimentar de novo a Tua graça a me tocar. Nesta hora, acalma meu coração e liberta-me de toda agitação, toda ansiedade. Dá-me a Tua paz e leva-me de volta à minha essência, pois é somente em Ti que eu confio e espero. Amém!

Dijanira Silva
Missionária da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Djanira reside na missão de São Paulo, onde atua nos meios de comunicação. Diariamente, apresenta programas na Rádio América CN. Às sextas-feiras, está à frente do programa “Florescer”, que apresenta às 18h30 na TV Canção Nova. 

3 de junho de 2020

Onde está meu coração?


    Diz a Palavra de Deus: “Onde está o teu tesouro, lá também está teu coração” (Mt 6, 21). É que o nosso coração está sempre onde está quem ou o que amamos. Basta pensar na pessoa querida e um sentimento já conhecido, mas sempre novo, nos invade. Seria amor, paixão, sentimentalismo. Seja o que for, o certo é que nos transporta de um lugar ao outro em fração de segundos.

    O Padre kentenich diz, em um de seus escritos, que o amor não é novo, porém, nova é a maneira como Cristo nos amou e nos ensina a amar: “Deveis amar-vos uns aos outros assim como eu vos amei”. E como foi mesmo que Cristo nos amou? Doando-se inteiramente por nós sem poupar nada, nem mesmo a própria vida. É assim que Cristo nos ensina a amar: doando-nos sem reservas!

Onde estiver o nosso coração também estará o nosso tesouro

    Ao falarmos de amor, pensamos naquela inclinação espontânea, na atração por um objeto ou uma pessoa que move o coração quando descobrimos algo de belo, bom ou agradável que, de alguma forma, nos completa. Neste caso, constatamos que, muitos têm se deixado completar por “quase nada” e, portanto, estão sempre vazios. Vemos, hoje, a palavra amor sendo utilizada de maneira tão errada e até mesmo agressiva, que ficamos inibidos na hora de usá-la da maneira correta. Porém, na essência ela não perdeu o seu significado e valor, nós, cristãos, não podemos abrir mão disso.

    O Mestre do amor está no nosso “time”, e não viemos aqui para perder. É a hora de amar! Como? Da maneira que o Mestre nos ensinou: doando-nos sem reservas. E uma vez que nosso coração esteja onde estiver, lá também estará o nosso tesouro. Façamos, hoje, a experiência de deixar o nosso coração repousar em Deus, nosso eterno tesouro. Ele nos conduzirá aos lugares e pessoas certas, onde deve estar o nosso coração.

Dijanira Silva
Missionária da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Djanira reside na missão de São Paulo, onde atua nos meios de comunicação. 

Quarentena: oportunidade para um reajuste interior

Foto ilustrativa: lovelyday12 by Getty Images

    A vida é uma escola em que só com humildade, docilidade e mansidão se chega onde se deve. Muitos estacionam em períodos em que se sentem mais confortáveis e acabam por não ver o que está diante dos olhos, outros ainda passam a vida toda em cima de uma disciplina da vida e não consegue ver a grade curricular completa. Claro que é uma metáfora, não vamos conseguir olhar o todo, é impossível sermos oniscientes, isso cabe a Deus. O fato é que conseguimos olhar ao nosso redor e, por vezes, precisaremos reajustar o nosso olhar e mudarmos as nossas estruturas para nos adaptarmos ao mundo.

    Por exemplo, nesta quarentena que iniciou-se quase que no mesmo tempo do período quaresmal, quantas vezes eu olhei para minha rotina e consegui enxergar novidades? Estou lhe dizendo para olhar sua vida e reajustar o foco. A novidade que está diante de nós é tão bonita e porta tanta beleza na simplicidade que acabamos nos acostumamos. Como é belo olhar a vida de alguém que não vê as situações difíceis como apenas uma dificuldade ou um obstáculo intransponível. A nossa adaptação, nosso reajuste nos faz crescer. E quando transformamos tudo em oração, aí sim podemos amadurecer ainda mais.

O reajuste proporciona sabedoria

    Lembra daquela frase: aproveite os limões que a vida te dá. Pois bem, é isso mesmo. Se não fosse pela necessidade, não teríamos inventado a luz, o telefone etc. O que, de fato, nos inquieta também suscita criatividade e flexibilidade. A idade da pedra passou; impérios imensos ruíram; passamos por diversas pestes, guerras, tudo passa… O que permanece dentro de você quando “tudo passa” é a sabedoria adquirida pelos “reajustes” que você fez.

    Vamos a algo ainda mais profundo: autotranscedência. A palavra é um pouco complicada para explicar, mas podemos discorrer que é a capacidade que o homem tem de estar voltado para algo que está além de si mesmo. É preciso reajustar para que você veja o que não está vendo. Mais uma vez e isso é – de certa forma inevitável – precisamos olhar para nós mesmos e fazer aquela revisão. Olhar como quem olha as peças de um relógio, pois, se uma peça precisa de mais óleo ou de uma troca, significa que o relógio não está funcionando bem ou, ainda, não está em pleno funcionamento. Observe o seu e coloque no papel seu ritmo semanal, seu itinerário; amplie sua visão e queira enxergar em você o que está fora do lugar.

    É hora de encerrar o que se começou, de dar mais um passo rumo aos sonhos, de enxergar o que não se vê ou o que não se quer ver. Olhar além do horizonte e para si mesmo, porque temos a oportunidade de inaugurar novos tempos, de viver tendo a ciência de que reajustes são possíveis graças à capacidade humana de se reinventar e de querer viver bem. A sabedoria está no ar.

Guilherme Razuk
é candidato às ordens sacras na Comunidade Canção Nova. Graduando do curso de Filosofia (licenciatura) pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP).
Qual a importância de perdoar?

Foto ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com

    Paz e unção, caríssimo leitor! Você viu que o título deste artigo é uma pergunta: “Qual a importância de perdoar?”. Sendo assim, entendamos que se trata de algo propositivo, aliás, essa é uma das mais fortes marcas do nosso Deus: Ele propõe, não impõe. O que você vai ler, nas próximas linhas, evidentemente, está baseado na proposição inspirada pelo Espírito Santo. Você aceita? Então, prossigamos!

    Com certeza, certas perguntas, que já lhe fizeram ao longo da vida, foram desafiadoras, e não vou espantar-me se você me disser que algumas delas não conseguiu responder, pois, o silêncio foi imperante ou, quem sabe, um tímido “não sei” foi o máximo que conseguiram de você. Todavia, existem perguntas que são feitas não para o constranger, pelo contrário, são feitas para encorajá-lo. Qual a importância de perdoar?

É preciso perdoar

    Essa é, sem dúvida nenhuma, uma pergunta que se faz necessária para lhe dar coragem. Há pouco tempo, ouvi uma pregação do monsenhor Jonas Abib, e, num determinado momento, ladeado de muita autoridade espiritual, ele disse: “Precisamos perdoar porque é preciso perdoar”.

    Confesso a você que, até agora, não encontrei definição melhor para esse tema, uma frase óbvia, mas carregada de verdade, sem rodeios, direto ao ponto, porque Deus é explícito, caro irmão leitor, e não deixa dúvidas em Seu modo de ensinar. Lembra do que Jesus respondeu sobre quantas vezes devemos perdoar? Ele foi incisivo: “setenta vezes sete”, ou seja, sempre.

    Ninguém habita no Céu com manchas; lá, só habita a pureza. Com isso, Ele não estava dizendo que a necessidade de perdoar sempre encontraria em nós acesso fácil e rápido. O Senhor compreende nossa lentidão, mas, do mesmo modo, está observando se há em nós esforço em progredir nessa virtude ou se estamos aguardando uma espécie de “sucção instantânea” das nossas mágoas e ressentimos acumulados. Se é essa sua expectativa, esqueça, pois, isso não vai acontecer, perdoar é uma via que contempla busca e empenho pessoal com a marca da graça divina.

Propósito de eternidade

    O sucesso em conseguir perdoar não está, em primeiro grau, na sua relação com a pessoa a ser perdoada, mas na sua relação com o Senhor. É isso que define o seu propósito de eternidade, pois, se é o Céu o seu grande fim, o perdão precisa ser liberado antes de chegar lá, porque ninguém habita no céu com manchas. Que manchas? Ressentimento, mágoa, vida dupla, intrigas, orgulho, discórdias. Lá, só habita a pureza, e é esse o tempo que o Bom Deus lhe deu para vivenciar a pureza.

    Quando você compreende a beleza em recomeçar, o poder de perdoar ganha força e sentido dentro de você. “Quando, ao Senhor, agrada a conduta de alguém, Ele o reconcilia até mesmo com seus inimigos” (Provérbios 16,7).

    Viu só? A sua relação com Ele é o “carro-chefe” nesse processo! Ou melhor, em tudo que nos acontece a premissa é o seu relacionamento com Deus. No fundo, o que muda nossa vida não é o que sentimos, o que ouvimos nem o que fizeram conosco, mas o que decidimos em Deus.

    A importância em perdoar está entrelaçada muito mais no que você quer que aconteça daqui para frente do que sobre o que aconteceu lá atrás. Com isso, não estou dizendo que você prosseguirá sem as marcas e lembranças do que o atingiu, talvez até de forma inesperada, não posso mentir, as marcas ficam, mas com o perdão doado, a dor é dissolvida, você prossegue desacompanhado do que não santifica, apto para novos tempos e novas histórias.

O que ensinam os santos?

    Sempre aprendemos com quem já está lá no Céu, pois, a vida dos santos é uma fonte inspiradora para os que almejam plenitude em Deus. Veja o que ensina São Gregório de Nissa, bispo e Doutor da Igreja:

“Se o coração de um homem foi purificado de toda propensão carnal e de toda insubordinação, tal homem verá em sua própria beleza a natureza divina. Isto está por certo ao nosso alcance: tendes dentro de vós mesmos o paradigma pelo qual aprendeis o Divino, pois o que vos criou, ao mesmo tempo, vos dotou com esta qualidade maravilhosa. Aí imprimiu Deus a semelhança das glórias de sua própria natureza, assim como quem molda da cera a escultura. Todavia, o mal que foi derramado na natureza, esta natureza que traz a imagem divina, tornou inútil para vós este feito maravilhoso que sob máscaras vis se oculta. Se, portanto, purificais vossa vida da imundície, que tal qual emplastro se vos apega ao corpo, a beleza divina em vós outra vez fulgirá.”

Vai por mim, perdoar sai mais barato!

Fogo na alma!

Evandro Nunes
Membro da Renovação Carismática Católica na Diocese de Santo Amaro (SP), Evandro Nunes tem se dedicado à vida missionária desde 2010, exercendo o Ministério da Pregação em todo o Brasil e no exterior. 

28 de maio de 2020

A desumanização é o que permite o discurso de ódio

Foto ilustrativa: leremy by Getty Image









    Infelizmente, é muito fácil julgar e condenar as pessoas. Sem dúvida, as redes sociais têm potencializado essa falha incompassível. Isso ocorre porque o julgamento e a condenação pressupõem a desumanização da pessoa julgada, quer dizer, ignorasse que falamos de alguém como nós, com sentimentos, família e suas próprias qualidades. É mais cômodo para o agressor atacar a “@ana_julia_123” do que a menina Ana Júlia, filha do Marcelo e da Renata, irmã do Felipe, que adora livros de aventura e musicais da Disney. O ensinamento de Jesus Cristo não poderia ser mais claro e objetivo: “Não julgueis, e não sereis julgados” (Mt 7,1), mas é a desumanização que tem possibilitado os corriqueiros e cruéis discursos de ódio.

    Quando o alvo do julgamento é observado como uma pessoa, como eu e você, com seus próprios problemas, sentimentos e sua dignidade, a ofensa se torna penosa para o próprio agressor. Se, do contrário, esquecermos dessa humanidade e, no calor no momento, condenarmos sem ponderar a situação do outro, cometemos o erro da “desumanização que nos apresenta sob a forma da indiferença, da hipocrisia e da intolerância” (Papa Francisco).

    Na internet, a desumanização é ainda mais comum. Com lamentável frequência, temos nos deparado com discursos de ódio e narrativas de agressão nas redes sociais. Sempre me intrigou o fato de haver pessoas que se dispõem a “seguir” outras, única e exclusivamente, para ofender e criticar cada foto, cada comentário, cada postagem. É uma vida muito vazia. Claro que não são críticas construtivas, são ataques injustos, fundamentados na frustração e no desespero do próprio agressor. E para tentar amenizar esse cenário tão comum na internet, o papel do cristão é ser um agente do amor e da caridade.

Busque não alimentar o discurso de ódio!

    Eis o verdadeiro desafio: “Se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os publicanos não fazem a mesma coisa?” (Mt 5, 46). Assim, a proposta é tratar os agressores com caridade. Se o método de agressão é a desumanização, a resposta deve ser humanitária. Ouvir, refletir e ponderar. É uma tarefa difícil. Tentar ajudar quem está disposto apenas a agredir é oferecer a outra face (Mt 5,39). Precisamos buscar compreender o que levou o agressor à prática dos julgamentos e não alimentar esse ódio.

    “O perigo consiste em negar o próximo e assim, sem se dar conta, negar a sua humanidade, a nossa humanidade, negar-nos a nós mesmos e negar o mandamento mais importante de Jesus. Esta é a desumanização” (Papa Francisco). O exercício de empatia não é fácil. É preciso respirar fundo, ponderar, refletir e, só então, transmitir uma mensagem de caridade. Nas redes sociais, esse desafio deveria ser mais fácil, porque não há necessidade de uma resposta imediata. É possível ler, reler, pensar, beber água e rezar para, só então, escrever a resposta.

    Que Deus nos dê firmeza e serenidade para sempre enxergarmos o outro como igual, como humano, como irmão. É importante sempre considerar que mesmo o agressor tem sua parcela de sofrimento e, se ele está disposto a apenas propagar o ódio, ele precisa mais de ajuda do que de condenação. É uma missão árdua, não há dúvidas. Que Deus nos ajude. Que assim seja.

Referências:

BÍBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB, 18 ed. Editora Canção Nova.
PAPA FRANCISCO. Mensagem aos participantes no encontro dos movimentos populares realizado em Modesto, Califórnia. 10 fev. 2017.

Luis Gustavo Conde
Catequista atuante na evangelização de jovens e adultos. Palestrante focado na doutrina cristã. Advogado com atuação na área de Direito de Família e Direito Bancário. Tecnólogo em Gestão Empresarial. Professor de cursos técnicos-profissionalizantes.

A real necessidade de a sociedade arquitetar verdadeiras mudanças


    A velocidade acelerada das mudanças no mundo contemporâneo é reconhecida de modo consensual e, por vezes, há um sentimento de certa incapacidade para acompanhar as transformações, que se configuram em desafio, até mesmo para as sinapses cerebrais, com suas conexões em número maior do que o de estrelas em uma galáxia. Essa impressionante velocidade das mudanças vem da inteligência humana. Um fenômeno que, ao ser contemplado, permite constatar admiráveis avanços da tecnologia e da ciência, nos muitos saberes, com quantidade de conquistas, nas últimas décadas, que séculos inteiros foram incapazes de alcançar. Mas surpreende e se configura em intrincado nó à inteligência contemporânea o nível destruidor do obscurantismo reinante na atualidade pelo mundo afora. Oportuno é evocar um remédio com força terapêutica para vencer esse mal: a humildade advinda da atitude de reconhecer o limite do próprio saber.

    A admissão da ignorância torna-se um princípio ético e epistemológico de grande valia para combater os riscos da pretensão humana de se saber tudo. Particularmente, cura obscurantismos comprometedores de valores inegociáveis, a exemplo dos que sustentam a democracia e os princípios ético-religiosos promotores da solidariedade, do respeito ao bem comum e à dignidade humana. Deve-se, pois, reconhecer: junto à avalanche de conquistas científicas, tecnológicas, há certa soberba, que alimenta cegueiras e torna-se poder para gerar destruição, posturas fundamentalistas, nada dialogais, e rigidez incompatível com as mudanças necessárias à humanidade. Admitir a ignorância como condição humana é remédio para essa soberba, pois guarda no seu reverso uma indispensável sabedoria: o reconhecimento de que o próprio saber é limitado e insuficiente. Esse exercício de humildade permitirá aos cidadãos perceberem-se como aprendizes e tornarem-se inventores, descobridores ou promotores de inovações na construção de uma sociedade melhor.

Os cidadãos precisam arquitetar novas mudanças para a sociedade

    A condição de aprendiz não deixa a soberba cegar e enrijecer as pessoas, inviabilizando processos participativos indispensáveis. Sem essa condição, surgem os que se iludem pensando tudo poder, mas são incapazes de promover as transformações que mudariam a realidade para melhor. Revelam a própria fragilidade em discursos confusos, personalistas, pouco humanistas, misturando a defesa de valores importantes com o extremismo – cai, pois, em contradição. Dessa falta de humildade daqueles que se julgam sabedores de tudo – e tudo poder – nascem pandemias que prejudicam a qualidade dos tecidos cultural, religioso e político-econômico de uma sociedade. As pandemias, em vez de um castigo divino – pois Deus é amor –, são fruto da soberba, das ganâncias inescrupulosas, dos privilégios excludentes. Resultam também das indiferenças em relação aos pobres e vulneráveis, da cegueira diante da Criação, passando por cima do meio ambiente com criminosas depredações.

    Fala-se muito na covid-19, pois é a pandemia que igualmente torna-se ameaça para todos, mas tantas outras são ignoradas. A pandemia da fome não incomoda diariamente os que têm mesa farta. A que se relaciona ao feminicídio permanece sem a devida atenção. Igualmente, a pandemia dos extermínios de indígenas e moradores de rua é tratada com descaso por significativa parcela da sociedade que, perversamente, considera melhor liberar os espaços ocupados por essas pessoas para atender outros interesses. O mundo parou por causa de um novo vírus, mas a necessidade de mudanças não é de agora. Tornou-se mais evidente o dever-desafio de se arquitetar mudanças no jeito de conviver, trabalhar, locomover-se, cuidar e compartilhar, incidindo sobre hábitos, dinâmicas e práticas, para vencer o autoextermínio. Trata-se de exigência à inteligência humana, à moralidade, à racionalidade e ao bom senso.

Pós pandemia

    O obscurantismo irá patrocinar aqueles que vão se entrincheirar na ilusão de que tudo pode ser como antes. Continuarão convictos de que a pandemia da covid-19 foi apenas uma nuvem avassaladora que passou. E a ganância permanecerá a tutelar as práticas de quem compreende a economia como forma de ganhar muito dinheiro, ter sempre mais. No fim, serão apenas capazes de custear suas urnas funerárias caras, certamente de valor bem menor do que acumularam em uma vida marcada por ilimitada ambição. Quem se apegar ao obscurantismo permanecerá irresponsável em relação ao meio ambiente, desconhecendo que tudo está interligado. Continuará a validar o extrativismo e a depredação da natureza, produzindo contrarreações do próprio planeta, a exemplo desta pandemia que bate igualmente à porta de todos.

    Uma convicção precisa residir nas mentes e nos corações: inicia-se novo ciclo que exige hábitos e práticas diferentes. Todos são desafiados a arquitetar mudanças. Lamentavelmente, muitos resistirão, de modo hercúleo, por querer garantir seguranças e comodidades, mas que, na verdade, são apenas bolhas. As resistências revelam ausência de um humanismo solidário, contudo, os sinais indicam que o mundo precisa se reinventar. A sociedade tem o dever e a tarefa humanística, cultural, organizacional, espiritual e política de arquitetar mudanças.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atual membro da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para as Igrejas Orientais. No Brasil.
A prudência é nossa maior amiga dentro das redes sociais

Foto ilustrativa: Anatoliy Sizov by Getty Images

    Caro internauta, acredito que posso afirmar que a internet, com as suas mais variadas plataformas, especialmente as de redes sociais, como que por simbiose, integrou-se à nossa vida quotidiana. Assim, a rede mundial de computadores já faz parte do DNA social, fato esse irremediável e, ao que tudo indica, irreversível. Na esteira desse assunto, quero dividir com você uma experiência que vivi alguns dias atrás quando conheci uma nova ferramenta virtual.

    De vez em quando, eu utilizo aquela conhecida plataforma de compartilhamento de vídeo para me atualizar acerca das notícias do Brasil e do mundo. Enquanto assistia a esses vídeos, passei a perceber que, logo no seu início, havia uma recorrente propaganda de certo aplicativo de celular que, por sinal, está sendo muito usado atualmente. Inicialmente, não dei importância. Tamanha foi a massificação propagandística, que resolvi fazer uma rápida pesquisa para saber do que se tratava aquele app, cujo nome onomatopaico fazia-me pressupor que tivesse alguma relação com os ponteiros do relógio.

    Fiquei, sinceramente, tão impactado com o resultado de minha pesquisa, que fui colocado diante de um dilema existencial importante: ou eu já me encontrava numa fase da vida que outorgava aos outros, especialmente aos mais novos, a licença de me tratarem como alguém arcaico ou, realmente, eu estava diante de um aplicativo, até certo ponto, vazio de serventia.

Fazer papel de “bananas” nas redes sociais

    Perdoem-me os mais jovens, mas essa situação me fez recordar de um antigo programa de televisão cujos episódios eu havia assistido lá pelas alturas da minha tenra infância: o “Bananas de Pijama”. Para contextualizar aos que nunca ouviram falar nesse programa, tratava-se de uma espécie de seriado infantil em que duas pessoas se vestiam, dos pés à cabeça, com uma fantasia (no mínimo bizarra) de uma grande banana e, é claro, usando pijamas.

    Admito que já não me lembro com clareza dos detalhes dos episódios, dado os longos anos que se passaram desde então, porém, para as crianças, especialmente daqueles tempos em que as mídias eram menos apelativas, até que despertava certo interesse. Diante do olhar de um adulto, contudo, tratava-se de algo, desculpe o termo, bobo. Mas você pode estar se perguntando: “o que tem a ver os ‘Bananas de Pijama’ com o aplicativo do qual falei anteriormente?”. Estou convencido, caro internauta, de que este app está levando as pessoas a fazerem o mesmíssimo papel dos personagens acima citados. Não apenas os jovens, mas até mesmo os adultos estão sendo levados a fazerem papel de “bananas” e, o que é mais curioso, de maneira pública. É ou não é uma situação um tanto quanto vergonhosa?

    Bom… Deixando os Bananas de lado e retornando o meu testemunho, pouquíssimo tempo se passou depois que eu havia assistido ao primeiro vídeo de uma dancinha “engraçadinha”, o que eu julgava improvável aconteceu: alguns minutos exposto àquilo, eu me peguei totalmente entretido, totalmente entregue, com as guardas inteiramente abaixadas. Faltou bem pouco para eu registrar alguma fanfarronice e me juntar ao grupo.
Qual seu critério?

    Milagrosamente, voltei à razão! De certo, ela estava um pouco enfraquecida pelas sequências das imagens que eu acabara de consumir, mas voltei! Foi então que uma luz vermelha se acendeu dentro de mim e me dei conta de que seria capaz de passar o restante da noite me deleitando diante das bobagens que se me haviam apresentadas. Estava eu, de fato, hipnotizado.

    Contei esse testemunho, um pouco exagerado – confesso –, não para transmitir a você uma mensagem apocalíptica, mas para chamar sua atenção para aquilo que você tem consumido pela internet. O mínimo de critério nas escolhas do que você tem permitido entrar pelos seus olhos e pelos ouvidos se faz muito necessário. O que está em jogo não é pouca coisa: sua saúde espiritual e, até mesmo, psicológica.

    Certamente, existem muitos conteúdos edificantes em todas as redes sociais, porém, também existem aqueles que, quando não nos afetam negativamente, distraem-nos e fazem-nos desperdiçar o tempo precioso que Deus nos deu. Portanto, seja bastante criterioso com o conteúdo que você busca e que está consumindo na internet.

Coleira moderna

    Amados jovens, não quero, de forma nenhuma, ser deselegante, mas “quattuor-pes” seria uma expressão latina que talvez pudesse ser usada para caracterizar a forma como estamos sendo colocados diante das tantas ferramentas de distração em massa que estão ao alcance dos nossos dedos. De bípedes para quadrúpedes, tem bastado apenas um celular e um aplicativo. O celular é uma coleira moderna, portanto, não sejamos inocentes! Veja que interessante o que o Papa Francisco escreveu no número 139 de sua Exortação Apostólica Christus Vivit: “o jovem caminha com dois pés […], sempre a olhar para diante”. É o nosso Sumo Pontífice dizendo com todas as letras que não somos quadrúpedes.

    Certa vez, Jesus chamou os Seus discípulos à parte e deu-lhes um ensinamento: “Eis que vos envio como ovelhas entre lobos. Por isso, sede prudentes como as serpentes e sem malícia como as pombas” (Mt 10, 16). Pelo jeito, em certos aspectos, o cenário de hoje não mudou muito em relação ao tempo de Jesus, afinal, os lobos estão por todas as partes e, por que não dizer, em suas mãos. Pode ser que você ainda não tenha percebido, mas muitos aplicativos de celular estão tentando nos metamorfosear em mortos-vivos, semelhante àqueles personagens bisonhos do seriado “The Walking Dead”.

Por que os jovens são os mais atacados?

    Existem muitas razões, porém, quero apontar para uma das mais importantes, senão a mais: os jovens são o futuro da humanidade. Uma juventude doente hoje é um mundo combalido amanhã; uma juventude sem perspectiva hoje significa um mundo extremamente enfraquecido amanhã. Sabemos que a fase da juventude é justamente o período em que os sonhos deveriam estar em alta. É o tempo das primeiras grandes responsabilidades, das decisões mais importantes, aquelas que podem reverberar para o resto da vida. É o tempo do aprender, do formar-se, do crescer, do amadurecer, do adquirir conhecimento, do firmar o passo, do concentrar-se na vida real com os seus inerentes problemas.

    Portanto, jovem, pare um pouco, encha os pulmões de ar, oxigene o sangue que está sendo bombeado para o cérebro e não despreze esses sábios apelos de alguém que muitos ama os jovens: “por favor, não deixeis para outros o ser protagonista da mudança! Vós sois aqueles que detêm o futuro! Através de vós, o futuro entra no mundo. Peço-vos para serdes construtores do futuro. Queridos jovens, por favor, não ‘olheis da sacada’ a vida, entrai nela. Sede […] capazes de resistir às patologias do individualismo consumista e superficial”, diz o Papa Francisco.

    Em outras palavras, o Papa está dizendo: “Saia da passividade”; “pegue, com as suas mãos, as rédeas da sua vida”. Jovem, você não foi feito por Deus para permanecer toda a sua existência na superficialidade. As redes sociais apenas fazem parte da nossa vida, não a são. Portanto, façamos o propósito de usá-las com muita sabedoria e destreza. Veja o que o célebre filósofo católico Louis Lavelle, na sua admirável obra “O erro de Narciso” fala a respeito da sabedoria: “A sabedoria é […] uma virtude da inteligência e uma virtude da vontade. […] virtude da inteligência, porque consiste, primeiro, em reconhecer onde está a medida”. Portanto, que tal aprendermos a usar comedidamente as redes sociais? Seja sábio!

Como diria um antigo, mas sábio ditado popular, “prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”. Deus abençoe você e até a próxima!

Gleidson Carvalho
É natural de Valença (RJ), mas viveu parte de sua vida em Piraúba (MG). Hoje, ele é missionário da Comunidade Canção Nova, candidato às ordens sacras, licenciado em Filosofia e bacharelando em Teologia, ambos pela Faculdade Canção Nova, 

23 de maio de 2020

Como desenvolver as habilidades sociais dos filhos?


Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com






Ao criarmos nossos filhos, passamos por grandes desafios, pois cada um tem sua personalidade, seu jeito de ser; então, vamos aprendendo, dia a dia, a lidar com as etapas do desenvolvimento de cada um deles. Muitos pais se preocupam com a qualidade de ensino escolar que seus filhos receberão, o que é importante, mas não é a única habilidade a ser motivo de preocupação. Para um bom desempenho na vida, é importante que a criança desenvolva o que chamamos de habilidades sociais e emocionais, as quais, assim como as habilidades escolares, favorecem, inclusive, o aprendizado escolar.

      Habilidades sociais são o conjunto de capacidades para a socialização nos meios em que nós vivemos. Vai desde um ‘bom dia’ até lidar com ideias contrárias, tolerar frustração, pedir uma informação, controlar as emoções, ou seja, habilidades para o relacionamento interpessoal.

        As crianças têm uma vantagem fantástica, pois desenvolvem grande parte do seu aprendizado por meio da observação, da imitação, interação e repetição. Daí entra a grande responsabilidade dos adultos, pois as crianças estarão atentas aos comportamentos dos pais ou daqueles que cuidam delas.

       As habilidade sociais vão sendo aprendidas a partir dessa experiência, quando ela adquire sentimentos, repete atitudes, valores e estratégias usadas para que possa estar nos ambientes sociais como escola, amigos, comunidade local, igreja, família.

       É na primeira infância que tais habilidades sociais vão sendo aprendidas e são fatores importantíssimos para que, por exemplo, seu filho possa conviver harmoniosamente com outras crianças, que saiba esperar, que tolere frustrações, que cumprimente outras pessoas dentre outros.

Quais são as habilidades sociais importantes no desenvolvimento de uma criança?

     Civilidade: a capacidade de estar no meio social, cumprimentando pessoas, agradecendo, pedindo licença, dizendo muito obrigada, ou seja, aprendendo a relacionar-se adequadamente nos ambientes coletivos. Parece algo bobo, mas são as famosas “boas maneiras” que, muitas vezes, não são colocadas em prática.

    Autocontrole e expressão das emoções: é como a criança manifesta a tolerância por algo, se suporta ser contrariada, se tem paciência para esperar algo, se consegue ganhar ou perder um jogo, se consegue esperar sua vez, se sabe quais lugares pode falar alto. Não se trata de “esconder a raiva”, por exemplo, mas entender que nem sempre ela deve ser usada e expressa batendo num amigo.

       Asertividade: diz da capacidade de saber fazer perguntas certas para obter respostas, esperar a sua vez sem ansiedade ou atitudes de não esperar e se irritar.

      Empatia: ter a capacidade de identificar as emoções e as necessidades do outro, ajudando, colocando-se no lugar do outro, prestando auxílio, compartilhando algo que lhe pertence com outro.

     Estabelecer amizades: espaço de reconhecimento das diferenças e das semelhanças. As amizades são essencialmente importantes para crianças, inclusive, que as tenham em ambientes diferentes (escola, bairro, igreja etc).

     Solução de problemas: é importante que, desde pequenos, aprendam a resolver jogos, evitar uma briga, que saibam como receber brincadeiras. Essa capacidade de tolerar as perdas precisa ser treinada desde cedo.

     Responsabilidade: atribuir um conjunto de responsabilidades entregues à criança para que ela crie, aos poucos, consciência em ajudar, saber o que lhe cabe e a cobrança de resultados, que possa pedir ajuda se preciso, e, também, para que não se torne dependente.

Quem são os responsáveis por essa socialização?

      Essas habilidades podem, então, ser reconhecidas como sociabilidade e são importantíssimas para o desenvolvimento e o relacionamento saudável de uma criança, especialmente quando avançamos para a adolescência, fase em que tais habilidades são mais requisitadas.

         Os primeiros responsáveis por essa socialização são os pais e, logo depois, a escola também faz esse papel. Uma habilidade social, que é fazer amizades, demanda uma série de comportamentos: ouvir, ser paciente, esperar, compreender, ser capaz de guardar segredos, reconciliar, oferecer e pedir ajudar, cultivar essa amizade lembrando de datas especiais, acolhendo na necessidade, lembrando do amigo. Ou seja, para uma habilidade maior, necessitamos de um conjunto de comportamentos, para que uma amizade aconteça e se mantenha.

      A infância, portanto, é uma fase decisiva para esse aprendizado tão importante para as etapas posteriores da vida, e, ao desenvolver este repertório comportamental, que a criança poderá superar limites e tornar-se cada vez mais hábil para os desafios sociais.

Elaine Ribeiro dos Santos
Psicóloga Clínica pela USP – Universidade de São Paulo, atuando nas cidade de São Paulo e Cachoeira Paulista. Neuropsicóloga e Psicóloga Organizacional, é colaboradora da Comunidade Canção Nova.

O exemplo da família ensina mais do que as lições

Foto ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com






É importante que os pais façam a experiência de rezar em família diariamente. As famílias se preocupam em oferecer aos filhos boa educação, melhores escolas, boa alimentação, cuidados e tudo mais; não que isso não seja, de fato, muito importante. No entanto, desde seus primeiros anos de vida, as crianças precisam conhecer os elementos básicos da fé; e nada melhor do que os pais, que são as pessoas mais próximas neste tempo, para lhes ensinar. Aquilo que se aprende, no início da vida, nunca se esquece. Dar início a essa caminhada requer alguns passos.

Primeiro: dê o exemplo

        O exemplo será sempre a melhor forma de ensinar. A criança aprende quando imita o pai e a mãe. Quando se fala em evangelização das crianças, o dia a dia da família ensina mais do que as lições. A oração diária, algumas músicas,
o sinal da cruz e a participação nas Missas aos domingos fará com que a criança aprenda rapidamente. Essa experiência ficará gravada como algo bom, uma rotina da vida familiar.

Segundo: não se esqueça de que são apenas crianças

      Leve em consideração a espontaneidade dos pequenos. Nada deve ser imposto, tudo precisa ser feito de forma natural e simples, no tempo delas. Assim, o amor e o gosto pela igreja  vão sendo regados.

Terceiro: ajuda necessária

       Para que todo esse caminho aconteça, podemos contar com a ajuda de pessoas que dedicam seu trabalho para facilitar a evangelização. Há mais de 30 anos, a Canção Nova desenvolve programas de rádio e televisão para as crianças. Esses conteúdos têm por objetivo proporcionar a elas, aos pais e educadores, conteúdo ético, social, moral e religioso de qualidade, destacando a experiência com o amor de Deus Criador e com o próximo. 

Família, aprenda como deve ser a oração das crianças

        O Papa destaca ainda gestos muito delicados, como quando as mães ensinam os filhos pequenos a mandarem um beijo a Jesus ou a Nossa Senhora: “Quanta ternura há nisso! Naquele momento, o coração das crianças se transforma em lugar de oração. E é um dom do Espírito Santo. Não nos esqueçamos nunca de pedir esse dom para cada um de nós, porque o Espírito de Deus tem aquele seu modo especial de dizer nos nossos corações: ‘Abá’ – ‘Pai’. Ele nos ensina a dizermos ‘Pai’ propriamente como o dizia Jesus, um modo que nunca poderemos encontrar sozinhos”.

         Papa Francisco recorda que tudo depende da atitude que temos para com as crianças. Ele questiona se o que se ensina às crianças com as palavras é vivido por quem transmite a fé. “Com as palavras não serve… Hoje, as palavras não servem! Neste mundo da imagem, todos estes têm telefone e as palavras não servem. Exemplo! Exemplo!”, exorta o Papa.

       O testemunho dos pais é muito importante para que os filhos tenham amor pela Palavra de Deus. É comum pai, mãe ou avós que ensinam as crianças a falar com o Papai do Céu e a pedir a Sua bênção, porém, essa oração não se torna relação ou experiência pessoal, fica naquele tipo de fé quase que folclórica. As crianças precisam ver sua família frequentando a Igreja, lendo a Bíblia, exercitando a caridade, dando bons conselhos e jamais fofocando, confessando seus pecados, rezando pelas pessoas que mais precisam do conforto que só a oração pode transmitir.

Ensinamentos do Papa Francisco

     Algo bem positivo é ler para os filhos as leituras da Missa antes de ir à celebração, mesmo que seja por um momento breve. As crianças demonstram muito interesse por leituras, além de ser um excelente exercício para enriquecer o vocabulário delas.

      “Rezem ao Senhor, rezem a Nossa Senhora, para que ajudem vocês neste caminho da verdade e do amor. ‘Vocês entenderam? Vocês vieram aqui para ver Jesus, de acordo? Ou deixamos Jesus de lado?’ (As crianças respondem: ‘não!’). Agora, Jesus vem ao altar. E todos nós O veremos! Neste momento, devemos pedir a Ele que nos ensine a caminhar na verdade e no amor”, ensina Papa Francisco.

      Entre novembro de 2017 e abril de 2018, Papa Francisco dedicou quinze catequeses sobre a Santa Missa. Numa dessas reflexões, orientou como os pais devem ensinar o sinal da cruz aos seus filhos: “Viram como as crianças fazem o sinal da cruz? Não se sabe o que fazem, se é o sinal da cruz ou um desenho. Fazem assim [o Papa fez um gesto desajeitado]. É preciso ensinar bem as crianças a fazer o sinal da cruz. Assim começa a Missa, assim começa a vida, assim começa o dia. Isso significa que somos remidos com a cruz do Senhor. Olhem para as crianças e as ensinem a fazer bem o sinal da cruz.

Orações curtinhas

       Veja bem, é importante rezar com as crianças. Se os pais rezam, vão à Missa, a criança vai aprendendo a participar de maneira natural. Abaixo, algumas orações curtinhas para rezar com as crianças.

“Com Deus me deito, com Deus me levanto, com
a graça de Deus e do Espírito Santo. Muito
obrigada (o) pelo dia de hoje. Amém”.

“Anjinho da Guarda, meu bom amiguinho, me
leve sempre pelo bom caminho. Amém”.
“Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se
a ti me confiou a Piedade Divina, sempre me rege,
guarda, governa e ilumina. Amém”.

“São Rafael com Tobias, São Gabriel com Maria,
São Miguel com todas as Hierarquias, abri para
nós essas vias. Amém”.

“Meu bom Jesus, verdadeiro Filho da Virgem
Maria, acompanhai-me esta noite e
amanhã por todo o dia”.

“Em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo. Amém”.

“Jesus, ajude-me a pensar bem, falar bem e
querer bem a todos. Amém”.

“Papai do Céu, dai-nos uma boa noite. Menino
Jesus, dai saúde à mamãe, ao papai, aos meus
irmãozinhos, avós e a todos nós. Acolhei no céu a
(dizer o nome de algum parente mais próximo
que tenha falecido). Amém”.

“Meu Deus, eu te ofereço todo este meu dia.
Ofereço ao Senhor os trabalhos e meus brinquedos.
Tome conta de mim, para que eu não faça nada
que O aborreça. Amém”.

“Meu Jesus, ajude-me, neste dia, a obedecer ao
papai e à mamãe e a não brigar com eles nem com
meus amiguinhos. Amém”.

“Senhor, eu Lhe agradeço por este alimento. Que
nunca falte a comida na mesa de todos. Amém”.
“Ó meu bondoso Papai do Céu, queremos
agradecer-Lhe pelo lanchinho que agora vamos
comer. Amém”.

“Jesus, vou para a escola como o Senhor também
foi. Que nada me aconteça no caminho. Quero
aproveitar bem as aulas. Quero aprender bastante.
Não se esqueça das crianças que não têm escola, e
abençoe os professores e as professoras. Amém”.

“Jesus, hoje vou ter provas na escola.
Estudei bastante, mas posso perder a calma
e esquecer tudo. Que o Espírito Santo me ajude
a sair bem em tudo. Ajude também meus colegas. Amém”.

“Senhor, hoje eu rezo pela minha mamãe. Que o
Senhor dê forças para ela viver este dia. Meu Jesus,
hoje minha mamãezinha está um pouco brava.
Peço que amanhã ela fique feliz.
Obrigado. Amém”.

“A noite vem, o sol já foi embora.
Jesus e Aninho d Guarda,
fiquem comigo nesta boa hora.
Livrem-me de todo medo da noite,
do medo de dormir. Protejam-me do mal
e de sonhos ruins. Amém”.

Texto retirado do livro “Como participar da Missa com crianças“, de Rodrigo Luiz e Adelita Stoebel.

Rodrigo Luiz dos Santos
Missionário na Canção Nova,  estudou Filosofia e formou-se em Jornalismo pela Faculdade Canção Nova. É casado com Adelita Stoebel, também missionária na mesma comunidade.