A Palavra de Deus

A Palavra de Deus

DOPAS

DOAÇÃO, ORAÇÃO, POBREZA, ALEGRIA E SIMPLICIDADE

12 de agosto de 2018


Temos reconhecido os nossos erros?





Quando colocamos “camuflagens” sobre nossos erros, na verdade, desenvolvemos a capacidade de culpar os outros

Reconhecer que erramos é um ato digno de condecoração, pois, embora seja um gesto simples, mexe com o nosso brio.

A atitude de nos isentarmos daquilo que fizemos de errado é quase instintiva e, poderíamos dizer, surge num ato de autodefesa. Entretanto, ao contrário daquilo que poderia ser uma característica da perspicácia de alguém, traduz-se num ato nada honroso.

Percebemos ainda que tal procedimento tem feito parte da vida de muitas pessoas, e se não estivermos atentos a essa necessidade de mudança, facilmente poderemos, também, nos acostumar com o artifício da dissimulação.

Admitir o nosso “passo em falso” é expor aos outros a nossa fraqueza e limitação, as quais podem ser, muitas vezes, constrangedoras, especialmente pelo fato de termos tido o conhecimento das consequências e riscos de determinado gesto.

Lembramo-nos das nossas peraltices de criança, do medo da punição, imaginando a falta de compreensão da parte de nossos pais. Tentávamos nos esquivar das suspeitas ou, simplesmente, desviar a culpa para alguém inocente; nesse caso, o irmão mais novo ou um amiguinho.

No ato de alertarmos uma criança, por exemplo, do perigo de colocar o dedo na tomada, estamos tentando preveni-la sobre a possibilidade de receber um choque elétrico, mas isso não vai evitar que, na sua curiosidade, ela venha a fazê-lo. Contudo, na possibilidade de ela experimentar as consequências dos seus erros, o adulto a sentencia, culpando-a pelo ato, uma vez que já teria sido alertada.

Como pessoas adultas, talvez o medo de uma punição para aquilo que seria o nosso erro, seja o fator menos importante que teríamos de digerir.

Certamente, de alguma maneira, articularíamos uma desculpa para justificar o “ato falho”, eximindo-nos de qualquer culpa. Ao contrário dos tempos de crianças, desta vez, nossos argumentos seriam muito mais elaborados.

Aprendemos com as nossas falhas?

Percebemos essas artimanhas quando acontece uma discussão de trânsito, seja por uma colisão ou manobra arriscada. Quase sempre, o motorista sai do carro justificando-se, acusando o outro como imprudente, mesmo que ele próprio tenha sido o causador do acidente. Pode parecer que tal atitude tenha como tentativa ocultar a vergonha de quem se julgava um exímio motorista ou acima da lei, ou seja, com “autoridade” para errar. Não obstante, mesmo dentro de nossas convivências, vez ou outra, podemos tentar inverter um fato para justificar aquilo que não pode ser justificável.

Costumamos dizer que aprendemos com as nossas falhas. Mas para que esses descuidos se tornem, verdadeiramente, um material de aprendizado, o primeiro passo para tal formação seria admitirmos nossa culpa ou erro, assumindo os fatos.

Quando colocamos “camuflagens” sobre as nossas falhas, na verdade desenvolvemos a capacidade de culpar a outros. Com isso, infelizmente, não nos preocupamos em evitar a reincidência do ato, mas em melhorar as táticas de defesas, ainda que essas venham a tornar-se cada vez mais sórdidas, sem medir as consequências sobre quem podemos estar prejudicando.

Um abraço!

Dado Moura: trabalha atualmente na Editora Canção Nova, autor de 4 livros, todos direcionados a boa vivência em nossos relacionamentos. 

Qual a solução para solidão?



Foto ilustrativa: Wesley Almeida / cancaonova.com


A solução, tão difícil nesta época de egoísmo e individualismo, é simplesmente um pouco mais de solidariedade

Solidão é passear pela praia ou pela calçada sem companhia, é assistir a uma partida de futebol, é ouvir uma rádio horas e horas a fio ou será que solidão é morar sozinho? Segundo o dicionário, solidão é o “estado do que se encontra ou vive só, é isolamento”.

O solitário sempre existiu, ele pode estar em qualquer lugar: sentado vendo o horizonte, andando numa rua movimentada, trabalhando em um escritório ou no trânsito barulhento. A solidão sempre é destacada na literatura e na música.

Para se livrar deste sentimento, tem gente que põe anúncio no jornal, outros enfrentam a noite ou até conversam com cachorros. A maioria acha uma desculpa: solidão é um mal da cidade grande, o jeito é conviver com ela. Alguns preferem estar “sozinhos do que mal acompanhados”, como diz a expressão popular, o importante é se sentir bem. Aí começa a aparecer o espírito egoísta dos indivíduos, onde o “eu” é superior ao “nós”.

O individualismo abafa a solidariedade, a relação de responsabilidade entre as pessoas. É comum pensar que nas grandes cidades a solidão está relacionada somente aos que moram sozinhos. Pode-se achar que quem optou por este tipo de vida é um solitário. Isso pode ser um engano. São muitos os motivos que levam, principalmente os jovens, a morarem separados dos pais. Muitos saem procurando uma autoafirmação, outros para fugir da realidade da família, mas muitos outros saem para buscar uma vida melhor, para estudar ou procurar um emprego. E aí, se os jovens são vítimas de uma situação de solidão, o que dizer dos velhos que hoje amarguram o resto de suas vidas abandonados pela família em um asilo, porque já se tornaram um “estorvo” para a sociedade?

A solidão é sempre um grito, contido ou não, de quem vive fechado no seu eu. Mesmo cercado por milhares de pessoas, o solitário não encontra alguém que lhe dê um pouco de atenção. A solução, tão difícil nesta época de egoísmo e individualismo, é simplesmente um pouco mais de solidariedade, de diálogo, de amizade sincera, sem segundas intenções. É saber ouvir, saber calar e falar na hora certa. É dar o ombro e compreender o momento que o outro vive, é abrir-se para ajudar, para doar-se, para amar.

Paulo Victor e Letícia Dias:

Paulo Victor, foi membro da Comunidade Canção Nova como apresentador, locutor e radialista. Atualmente, ele mora em Campo Grande (MS). É empresário e casado com Letícia Dias.

Letícia Dias é Gerente de Conteúdo e estudante de Letras/Libras com foco na Educação Especial. Foi membro da Comunidade Canção Nova como apresentadora de programas. Hoje, ela mantém uma agitada rotina familiar. Letícia tem um filho caçula que nasceu com Síndrome de Down, e isso a refaz todos os dias.

Reconhecer o agir de Deus é uma necessidade para nós




É Deus agindo aqui

Para nós, homens e mulheres, é difícil perceber no nosso dia a dia a ação de Deus, pois, não fomos treinados para isso. Até acreditamos, pela fé que recebemos ou “adquirimos”, que Deus age. Mas, se tivermos de dar nomes para o agir de d’Ele, talvez ficássemos nas respostas óbvias ou que já ouvimos de alguém, como: poder respirar é agir de Deus; poder acordar é agir de Deus; estar com saúde é agir de Deus, etc. Contudo, se essas coisas simples como acordar, respirar e ter saúde nos forem dificultadas, possivelmente, já não seremos tão capazes de reconhecê-Lo no dia a dia.

No entanto, é muito importante reconhecê-Lo e, esse, é um exercício que precisa ser diário e contínuo. Porque a ação da graça sobre nós é desde a criação do mundo até toda a eternidade. Notemos a ação da graça de Deus como se, insistentemente, caísse uma chuva leve e tão fina que mal podemos perceber.

Deus é constante e nós somos inconstantes! Vem daí a necessidade de reconhecer a ação contínua d’Ele sobre nossa vida, do contrário, poderemos cair no erro de achar que somos “o protagonista” da nossa história, quando não o somos. Se pudéssemos colocar a vida em função “slow motion” (câmara lenta) talvez pudéssemos, então, perceber
a chuva de graças caindo sobre nós ou o feixe do Espirito Criador que ilumina e age em nós ininterruptamente.

Brisa suave

Quero nos lembrar da experiência de Elias no monte, em que ele esperava a presença de Deus: “O Senhor lhe disse: ‘Saia e fique no monte, na presença do Senhor, pois, o Senhor vai passar’. Então, veio um vento fortíssimo que separou os montes e esmigalhou as rochas diante do Senhor, mas o Senhornão estava no vento. Depois do vento houve um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto. Depois do terremoto houve um fogo, mas o Senhor não estava nele. E depois do fogo houve o murmúrio de uma brisa suave. Quando Elias ouviu, puxou a capa para cobrir o rosto, saiu e ficou à entrada da caverna. E uma voz lhe perguntou: ‘O que você está fazendo aqui, Elias?’ (1Rs19,11-13).

Na correria da nossa vida, perseguidos por medos e sombras, somos capazes de desejar apenas nos esconder de Deus e de quem quer que seja. E não perceber que nesta “chuva” leve que cai sobre nós; nesta brisa suave está a manifestação do próprio Senhor e o Seu toque delicado. Porém, causa em nós um certo incômodo.

É, justamente, esse incômodo que pode nos revelar a presença de Deus. Sim, esse impulso criador e transformador de Deus agindo sobre nós, assim como sobre toda a criação, pois fomos feitos para a evolução. Deus não nos quer acomodados com a nossa condição atual; Ele mesmo que nos impulsiona, “incomoda” e derrama sobre nós a graça para buscar a evolução.

Fique atento e reconheça os “incômodos inconvenientes”!

Portanto, ficarmos atentos aos “incômodos inconvenientes” da nossa vida, abre diante de nós uma janela de oportunidades: de mudança, crescimento e maturidade. Afinal, o Senhor pode se utilizar de situações e pessoas para nos “incomodar”. Se focamos nas situações e pessoas, corremos o sério risco de perder a oportunidade de crescimento. Mas, se formos para além, encontraremos abertas tais janelas e o ar puro e fresco de uma vida nova à nossa disposição.

O nosso maior desafio é reconhecer que Deus está agindo em qualquer que seja a situação; é ser capaz de perguntar-se com sinceridade: “O que Ele está querendo me dizer?”; “O que Ele espera de mim?”. Dizer: “é Deus agindo aqui” e questionar-se “Senhor, o que queres que eu faça?” é o melhor caminho para o crescimento e amadurecimento pessoal.

Perceber que, mesmo nas contrariedades, Deus sempre age a nosso favor e lançar-se numa vida de dependência exclusiva de Deus (o que podemos chamar de viver da providência), tais graças integram nossa vida neste processo proposto por Deus e nos garante um antídoto contra a ansiedade. Pois, quem confia na Divina Providência não tem motivos para preocupar-se com o presente e nem com o futuro, sendo esse último a grande causa da ansiedade em muitos casos.

Lembre-se: a imagem da chuva aqui proposta está em função “slow motion” (câmara lenta), portanto, se colocarmos a vida “para correr” no ritmo normal, essa visão torna-se quase ou totalmente invisível, imperceptível. E, por isso, nossa visão pode tornar-se obscurecida, então, correríamos o sério risco de nos “deleitarmos no conforto”. Seríamos o resultado das escolhas condicionadas por uma vida cheia de frustrações e medos; de vícios; de feridas. Quando, no entanto, somos constantemente convidados por Deus a irmos além: além do visível; além de nós mesmos; além do que sentimos e tocamos. Viver da , viver da providência, num exercício contínuo de mudança, crescimento, maturidade e confiança em Deus.

Num constante reconhecer que é Deus agindo sempre.

Carla Picolotto, missionária da Comunidade Canção Nova

Referência bibliográfica:
Cencini, Amadeo, “A hora de Deus: a crise na vida crista”, Paulus, 2011.


VITÓRIA CERTA



Foto ilustrativa: Arquivo CN
Se Deus é por nós, quem será contra nós?



Nós não podemos desistir, pois em Deus a vitória é certa

Essa frase sempre me intrigou, porque eu ficava me perguntando: “Como o sofrimento, a dor e a perda podem concorrer e contribuir para o bem dos que amam a Deus?”.

Eu imaginava que para os amados de Deus só haveria festa, contentamento, alegria, ausência de problemas. Só que tenho descoberto uma coisa: a paz que Deus nos dá não é a ausência de dificuldades, mas a certeza de vitória no meio da dificuldade. O que leva um soldado a continuar lutando, mesmo vendo seus companheiros serem mortos ao seu lado, é a certeza de que ele vai vencer, certeza esta que se confunde com esperança. Se ele acreditasse que seu exército iria perder, não faria sentido lutar.

Com o cristão acontece mais ou menos da mesma forma: ele sofre, chora, sorri, cansa-se, recobra as forças e começa a lutar novamente, mas não desiste, porque Deus lhe deu uma certeza, e como “em Cristo somos mais que vencedores”, a vitória é certa, e é Deus quem no-la garante.

Quando aprendemos a aceitar as situações com os olhos de fé, conseguimos ver além do sofrimento e enxergarmos, lá na frente, a vitória que o Senhor já nos deu.

O exemplo da formiga

Conta-se que um garoto estava brincando e começou a observar uma pequena formiga carregando um grão de arroz em suas costas. Decidiu, então, ver até onde essa formiga iria com a sua coragem. Observou que, logo ali, na frente, havia um obstáculo, aparentemente invencível para ela: era um pequeno muro, mas que, para ela se tornou o maior desafio de sua vida.

“O que farei?”, pensou a formiga. “Será que devo abandonar o grão de arroz e subir sem ele? Assim será mais fácil! Ah, mas eu cheguei até aqui, e logo depois do muro já fica a minha casa. Já sei! Não vou desistir! Vou levar o grão em minhas costas sim!”.

Então, o garoto ficou observando a persistência daquela formiga. Na primeira vez, ela acabou escorregando e caindo. Isso se deu por várias vezes. E o garoto ficou observando quando ela iria desistir. Depois de cair 69 vezes, a formiga quis dar-se mais uma chance, pois acreditava que iria conseguir. Finalmente, na 70ª tentativa, ela foi vencedora e alcançou seu objetivo.

Também nós, cristãos, não podemos desistir diante dos obstáculos da vida. Precisamos crer que seremos vencedores e seguir em frente. Afinal, como o garoto observava a formiga e acabou aprendendo com ela, também há muitas pessoas que nos observam e precisam de nosso exemplo para também superarem suas dificuldades.

Seja corajoso e viva todas as situações com fé no Senhor, pois, de fato, tudo concorre para o bem dos que amam a Deus!

Por padre Clóvis Andrade de Melo: Missionário da Comunidade Canção Nova

3 de agosto de 2018


Como trabalhar meu sentimento de culpa?






O sentimento de culpa consiste em fazer com que eu me sinta culpado, quando muitas vezes não sou

Aqui, não quero falar sobre a culpa, mas do sentimento de culpa. Se tiver pecado, tenho que dizer: “Eu pequei, sou um pecador”. As culpas são realidades que não devem nos desencorajar, mas nos jogar ainda mais nas mãos de Deus; realidade que deve nos fazer encontrar o Cristo Salvador!

O problema maior, nos dias de hoje, é sustentar que não precisamos de um Cristo Salvador, porque podemos nos salvar sozinhos. Esta é toda a teoria, toda a filosofia – podem chamá-la como quiserem – da Nova Era, pois dizem não precisar mais do Salvador: “O Salvador sou eu, o Cristo está em mim!”. Não se referem, naturalmente, ao Cristo que mora em mim, o Cristo pessoal, mas àquela força, àquela energia que está em mim; eu a descubro em mim mais ela sai de mim. Portanto, eu me transformo no Deus de mim mesmo, eu me transformo no Cristo.

Como podemos ver, aqui temos alguma coisa que, verdadeiramente, está distorcida, destruindo toda a nossa vida espiritual. Para eles, a vida espiritual consiste nas experiências feitas por eles mesmos. Ficando uma hora na frente de uma árvore, por exemplo, recebem a energia da árvore. Isto para eles é a experiência espiritual. Estamos sobre trilhos totalmente diferentes, portanto, podemos falar que a espiritualidade da Nova Era é, provavelmente, o inimigo mais sutil e mais sério da espiritualidade cristã do nosso dia.

Dessa forma, não me refiro às culpas, mas aos sentimentos de culpa. A realidade dela é aquilo que faz São Paulo falar: “Em mim existe uma lei que não me deixa fazer o bem que eu quero, mas me leva a fazer o mal”. Essa é a culpa!

Os sentimentos de culpa, ao invés, consistem em fazer com que eu me sinta culpado, quando, na realidade, não sou; porém, eu digo para mim mesmo: “Deus perdoa o meu pecado, mas eu ainda o vivo!”. Aqui, temos uma grande ferida psicológica. Encontramos muitos fiéis com estes sentimentos de culpa que podem transformar-se em escrúpulos ou talvez em depressão, em obsessão. Muitas vezes, fixamo-nos em uma ideia. Fixamos a nossa atenção sobre um ponto que é praticamente irreal, porque, se Deus me perdoa, eu já não sou culpado. O diabo fica festejando quando acha uma fraqueza deste tipo no homem. Ele tenta e consegue, com certa facilidade, nos convencer de que Deus já não nos ama.

“Deus me ama!” Tudo começa daqui, a caminhada para a cura começa aqui. Ela não começa ao falar: “Eu sou um pecador!”, mas ao dizer: “Deus me ama, Ele perdoa o meu pecado”.

Uma vez que o Senhor me ama, tento não pecar mais, porque o amor deve ser respondido com amor. Portanto, o início da caminhada está aqui: “Deus me ama!” Deus não é amor? Assim o define São João! Quando existe o senso de culpa é muito fácil que o inimigo entre de forma muito sutil para me atrapalhar e fazer com que eu pare de continuar na minha caminhada.

Frei Elias Vella, OFM


O ressentimento começa através de pequenas coisas



Foto ilustrativa: Jorge Ribeiro / cancaonova.com


O ressentimento começa nas pequenas coisas, nas decepções insignificantes

“Vós purificastes vossas almas obedecendo à verdade para praticardes um amor fraterno, sem hipocrisia. Amai-vos uns aos outros de coração puro, com constância, vós que fostes novamente gerados por uma semente não corruptível, mas incorruptível, pela palavra de Deus viva e permanente” (1Pd 1,22).

A conclusão dessa passagem vemos em 1Pd 2,1: “Rejeitai, portanto, toda a maldade e toda a astúcia, toda a forma de hipocrisia, inveja e maledicência”.

São Paulo disse à comunidade de Efésios: “Estais encolerizados? Não pequeis, não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento. Não deis oportunidade alguma ao diabo” (Ef 4,26-27).

Isso significa que não existe nenhuma pessoa viva, aqui na Terra, que não passe pela experiência de ter um momento de ressentimento e irritação; e o encardido se aproveita disso para tentar nos mandar para o inferno. O que nós temos de fazer é não darmos entrada a ele.

O ressentimento começa nas pequenas coisas, de decepções insignificantes; então, fazemos “tempestade em copo d’água” e transformamos aquilo que era um ressentimento bobo em ira ou ódio. O passo para isso acontecer é remoermos, ressentirmos tudo, ou seja, sentimos tudo novamente, relembrarmos os fatos. Cada vez que fazemos isso, o ódio aumenta. Mas como poderemos lutar contra isso?

Passos contra o ressentimento

O primeiro passo é compreender sempre a atitude daquele que nos ofende, pois nunca sabemos o que ele passou durante o dia. O segundo passo é não ficarmos comentando com as outras pessoas o que passou durante o mal entendido, pois isso ajuda a aumentar nosso ressentimento, criando um círculo vicioso. Você já viu aquelas pessoas que, onde vão, contam a mesma história para todos, sempre se fazendo de vítima, de coitado? Isso acontece quando tocamos no assunto com a pessoa errada. Sentiu vontade de falar, procure um padre e confesse-se com ele.

Quando você não ama uma pessoa, é o passo para não amar duas, três, quatro e assim por diante. Você briga com a vizinha, já é um passo para ficar de mal com o marido dela, com a avó. Até mesmo o cantor que essa pessoa gosta você passa a detestar.

Tudo isso ocorre pelo desamor que existe entre nós, e as pessoas que mais sofrem são as que não amam. O desamor não é somente não gostar da pessoa, ter ressentimento por ela, pois amar é dar-se sem esperar nada em troca. Quando, no entanto, não amamos, apenas investimos para que possa receber também; e quando não somos correspondidos, começamos a gerar antipatias.

A pessoa que não ama não consegue chegar à cura interior, e quem não passou pela experiência da cura interior não ama, isso vira um círculo vicioso de pecado, de ressentimento e decepção, e tudo isso vai se transformar em ódio.

Necessário é nos purificarmos para praticar um amor verdadeiro, um amor gratuito, somente assim conseguiremos ficar longe do ressentimento.

Formação Canção Nova

No amor, Deus encontrou um jeito de assemelhar nosso coração ao d'Ele




Foto ilustrativa: kieferpix by Getty Images


Você deixa qualquer pessoa entrar no seu coração?

Abrir uma janela para receber um pouco de luz ou para dar uma “olhadinha” no tempo lá fora é coisa muito comum, principalmente, quando temos o privilégio de estar em uma casa de campo ou na praia. Porém, esse gesto cria ainda mais vida, quando nos dispomos a acolher toda riqueza que ele traz. Aliás, parece-me que é sempre assim. Os gestos têm a importância que lhe damos. Falando da alma, podemos trocar a expressão casa por coração, e teremos, diante de nós, um misterioso cenário a ser desvendado.

O fato é que, ao abrirmos a porta e deixarmos alguém entrar, damos a este visitante o direito de conhecer o interior de nossa casa, apreciar suas riquezas, mas também lhes damos o direito de conhecer as coisas que, talvez, por “falta de tempo”, estejam fora do lugar. Com nosso interior não é diferente.

O ser humano tem sede de amar e ser amado

Assim como temos o direito de decidir quem entra em nossa casa, decidimos também quem entra em nosso coração, e que tipo de tratamento daremos àquele que chega. Claro que existem exceções, onde o visitante invade sem bater à porta e, diga-se de passagem, às vezes, é bom que seja assim. É um gesto de muita coragem entrar, mesmo quando encontra a porta entreaberta ou fechada.

Há quem feche as portas e janelas de seu interior a “sete chaves” e decida-se por não permitir a entrada de mais ninguém. Geralmente, decisões assim são baseadas em decepções, frustrações e até feridas causadas na alma por alguém que entrou e não se comportou direito.

As experiências comprovam que essa não é a melhor escolha, cada um tem suas riquezas a oferecer, e nunca se é tão sábio e poderoso que não precise de ajuda. Criado por amor e para amar, o ser humano tem sede de amar e ser amado. Aí está a essência do seu existir, a força motora que o leva a ser e agir de maneira harmoniosa, acolhedora e feliz.

Amar é correr riscos

O Amor é que faz com que o tempo seja precioso, dá brilho diferente às cores, é o jeito criativo que Deus achou para assemelhar o nosso coração ao d’Ele.

Amar é um risco que precisamos correr, todos os dias, se desejarmos viver intensamente.

Abrir as portas e as janelas da alma é um desafio necessário se quisermos contemplar as maravilhas que estão lá fora e até sermos aquecidos pelos raios do sol do amor que vem ao nosso encontro.

A brisa suave e vital, e ainda a sensação de liberdade que passaremos a sentir, vêm de brinde na hora em que, corajosamente, abrimos a porta do coração e deixamos entrar quem bate pedindo entrada ou invade no desejo de “ajudar”!

Vale a pena correr esse risco.

Dijanira Silva : Missionária da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Djanira reside na missão de São Paulo, onde atua nos meios de comunicação. Diariamente, apresenta programas na Rádio América CN. É colunista desde 2000 do portal cancaonova.com. Também é autora do livro “Por onde andam seus sonhos? Descubra e volte a sonhar” pela Editora Canção Nova.

Controle sua curiosidade



Foto ilustrativa: Wesley Almeida / cancaonova.com


Tomemos cuidado com essa curiosidade agressiva, que nos leva a indagar, morbidamente, sobre a vida privada dos outros

Vivemos num mundo em que tudo se ventila publicamente. Parece que todos têm o direito de perguntar, seja o que for, da vida das pessoas, e que estas têm o dever de lhes responder; caso contrário, ficarão sob suspeita. Enfia-se o microfone e a câmera de televisão na intimidade dos lares ou dos ambientes profissionais e religiosos sem que lhes tenham aberto as portas. Propõem-se questionários como condição prévia para seguir cursos simples, os quais mais parecem um inquérito policial sobre a vida particular. O mexerico é outro alto-falante, useiro e vezeiro, que espalha em público – entre amigos, parentes ou colegas – o que é de domínio estritamente privado.

Um simples senso de decência nos indica que isso não está certo. E com razão. É um princípio indiscutível da moral que todo homem tem o direito de manter reservados aqueles aspectos da vida, sobretudo da vida privada, que os outros – perguntadores ou não perguntadores – não têm direito nenhum de saber; e tem também o direito de calar-se sobre todas as coisas particulares, cuja divulgação «não serviria em nada ao bem comum; pelo contrário, poderia prejudicar legítimos interesses pessoais, familiares ou de terceiros» (cf. R. Sada e A. Monroy, Manual de Teologia Moral, pág. 233).

Justa indignação

É muito justa a indignação provocada pela intromissão inquisitiva de indivíduos e entidades na vida privada (sem excluir dessas entidades o Estado), especialmente a da mídia. Uma indignação que expressava, com palavras francas e límpidas, São Josemaría Escrivá, comentando a curiosidade maligna dos fariseus (cf. Jo 9,13 e segs.), que se recusavam a acreditar na explicação de um cego sobre a cura operada nele por Cristo: “Não custaria nenhum trabalho apontar, em nossa época, casos dessa curiosidade agressiva, que leva a indagar, morbidamente, a vida privada dos outros. Um mínimo senso de justiça exige que, mesmo na investigação de um presumível delito, proceda-se com cautela e moderação, sem tomar por certo o que é apenas uma possibilidade […].

“Perante os mercadores da suspeita, os quais dão a impressão de organizarem um tráfico da intimidade, é preciso defender a dignidade de cada pessoa, seu direito ao silêncio. Costumam estar de acordo, nesta defesa, todos os homens honrados, sejam ou não cristãos, porque está em jogo um valor comum: a legítima decisão de cada qual de ser como é, de não se exibir, de conservar, em justa e pudica reserva, as suas alegrias, as suas penas e dores de família; sobretudo, de praticar o bem sem espetáculo, de ajudar os necessitados por puro amor, sem obrigação de publicar essas tarefas de serviço dos outros e, muito menos, de pôr a descoberto a intimidade da alma perante o olhar indiscreto e oblíquo de gente que nada sabe nem deseja saber da vida interior, a não ser para zombar impiamente. Como é difícil nos vermos livres dessa agressividade xereta! Multiplicaram-se os métodos para não deixar o homem em paz” (É Cristo que passa, n. 69).

É difícil ler essas palavras sem concordar apaixonadamente com elas. Em todo o caso, não nos esqueçamos de que devemos começar aplicando-as a nós mesmos e às nossas curiosidades pessoais. Será que temos a consciência clara de que constitui uma falta moral, um pecado, abrir ou ler cartas alheias, ou agendas, diários íntimos sem a permissão da pessoa interessada? Ou revistar móveis e gavetas? Ou estar ocultamente à escuta, espiar às escondidas por frestas, janelas ou fechaduras? Ou pressionar alguém, atemorizando-o ou ameaçando-o de qualquer forma para nos contar algo que não temos o menor direito de saber? Cada qual deveria fazer aqui o seu exame de consciência.

Padre Francisco Faus