O Espírito Santo é Paráclito, sobretudo amigo íntimo
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com
O Espírito Santo não é simplesmente algo de Deus inanimado em nós, mas é a Pessoa de Deus
São Paulo, ao dirigir-se à comunidade dos colossenses, fala do amor com que o Espírito os animava (cf. Cl 1,8b). O que chama à atenção é que Paulo não somente fala da animação do Espírito Santo, mas do amor, da ternura com que o Ele os animava.
Força de Deus
O Espírito Santo, Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, embora figure como força de Deus, vento animado – a palavra “espírito”, em hebraico, é “ruah”, traz a ideia de “vento” –, é Pessoa de Deus, que fala, ouve, movimenta e, sobretudo, ama. Portanto, o Espírito não é simplesmente algo de Deus inanimado em nós, mas é Pessoa d’Ele que habita nossa intimidade. O Espírito é o Paráclito, Advogado, sobretudo amigo íntimo.
São Paulo, profundamente íntimo do Espírito Santo, ao falar da animação do Espírito àquela comunidade, não a resume a um ato mecânico, impessoal, mas fala da ação amorosa de alguém que ama.
É interessante o profundo senso da pessoalidade do Espírito que tinham os apóstolos. No livro dos Atos dos Apóstolos, vemos relatada inúmeras vezes essa pessoalidade íntima do Espírito na Igreja. Em Atos 13,2, o Espírito é quem separa Barnabé e Paulo para uma missão específica; em Atos 13,4, esses mesmos missionários são enviados pelo Paráclito a Selêucia; em Atos 21,11, o Espírito diz, por meio de Ágapo, os acontecimentos que viriam a Paulo em Jerusalém. Mas é impressionante o relato de Atos 16,6-8 em que o Espírito impede Paulo e Timóteo de anunciar a Palavra de Deus na província da Ásia e não permite que eles sigam de Mísia para Bitínia.
A Igreja primitiva entendeu muito bem quem era Aquele que, um dia, o próprio Mestre, ao se despedir, enchendo de tristeza o coração dos apóstolos, colocara em Seu lugar (cf. Jo 16). Eles entenderam quem era Aquele outro amigo (cf Jo 14,16) que, de tão importante que seria para a Igreja, viria no lugar do Senhor.
Eternamente conosco
Ele, o Consolador, é amigo fiel que habita em nós (cf. I Cor 3,16-19). Com Ele jamais estaremos sozinhos, pois Ele ficará eternamente conosco (cf Jo 14,16). Com Deus jamais estaremos desamparados, pois Ele permanecerá conosco, estará em nós e nos protegerá contra os adversários com palavras de sabedoria, à qual ninguém pode resistir ou contradizer.
Por Ele conheceremos a verdade e teremos acesso ao Pai. N’Ele seremos fortes, pois Ele é a força do alto que nos reveste, pois somos poderosamente robustecidos pelo Espírito. Ele vem em auxílio à nossa fraqueza.
Pelo Espírito, somos livres, pois onde Ele está aí há liberdade (cf. II Cor 3,17). Por Ele, o amor de Deus é derramado em nós, pois o Amor foi derramado em nosso coração pelo Espírito que nos foi dado (cf Rm 5,5). Enfim, por Ele nos tornamos filhos de Deus, pois todos os que são conduzidos pelo Paráclito são filhos do Senhor. O Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus (Rm 8,14.16).
Para quem deseja o amor
O Espírito Santo é a personificação do amor entre o Pai e o Filho, conforme o II Concílio Ecumênico da Igreja em Constantinopla I, em 381. Ele é o amor com que se amam o Pai e o Filho. Por isso, diz São Bernardo: “O que é o Espírito Santo, senão o beijo que trocam entre Si o Pai e o Filho?”. Ele é o amor entre o Pai e o Filho, portanto, entre Deus e Deus! Que coisa maravilhosa pensarmos que o amor entre Deus e Deus habita em nós!
O que há de comparável com tal dádiva para nós? Se realmente entendermos isso, entenderemos tudo. A percepção clara do mistério, no qual o Amor personificado habita em nós, faz mudar tudo, e tudo o que desejamos é ser amados e amar.
Se, do fundo do coração, entendêssemos que o próprio Amor nos ama e ama em nós, deixaríamos de mendigar amor. O que mais querer, o que mais almejar, o que mais sonhar senão a certeza de que o Amor nos ama e ama em nós para sempre?
Tendo o Amor tão perto e tão certo, somos verdadeiramente livres para viver e amar. Aí, somos livres para responder aos mais loucos chamados de Deus, somos livres para o perdão, para a humilhação, para a paciência e o serviço. Somos livres de tudo o que foi e de tudo o que será, pois a felicidade é certa e habita dentro de nós.
Cuidai da promessa em vós
“Eu vim lançar fogo sobre a terra, e quanto eu desejaria que já estivesse aceso!” (Lc 12,49). Sem dúvida, Jesus se referia ao Espírito Santo, o fogo que desceu em Pentecostes. Desde quando o Pai tirou Abraão de sua terra para constituir um povo, Ele sonhava com a descida do Espírito ao homem. Por isso, Jesus, o Filho de Deus, tanto desejou o Pentecostes, e Seu ministério não foi senão a missão de nos dar o Espírito Santo, o fogo do Céu (cf. Lc 12,49).
O Paráclito é o prometido do Pai (cf. Lc 24,49a; At 1,4.2, 23-39), é a grande promessa feita, desde a antiga aliança, pelos profetas e realizada por Cristo no dia de Pentecostes.
Promessa de Deus, riqueza dos homens. Saiba: Ele está em você e o chama a abrir-se à Sua amizade. Ele está em você, na sua intimidade. Ele conhece tudo e pode tudo. Ele cura, liberta, ensina, ama, é vida em abundância. Converse com Deus, Adore-O em você, conte a Ele suas dores, peça a Ele a proteção. A única coisa que o Senhor no pede: não o contristeis (cf. Ef 4, 30a).
Deus está em você
Cristão, em tudo, lembre-se de que Deus está em você. Quão grande mal faz o cristão que não responde a essa terna amizade com amor! Cuidemos do Espírito que habita em nós. Prestemos atenção aos lugares, aos programas, lazeres, às palavras, conversas, músicas que entristecem o Espírito em nós. Aqui está algo de absolutamente importante: ou amamos o Espírito em nós e descobrimos quão libertador é Seu poder, quão curadora é Sua força e tão sublime e maravilhosa é Sua amizade, ou, embora O possuamos em nós, continuaremos a ser estraçalhados pelo mundo a mendigar qualquer amor por aí.
Já se passaram dois mil anos do cumprimento da promessa em Pentecostes. Porém, muitos são os que continuam aguardando, dizendo que as coisas não são bem assim. O Espírito mesmo é quem clama: “Não espere mais; a graça é para todos, abra-se à Minha amizade e conhecerá a verdadeira liberdade de ser filho de Deus.”
André Botelho - é casado e pai de três filhos. Com formação em Teologia e Filosofia Tomista, Andrade é fundador e moderador geral da comunidade católica Pantokrator
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