A Palavra de Deus

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DOPAS

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23 de agosto de 2017

Como cuidar dos idosos com amor?

Como cuidar dos idosos com amor?


Copyright: guvendemir
Aprenda com Rute como o amor aos idosos faz a diferença

Conta-se que, em Israel, houve uma grande fome, por isso Elimeleque (que residia em Belém, cidade da região de Judá), sua esposa Noemi e seus dois filhos Malon e Quiliom mudaram-se para um país chamado Moabe. Passado algum tempo, o esposo de Noemi morreu e ela ficou somente com seus dois filhos. Estes, depois de algum tempo, casaram-se, e o nome de suas esposas era Orfa e Rute. Após dez anos, Malon e Quilion também morreram. Noemi ficou só, sem os filhos e sem o marido. Com o tempo, Noemi soube que Deus tinha ajudado o seu povo, dando-lhes boas colheitas e decidiu voltar para Judá. Então, disse às suas noras que as mesmas deveriam voltar para suas casas e ficarem com suas mães. Orfa e Rute disseram que não, mas, ao final, Orfa voltou e Rute decidiu continuar ao lado de Noemi.

Essa história se encontra no pequeno livro bíblico de Rute. Noemi fica sob os cuidados de Rute, que não a abandonou em momento nenhum. Rute se casou novamente e Noemi continuou junto de sua amada nora Rute.

O que ensina o livro de Rute?

O livro de Rute nos ensina o cuidado que falta, hoje em dia, com muitas pessoas idosas. Vivemos em uma sociedade que busca descartar aqueles que nada mais podem produzir. É a sociedade de consumo, que exclui a dignidade e o respeito da vida de muitos irmãos e irmãs nossos. Essa realidade é frequente, principalmente em muitos lares, onde pessoas idosas têm de conviver com a falta de respeito, o carinho e a atenção de seus familiares.

A síndrome da eterna juventude tem se infiltrado em muitos corações. O tempo passa para todos, e a juventude só será eterna no coração. As plásticas podem esconder as rugas do tempo impressas no rosto, mas não podem impedir os anos de passarem.

Muitos idosos sofrem em silêncio o descaso de seus familiares. Vivem isolados, porque não mais encontram um espaço para partilhar a vida. Falta a paciência e a compreensão dos mais novos, os quais, no futuro, também serão idosos. Como é triste encontrarmos pais e mães que perambulam pela vida com o sentimento de terem sido descartados e estarem atrapalhando a vida dos mais novos! É preciso, urgentemente, uma mudança de consciência das gerações mais novas. É preciso reavaliarmos o valor daqueles que já contribuíram com a criação dos filhos e netos; e hoje merecem nosso cuidado, carinho e atenção.

Dê valor aos idosos

É inadmissível que os idosos sejam tratados como objetos descartáveis por filhos, netos e demais familiares. O que somos hoje se deve ao trabalho e carinho desses nossos irmãos que desejam apenas cultivar o sentimento de serem amados por seus familiares e entes queridos. Não há desculpa para quem maltrata uma pessoa idosa. Os vizinhos podem não saber como os idosos de uma determinada família são, muitas vezes, maltratados, mas a vida é uma escola, e quem não aprende por bem terá de, um dia, deparar-se com as consequências das escolhas que um dia fez na vida.

O sentimento de culpa é pessoal, e quem um dia maltratou seu pai ou sua mãe, seu avô ou sua avô, terá de conviver com o peso desse sentimento até o último dia de sua vida.

Queridos irmãos e irmãs que convivem com o desprezo de seus familiares, continuem firmes na fé, não percam a esperança em meio aos sofrimentos. Deus vê suas dores e recolhe suas lágrimas. Eu rezo por vocês.

Rute é modelo para todos nós. Ao cuidar de Noemi e não a abandonar, ela nos ensina que o bem que fazemos ao próximo a nós é devolvido cem vezes mais. Que, no exemplo de Rute, acolhamos as Noemis de nosso tempo.

Padre Flávio Sobreiro - Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP e Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre (MG), padre Flávio Sobreiro é vigário paroquial da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Santa Rita do Sapucaí (MG), 

O valor e a importância da tolerância no cotidiano

O valor e a importância da tolerância no cotidiano

Foto: Copyright:Brasil2
A tolerância é imprescindível para conquistarmos a paz, o bem, o respeito e a dignidade humana

O mundo celebra, todos os anos, o Dia da Tolerância, oportunidade para que cada pessoa reconheça a necessidade de vivenciá-la no cotidiano. A tolerância é valor necessário para o equilíbrio da sociedade. Quando se desconsidera esse valor, crescem na humanidade as inimizades, os revanchismos e muitas outras ameaças às relações pessoais, políticas e institucionais. Por isso, tolerância não pode ser compreendida apenas como uma questão governamental, relacionada ao tratamento das religiões que se diferem daquela que é partilhada pela maior parte de uma nação. O Ocidente inaugurou, a partir da Reforma Protestante e das guerras motivadas por disputas religiosas, uma grande modificação no entendimento desse conceito, tornando-o mais abrangente.

A evolução da tolerância, enquanto valor social, pode ser percebida a partir das reflexões de muitos filósofos, que advertem a respeito da existência de uma prisão: por muitas vezes, pessoas se enjaulam na própria opinião quando se encontram com alguém que pensa diferente. Uma rigidez alicerçada na desconsideração de conceitos morais, na estreiteza de horizontes, na mediocridade de intuições e inventividades. Essa dureza traz impactos na dimensão relacional e gera o malefício terrível da intolerância. Mata diálogos, tenta justificar autoritarismos, fomenta discriminações e permite que sejam erguidas as bandeiras da exclusão, da desconsideração de raças, culturas e povos. É, assim, base para preconceitos e abusos de poder.

O valor presente na tolerância

A intolerância inviabiliza entendimentos e gera o caos por obscurecer princípios básicos e, consequentemente, dar lugar às tiranias e impiedades. Condutas que são alicerçadas nas razões afetivas contaminadas por desvios éticos e morais. Entre os desdobramentos, estão as concessões de todo tipo oferecidas aos próprios pares, enquanto se trata, impiedosamente, os diferentes. Antídoto para esse mal é a tolerância compreendida a partir de sua evolução conceitual, política e social, que se relaciona à compreensão mútua entre os que partilham perspectivas divergentes. Uma atitude indispensável para não inviabilizar o funcionamento social e político, como também as relações familiares e institucionais.

Da tolerância de governos, apontada pelo filósofo Locke, na sua Carta sobre a Tolerância, “escancaram-se as portas” para uma compreensão mais ampla e determinante na vida da sociedade: agir com tolerância evita um caos social e político que recai sobre a cabeça de todos. É conduta imprescindível para se conquistar a paz, o bem, o respeito à dignidade humana e o progresso nas relações que tecem a cultura. Assim, quando a tolerância norteia atitudes, alcança-se um grau admirável de civilidade, com desdobramentos na organização social e política. Já a direção oposta a esse qualificado modo de agir leva ao crescimento das segregações, do ódio e das disputas que alimentam os focos de guerra, gerando xenofobias e massas de refugiados perseguidos. As consequências também são percebidas nos lares, nos escritórios e nas repartições públicas, frequentemente contaminados pela desarmonia.

No horizonte amplo e fundamental do conceito de tolerância, é urgente exercê-la, especialmente, trilhando os caminhos de uma espiritualidade que pode, com mais eficácia e rapidez, qualificar cada pessoa para conviver com quem é diferente. Essa espiritualidade sustenta a tolerância que fecunda projetos, respeita e promove dignidades, salva a sociedade da violência e de outras ameaças. Nesse sentido, oportunidade de ouro é conhecer o Evangelho da Tolerância, que reflete o jeito de uma pessoa: Jesus Cristo, o Mestre de Nazaré.

Evangelho da tolerância

A vida de Jesus é o Evangelho da Tolerância, escrito para nortear os gestos cotidianos de todos e, assim, sustentar grandes transformações. A luz desse Evangelho balizou a essencialidade das práticas do cristianismo em interface com outras religiões e escolhas confessionais. Encontros guiados por valores que superam a mesquinhez do egoísmo e permitem compreender que qualquer tipo de discriminação é inadmissível. Parâmetros a partir dos quais se reconhece que o mundo é de Deus e deve ser partilhado, igualmente, por todos.

Nesse rico Evangelho da Tolerância, há um núcleo fundamental, nascido no coração de Jesus e eternamente desenhado por suas palavras: o Sermão da Montanha, capítulos cinco a sete, apresentado pelo evangelista Mateus. Trata-se de uma leitura a ser adotada diariamente, fecundando a meditação que orienta as práticas do dia a dia. A preciosidade desse núcleo pode ser reconhecida a partir do comentário instigador e provocante de Mahatma Gandhi, ao dizer que se os cristãos levassem a sério o Sermão da Montanha, operariam uma radical revolução no mundo, nas relações e nos propósitos, desencadeando uma civilização fundamentada no amor e na paz.

O exercício diário de ler o Sermão da Montanha é simples e custa muito pouco, somente o tempo do silêncio restaurador, que também é fonte de sabedoria e saúde. Por isso, todos são convidados a praticá-lo, reservando um breve momento para, individualmente, em família, no trabalho ou mesmo na roda de amigos, ler um trecho, ainda que seja um só versículo. Assim é possível exercitar o coração e a vida no Evangelho da Tolerância.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo - Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma, Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico (Roma, Itália).


Qual a diferença entre estar só e estar sozinho?

Qual a diferença entre estar só e estar sozinho?

Foto: Copyright: Kichigin
Reflita sobre a diferença da solidão que aflige o nosso tempo e a solitude que devemos buscar

Estar só é uma ação deliberada e consciente, sentir-se só é uma aflição para a alma. Em um mundo marcado por múltiplas possibilidades de encontros presenciais ou virtuais, e de incontáveis estímulos sensoriais, é cada vez mais difícil perceber-se sozinho. Graças aos avanços tecnológicos, a imensa maioria de nós tem “o mundo na palma da mão”. Onde quer que estejamos, alcançamos e somos alcançados. A solidão foi sendo paulatinamente descrita como algo negativo, prejudicial e evitável.

Convencionou-se que estar sozinho seria sinônimo de infelicidade, tristeza, não realização da plenitude de nosso ser. No entanto, nada poderia ser mais equivocado, pois como diziam os antigos: “deste mundo, chegamos sozinhos e partimos sozinhos.” É claro que é inequívoca a nossa vocação comunitária. Platão já afirmara que “o homem é um ser social”, exatamente na dimensão de que almejamos estar com nosso semelhante.

No entanto, a qualidade de meu encontro com os outros, deriva substancialmente da qualidade de encontro com si mesmo. Enquanto estou interagindo com outros, o meu ‘eu’ não se percebe, não se avalia nem se questiona. Se eu espontaneamente não silenciar os barulhos externos e internos, também não conseguirei ouvir o que Deus tem falado. Proponho aqui, então, uma diferenciação semântica, isto é, de significado. Estar sozinho não é o mesmo que se sentir só!

A Solidão no nosso tempo

O sentimento de estar só deriva de uma solidão que se instala, ainda que você esteja acompanhado. Ela não encontra força no mundo exterior, mas na interioridade do ser. E aí está o seu traço mais severo. Aqueles que a vivenciam, por não saber exatamente como surge, não dispõem dos meios para mandá-la embora. Seu fruto quase sempre é um vazio, um isolamento que tolhe a criatividade, o ânimo e a significado existencial. Em algumas pessoas, esse sentimento está oculto por uma postura expansiva, sempre sorridente, de uma fala prolixa e de alto tom. Um esforço descomunal em ocultar dos outros e de si mesmo que, embora entre muitos, essa alma não encontra similaridade entre os que a cercam. Nesse sentido, a solidão pode ganhar contornos patológicos que merecem o devido cuidado e atenção.

A solitude é a via de encontro consigo e com Deus

Já a condição de ficar sozinho derivada de intencionalidade e é chamada de solitude. Ela é fruto de uma vontade do ser, que busca encontrar consigo, ouvir-se, contemplar-se. Apenas na solitude somos capazes de exercitar a individualidade que nos é própria, e esses momentos são oportunos e necessários. Externamente, o indivíduo parece estar solitário, mas ele tem a companhia de si mesmo e de Deus.

Somente na solitude, podemos experimentar também a possibilidade de um encontro com Deus, pois, em Sua pedagogia, trata-nos em nossa individualidade. O Senhor sempre falou aos que se “retiravam”. Assim foi com Abraão, Moisés, Elias. Até mesmo Jesus, podemos constatar nos Evangelhos, afastava-se para estar com Deus. Sendo assim, nos é dada a via da ressignificação da solitude não como um simples estar só, mas como momento de encontro com a minha alma e o encontro desta com Deus. Pode parecer uma experiência assustadora se você, há muito tempo, não busca a solidão.

Silêncio interior

Se quando você acorda até o ocaso do dia, você verifica, a cada cinco minutos, seu WhatsApp, Facebook ou outras mídias sociais; se ao chegar em casa a primeira coisa que faz é ligar a TV, e no carro ligar o rádio ou aquele pendrive com 16 gigas de músicas; se você não consegue se lembrar da última vez que contemplou o céu e viu que a lua continua lá, está na hora de buscar, no silêncio intencional, ficar um pouco com você mesmo e com Deus.

Convido também você que se sente só a buscar a solitude. A solidão é destrutiva, mas a solitude é edificante. Mesmo sem ninguém por perto, o interior dos que a exercitam encontram na plenitude a presença de Deus. Não há receita nessa experiência. Cada um de nós trilhará uma estrada própria e única. Mas aí está a beleza: o caminho. Deus o abençoe em sua jornada!

“Parai! Sabei que eu sou Deus!” (Salmo 46,11a)

Christian Moreira - é missionário da Comunidade Canção Nova, no modo segundo elo em em Fortaleza (CE). Graduado em História, Mestre em Ciências da Educação e Especialista em Ensino Superior de História e Especialista em Gestão Escolar.

Meus pensamentos me ajudam ou me prejudicam?

Meus pensamentos me ajudam ou me prejudicam?


Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com
Os pensamentos precisam ser observados

É interessante observarmos o quanto nós não prestamos atenção àquilo que pensamos. Muitos de nós até se esforçam para se controlar no falar, quando falar e como falar, mas a maioria não se atenta ao que pensa e, acima de tudo, se esses pensamentos são funcionais ou não, se mais ajudam ou prejudicam. Já pensou nisso?

Sugiro que, neste momento, paremos e avaliemos nossos pensamentos. Eles têm nos impulsionado a seguir a vida ou, em sua maioria, puxado nosso tapete e nos deixado no chão? Às vezes, até sem chão!

A psicologia cognitiva comportamental tem trabalhado com esses pensamentos, os quais são intitulados pensamentos disfuncionais ou distorcidos; nada mais é que uma forma “errada”, distorcida da realidade.

Um deles, muito comum entre nós, é a leitura mental, uma distorção que acontece quando tendemos a acreditar que sabemos o que se passa na cabeça do outro. Esse pensamento é um clássico, pois muitas pessoas sofrem dele. O problema está no sofrimento que esse pensamento traz para a pessoa que pressupõe saber o que o outro pensa, o que, normalmente, são pensamentos negativos. Por exemplo: “Tenho a certeza de que ele está olhando para mim e pensando que não sei dirigir”, “Eu sei que meu chefe me acha incompetente”, “Ela não gostou de mim”.

É tão interessante pensarmos no quanto temos a “certeza” do que o outro pensa sem que ele expresse uma palavra, potencializando, cada vez mais, e comportando-se a partir da produção desse pensamento. Quantas vezes brigas conjugais nascem devido a esses pensamentos! Quantos relacionamentos são prejudicados, desfeitos, pelo fato de o casal não ter esclarecido pensamentos de leitura mental!

Como mudar esse pensamento?

Não só a leitura da mente, mas os demais pensamentos distorcidos serão “combatidos” quando confrontados com a realidade. Como assim? Primeiro: ninguém é capaz de adivinhar nenhum pensamento. Segundo: é preciso verificar a veracidade daquele pensamento, questionando todas as possibilidades que confirmem aquilo que estamos pensando. Por exemplo: “Ele está achando minha conversa chata, por isso que ele cochilou”. O que nos faz acreditar nessa verdade? O fato de ele ter cochilado? As pessoas cochilam apenas quando uma conversa está chata? Não! Será que ele não está cansado? Pode ser que ele não tenha dormido bem à noite. Como vamos saber?

Certeza só teremos se ele expressar seu cansaço e até se desculpar, ou se perguntarmos se está tudo bem. Mas qual a real necessidade de perguntar a ele? Precisamos disso? Nossa identidade como pessoa vai mudar com a resposta dele?

O importante é darmos a resposta real e não ficarmos tentando nos convencer de alguma coisa, pois nosso cérebro é mais esperto do que imaginamos. Trabalhar com o real e a verdade, este é o segredo! Não alimentemos pensamentos que destroem, mas sim aqueles que constroem! Fortalecermos o conceito que temos sobre nós é um bom remédio.

Aline Rodrigues  - é missionária da Comunidade Canção Nova, no modo segundo elo. É psicóloga desde 2005, com especializações na área clínica e empresarial. 

Como podemos falar sobre a morte com as crianças?

Como podemos falar sobre a morte com as crianças?


Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com
As crianças são espirituais e elas entendem além do que a razão adulta consegue compreender

Para sabermos como falar com as crianças a respeito da morte, antes precisamos saber como nós pais lidamos com ela. Somos de outro tempo. Quando éramos crianças, os falecidos eram velados em suas próprias casas, e quem trocava a roupa, fazia a barba do falecido, geralmente, eram os filhos ou alguém muito próximo. As crianças estavam presentes, correndo em volta da casa e do caixão. Os velórios reuniam um grande número de pessoas, que ficavam o tempo todo acompanhando a família, muitos amigos permaneciam a noite inteira.

Muitas das vezes, não se morre mais em casa, mas sozinho nas UTIs. Assim, perdemos o momento “máximo” da vida de uma pessoa. Uma querida amiga pôde estar presente na UTI quando o marido morreu, e ela me disse que foi um dos momentos mais lindos da vida dela, um momento inexplicável, que deveria ser imperdível. Ela não conta isso aos parentes, com medo que pensem que ela é louca.

Aprendizes dos sentimentos humanos

Há uns 25 anos, quando eu era estudante, fizemos um estudo cujo título era: “O culto aos mortos continua sagrado?”. Íamos ao cemitério, computávamos o tempo que as pessoas permaneciam nos velórios, o tempo das visitas aos túmulos e observávamos as emoções. Éramos aprendizes dos sentimentos humanos. Já naquela época, comparando com estudos mais antigos, observamos que o tempo de permanência das pessoas tem diminuindo a cada ano que passa.

Hoje, muitas pessoas passam para dar um abraço e ficam entre 10, 15 minutos; então, seguem suas vidas. Isso tudo é uma pena, porque a morte nos coloca em xeque a respeito do sentido da vida. É um momento de parada, é inevitável não pensar, diante de um caixão, na própria morte ou na morte de alguém muito querido.

A criança sabe do sobrenatural, porque ela é espiritual

E quanto às crianças? Ficavam em volta, brincavam, mas também observavam o que acontecia. Ninguém me ensinou sobre a morte, ninguém nunca falou a respeito dela, mas como nós fazíamos parte de todo esse “sagrado”, de todo esse ritual, simplesmente a gente entendia. Entendíamos que era um momento de muita dor. Eu, por exemplo, vi meu pai chorando o velório inteiro ao lado do caixão de meu avô, quando eu era bem pequena. Por dentro eu me perguntava: “Por que eu não estou chorando?”.

Só mais tarde, quando cresci, entendi que a dor de um adulto é diferente da dor da criança; primeiro, porque a criança não tem noção sobre o tempo, ela não entende que o avô partiu e nunca mais vai voltar. Crianças pequenas não têm noção do quanto é uma semana, um mês, dez anos, muito menos do nunca, e isso suaviza a dor. Mais bonito e surpreendente é que a criança é espiritual e entende além do que nossa razão adulta consegue compreender. Ela sabe do sobrenatural, porque ela é espiritual.

Não se fala de morte

É uma pena que o evento morte esteja cada vez mais escondido, camuflado. O velório já é dentro do cemitério, os cemitérios parecem grandes jardins, os cortejos desapareceram das grandes cidades ou se camuflam no meio do trânsito. Enfim, nos nossos tempos modernos, não se fala de morte, camufla-a, e quando se fala, é em meio a tragédias e assassinatos, o que deixa a imagem da morte sempre muito negativa.

Lembro-me, perfeitamente, do meu avô doente na casa dele, no seu quartinho. Houve um momento em que ficamos a sós, ele olhou para mim e falou: “O vovô vai morrer”. Eu, querendo animá-lo (embora soubesse que no fundo aquilo era verdade), disse: “Não, o senhor vai ficar bom logo!”. E ele, olhando-me nos olhos, disse: “Não! O vovô não vai ficar bom”.

Enfim, alguém chegou no quarto e ficamos calados, foi o nosso segredo. Ele me preparou para a morte. No dia em que ele morreu, minha mãe veio me acordar de manhã para me contar, e ela não precisou falar uma palavra. Eu sentei na cama e disse: “Já sei, vovô morreu”. Sou grata por meu avô ter tido a coragem que meus pais não tiveram.

Paradoxo da vida

Tive a oportunidade de entrevistar a tanatóloga Wilma Torres (já falecida), a qual, durante toda sua vida acadêmica, estudou sobre a morte. Era seu trabalho. Quando perguntei se isso afetava, de alguma forma, a vida dela, respondeu: “Pelo contrário, quanto mais estudo a morte, mais aprendo a viver”. Acho que isso nos ajuda a fazer as pazes com a morte, ressignificar dentro de nós mesmos o seu sentido. Só assim saberemos como falar sobre ela com nossos filhos. Ela é o grande paradoxo da vida.

Ricardo Petrarca, autor do livro ‘A chama e a morte’, cita frases belíssimas ditas pelos índios Guaranis, com quem conviveu por algum tempo: “A morte é um ser, é irmã da noite e do silêncio. Ela gosta de ficar perto do nosso coração, e fica muito triste quando não gostamos dela. Como ela mora em nosso coração, então a pessoa que não gosta dela fica triste também. A morte e a vida são geminadas, irmãs gêmeas. Você perdeu um parente, parte de você morre. Fica um lugar como uma caverna, mas essa caverna pode ser um caminho para a vida”.

A beleza da morte

O coração das crianças tem a simplicidade e a sabedoria semelhantes à profundidade e sabedoria do povo indígena. Elas saberão ver a beleza da morte. Se tiverem histórias bonitas para contar sobre a morte (como a minha com meu avôzinho), contem para seus filhos, isso os prepara. As crianças são geniais, são muito capazes de imaginar a cena que descrevemos ao contar nossas histórias. A criança não pode ver a morte como um monstro, como uma inimiga, porque ela não é, a morte faz parte da vida.

A primeira vez que levar seu filho a um velório, explique, antes de chegar ao local, que ele verá pessoas chorando, um caixão onde estará deitado quem faleceu, flores… Diga que isso é normal e que está tudo bem, que é assim mesmo. Não devemos forçar a criança a nada, como pegar na mão do defunto. Se perceber algum tipo de ansiedade na criança, fique um pouco do lado de fora, fique um pouco mais afastado, devagarinho ela mesma vai se aproximando, no tempo dela.

Um pedaço do céu

Fundadora do Movimento dos Focolares, Chiara Lubich preferiu morrer em casa, deitada na sua cama, em seu quarto simples, diante da imagem de Jesus Abandonado. As pessoas, os consagrados, jovens que faziam parte do movimento, fizeram uma longa fila para passar diante dela, e muitos apenas agradeciam, e ela os olhava profundamente nos olhos. Era a despedida, neste caso, um pedaço de céu. Não havia desespero, mas paz.

Adriana Potexki - é escritora e autora dos livros ‘A cura dos sentimentos em mim e no mundo’ e ‘A cura dos sentimentos nos pequeninos’. 

Meu filho tem amigos imaginários. O que devo fazer?

Meu filho tem amigos imaginários. O que devo fazer?

Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com
É saudável ter amigos imaginários?

Como parte do desenvolvimento do comportamento infantil, temos presente, a partir do segundo ano de vida, o mundo do “faz de conta” de forma paralela ao mundo real, o qual se apresenta cheio de vivências fantasiosas, as chamadas fantasias infantis. Essa fase de vida da criança se estende até os seis anos dela aproximadamente. Nessa fase, geralmente, os pais notam que os filhos criam os amigos imaginários, com os quais brincam, conversam e até guardam doces ou comidas.

Num primeiro momento, parece algo “fora do normal”, mas, para lidar com o mundo real que ainda é muito difícil de ser aceito e também assimilado, a criança passa a criar seu próprio mundo, o qual lhe permite viver e encontrar solução para tudo, onde tudo é possível.

Mundo secreto e de fantasias

A criança faz seus pensamentos mágicos e suas projeções, vivenciando suas fantasias e conversas secretas, aprendendo a lidar com um mundo subjetivo, ou seja, começa a perceber aspectos ligados à abstração, como a expressão “cabeça-dura”, que não é uma cabeça dura como pedra, mas sim uma expressão que significa alguém teimoso. É o que aparece, nesse mundo do faz de conta. Nele, a criança “conviverá” com os mitos, os super-heróis, as lendas, tendo sentimentos de medo, de choro, risadas súbitas, cujo objetivo é ajudá-la no desenvolvimento.

É importante lembrar aos pais que, como toda fase de desenvolvimento, esta também vai passar, ou seja, por volta dos 6 ou 7 anos de idade, quando as funções de memória, lógica e inteligência já estão com um desenvolvimento mais avançado, tais fantasias tendem a passar. A partir dessa época, a criança passa a vivenciar sensações de angústia e ansiedade, as quais, muitas vezes, são mais intensas do que podemos imaginar, e nem sempre estão ligadas às experiências anteriores, mas sim ao próprio desenvolvimento infantil.
Fragilidade

Você se lembra quando foi para a escola pela primeira vez? Para alguns indivíduos, esse evento foi muito desejado e esperado. Já para outros, ir para a escola foi extremamente triste e difícil, por terem dificuldade de conviver com outras pessoas que não o pai e a mãe.

Ao expressar seus medos (escuro, novas situações, chuva, vento forte ou de qualquer situação desconhecida) a criança mostra toda a fragilidade daquilo que não consegue dominar ou perceber a fonte. Portanto, cria seu próprio universo, seu mundo de fantasia, no desejo de resolver seus medos, trabalhar suas angústias e seus desejos, dando vida aos brinquedos, dando vozes aos seus bonecos. Por volta dos três anos de idade, a criança inventa um companheiro imaginário para conversar e brincar. Geralmente, esse personagem é bom, prestativo e é dirigido e comandado por ela, o que lhe dá uma sensação de controle e poder.

Se você perceber bem, quantas vezes já pegou sua filha dando bronca nas bonecas, assim como você faz como ela? E seu filho, reproduzindo cenas de violência que vê na TV ou mesmo em casa, com seus soldadinhos fortes e poderosos?

Esteja atento

Fique alerta para o cuidado com janelas ou objetos que possam gerar algum perigo para os filhos. Lembro-me de uma amiga, cujo filho, vestido de homem-aranha, subiu na janela do apartamento para tentar saltar, pois ele tinha “poderes mágicos” de escalar paredes e ele não cairia. Ufa! Que susto! Nesses momentos vividos pela criança, faz-se necessário o redobrar de cuidados, principalmente com janelas ou objetos que ofereçam perigo, pois ela pode se sentir tentada a imitar o modo de atuar de seus personagens.

Lembre-se de que não apenas os pais querem ter sucesso no papel de cuidadores e responsáveis pelo crescimento da criança, mas, da mesma forma, esta expressa seus conflitos e suas angústias no seu modo de brincar, de reagir com o grupo; como o adulto, ela [criança] tem alta expectativa de não decepcionar os genitores, que são as figuras mais importantes e dos quais ela tem grande dependência física e emocional.

O que quero dizer com tudo isso é que vocês, pai e mãe, podem aprender muito conhecendo as fases de desenvolvimento da criança e, com isso, estabelecer um relacionamento próximo e com muito amor e compreensão, algo essencial para o crescimento emocional sadio dela.

Elaine Ribeiro dos Santos - Psicóloga Clínica e Organizacional, colaboradora da Comunidade Canção Nova.

20 de agosto de 2017

Um amor para recordar

Um amor para recordar


Foto: Wesley Almeida / cancaonova.com
Por que é tão difícil mexer no coração e deixar-se amar por outro alguém?

Provavelmente, você já ouviu falar de um filme com esse tema, ou talvez, como eu, já o tenha assistido diversas vezes. São vários os aspectos do longa-metragem que chamam à atenção, mas me refiro, principalmente, ao poder e à força transformadora que o amor exerce na vida das pessoas, o que, aliás, é bem evidenciado nesse romance vivido por Landon, o rapaz mais popular e desajustado da escola; e por Jamie, uma estudiosa e compenetrada garota, que jamais imaginou sequer conversar com ele [Landon], muito menos apaixonar-se por ele.

O certo é que, para a surpresa dos dois e mais ainda dos colegas, é isso que acontece. Landon, punido por sua má conduta, vê-se obrigado a fazer coisas que não gostaria, como dar aulas às crianças especiais e atuar em uma peça teatral. Jamie, que tinha como filosofia de vida fazer sempre o bem, resolve ajudá-lo, mas com uma condição: que ele não se apaixonasse por ela. A beleza do romance, no entanto, está em perceber que a vida dos jovens ganha um novo sentido quando, corajosamente, assumem a nobre e desafiante missão de amarem e serem amados, indo além dos medos e diferenças. É a isso que quero me deter, pois, até hoje, desconheço uma força mais poderosa e transformadora que o amor.

“O amor é paciente, é benigno; não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha” (I Coríntios 13,4-8a).

As razões do coração

Já que o amor é tudo de bom, por que é tão difícil deixar que ele brote dentro de nós e irradie o mundo? Por que é tão difícil mexer no coração e deixar-se amar por outro alguém? Como compreender que é tão complicado ser frágil, depender dos demais e deixar que conheçam nossas fraquezas, toquem nossas feridas, se amar é justamente nossa principal vocação?

São perguntas que despertam inúmeras respostas, mas, talvez, nenhuma delas cale um coração inquieto. É que a linguagem do amor vai além da razão e até mesmo das experiências. Fala segundo os códigos do coração, e o que não vem de um coração dificilmente chegará a outro.

Talvez, seja por esse motivo que nem sempre as respostas que recebemos nos devolvem a quietude. Concordo com quem diz: “Tens de saber que para o amor não existe manual pronto, deves criar o teu”.

Nesse filme, ‘Um amor para recordar’, parece-me que Jamie e Landon criaram seu próprio manual e deu certo. O milagre da transformação aconteceu na vida dos dois em pouco tempo. Mas é feliz quem pode testemunhar esse milagre além dos filmes, além das teorias.

É com muita sabedoria que Frei Raniero Cantalamessa afirma: “Devemos dar mais espaço às «razões do coração» se quisermos evitar que a humanidade volte a cair em uma era glacial.” Ainda com outras palavras, continua explicando que, em matéria do coração a técnica é de bem pouca ajuda, ressaltando: “Empenham-se, desde há muito tempo, em criar um tipo de computador que «pense», e muitos estão convencidos de que vão conseguir chegar lá. Ninguém, até agora, projetou a possibilidade de um computador que «ame», que se comova, que saia ao encontro do homem em um plano afetivo, facilitando-lhe amar, como lhe facilita calcular as distâncias entre as estrelas.”
O amor leva ao sacrifício

Embora seja dada pouca atenção ao assunto, já que vivemos em uma era aparentemente movida pela técnica, sabemos bem que a felicidade ou a infelicidade, na Terra, não dependem tanto de conhecer ou não conhecer, ter ou não ter, mas sim amar ou não amar, ser amado ou não ser amado. E isso é bem certo! É certo também que o amor é exigente, leva à renúncia, ao sacrifício.

Talvez seja por isso que estamos tão ansiosos em aumentar o conhecimento, mas haja tão poucos interessados em aumentar nossa capacidade de amar: “É que o conhecimento traduz-se automaticamente em poder e o amor em serviço”.

Optar pelo sacrifício em plena modernidade parece contraditório, mas é aí que se esconde um segredo essencial na conquista da tão sonhada felicidade. Quem se arrisca a desvendá-lo, certamente é feliz. Os benefícios do amar compensam os sacrifícios que ele implica.

Então, ame, diz o poeta. “Ama e dá asas a tua alma, para que ela voe livre e te leve às alturas desta nobre vocação! Desprende-te de quem te retém por prisioneiro, mas não recuses receber um gesto de amor”.

Cultivemos o amor, que seja para recordá-lo ou tê-lo para vida inteira. Amemos, corajosamente, para fazer este mundo melhor!

Dijanira Silva - Missionária da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Djanira reside na missão de São Paulo, onde atua nos meios de comunicação. Diariamente, apresenta programas na Rádio América CN. 

Amor e paixão são sentimentos diferentes ou a mesma coisa?

Amor e paixão são sentimentos diferentes ou a mesma coisa?


Como saber se amo verdadeiramente alguém? O que é amor?

Ama e faz o que quiseres. Essa frase belíssima e significativa de Santo Agostinho, infelizmente, é mal interpretada. Para compreendê-la, deve ser respondida uma pergunta básica: o que é o amor? Muitas pessoas julgam saber da resposta, mas, na verdade, estão enganadas. Como diz o ditado popular, “estão comprando gato por lebre”.

É muito comum ouvirmos da boca dos jovens a seguinte frase: “Estou perdidamente apaixonado por minha namorada. Tenho um sentimento imenso de amor por ela!”. Façamos uma avaliação dessa frase, de modo a compreender como pensa um jovem sobre o significado do amor.

O que é paixão?

A primeira coisa a destacarmos aqui é quando o jovem diz: “Estou perdidamente apaixonado por você”. A paixão é algo fascinante e belo do ponto de vista humano. Trata-se daquele momento em que predominam os sentimentos, as emoções. Existe até uma dito popular: “Quem se apaixona perde a razão”. A partir disso, pode-se concluir que paixão não é amor. Tem seu valor em um relacionamento afetivo, pois é aquela primeira fase, é o encantamento, quando “o mundo gira em torno da pessoa amada”. Não existe ninguém melhor, mais belo e inteligente. Porém, a paixão é como a flor que desabrocha, mas não dura mais que uma estação.

Segunda parte da frase: “Tenho um sentimento imenso de amor por ela”. Nessa segunda parte, o engano é ainda maior. Muitos acham que amor é sentimento, mas amor não pode ser sentimento, pois estes podem nos trair. Hoje, sentimos algo que, inclusive, pode ser nobre, porém, amanhã, podemos deixar de sentir. É próprio do sentimento não ser duradouro, faz parte de sua essência ser passageiro.

O que é amor?

Se o amor não é paixão, muito menos sentimento, o que ele é afinal? Erich From diz o seguinte: “O amor será essencialmente um ato de vontade, de decisão de entregar minha vida completamente à de outra pessoa. […] Amar alguém não é apenas um sentimento forte: é uma decisão, um julgamento, uma promessa. Se o amor apenas fosse um sentimento, não haveria base para a promessa de amar-se um ao outro para sempre. O sentimento vem e pode ir-se!” (Erich From, A arte de amar, p. 71-72).

O “amor em contraste é a maratona do coração. Exige treinamento, disciplina, paciência e trabalho. Não é um esporte de espectadores nem um evento com o resul­tado decidido em segundos. É escalar montanhas, sofrer dores e resistir à tentação de se desligar. […] Quando o amor é considerado um ato da vontade […], sobrevive enquanto o coração bater. Em outras palavras, embora estar apaixonado, às vezes, leve o casal ao casamento, é o amor que faz o casamento durar. De modo mais específico, o compromisso deliberado e ativo que o amor faz supor está no centro do arrebatamento conjugal”. (Genovesi, 142).
O amor é indispensável para o relacionamento

Sem o verdadeiro conceito de amor podemos ferir muita gente; além do mais, passaremos a vida inteira enganando nós mesmo e os outros. Quantos namoros acabaram, porque faltou amor! Viveram muito tempo junto somente apaixonados, não deram o próximo passo para chegar ao amor maduro e verdadeiro. Muitos casamentos também terminaram por motivos parecidos, pensavam que paixão, sentimento e amor eram a mesma coisa. Por não terem conhecimento, fatalmente o casamento acabou.

Ao tratar-se de um relacionamento, é indispensável o amor, pois ele não existe sem sacrifício. Quem não é capaz de se sacrificar é porque não ama de verdade. Aqui está a necessidade, já no namoro, de ambos abrirem mão de suas vontades em prol do outro, de modo a aprenderem a se sacrificar pelo bem do outro. Quem assim fizer, sem dúvida, terá um casamento feliz e duradouro, porque aprendeu que o verdadeiro amor exige sacrifício.

Elenildo Pereira - Candidato às Ordens Sacras na Comunidade Canção Nova. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP). Bacharelando em Teologia pela Faculdade Dehoniana, 

Por que um irmãozinho?

Por que um irmãozinho?




Tome uma decisão e dê um irmãozinho para seu filho

Onde está a Margarida? Olê, olê,olá (2x)
Ela está em seu castelo, olê, seus cavalheiros (2x)
Mas o muro é muito alto, olê, olê, olá (2x)
Tirando uma pedra não faz falta, olê, olê, olá (2x)
Apareceu a Margarida, olê, seus cavalheiros

Cantiga de roda em música popular, cujo domínio é público. Essa era uma brincadeira do tempo que as meninas usavam saias rodadas, seguravam na barra da saia e iam largando, a cada pedra tirada, até aparecer a Margarida. (Lauria, Nair Spinelli – Quintal… saudade ou utopia?)

Vamos brincar de roda? Onde está a Margarida? Coitada! Dentro do castelo, e ninguém a \pode visitar; afinal, o muro é bem alto, só receberá visita se pedra por pedra dele cair.

Neste momento, eu o convido a derrubar o muro do castelo que protege seu filho único. A sua Margarida está querendo conhecer quem está aqui fora, como são as ruas, as cores das lojas, a natureza. A Margarida, que aqui está representando os filhos únicos, querem conviver, ter com quem brigar e fazer as pazes. Querem ter com quem competir, dividir, brincar de casinha ou trocar os brinquedos e a roupa que veste.

Margaridas, em sua maioria, não nasceram para viver em um castelo. Então, por que não um irmãozinho para o seu filho? Considerando a situação socioeconômica do nosso país, estamos ficando engessados diante dos nossos sonhos, mas será preciso enfrentá-lo, a fim de que não interrompamos os planos de Deus para a humanidade e para nossos filhos que precisam de irmãos. O ambiente escolar não é o suficiente para eles. É necessário a companhia de um irmão em casa. Os pais, para realizar essa função, precisam de mais um filho.

Claro que não estamos determinando situações, mas fazendo uma reflexão crítica do fato que está determinando a criação: MEDO. Medo de não ter um trabalho para criar, medo de não ter uma empregada, de não pagar uma boa escola… medo, medo, medo… Quanto medo! E a função do medo, quando fora da proporção natural, é o de paralisar o que e como pensamos para educar os nossos filhos, impedindo que alcancem bons amigos, experiência com Deus e se tornem profissionais de sucesso com autonomia intelectual e emocional.

Quando só temos um filho, ficamos sem saída e alimentamos a ilusão social de que o teremos para a vida toda; extinguimos o medo de perdê-lo, uma vez que estão tão protegidos. Nós o colocamos o maior tempo possível no castelo e mudamos os nossos papéis, afirmando não ter problema a falta do irmão, porque somos os verdadeiros amigos deles. A ausência do medo de perdê-lo tem feito com que os pais não busquem as melhores estratégias para criá-los. A situação piora com a falta de um irmão. O filho único está sempre sozinho, porque a vida da família continua, como se tivesse deixado em casa um filho em boas companhias. Os pais assumem a posição de defensores, fecham os olhos para suas fragilidades, dificilmente identificam os verdadeiros fatores que têm provocado mudança no comportamento do seu rebento. A ideia sempre é: “Quem conhece o meu filho sou eu!” E, assim, o reizinho vira tirano, sem ter um irmão para oportunizá-lo a ajustar seu comportamento.

Os irmãos brigam, mas quase sempre se amam. Muitas vezes, os pais não prestam atenção nas relações entre eles, como se ainda a figura da mãe ocupasse o lugar central da família. Hoje, que a rotina dos pais começa cedo e termina tarde, o filho único, provavelmente, tem vivido os seus dias em frente à TV, desenvolvendo uma linguagem de meias palavras, ou na casa da vovó – muitos anos mais velha do que ele –, sendo reclamado o tempo todo, por mais que também seja paparicado. E mesmo com essa realidade, os pais querem retornar para casa e ver o filho feliz, contando tudo ( não sei o quê e com quem) o que fizeram durante o dia. Retornam como se estivessem criando seus filhos.

Trata-se de uma realidade dura, mas que exige posicionamento dos adultos diante dos seus desejos. A família contemporânea é um leque de arranjos familiares. Mas não tem por onde correr. Um irmão busca o outro. “Irmãos não se divorciam, não criam novas famílias e têm uma presença mais próxima e constante na vida uns dos outros, especialmente na infância, mas também ao longo da adolescência. Um estudo realizado pela Penn University, nos Estados Unidos, aponta que irmãos passarão 33% da vida juntos.”(Pesquisa: Noelly Russo, irmã de Nilza e Nelson 07.06.2013). A pesquisadora ressalta que:

“São eles quem ensinam, na prática, a dividir, ainda que, às vezes, na marra, objetos e afetos. É com os irmãos que se tem contato com a dinâmica complexa de viver em sociedade, onde é necessário fazer concessões, perseverar, lutar por seus direitos; enfim, conviver. Caso contrário, as consequências podem ser desastrosas. Os irmãos não são escolhidos como os amigos. São as pessoas com quem você divide a casa e os pais sem ter pedido.”

Por que um irmãozinho? Para que você, pai e mãe, não virem os mesmos que salvam e perseguem. Para que vocês, ao ver seu seu filho crescer e deixar o ninho, não assumam a função das velhas vítimas que sempre dizem: “Fiz tudo, dei de tudo e agora estou sozinho. Antes, tivesse outro filho!”. Que a decisão de ter ou não mais um não esteja baseada apenas em questões econômicas.

Que tal, ao terminar de ler este texto, enviar uma mensagem de amor ou perdão para o seu irmão?

Judinara Braz - Administradora de Empresa com Habilitação em Marketing.
Psicóloga especializada em Análise do Comportamento.

O que é o HPV e como se prevenir

O que é o HPV e como se prevenir




A campanha de vacinação contra o HPV trouxe várias dúvidas aos pais

HPV é a sigla em inglês para Papilomavírus Humano, um grupo de vírus com capacidade de infectar pele ou mucosas e provocar mudanças nas células que podem resultar em crescimento ilimitado e transformação maligna. Existem mais de 40 tipos de HPV que podem infectar o trato ano-genital; e eles são formados em grupos de baixo risco (causam lesões benignas – verrugas genitais) e de alto risco (presentes na maioria dos tumores malignos de colo de útero).

Contaminação

Acredita-se, hoje, que 80% das pessoas sexualmente ativas já tiveram contato com HPV. A transmissão é feita pelo contato com a pele ou mucosa infectada, quase exclusivamente pela relação sexual. Mas já se sabe que há a possibilidade de contaminação também por meios não sexuais (toalha, roupa íntima).

A grande maioria das pessoas que são portadoras do vírus não manifestará a doença. Além disso, a infecção, frequentemente, é transitória e se resolverá sozinha. Somente uma pequena parcela chegará a desenvolver o câncer.

Vários fatores ajudam na prevenção do câncer gerado pelo HPV. O exame Papanicolau (preventivo), o fato de não fumar, de fazer a higiene genital adequada, evitar uso de anticoncepcionais, diminuir o número de parceiros e iniciar mais tardiamente a vida sexual (para nós, castidade!).

Gostaria, no entanto, de falar sobre uma questão especial e polêmica: a vacinação das crianças e adolescentes com a Vacina Quadrivalente contra o HPV.

Prevenção contra o câncer

Muitos pais me perguntam se sou a favor ou contra. Eu digo em paz: sou a favor! Mesmo que um casal viva a castidade e a fidelidade no casamento, se um dos dois teve alguma relação sexual antes, há o risco de se contaminar com o vírus. Estamos falando da prevenção contra um câncer, com pouquíssimos efeitos colaterais ou contra-indicações.

Muitos ficam receosos pensando que a vacina pode incentivar a promiscuidade sexual. Eu, realmente, acredito que a castidade é uma decisão interior de alguém que teve sua dignidade restaurada pelo amor de Deus. Não tem como impor nem convencer. É algo que vem de dentro, que se aprende e decide pessoalmente.

Em vez de polemizar a vacina, vamos nos empenhar em mostrar a beleza e a dignidade do sexo, vamos conversar com nossos filhos, orientá-los, dar o exemplo. Vamos construir famílias estáveis, onde eles possam acreditar que o amor é possível e real e que vale a pena se guardar por isso.

A castidade é a vacina mais eficaz

Defendo a castidade como médica, como terapeuta e católica. Eu e meu esposo tivemos a graça de nos casar virgens. Acredito que, na vivência pura e responsável do sexo, está a solução real de grandes problemas da sociedade (como as DSTs /AIDS, a gravidez não planejada, os abortos e o número enorme de divórcios). A castidade é a vacina mais eficaz contra todos esses males.

Por outro lado, precisamos ver a realidade. A imensa maioria dos jovens vive uma vida sexual ativa antes do casamento. Mesmo dentro da Igreja, boa parte deles vive a decisão por Deus depois de já ter passado por um tempo de experiência no mundo.

Com isso, mesmo vivendo a castidade, esse jovem pode ser portador do vírus (não só o HPV, mas diversos outros) e acabar contaminando seu esposo/esposa no futuro. Por isso, defendo a vacinação.

No mais, temos de nos dedicar a espalhar a graça do amor de Deus para que todos entendam a imensa dignidade que tem e possam se decidir a viver o sexo com o respeito, a beleza e a responsabilidade que ele tem. Castidade se aprende em casa, vendo o exemplo de equilíbrio dos pais sendo cultivado na fé.

Roberta Castro - É Ginecologista e especialista em terapia familiar. Coordenadora do Ministério de Música e Artes da Renovação Carismática Católica no Estado do Espírito Santo. Escritora pela editora Canção Nova

O olhar do amigo destrói o mal dentro de nós

O olhar do amigo destrói o mal dentro de nós



Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com 
A presença de um amigo torna o sofrimento suportável, é uma fonte de crescimento e maturação

Todo ser humano, em determinados momentos de sua história, acaba se percebendo frágil e diante de notórias dificuldades. Isso é comum e próprio de qualquer experiência da existência humana. Contudo, também é verdade que, em momentos de ausência e fragilidade algumas específicas presenças podem nos trazer um conforto único e todo especial para o coração.

Nossas dores são agravadas não tanto pela intensidade e frequência com que acontecem, mas sim pela ausência de pessoas que nos amparem e sustentem nesses momentos específicos de sofrimento. Não são tantos os problemas que realizam o ofício de nos destruir, mas sim a ausência de apoio e motivação diante deles, ou seja, a ausência de sadias e confortadoras presenças a nos encorajar diante dos obstáculos apresentados a nós pelas circunstâncias.

Quão bem faz ao coração o olhar e a presença de um amigo diante de um momento de dor! Mesmo que ele nada diga, apenas o olhar de quem nos ama já tem o poder comunicar a força de que necessitamos para a superação. Nesse encontro (amizade), as dores ganham um novo sentido e o vazio é revestido por vida e presença.

Jesus e Seus amigos

Sem dúvida nenhuma, a experiência de interação e da sincera amizade é necessária e recomendável à saúde emocional de qualquer pessoa. O próprio Jesus fez questão de ter amigos e cultivar intensamente Suas amizades, assim revelando a importância dessa realidade.

Em Seus principais momentos junto a nós, tanto nos de alegria como nos de tristeza Cristo teve amigos fiéis ao Seu lado, com os quais pôde repartir o que vivenciava. Pessoas que se tornaram as depositárias de Seus silenciosos e profundos segredos de amor, os quais foram posteriormente a nós revelados por elas.

É preciso descobrir e cultivar a amizade, mesmo diante de desencontros e diferenças, pois essa bela experiência tem a força de nos libertar do egoísmo e nos completar de forma extremamente realizadora e significativa.

O poder da verdadeira amizade

A palavra do amigo descomplica nossas agitações, de forma a desmistificar nossos fantasmas e a revelar a inverdade dos medos e ilusões que insistimos em fabricar. A presença dele torna até o sofrimento suportável e uma fonte de crescimento e maturação. O seu olhar tem o poder destruir o mal em nós, fazendo nascer em nosso coração uma singela esperança.

Quando não temos amigos com os quais partilhar o que somos e experienciamos, tudo acaba se tornando mais confuso e pesado para nós. A verdadeira amizade nos dá possibilidade de termos fardos mais leves quando os partilhamos com pessoas que nos conhecem e com as quais não precisamos constantemente nos justificar.

Precisamos viver sem receio essa rica e profunda experiência. Contudo, não devemos eleger como “amigos” aqueles que, de fato, não o são e que não nos levam para o bem, pois, desse modo, colheremos a decepção e a insatisfação como fruto dessa irrefletida escolha.

É preciso assumir, na própria história, os amigos que, verdadeiramente, são amigos, estabelecendo com eles uma profunda interação, na qual se dá e se recebe, na qual falamos o que sentimos e também somos capazes de escutar. Assim, nossa vida será mais completa e as dores mais fáceis de serem enfrentadas e superadas, pois toda a ausência presente em nosso ser poderá ser perenemente preenchida e acompanhada por olhares que nos compreendem e que escolheram em nós acreditar.

Vivamos sem medo essa linda experiência!

Padre Adriano Zandoná - É missionário da Comunidade Canção Nova. Formado em Filosofia e Teologia, Todas as segundas-feiras, o sacerdote preside a Missa na Catedral Nossa Senhora do Líbano, às 19h30, em São Paulo (SP). 

14 de agosto de 2017

Família, esperança de Deus para o mundo

Família, esperança de Deus para o mundo






Se a família é a esperança de Deus para o mundo, que tal investir tudo nesse relacionamento?

Em uma época de crises em campos como educação, economia e diplomacia, tomar consciência de que existe algo em que vale a pena apostar nossas energias é muito animador, não é mesmo? Mas qual é o segredo para ter um matrimônio feliz?

“Quando alguém me pergunta sobre o segredo do matrimônio, respondo que as estatísticas dizem que é rezar juntos. Sei que parece muito estranho, mas a oração é fundamental; outro ingrediente que indicaria é o sexo”, defende o casal australiano, Ron e Marvis Pirola.

Casados há 55 anos, o casal partilhou seu testemunho durante o Sínodo Extraordinário da Família, realizado em outubro de 2014, no Vaticano. “Devemos admitir que o sacramento do matrimônio é sexual, pois expressamos plenamente nossa espiritualidade no sexo, o qual faz parte do grande dom de Deus para nós. Por isso, considero que faz parte desse segredo”, afirmam os australianos.

Considerada “célula originária da sociedade humana”, a família é a mais antiga instituição. Querida por Deus, foi o berço escolhido por Jesus Cristo para assumir nossa humanidade. Obediente ao Pai, o Filho se encarnou no ventre de Maria por obra do Espírito Santo e cresceu em um lar sob a educação de José, Seu pai adotivo. “Um homem e uma mulher que se casam constituem uma família com os seus filhos”, ensina a Igreja Católica.

Consciente da importância da instituição familiar, o Papa Francisco iniciou, no dia 10 de dezembro de 2014, uma série de catequeses sobre esse tema. “Quando perguntavam à minha mãe qual era seu filho preferido, ela respondia: ‘Eu tenho cinco filhos, como cinco dedos. Se me batem neste, faz-me mal; se me batem neste outro, faz-me mal. Faz-me mal em todos os cinco. Todos são filhos meus, mas todos diferentes como os dedos de uma mão’. E assim é a família! Os filhos são diferentes, mas todos filhos”, disse o Santo Padre ao recordar o lar onde cresceu ao lado de quatro irmãos, na Argentina.

Bergoglio acredita que ser filho segundo o desígnio de Deus significa levar em si a memória e a esperança de um amor que se realizou iluminando a vida de um outro ser humano, original e novo. Para os pais, cada filho é único, diferente e diverso. Tal aprendizado nos proporciona valores que levamos para a vida toda. Se as pessoas se reconhecessem como irmãos, muitas barrerias não existiriam. As relações seriam menos complicadas e a solidariedade teria voz mais ativa diante da necessidade do nosso próximo.

Por que razão não conseguimos olhar, perceber e agir considerando o outro nosso irmão? A experiência fraterna é aprendida na família. Em nossos dias, novos modelos tentam se impôr na tentativa de ditar comportamentos. Tais vínculos são muito frágeis, carentes do equilíbrio próprio que apenas um lar com pai, mãe, irmãos pode oferecer. Se invertermos o título desse texto “Família, esperança de Deus para o mundo”, constatamos que a sociedade presente tem esperança de que a garantia do futuro da humanidade é a instituição familiar.

Nessa busca diária por sermos melhores para com aqueles que vivem mais perto de nós, que são os membros da nossa família, o Papa Francisco, como bom jesuíta, indica-nos o exercício do exame de consciência com as seguintes perguntas: “Hoje sonhei com o futuro dos meus filhos? Sonhei com o amor do meu esposo, da minha esposa, sonhei com meus pais e avós que fizeram a história também? É tão importante sonhar! Primeiro de tudo, sonhar em uma família. Não percam essa capacidade de sonhar”.

Rodrigo Luiz dos Santos - Editor-chefe de Jornalismo da TV Canção Nova e apresentador. Missionário na Canção Nova é casado com Adelita Stoebel e pai de Tobias, estudou Filosofia e formou-se em Jornalismo pela Faculdade Canção Nova.

Dez motivos para as famílias lerem a Exortação Alegria do amor

Dez motivos para as famílias lerem a Exortação Alegria do amor


Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com



O Papa relata todas as situações da família com muito amor e bondade

São muitas as razões para nós católicos lermos essa exortação do Papa Francisco. Eu gostaria de relacionar aqui, ao menos, dez dessas razões. É uma palavra do Santo Padre que enche de esperança os fiéis ante as dificuldades e as diversas situações das famílias e matrimônios. É um texto fácil de ser lido, embora extenso. O Papa conseguiu falar de todas as situações da família com muito amor e bondade, com o olhar de Jesus onde ninguém deve sentir-se condenado nem desprezado.

1. O Papa aborda amplamente as realidades da vida familiar: no primeiro capítulo, ele nos dá um conjunto de citações bíblicas referentes à família; no segundo, faz uma colocação geral sobre a situação; no terceiro, indica a vocação da família; no quarto e quinto, fala do amor conjugal; no sexto, indica as atividades pastorais necessárias para a família; no sétimo capítulo, ele fala da importância da educação dos filhos; e no oitavo, explica sobre a integração dos divorciados recasados, os chamados de “segunda união”.
Ameaças nos dias de hoje

2. Ele mostra que a família está sendo muito ameaçada nos dias de hoje, e fala dessas ameaças com clareza: o divórcio, o casamento de pessoas do mesmo sexo, a adoção de crianças, o aborto, a eutanásia, o suicídio assistido, a pílula abortiva do dia seguinte, o útero de aluguel, as manipulação de embriões, inseminação artificial, controle artificial e exagerado da natalidade, uniões livres com simples coabitação, sexo sem compromisso, ataques feministas à família, ao casamento e maternidade, ideologia de gênero etc.

3. O Papa exorta as famílias a viverem com coragem as dificuldades de cada dia. “Como Maria, (as famílias) são exortadas a viver com coragem e serenidade, os desafios familiares tristes e entusiasmantes, e a guardar e meditar no coração as maravilhas de Deus (cf. Lc 2, 19.51)” (n.30). Ele exorta os casais a nunca acabar o dia “sem fazer as pazes em família”, a dialogar sem rancores, a falar bem reciprocamente, tratando de “mostrar o lado bom do cônjuge para além de suas fraquezas e erros”, a ter confiança no outro sem controlá-lo, deixando “espaços de autonomia”. E convida também para “contemplar” o cônjuge, recordando que “as alegrias mais intensas da vida brotam quando se pode provocar a felicidade dos outros”.

A importância de defender a família

4. O Santo Padre fala da importância de se defender a família e o matrimônio frente às ideologias que os desvalorizam: “Como cristãos, não podemos renunciar a propor o matrimônio, para não contradizer a sensibilidade atual, para estar na moda, ou por sentimentos de inferioridade face ao descalabro moral e humano”. (n.35)

5 – O Papa fala da importância de a família ter uma forte vida espiritual com os meios que a Igreja nos oferece: “A família é chamada a compartilhar a oração diária, a leitura da Palavra de Deus e a comunhão eucarística, para fazer crescer o amor e tornar-se cada vez mais um templo onde habita o Espírito”. (n. 29)

6. Os jovens são uma grande preocupação do Papa em relação à família. Ele disse: “Precisamos encontrar as palavras, as motivações e os testemunhos que nos ajudem a tocar as cordas mais íntimas dos jovens, onde são mais capazes de generosidade, de compromisso, de amor e até mesmo de heroísmo, para convidá-los a aceitar, com entusiasmo e coragem, o desafio de matrimônio” (n. 40). Ele diz aos jovens que devido à “seriedade” do “compromisso público de amor”, o matrimônio “não pode ser uma decisão apressada”, mas também não se deve adiá-la “indefinidamente”, e que desejos, sentimentos, emoções “ocupam um lugar importante no matrimônio”.

7. O Papa mostra que hoje há um perigo dos direitos individuais estarem superando e prejudicando os direitos da família: “Uma família e uma casa são duas realidades que se reclamam mutuamente. Esse exemplo mostra que devemos insistir nos direitos da família, não apenas nos direitos individuais. A família é um bem de que a sociedade não pode prescindir, mas precisa ser protegida” (n. 44). E faz uma defesa contundente da família: “Ninguém pode pensar que o enfraquecimento da família como sociedade natural, fundada no matrimônio, seja algo que beneficia a sociedade. Antes, pelo contrário, prejudica o amadurecimento das pessoas, o cultivo dos valores comunitários e o desenvolvimento ético das cidades e das aldeias”. (n. 52)

O modelo para as famílias

8. A sagrada família de Nazaré é colocada pelo Papa como modelo para as famílias: “A aliança de amor e fidelidade, vivida pela Sagrada Família de Nazaré, ilumina o princípio que dá forma a cada família e a torna capaz de enfrentar melhor as vicissitudes da vida e da história. Sobre esse fundamento cada família, mesmo na sua fragilidade, pode tornar-se uma luz na escuridão do mundo”. (n. 66)

9 . O Papa chama à atenção para a importância do casamento na Igreja: “O sacramento do matrimônio não é uma convenção social, um rito vazio ou o mero sinal externo dum compromisso. O sacramento é um dom para a santificação e a salvação dos esposos, porque “a sua pertença recíproca é a representação real, através do sinal sacramental, da mesma relação de Cristo com a Igreja. Os esposos são, portanto, para a Igreja, a lembrança permanente daquilo que aconteceu na cruz; são um para o outro, e para os filhos, testemunhas da salvação, da qual o sacramento os faz participar”. (n. 72)

10. Enfim, o Papa se preocupa com muitos outros problemas ligados à família, como a queda demográfica, devido “a uma mentalidade antinatalista e promovida pelas políticas mundiais de saúde reprodutiva”, e diz que “a Igreja rejeita, com todas as suas forças, as intervenções coercitivas do Estado em favor da anticoncepção, da esterilização e inclusive do aborto”. Ele condena a “violência verbal, física e sexual, perpetrada contra as mulheres em alguns casais, contradiz a própria natureza da união conjugal”. Condena a “grave mutilação genital da mulher em algumas culturas, mas também a desigualdade de acesso a postos de trabalho dignos e aos lugares onde as decisões são tomadas”. “Condena a instrumentalização e mercantilização do corpo feminino na atual cultura midiática”. Valoriza a atividade sexual do casal dentro do plano de Deus. O próprio Deus “criou a sexualidade, que é um presente maravilhoso para as suas criaturas”. Ele cita que São João Paulo II rejeitou a ideia de que o ensinamento da Igreja implique “uma negação do valor do sexo humano” ou que simplesmente o tolere “pela própria necessidade da procriação”.

Felipe Aquino - Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. 

O significado de cada letra da palavra família


O significado de cada letra da palavra FAMÍLIA



Qual o significado da família? Pare e pense um instante para responder essa pergunta. O valor contido nessa instituição, um ambiente familiar, é imenso, incalculável. Isso nos remete aos nossos ancestrais: pais, avós e bisavós. Graças à união deles, à nossa árvore genealógica, estamos aqui para refletir e ter o coração grato ao nosso passado. Para este olhamos com gratidão; para o presente, com paixão, e contemplamos o futuro com esperança. Atento às necessidades do mundo atual, o Santo Padre acompanhou, com ternura de pai, a realização do Sínodo Ordinário dos Bispos sobre a Família até a sua conclusão. Depois de três semanas de trabalhos, o Papa ouviu atentamente as declarações dos cerca de trezentos participantes.

Com sabedoria e discernimento próprios, o primeiro Papa jesuíta da Igreja Católica apresentou seu discurso de conclusão. A palavra “significado” acompanhou cada parágrafo do documento. As três semanas de trabalho no Vaticano foram o ponto de chegada de um longo caminho percorrido por cristãos do mundo todo. Os debates deram demonstrações da vitalidade da Igreja Católica. Quase despercebido, no rodapé, um detalhe do discurso do Papa Francisco, disponível na internet, chama à atenção. Uma análise em forma de acróstico ajuda a resumir a missão da família na Igreja.

O significado de cada letra da palavra família

O texto original foi escrito em italiano, portanto, as iniciais são da palavra famiglia:

Espaço onde se manifesta o amor divino

Formar as novas gerações para viverem seriamente o amor, não como pretensão individualista, baseada apenas no prazer e no «usa e joga fora», mas para acreditarem novamente no amor autêntico, fecundo e perpétuo, como único caminho para sair de si mesmo, para abrir-se ao outro, sair da solidão e viver a vontade de Deus, para realizar-se plenamente e compreender que o matrimônio é o «espaço onde se manifesta o amor divino, para defender a sacralidade da vida, de toda a vida, e defender a unidade e a indissolubilidade do vínculo conjugal como sinal da graça de Deus e da capacidade que o homem tem de amar seriamente» (Homilia na Missa de Abertura do Sínodo, 4 de Outubro de 2015); enfim, para valorizar os cursos pré-matrimoniais como oportunidade de aprofundar o sentido cristão do sacramento do matrimônio;

Aviar-se ao encontro dos outros, porque uma Igreja fechada em si mesma é morta; uma Igreja que não sai do seu aprisco para procurar, acolher e conduzir todos a Cristo atraiçoa a sua missão e vocação;

Manifestar e estender a misericórdia de Deus às famílias necessitadas, às pessoas abandonadas, aos idosos negligenciados, aos filhos feridos pela separação dos pais, às famílias pobres que lutam para sobreviver, aos pecadores que batem às nossas portas e àqueles que se mantêm longe, aos deficientes e a todos aqueles que se sentem feridos na alma e no corpo e aos casais dilacerados pela dor, doença, morte ou perseguição;

Iluminar as consciências, frequentemente rodeadas por dinâmicas nocivas e subtis, que procuram até se pôr no lugar de Deus Criador. Tais dinâmicas devem ser desmascaradas e combatidas no pleno respeito pela dignidade de cada pessoa; ganhar e reconstruir com humildade a confiança na Igreja, seriamente diminuída por causa da conduta e dos pecados dos seus próprios filhos. Infelizmente, o contratestemunho e os escândalos cometidos dentro da Igreja por alguns clérigos afetaram a sua credibilidade e obscureceram o fulgor da sua mensagem salvífica;

Labutar intensamente por apoiar e incentivar as famílias sãs, as famílias fiéis e numerosas que continuam, não obstante as suas fadigas diárias, a dar um grande testemunho de fidelidade aos ensinamentos da Igreja e aos mandamentos do Senhor; Tirar do coração dos jovens o medo de assumir compromissos definitivos

Idear uma pastoral familiar renovada, que esteja baseada no Evangelho e respeite as diferenças culturais; uma pastoral capaz de transmitir a Boa Nova com linguagem atraente e jubilosa, tirar do coração dos jovens o medo de assumir compromissos definitivos; uma pastoral que preste uma atenção particular aos filhos que são as verdadeiras vítimas das lacerações familiares; uma pastoral inovadora que implemente uma preparação adequada para o sacramento do matrimônio e ponha termo a costumes vigentes, os quais, muitas vezes, preocupam-se mais com a aparência de uma formalidade do que com a educação para um compromisso que dure a vida inteira;

Amar incondicionalmente todas as famílias e, de modo particular, aquelas que atravessam um período de dificuldade. Nenhuma família deve sentir-se sozinha ou excluída do amor e do abraço da Igreja; o verdadeiro escândalo é o medo de amar e manifestar concretamente esse amor.

A Igreja não tem medo de abalar as consciências anestesiadas

O Santo Padre afirma que a Igreja “não tem medo de abalar as consciências anestesiadas ou sujar as mãos com discussões animadas e francas sobre a família”. Os bispos buscaram olhar e ler as realidades com os olhos de Deus, para acender e iluminar com a chama da fé os corações das pessoas numa época marcada por desânimo, crise social, econômica, moral e negativa. Corações fechados também foram observados, bem como tentativas de julgamento, com sinais de superioridade e superficialidade. No entanto, no caminho desse Sínodo prevaleceram livre expressão de opiniões e resultaram em um diálogo rico e animado, “proporcionando a imagem viva de uma Igreja que não usa «impressos prontos», mas que, da fonte inexaurível da sua fé, tira água viva para saciar os corações ressequidos”.

Por Rodrigo Luiz dos Santos (via Canção Nova)

O que fazer quando perdemos a vontade de rezar?

O que fazer quando perdemos a vontade de rezar?


Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com
Perdi a vontade de rezar. E agora?

Há horas em que não sinto a menor vontade de dialogar com algumas pessoas, mas, porque preciso, acabo deixando minha vontade de lado e vou ao encontro delas, converso, trabalho, convivo e sigo em frente. Com Deus não é diferente. Às vezes, envolvo-me tanto com as coisas, que não sinto vontade de falar com Ele, ou seja, de rezar, mas porque sei que preciso e, até mais, dependo da Sua graça, vou ao Seu encontro por meio da oração.

É claro que isso exige empenho e perseverança, porque, na verdade, a vida de oração é um conquista diária; e como nenhuma conquista é isenta de lutas, é preciso lutar para ser orante. Aliás, Santa Teresa de Jesus afirma, em sua autobiografia, que oração e vida cômoda não combinam em nada; ela lembra ainda que uma das maiores vitórias do demônio é convencer alguém de que não é preciso rezar. Ou seja, quando o assunto é vida de oração, é preciso ter consciência de que se trata de um luta espiritual, e para vencer o único caminho é rezar com ou sem vontade. Até porque, como diz o ditado popular, “vontade dá e passa”. Se eu escolho deixar-me guiar apenas pelo meu querer, corro o risco de ser vazia, sem sentido.

Deserto espiritual

Eu sei que, com o passar do tempo e o acúmulo de atividades, corremos o sério risco de, aos poucos, irmos deixando a oração de lado ou rezarmos de qualquer jeito, até chegarmos a um “deserto espiritual” e termos uma certa apatia quando o assunto é oração. Mas é justamente, nesta hora, que precisamos ir além dos sentimentos e considerarmos que o “deserto também é fecundo” quando vivido em Deus, e pela sua misericórdia em nossa vida tudo é graça!

Consolações e desolações, alegria e tristeza, perdas e ganhos, tudo é fruto do amor de Deus, o qual permite vivermos as provas enquanto nos chama a crescermos e frutificarmos em toda e qualquer situação. Portanto, no ponto em que você está agora, volte a fixar sua alma em Deus e permita que Ele lhe devolva a si mesmo, pela força da oração.

Ao absorvermos tanta agitação e estímulos em nossos dias, acabamos perdendo o contato com nossa verdadeira essência, e ficamos tão distraídos e preocupados com tudo o que está acontecendo a nossa volta, que acabamos fragmentados, confusos e inseguros, sem nos lembrarmos de onde viemos, onde estamos e menos ainda para onde vamos. Só Deus pode nos reorientar.

Jesus tinha consciência disso quando disse a Seus discípulos: “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação” (Mateus 26,41); eu diria, principalmente, a tentação de esquecer quem é você e qual é o seu papel neste mundo.

Então, vamos rezar?

Deixo aqui algumas pistas que podem servir para abrir caminho no seu relacionamento com Deus. Quando encontrar sua própria trilha, caminhará livremente e cada vez mais experimentará a alegria, que está na presença d’Ele por meio da oração.

1- Escolha o horário e o tempo que quer dedicar à sua oração e procure ser fiel a esse propósito. Assim como nos alimentamos diariamente, a oração deve ser o alimento diário da alma, aconteça o que acontecer.

2- Fundamente sua oração na Palavra de Deus e na Sua verdade. Fale com Ele com confiança e sem reservas, como quem fala com um amigo. Agindo assim, encontrará a paz e a harmonia interior que tanto procura, pois, como ensina São João da Cruz, “o conhecimento de si mesmo é fruto da intimidade com Deus, e é o meio essencial para a liberdade interior”.

3- Reze com humildade, detendo-se sempre na palavra: “Seja feita a vossa vontade”. Lembre-se de que sua oração não pode ser movida simplesmente por gosto ou exigência, mas, acima de tudo, por gratuidade e confiança na misericórdia de Deus.

4- Pratique o que você rezou e não desvincule suas obras da oração, pois uma coisa tem tudo a ver com a outra. Caridade, perdão, alegria, confiança, fraternidade e paciência são características de quem reza.

5- Tenha seu próprio ritmo de oração. A imitação e a comparação não ajudam em nada. A vida dos santos, por exemplo, são setas que apontam para o céu, mas é você quem deve dar seus próprios passos para chegar até lá. Desejo que em cada amanhecer e também nas “noites escuras” você experimente pela oração o amor e a verdadeira felicidade, uma vez que esta consiste em amar e sentir-se amado. E ninguém nos ama tanto quanto Deus. Se alguma vez você perder a vontade de rezar, já sabe o que deve fazer: reze assim mesmo e seja feliz!

Dijanira Silva - Missionária da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Djanira reside na missão de São Paulo, onde atua nos meios de comunicação. Diariamente, apresenta programas na Rádio América CN. Às terças-feiras, está à frente do programa “De mãos unidas”, que apresenta às 21h30 na TV Canção Nova. É colunista desde 2000.