O veneno da inveja e suas consequências
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com
“Há poucos homens capazes de prestar homenagem ao sucesso de um amigo, sem qualquer inveja.” (Ésquilo)
Não posso garantir que a frase acima seja do autor em questão, mas uma coisa sei: ela carrega consigo a verdade de que muitos se alegram com as dores do outro. Contraditório? Não.
Quando alguém não consegue uma vitória que havia buscado, há uma solidariedade por vezes camuflada. Nem todos se alegram, mas é verdade também que nem todos se compadecem. É mais fácil ser solidário na dor que se alegrar com as conquistas dos amigos. Ver a felicidade alheia causa sintomas que roubam a paz que falta no olhar de quem vê o sorriso da vitória.
Triste ainda é ver a inveja destruir amizades
Um sorriso que não nasce dos nossos próprios lábios sempre é fácil de ser digerido. Bom mesmo é sorrir com nossas conquistas e ver o olhar do outro querendo consumir em prestações a nossa felicidade. Triste realidade de quem vive na dependência do consumismo alheio. Mais triste ainda é ver a inveja destruir amizades.
Cada um é um no projeto singular da existência humana. Se Deus nos fez diamantes, Ele irá, ao longo da vida, lapidar-nos para que sejamos um diamante mais bonito; mas nunca deixaremos de ser um diamante para nos tornarmos topázio. Precisamos aceitar nossas belezas e deixar que o outro seja tão belo quanto ele foi criado. Esse processo leva tempo, requer maturidade e confiança na graça de Deus, pois Ele nos fez únicos para sermos luz no mundo.
A inveja talvez tenha sua raiz na incapacidade que uma pessoa carrega em si de fazer a diferença a partir de suas próprias capacidades. Quando o jardim do outro parece mais bonito do que o nosso próprio jardim, deixamos o cuidado do nosso tempo ao descuido e passamos a vida a contemplar as flores que não nos pertencem; deixamos as nossas morrerem secas pela inveja que não nos permite cuidar de nossa própria vida.
A inveja deixa sim os olhos grandes, mas de incapacidades, que poderiam ter se transformado em lindos jardins. Não é o elogio que faz o outro feliz, mas a capacidade que temos de cuidar de nossa própria vida e deixar o outro seguir seus próprios caminhos. Quem se preocupa demais com a vida alheia é porque já não tem mais tempo de cuidar de suas próprias demandas. Transformou sua vida no mito de Narciso, mas, em vez de contemplar sua própria face, enxerga sempre no lago de seus pensamentos o rosto da felicidade alheia. Perdeu seus olhos em um mundo que nunca será seu. O tempo que se usa vigiando a vida do outro seria muito mais bem aproveitado se cuidasse de suas próprias fragilidades humanas.
Padre Flávio Sobreiro - padre da Arquidiocese de Pouso Alegre (MG).
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