A Palavra de Deus

A Palavra de Deus

DOPAS

DOAÇÃO, ORAÇÃO, POBREZA, ALEGRIA E SIMPLICIDADE

29 de fevereiro de 2016

Pais que amam seus filhos sabem corrigi-los

Pais que amam seus filhos sabem corrigi-los

Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

João Paulo II dizia que a família, santuário da vida, está sendo ameaçada

Estão criando famílias falsas, alternativas, assim como moedas sem valor. Criar uma moeda falsa é crime, porque desvaloriza a verdadeira.

Filhos são frutos de casais, pois Deus disse ao casal: “Crescei e multiplicai”. É uma ordem do Pai, não uma alternativa.

A primeira dimensão do casal é crescer. A mulher tem de crescer por causa do marido, tem de ser mais feliz por causa dele; e o marido precisa crescer por causa da esposa, precisa ser feliz por causa dela. O casamento começa a fracassar quando um não é fermento de crescimento para o outro. Eu tenho a certeza de que, na eternidade, Deus vai dizer a muitas mulheres: “Muito obrigado, porque eu lhe dei um homem difícil, sem fé, mas você mudou a vida desse meu filho, você o fez crescer, entrar para a glória”. O Senhor também vai dizer para muitos homens: “Eu lhe dei uma mulher complicada, mas você a fez crescer”. Essa é a beleza do casamento, ver o outro crescer.

A educação dos filhos se dá pelo amor do casal

Quando um casal se ama de verdade, a educação dos filhos é muito fácil, porque o exemplo transborda para eles. Educamos os filhos pela vida, mas se esse casal vive brigando, se não reza, será difícil educar os pequenos.

Hoje, muitos jovens não querem se casar por causa do exemplo de seus pais. Por isso, não podemos passar para os filhos a imagem negativa do casamento. O matrimônio é obra de Deus. “Não separe o homem o que Deus uniu”, disse Jesus. Por amor aos filhos, temos de viver bem, eles têm de ser motivação para que nós casais superemos as dificuldades.

Qual a melhor forma de corrigir o outro?

Reze pela pessoa antes de apontar um defeito. Aponte primeiro a qualidade, escolha a hora certa para falar, não corrija na frente do outros e corrija com carinho, com palavras doces, não humilhando na frente dos outros. Não desenterre os erros do passado, todos nós os temos.

Às vezes, numa briga, jogamos erros do passado que machucam os outros. Não seja displicente com a pessoa amada. Quando o marido chega, você tem de parar o que está fazendo e recebê-lo. Regue seu casamento. Saiba pedir perdão e perdoe: “Eu errei, não vou mais fazer isso”. Todos nós erramos e temos direito de ser perdoados, mas devemos pedir perdão também. Quando um não quer, dois não brigam. A melhor educação que damos para os filhos é a nossa vida.

Os pais que amam seus filhos os corrigem. Deus deu autoridade aos pais para a correção, pois toda paternidade vem do Senhor, diz o apóstolo. Não é preciso usar de violência nem palavras ofensivas; corrija com amor, senão, mais tarde, você não conseguirá os educar.

Meu pai sempre dizia: ”Não façam nada contra sua consciência, não compensa”. Quando estávamos numa situação difícil, ele dizia: “Sustenta o fogo, a vitória será nossa”. Eu tive um pai maravilhoso!

Como conquistar?

Para que os pais deem ensinamentos aos seus filhos, é preciso que esses os conquistem. Se não conquistá-los, ele não vai ouvi-los. Como conquistar um filho? Fazendo-o ter orgulho de você, um santo orgulho. Dando para ele todo o dinheiro que ele quer? Não! Se assim for, o pobre não vai poder conquistar os filhos. Você não conquista seu filho dando-lhe coisas, mas quando se dá a ele. É claro que podemos dar algumas coisas, dentro do equilíbrio, dentro da condição financeira, mas não é isso que vai conquistá-lo.

Você precisa ter tempo para seu filho, gastar seu tempo com ele, principalmente quando criança até a adolescência. “Ah! Mas tenho as coisas da Igreja”. A Igreja precisa vir em segundo lugar, pois você é pai, não é padre. Deus nos dá o tempo suficiente, não somos padres nem freiras, somos pais e mães, não podemos deixar nossos filhos carentes de pai e mãe. Deus quer que cuidemos de nossos filhos.

Não ter medo da vida

O casamento é uma missão sagrada e uma parte dessa missão é educar os filhos para Deus. Muito mais importante que criar um computador é criar um filho, um ser humano imagem e semelhança de Deus. “O filho é o dom mais excelente do casamento” (CIC). João Paulo II dizia: “Não tenham medo da vida”. Os casais católicos estão com medo da vida, alguns por comodismo, porque filho gasta, dá trabalho… É claro que dá trabalho!

Conquiste seu filho dando-se a ele. Você não vai mimar essa criança, mas dar a ela aquilo que precisa receber: educação religiosa, moral e intelectual. E isso não é só para o filho pequeno.

Quando for preciso chamar atenção de seu filho, reze por ele e o repreenda em um lugar reservado, nunca na frente dos outros. Uma coisa que precisamos aprender é que pai também erra e precisa pedir perdão ao filho. Se você não perder sua autoridade, seu filho vai amá-lo mais.

Antes de levar o seu filho para Deus precisa conquistá-lo

Outra coisa que ajuda a conquistar os filhos é levá-los para Deus, mas não vamos conseguir isso sem antes conquistá-los. Não adianta querer levá-los pelo colarinho, porque eles vão só até os 15 anos e depois abandonam a Igreja. Antes de dizer ao seu filho que Deus o ama, você precisa dizer: “Eu o amo”. Ele vai sentir o amor de Deus pelo amor dos pais.

“A bênção do pai fortalece a casa de seus filhos, a maldição de uma mãe arrasa até os alicerces” (Eclesiástico 3,11). Você precisa abençoar seus filhos.

Felipe Aquino -  Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. 

A maneira de anunciar a Misericórdia e vivê-la

A maneira de anunciar a Misericórdia e vivê-la

Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com
Como viver e anunciar a misericórdia?

“Ao saírem, encontraram um homem de Cirine, de nome Simão. E o requisitaram para que carregasse a cruz de Jesus” (Mt 27,32).

Esses dias, estava meditando sobre a quinta estação da Via-sacra: “Jesus tem a ajuda do cirineu para levar a cruz”. Partilho com você o fruto dessa meditação.

Assim dizia a Beata Madre Teresa de Calcutá: “menos palavras. O lugar onde se prega um sermão não é ainda um ponto de encontro”. “Esforçamo-nos por viver duma maneira concreta o amor de Cristo em cada uma das ações do nosso dia. Se alguma pregação fazemos, consiste em fatos e não em palavras”.

Ao lado de Jesus havia um grupo de pessoas que O acompanhavam, mas ninguém O ajudava a levar a cruz, embora observassem seu cansaço e sofrimento. Mesmo o cirineu. Ele estava passando por ali e foi requisitado para levar a cruz de Jesus. O homem praticamente não fala, é de poucas palavras, mas muita ação. Sabemos que hoje, dificilmente, as pessoas acreditam nas palavras, e se acreditam, é porque veem as ações. As pessoas acreditam mais nas testemunhas do que nas palavras.

A maneira certa de anunciar a Misericórdia é viver o que está escrito na Palavra de Deus: “”Filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com ações e em verdade”” (1Jo 3,18).

Jesus Misericordioso, sabendo da minha e da sua dificuldade, disse a Santa Faustina, no Diário 742, que Ele nos ensinava três formas de anunciar a Misericórdia: a primeira é a ação; a segunda é a palavra; e a terceira é a oração.

Como você está vivendo a Misericórdia? Você tem se disposto a amar ou se encontra ainda nas palavras?

Rezo por você.
Padre Antônio Aguiar

A Palavra de Deus tem força libertadora

A Palavra de Deus tem força libertadora

É possível encontrar na Palavra de Deus a força para a transformação interior

A Palavra de Deus, contida na Bíblia, não é apenas uma descrição da história do povo do passado, ela também não é como um museu sem vida, desarticulada da realidade dos novos tempos. É Palavra inspirada, de iniciativa divina, que falava no Antigo Testamento, mas também tem sua força de atuação no cotidiano da nossa vida moderna. É sempre atual e passível de interpretação.

A Palavra de Deus nos forma na prática da fé

É importante, agora, escutar e dar atenção ao que ela apresenta como itinerário para a vida de cada pessoa. Deve ser lida, conhecida, refletida, meditada, contemplada e colocada na prática do nosso agir. Não podemos buscar, na Bíblia, apenas informações frias, mas nos formar na justiça e na prática da fé.

Muitos leem a Sagrada Escritura somente por curiosidade, sem levar em conta que seu objetivo é de nos reforçar na prática cristã e no discipulado, no encontro com a Pessoa de Jesus Cristo. Portanto, ter intimidade com a Palavra, vendo nela uma força provocadora de ações novas de vida e de transformação da realidade.

A capacidade do ser humano de sempre se revitalizar

A nossa história de vida deve estar constantemente recomeçando. Isso significa que situações melhores na convivência são possíveis de acontecer. Uma luz para isso pode ser encontrada na Palavra Divina, a qual mostra os condicionamentos do ser humano, como também sua capacidade de estar sempre se revitalizando.

Faz-nos conquistar a felicidade duradoura

A Palavra tem em nós uma força libertadora. E, se liberta, deve transformar. Ela nos faz conquistar o que seja melhor, uma felicidade duradoura, que só é capaz passando por enfrentamentos de verdade e justiça. Não pode ser palavra que leve ao intimismo, ao tomar a letra pela letra nem ao fundamentalismo.

Superar os vícios

Viver a Palavra de Deus é anunciar um caminho de libertação, de superação de todos os vícios e práticas que não condizem com o bem das pessoas. É ir ao encontro daqueles que passam por grandes necessitados, tendo como opção de vida os mais pobres e sofredores, aqueles que vivem na espera das migalhas que sobram das mesas fartas de muitos irmãos.
Autor: Dom Paulo Mendes Peixoto, Arcebispo de Uberaba

23 de fevereiro de 2016

O veneno da inveja e suas consequências

O veneno da inveja e suas consequências

Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

“Há poucos homens capazes de prestar homenagem ao sucesso de um amigo, sem qualquer inveja.” (Ésquilo)

Não posso garantir que a frase acima seja do autor em questão, mas uma coisa sei: ela carrega consigo a verdade de que muitos se alegram com as dores do outro. Contraditório? Não.


Quando alguém não consegue uma vitória que havia buscado, há uma solidariedade por vezes camuflada. Nem todos se alegram, mas é verdade também que nem todos se compadecem. É mais fácil ser solidário na dor que se alegrar com as conquistas dos amigos. Ver a felicidade alheia causa sintomas que roubam a paz que falta no olhar de quem vê o sorriso da vitória.

Triste ainda é ver a inveja destruir amizades

Um sorriso que não nasce dos nossos próprios lábios sempre é fácil de ser digerido. Bom mesmo é sorrir com nossas conquistas e ver o olhar do outro querendo consumir em prestações a nossa felicidade. Triste realidade de quem vive na dependência do consumismo alheio. Mais triste ainda é ver a inveja destruir amizades.

Cada um é um no projeto singular da existência humana. Se Deus nos fez diamantes, Ele irá, ao longo da vida, lapidar-nos para que sejamos um diamante mais bonito; mas nunca deixaremos de ser um diamante para nos tornarmos topázio. Precisamos aceitar nossas belezas e deixar que o outro seja tão belo quanto ele foi criado. Esse processo leva tempo, requer maturidade e confiança na graça de Deus, pois Ele nos fez únicos para sermos luz no mundo.

A inveja talvez tenha sua raiz na incapacidade que uma pessoa carrega em si de fazer a diferença a partir de suas próprias capacidades. Quando o jardim do outro parece mais bonito do que o nosso próprio jardim, deixamos o cuidado do nosso tempo ao descuido e passamos a vida a contemplar as flores que não nos pertencem; deixamos as nossas morrerem secas pela inveja que não nos permite cuidar de nossa própria vida.

A inveja deixa sim os olhos grandes, mas de incapacidades, que poderiam ter se transformado em lindos jardins. Não é o elogio que faz o outro feliz, mas a capacidade que temos de cuidar de nossa própria vida e deixar o outro seguir seus próprios caminhos. Quem se preocupa demais com a vida alheia é porque já não tem mais tempo de cuidar de suas próprias demandas. Transformou sua vida no mito de Narciso, mas, em vez de contemplar sua própria face, enxerga sempre no lago de seus pensamentos o rosto da felicidade alheia. Perdeu seus olhos em um mundo que nunca será seu. O tempo que se usa vigiando a vida do outro seria muito mais bem aproveitado se cuidasse de suas próprias fragilidades humanas.
Padre Flávio Sobreiro -  padre da Arquidiocese de Pouso Alegre (MG).

Cultura da solidariedade

Cultura da solidariedade


A cultura da solidariedade é fundamental para a formação da sociedade

Considerar a importância da cultura na formação de processos sociais, políticos, religiosos e cidadãos é determinante, pois o conjunto de valores, princípios e hábitos constituem vetor que pode impulsionar projetos, avanços e possibilidades de conquista. Isso significa que o enfrentamento de crises depende dos elementos culturais que caracterizam grupos diversos – sociais, religiosos entre outros. Assim, é fundamental investir na cultura, desenvolver análises, avaliações e promover correções. Não basta, por exemplo, alcançar o objetivo desafiador de melhorar índices da economia. Para avançar, inclusive no campo econômico, é preciso considerar a força dos valores culturais de um povo, com incidência forte e profunda nos diversos processos.

Nesse sentido, o Brasil e suas regiões precisam de investimentos no tecido cultural. Não se pensa obviamente numa radical mudança, como se diz popularmente, “da água para o vinho”. Porém, pela força da cultura, grandes conquistas podem ser alcançadas. E entre as reformulações culturais necessárias é preciso investir na renovação dos valores que regem o exercício da política na sociedade brasileira. Os parâmetros que muitas vezes norteiam esse âmbito da vida social são considerados equivocados, pois distorcem o correto exercício da política, que é determinante para o bem comum, para o desenvolvimento da sociedade.

Semelhante reflexão, quando aplicada a certas práticas religiosas, também permite enxergar grandes fragilidades, que causam o distanciamento do propósito nobre e edificador na confissão da fé. São lamentáveis e preocupantes as permissividades irracionais na configuração normativa que possibilita a abertura de algumas “igrejas”. Muitas se dizem comprometidas com a prática religiosa, mas, na verdade, priorizam o atendimento de interesses econômicos. Isso revela que o tecido cultural brasileiro produz facilidades ou dificuldades que ferem frontalmente metas importantes e comprometem a seriedade necessária para o desenvolvimento da sociedade.

Se, por um lado, qualificado tecido cultural produz práticas, costumes e posturas cidadãs determinantes no progresso e equilíbrio social, sustenta a nobreza no agir de grupos; por outro lado, um tecido cultural corrompido é base para o nefasto costume de satisfazer-se e aquietar-se com o que está situado nos parâmetros da mediocridade. Para corrigir descompassos, oportuno é ouvir uma indicação preciosa do Papa Francisco sobre a importância de se investir na cultura da solidariedade. Nesse sentido, a solidariedade há de ser entendida como virtude moral e comportamento social.

Para se alcançar ou promover a cultura da solidariedade, é necessário o empenho pessoal de conversão. Consequentemente, cada cidadão, instituição e segmento social precisa assumir, a partir de conduta condizente com os valores dessa cultura, um papel formativo com força de transformação. De modo especial, é importante que as condutas orientadas pelos valores da solidariedade estejam presentes na família, onde primeiramente são experimentados, ensinados e aprendidos os valores do amor e da fraternidade. Eis, pois, um ambiente que deve reunir experiências e dinâmica vivencial que eduquem e configurem um tecido qualificado. A instituição familiar é imprescindível para promover e sustentar novos processos capazes de definir os rumos da sociedade.

Uma nova dinâmica cultural requer a promoção da solidariedade. O enfrentamento das crises pede que cidadãos comuns, agentes culturais, meios de comunicação, famílias e outros segmentos se unam e partilhem a consciência de que a direção fundamental a ser seguida é investir na cultura da solidariedade.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo - Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte

Olhe para frente!

Olhe para frente!

É fundamental olhar para frente e enfrentar os obstáculos da vida

“Por causa dele, perdi tudo e considero tudo como lixo, a fim de ganhar Cristo e ser encontrado unido a ele. E isto, não com a minha justiça que vem da Lei, mas com a justiça que vem pela fé em Cristo, a justiça que vem de Deus, com base na fé. É assim que eu conheço Cristo, a força da sua Ressurreição e a comunhão com os seus sofrimentos, tornando-me semelhante a ele na sua morte, para ver se chego até a Ressurreição dentre os mortos. Não que eu já tenha recebido tudo isso, ou já me tenha tornado perfeito. Mas continuo correndo para alcançá-lo, visto que eu mesmo fui alcançado pelo Cristo Jesus. Irmãos, eu não julgo já tê-lo alcançado. Uma coisa, porém, faço: esquecendo o que fica para trás, lanço-me para o que está à frente. Lanço-me em direção à meta, para conquistar o prêmio que, do alto, Deus me chama a receber, no Cristo Jesus” (Fl 2, 9-14).

Faz parte da vida cristã ter clareza a respeito da meta a ser alcançada, malgrado todos os limites e defeitos que possamos ter. Olhar para frente e enfrentar os obstáculos, reconhecer os erros, saber pedir perdão, na confiança absoluta na misericórdia de Deus e recomeçar sempre, pois quem para já está regredindo.

A experiência do Profeta Isaías (6, 1-8), diante da presença de Deus, é de um homem muito limitado. Sentia-se um homem impuro, vivendo no meio de um povo de lábios impuros. Mesmo assim, viu o Senhor, experimentou Sua forte presença! Logo em seguida, veio a purificação, seguida do chamado: “Um dos serafins voou para mim segurando, com uma tenaz, uma brasa tirada do altar. Com ela tocou meus lábios dizendo: ‘Agora que isto tocou os teus lábios tua culpa está sendo tirada, teu pecado, perdoado.’ Ouvi, então, a voz do Senhor que dizia: ‘A quem enviarei? Quem irá por nós?’ Respondi: ‘Aqui estou! Envia-me'”. Valha especialmente para os mais jovens, em tempo de discernimento do futuro, deixar-se tocar e purificar por Deus. Na diversidade das vocações, brote a resposta generosa.

O apóstolo São Paulo, cujo apostolado abriu tantas frentes para o Evangelho de Jesus Cristo, abria o coração com franqueza: “Eu sou o menor dos apóstolos, nem mereço o nome de apóstolo, pois eu persegui a Igreja de Deus. É pela graça de Deus que sou o que sou” (1 Cor 15, 9-10). Foi alcançado pela graça misericordiosa, experimentou a presença do Ressuscitado, que lhe apareceu, saiu anunciando a grandeza da obra do Senhor em sua vida e na vida de tantos irmãos. Deus lhe concedeu grande lucidez para enxergar com clareza seus muitos limites e pecados, sem perder o rumo! Podemos imaginar sua alegria ao ouvir do Senhor: “Basta-te a minha graça; pois é na fraqueza que a força se realiza plenamente” (2 Cor 12,9).

Pedro, o São Pedro Pescador, teve o rumo de sua vida mudado (Lc 5,1-11). Pescador desconfiado, tem que acolher palpites de Jesus Carpinteiro! “Na tua palavra, lançarei as redes” (Lc 5,5). Àquela altura da vida, teve que passar a pescar gente! O pescador de peixes virou pescador de homens e suas redes se tornaram sinais do grande trabalho da Igreja, pelos mares revoltos da vida, para que entrem nelas todas as espécies de peixes. Ao Senhor, no fim dos tempos, cabe distinguir os peixes bons e os maus. A Pedro, só a labuta, o suor, a alegria das redes cheias, muitas vezes a decepção pelos fracassos, a dedicação total da vida à missão. Sabendo bem de sua história, o espanto que dele se apoderou suscitou uma confissão pública: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador” (Lc 5,8). E a sua história tornou-se história de vocação, para que, dali para a frente, muitos possam avançar para águas mais profundas (Cf. Lc 5, 4) e lançar confiantes suas redes ao mar.

Isaías, Paulo, Pedro, você e eu, tantos homens e mulheres pelo mundo afora, tantos tiveram de chorar amargamente seus próprios pecados, mas experimentaram a face mais bonita do amor, que é a misericórdia! Deixaram para trás as vitórias e os fracassos, olharam para a meta. Continuamente, quando participam da Santa Missa, dizem extasiados: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos exércitos; toda a terra está repleta de sua glória” (Is 6, 3).

Estamos às portas da Quaresma. Olhamos para frente, e a meta tem o nome de Páscoa, Ressurreição do Senhor. No momento, cabe-nos reconhecer com sinceridade as marcas de pecadores que se encontram em nós e em tantos irmãos e irmãs. A Igreja não nos quer amassando barro nas lambanças que os nossos pecados provocaram. Para os próximos dias, a proposta é fazer um pacote, envolvido com os laços de ternura da Mãe Igreja, passar com ele pelas Portas da Misericórdia, abertas neste Ano Santo e entregá-lo com confiança, ungido pelas lágrimas do arrependimento, no Tribunal do Sacramento da Penitência. Neste Tribunal, para quem sinceramente está arrependido, só existe uma sentença: “Eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Dá gosto ver o sorriso de gente que se confessa bem, com abertura de alma e confiança em Deus, que nos ama de verdade!

O resultado deste encontro com Deus é o transbordamento da alegria, com o pedido sincero ao Senhor: “Estendereis o vosso braço em meu auxílio e havereis de me salvar com vossa destra. Completai em mim a obra começada; ó Senhor, vossa bondade é para sempre! Eu vos peço: não deixeis inacabada esta obra que fizeram vossas mãos” (Sl 137/138, 7c-8). O cristão que caminha pelo mundo é portador da força de salvação que o Senhor lhe oferece. Sabe que ainda não alcançou plenamente a meta, mas olha para frente e para o alto, caminha, enche-se de coragem e valentia. Atrás dele e junto dele, seguem-se muitos outros irmãos e irmãs, todos marcados com o selo do Cordeiro Imolado, o Senhor Salvador e Redentor!
Dom Alberto Taveira Corrêa - Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.

A Quaresma vivida como tempo forte da Misericórdia

A Quaresma vivida como tempo forte da Misericórdia

Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com
Que a Quaresma deste ano seja vivida mais intensamente como tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia

O ritmo da vida cristã é marcado pelos tempos litúrgicos, com os quais o mesmo mistério de Cristo, Morto e Resuscitado, se descortina diante dos olhos da fé, sempre rico e fecundo, de modo a alimentar todos os homens e mulheres de fé. Como numa dança sublime, este ritmo é marcado por tempos mais fortes, como acontece agora com a Quaresma que se inicia. Queremos entrar numa quarentena especial e receber o remédio advindo da penitência, revendo corajosamente os rumos de nossa existência. É oportunidade preciosa para refazer as nossas escolhas, tendo como ponto de referência o fato de que Deus nos ama de verdade. A prova é o envio de seu Filho amado, que se abaixou, visitando todas as profundezas do mistério humano, para iluminar-lhes todos os recantos, resgatando os que foram feitos escravos do pecado, a fim de viverem a gloriosa liberdade dos filhos de Deus. “Não percamos este tempo de Quaresma favorável à conversão! Pedimos pela intercessão materna da Virgem Maria, a primeira que, diante da grandeza da misericórdia divina que lhe foi concedida gratuitamente, reconheceu a sua pequenez (Cf. Lc 1, 48), confessando-se a humilde serva do Senhor” (Cf. Lc 1, 38) (Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2016).

Na Bula de proclamação do Jubileu, o Papa fez o convite para que “a Quaresma deste Ano Jubilar seja vivida mais intensamente como tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia de Deus” (Misericordiae Vultus, 17). Com efeito, ensina o Papa, a misericórdia de Deus é um anúncio ao mundo, mas cada cristão é chamado a fazer pessoalmente experiência de tal anúncio. Assim, o primeiro apelo é dirigido a cada pessoa que professa a fé, no sentido de tomar a peito a caminhada quaresmal, abrindo-se ao convite da Igreja, acolhendo as propostas de jejum, mortificação, oração intensa e caridade ativa.

A Quaresma começa na Igreja, na Quarta-feira de Cinzas, quando acorremos ao gesto simbólico e tão forte que é a imposição das cinzas, com o qual queremos dizer que sem Deus nós nos tornamos pó da terra, cinza! Vá à Igreja na Quarta-feira de Cinzas quem quiser fazer o caminho da Quaresma, pois o ponto de chegada será o ressurgir com Cristo na Páscoa, saindo do pó do sepulcro dos pecados, para viver a vida nova, com o Senhor Jesus, no coração da Igreja. “Convertei-vos e crede no Evangelho!” “Lembra-te que és pó e ao pó hás de voltar!” São as palavras fortes e positivamente provocantes que a Igreja nos dirige na abertura da Quaresma.

A Quaresma é vivida com a Bíblia nas mãos e no coração. É tempo privilegiado e textos abundantes e ricos, oferecidos pela Igreja para a nossa edificação. Nossa Arquidiocese oferece os textos do “Retiro Popular”, com roteiros de leitura orante da Palavra de Deus tirada do Evangelho de São Lucas, proclamado na maior parte das celebrações litúrgicas do ano em curso. E se trata do Evangelho da Misericórdia, com narrativas ricas de conteúdo, para nos abrirmos ao amor de Deus, que nos ama de verdade!

Tempo especial de oração

A Quaresma é tempo especial de oração. Uma das manifestações da fé é a capacidade de olhar para o alto e para dentro, para entrar em comunhão profunda com Deus. Oração se faz no silêncio interior do diálogo com Deus. Oração se faz com a liberdade concedida pelo Espírito Santo, que vem em auxílio de nossa fraqueza. Oração se faz com as palavras aprendidas ao colo de nossos pais, assim como muitas preces feitas por pessoas inspiradas, que se tornaram mestres e mestras no relacionamento com o Senhor. Oração se faz, e este é seu ponto mais alto, quando o culto verdadeiro e completo é prestado ao Pai, no Espírito Santo, pelo amor infinito de Cristo, que se oferece por nós na Eucaristia, renovação de seu Sacrifício. A Missa é o cume e a fonte de nossa vida cristã.

Quaresma é tempo especial de caridade. Toca o coração a força com que o Papa Francisco quer fazer de todos nós, nesta Quaresma, homens e mulheres banhados na Misericórdia: “A misericórdia de Deus transforma o coração do homem e faz-lhe experimentar um amor fiel, tornando-o assim, por sua vez, capaz de misericórdia. É um milagre sempre novo que a misericórdia divina possa irradiar-se na vida de cada um de nós, estimulando-nos ao amor do próximo e animando aquilo que a tradição da Igreja chama as obras de misericórdia corporal e espiritual. Estas recordam-nos que a nossa fé se traduz em atos concretos e quotidianos, destinados a ajudar o nosso próximo no corpo e no espírito e sobre os quais havemos de ser julgados: alimentá-lo, visitá-lo, confortá-lo, educá-lo. No pobre, a carne de Cristo torna-se de novo visível como corpo martirizado, chagado, flagelado, desnutrido, em fuga, a fim de ser reconhecido, tocado e assistido cuidadosamente por nós. É o mistério inaudito e escandaloso do prolongamento na história do sofrimento do Cordeiro Inocente, sarça ardente de amor gratuito na presença da qual podemos apenas, como Moisés, tirar as sandálias (Cf. Ex 3, 5); e mais ainda, quando o pobre é o irmão ou a irmã em Cristo que sofre por causa da sua fé” (Mensagem Quaresmal 2016).

Para nós, no Brasil, o convite à Caridade e à Fraternidade assume um rosto desafiador neste ano. Realizaremos a partir da Quarta-feira de Cinzas uma Campanha da Fraternidade Ecumênica, com o tema “Casa comum, nossa responsabilidade”, e o lema bíblico “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Amós 5, 24). Nosso olhar se abre para uma grave necessidade de saneamento básico para nossa população. Sabemos que sua falta é fonte de tantas enfermidades e desconforto para o povo. Tomamos consciência, cada dia mais, do quanto somos igualmente responsáveis pelo nosso ambiente. Para responder a este grave desafio, queremos unir igrejas, diferentes expressões religiosas e pessoas de boa vontade na promoção da justiça e do direito ao saneamento básico. Assim, responderemos com atos e fatos ao apelo do Papa Francisco para o cuidado com a “Casa Comum”, que nos foi dada por Deus.
Dom Alberto Taveira Corrêa - Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.

Por que fazer jejum?

Por que fazer jejum?

A prática do jejum nos ajuda a estarmos prontos para a renúncia

Não existe uma forma menos “sofrida” de adquirir a virtude da temperança? São João Cassiano (370-435) explica por que é necessário que o corpo sofra um pouco. A razão é muito simples: não é possível cometer o pecado da gula sem a cooperação do corpo. E isso é evidente, já que os anjos, por exemplo, não podem pecar por gula, no sentido próprio da palavra. Ora, se é com o corpo que acontece o pecado, o combate à doença da gastrimargia só pode acontecer caso o corpo entre na luta. Por isso, deve-se fazer jejum. Esses dois vícios [a gula e a luxúria], por não se consumarem sem a participação da carne, exigem, além dos remédios espirituais, a prática da abstinência.

Não basta o propósito do espírito

Na verdade, para quebrar os seus grilhões, não basta o propósito do espírito (como acontece em relação à ira, à tristeza e às outras paixões que, sem afligir o corpo, a alma sozinha consegue vencer), mas é imprescindível a mortificação corporal pelos jejuns, as vigílias e os trabalhos que levam à contrição, podendo-se acrescentar também a fuga das ocasiões insidiosas. Sendo tais vícios oriundos da colaboração da alma e do corpo, não poderão ser vencidos sem ambos se empenharem nesse processo. Nós, medíocres que somos, não temos a maturidade necessária para a santidade, por isso não seríamos capazes de nos manter em ordem, naquele equilíbrio que “tempera” a vida, sem o auxílio do jejum. Com o jejum somos capazes de rechaçar as incursões hostis da sensualidade e libertar o espírito para que se eleve a regiões mais altas, onde possa ser saciado com os valores que lhes são próprios. É a imagem cristã do homem quem exige esses voos.

Fazer jejum não é passar fome

Devemos estar prontos para a renúncia e a severidade de um caminho que termina com a instauração da pessoa moral completa, livre e dona de si mesma, porque um dever natural nos impulsiona a ser aquilo que devemos ser por definição. Nunca é demais insistir no fato de que o jejum não nasce de corações ressentidos e que odeiam a vida. A Igreja e seus santos sempre reconheceram a bondade fundamental desta vida e dos alimentos que a sustentam. Um santo não é um faquir, e o ideal ascético cristão nunca foi o de deitar numa cama de pregos ou engolir cacos de vidro. Desde o Novo Testamento, a Igreja sempre condenou o “destempero” dos santarrões e das suas seitas. Jejuar não é simplesmente passar fome. Se assim o fosse, a anorexia das modelos seria virtude heroica e os famélicos da história poderiam ser canonizados. Mas a simples fome não santifica ninguém. Para que dê o seu fruto, o jejum deve ser acompanhado de uma atitude espiritual adequada, pois a doença espiritual que desejamos curar é, seja permitida a redundância, espiritual.

A intenção não é detalhe

O pecado não está no alimento, mas no desejo. São Doroteu de Gaza (século VI) explica isso a partir de uma comparação com o casamento. O ato sexual realizado por um devasso pode ser externamente idêntico ao de um esposo, mas sua natureza é completamente diferente. Nos atos humanos, a intenção não é um mero detalhe.

Assim também é na alimentação. O homem sadio e o homem que sofre de gastrimargia podem comer os mesmos alimentos nas mesmas quantidades, mas somente o doente comete idolatria. Quando, diante dos alimentos, nos esquecemos de Deus e começamos a desejar o nosso próprio bem, mais do que a glória de Deus, geramos uma desordem no nosso próprio ser.
(Trechos extraído do livro “Um olhar que cura – Terapia das doenças espirituais” pag. 64 a 69) de Padre Paulo Ricardo)

11 de fevereiro de 2016

Qual é a verdadeira riqueza da Igreja?

Qual é a verdadeira riqueza da Igreja?


Muito se fala sobre a riqueza da Igreja, sobre o ouro do Vaticano etc. A Igreja, sendo também uma instituição humana, incumbida por Jesus para levar a salvação a todos os homens, precisa evidentemente de um “corpo material”, sem o qual não pode cumprir sua missão em toda a Terra.

A palavra “católica” quer dizer “universal”. Qualquer instituição que esteja em várias nações precisa de meios materiais para manter-se. O Papa é o único chefe de Estado que tem “filhos” em todos os cantos da Terra, falando todas as línguas. São cerca de 180 Núncios Apostólicos no mundo todo. Toda essa estrutura exige, claro, recursos financeiros. No último Concílio, o Vaticano II, Papa João XXIII reuniu cerca de 2600 bispos de todas as nações, no Vaticano, durante três anos. Que chefe de Estado faz isso?

Desde 1870, quando a guerra de unificação da Itália tomou, à força, as terras da Igreja, até o fim da chamada Questão Romana (11/02/1929), os Papas se consideraram prisioneiros no Vaticano por cerca de 60 anos. Esse período foi de relacionamento difícil entre a Igreja e o governo italiano. À força das armas, a Igreja perdeu seu Estado Pontifício, adquirido por doações, desde Pepino o Breve, pai de Carlos Magno, em 1752. De 40 mil km2, o Vaticano ficou reduzido a 0,44 km2.

Apesar de toda a pressão contrária, os Papas desses 60 anos, Pio IX (1846-1878), Leão XIII (1878-1903), São Pio X (1903-1914), Bento XV(1914-1922) e Pio XI (1922-1939) julgaram que não podiam abrir mão da soberania territorial da Igreja em relação às demais nações, com direito a um território próprio, ainda que muito pequeno, a fim de que tivesse condições de cumprir a missão que Cristo lhe deu.

Benito Mussolini, chefe do governo italiano, em 1929, percebeu a grande conveniência política de conciliar a Itália com o Vaticano. As negociações levaram dois anos e meio, terminando com a assinatura do Tratado do Latrão, aos 11/02/1929, que encerrava 60 anos de disputas entre o Vaticano e o governo da Itália.

Cidade do Vaticano

A cidade do Vaticano, geograficamente situada dentro de Roma, é mínima territorialmente. Quando começou a discussão da Questão Romana, muitos diziam que, em caso de restauração da soberania temporal da Igreja, ela deveria ter apenas um Estado do tamanho da República de São Marinho (60,57 Km2); ora, o Estado Pontifício renasceu com apenas 0,44 Km2, tamanho que tem hoje o Vaticano. Esse território é apenas um pequeno corpo, onde a alma da Igreja pode viver.

Os objetos contidos no Museu do Vaticano foram, em grande parte, doados aos Papas por cristãos honestos e fiéis, e pertencem ao patrimônio da humanidade. Pelo Tratado de Latrão, a Igreja não pode vender esses bens, apenas tem usufruto deles. Os Papas não veem motivo para não conservar esse acervo cultural muito importante. Não é a pura venda desses objetos, de muito valor para todos os cristãos, que resolveria o problema da miséria do mundo. Será que a rainha da Inglaterra aceitaria vender o museu de Londres, ou o presidente da França vender o Louvre?

Não há motivo, portanto, para se falar, maldosamente, da “riqueza do Vaticano”. Podemos até dizer que a Igreja foi rica no passado, antes de 1870, mas hoje não.
Qualquer chefe de Estado de qualquer pequeno país tem à sua disposição, no mínimo, um avião. Nem isso o Papa tem.

É inegável que a Igreja cresceu em espiritualidade depois que perdeu o grande poder temporal que o Estado Pontifício antigo lhe dava. Os últimos Papas, a partir de 1870, foram homens santos, que entregaram a vida pela Igreja, sem limites. Pio IX (Beato), Leão XIII, S. Pio X, Bento XV, Pio XI, Pio XII, João XXIII (Beato), Paulo VI, João Paulo I e João Paulo II, foram grandes homens, exemplos para o mundo todo.

O Vaticano tem um órgão encarregado da caridade do Papa, o Cor Unum. Ao fim de cada ano, é publicada, no jornal do Vaticano, o L’Osservatore Romano, a longa lista de doações que o Papa faz a todas as nações do mundo, inclusive ao Brasil, especialmente para vencer as flagelações da seca, da fome, dos terremotos etc. É uma longa lista de doações que o Papa faz com o chamado óbolo de São Pedro, arrecadado dos fiéis católicos do mundo todo.

A caridade é marca da Igreja Católica

A Igreja Católica, nesses dois mil anos, sempre fez e fomentou a caridade. Muitos hospitais, sanatórios, leprosários, asilos, albergues etc., são e foram mantidos pela Igreja em todo o mundo. Quantos santos e santas, freiras e sacerdotes, leigos e leigas, passaram a sua vida fazendo a caridade! Basta lembrar aqui alguns nomes: São Vicente de Paulo, D. Bosco, São Camilo de Lelis, Madre Teresa de Calcutá… a lista é enorme!

Desde quando Roma desabou, no ano 476, diante dos bárbaros, quem salvou a civilização foi a Igreja, com o Papa, os mosteiros, os bispos e as igrejas. Em torno das catedrais, mosteiros e igrejas, surgiram escolas, hospitais, orfanatos, leprosários etc. Os Papas, como Leão XIII, saiam às ruas de Roma, pessoalmente, para atender os pobres e doentes. A Igreja cuidou da caridade social até o século 18, só depois é que surgiram as demais instituições sociais.

Quem como a Igreja Católica? Segundo revelam os dados do último “Anuário Estatístico da Igreja” (2015), publicado pela Agência Fides por ocasião da Jornada Missionária, a Igreja administra 115.352 institutos sanitários, de assistência e beneficência em todo o mundo. Deste número, 5.167 hospitais: parte na América, 1.493, e 1.298 na África; 17.322 dispensários (serviços de saúde), a maioria na África com 5.256; América 5.137 e Ásia 3.760; 648 leprosários distribuídos principalmente na Ásia (322) e África (229); 15.699 casas para idosos, doentes crônicos e deficientes – Europa (8.200) e América (3.815); 10.124 orfanatrófios, principalmente na Ásia (3.980) e América (2.418); 11.596 jardins da infância, a maior parte na América (3.661) e Ásia (3.441); 14.744 consultores matrimoniais, distribuídos no continente americano (5.636) e Europa (6.173); 3.663 centros de educação e reeducação social, além de 36.386 instituições de outros tipos.

Além disso, a grande riqueza da Igreja são seus santos. São Papas, mártires, virgens, doutores, profetas, patriarcas, monges e remitas. A sua liturgia, os sacramentos e o Cristo que nos espera no sacrário e na confissão, na sua Palavra e na sua moral cheia de amor.

Felipe Aquino -  Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. 

Dúvidas frequentes sobre a menopausa

Dúvidas frequentes sobre a menopausa

Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com
Como viver essa fase da melhor forma possível

Continuamos nossa série de artigos sobre a menopausa e achamos importante responder algumas das dúvidas mais frequentes sobre o tema.


1) A reposição hormonal é obrigatória?

Não. Hoje em dia, entendemos que a terapia hormonal (TH) deve ser prescrita quando a paciente tem sintomas incômodos de menopausa ou quando precisa prevenir doenças (osteoporose). Deve tomar hormônio somente quem tem necessidade dele. Todo remédio tem efeitos colaterais e riscos, e assim também acontece com a TH, apesar de todos os benefícios que ela traz. A paciente deve manter a terapia até o momento em que for necessário. Se, sem remédio, não apresentar mais sintomas, já pode interromper o tratamento. Lembrando que tudo isso deve ser feito com a orientação do médico de confiança. Interromper um tratamento sem indicação de um especialista pode trazer muitos danos, inclusive a volta do problema com sintomas ainda mais fortes.

2) A terapia de reposição hormonal deixa a pele e o cabelo mais bonitos?

Sim. Uma das consequências da falta de hormônio é a desidratação (pele e cabelos) e envelhecimento de todos os tecidos. Com a terapia hormonal, as pacientes sentem uma melhora da pele, dos cabelos, da disposição, da musculatura. Mas, por causa dos riscos, a estética não deve ser o único motivo para a indicação.

3) A reposição hormonal ajuda a ganhar peso?

Algumas pacientes relatam edema (inchaço) ao usar TH, e isso reflete na balança. Porém, na menopausa há uma tendência natural ao ganho de peso e uma distribuição diferente (mais acúmulo no abdome). Na verdade, mantendo a mesma alimentação e o mesmo gasto calórico (exercício físico), há o aumento de um quilo por ano durante a menopausa, SEM o uso de hormônio. Por isso é preciso sempre cuidar da saúde e da alimentação.

4) A reposição hormonal afeta o sistema cardiovascular?

Estudos têm mostrado que tudo depende do momento em que se inicia a terapia. Quando se começa logo no início da menopausa (até os primeiros cinco anos), não há aumento do risco cardíaco, e os efeitos colaterais são muito mais suaves. Porém, se for iniciado muito tempo depois de a menopausa estar estabelecida, realmente pode colaborar para o aumento do risco de infarto. Por isso, nesses casos, geralmente só usamos hormônios vaginais locais, que não tem efeito no resto do corpo.

5) Qual a relação entre a data da primeira menstruação e da última?

Apesar de muita gente achar isso, não há relação. Para estimar a idade provável da menopausa é mais importante a história familiar e genética.

6) Quem teve câncer de mama pode fazer reposição hormonal?

Não. A terapia hormonal parece não estimular o nascimento de um câncer. Porém, alguns tipos de câncer de mama se “alimentam” de hormônio, por isso podem ter um crescimento um pouco mais rápido em pacientes que fazem TH. Todas as mulheres devem ir ao ginecologista anualmente. Mas, para quem usa hormônio, esse acompanhamento é indispensável. Com os exames e a mamografia, tem-se a oportunidade de diagnóstico precoce, caso necessário.

Mesmo com essas explicações, acho muito importante cada mulher ter um relacionamento de confiança com seu ginecologista. Vá ao seu médico, tire suas dúvidas e use os recursos disponíveis para viver essa fase da melhor forma possível!

Roberta Castro -  é Ginecologista e especialista em terapia familiar. Coordenadora do Ministério de Música e Artes da Renovação Carismática Católica no Estado do Espírito Santo.


Para viver bem a quaresma

Para viver bem a quaresma

Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com
É preciso ganhar tempo, aproveitá-lo, antecipar-se, não perdê-lo! Estas são expressões que falamos com extrema frequência.

O tempo da Quaresma é o tempo da criança, dos sonhos dos adolescentes com a vida, dos anciãos, carregado de memórias. Tempo medido e contado, ou tempo a ser desfrutado, ou, quem sabe, desperdiçado. Tempo simbólico, quarenta anos ou quarenta dias, vinte e cinco ou cinquenta anos, aniversários e jubileus, como o Jubileu da Misericórdia, o qual estamos celebrando!

Fomos feitos por Deus e mergulhados no tempo, não apenas naquele estudado pela física ou marcado pelo relógio, mas no tempo presente, dado por Ele, carregado de sentido porque se torna história da nossa salvação.

A sabedoria milenar na Igreja construiu, pouco a pouco, o que se chama”Ano litúrgico”, com o qual, a partir da morte e ressurreição, seu”mistério pascal”, os cristãos percorrem os eventos da vida do Senhor nesta terra, para O reconhecerem sempre presente (Mt 28,20), até Sua vinda gloriosa no final dos tempos.

Acolher as graças oferecidas por Deus

A pedagogia da Igreja nos faz reencontrar os mesmos acontecimentos salvíficos, mas nos espera crescidos e mais maduros, capazes de acolher melhor as graças de cada época do ano. Todas as suas etapas são “tempo oportuno”. Atualiza-se o apelo do Apóstolo São Paulo”Como colaboradores de Cristo, nós vos exortamos a não receberdes em vão a graça de Deus, pois ele diz: “No momento favorável, eu te ouvi, no dia da salvação, eu te socorri”. E agora o momento favorável, é agora o dia da salvação (2Cor 6,1-2).

A que se dedicar na quaresma

Quarenta dias dedicados à oração, à fraternidade e ao jejum! Todas as pessoas que fazem uma experiencia”religiosa”, mesmo em outras vertentes, até não cristãs, descobrem a necessidade de um relacionamento com Deus, um novo trato com o próximo e as exigências de equilíbrio das forças de sua própria natureza. Observa-se que muitas delas fazem dietas ou jejuns muito mais estritos e exigentes do que a Igreja propõe para a Quaresma, por motivos espirituais, estéticos ou por prescrições médicas. E que não faz mal a ninguém orar, amar o próximo e educar a própria vontade.

O que fazer para viver bem a quaresma

Entretanto, a Igreja celebra a Quaresma com um olhar mais amplo e profundo. Como os cristãos assim se chamam por terem recebido no Batismo a vida nova nascida do próprio Cristo morto e ressuscitado, celebram, cada semana, no domingo, a Sua Páscoa e a comemoram anualmente, preparados pela Quaresma, renovando, como num aniversário de Batismo, a fé professada e sua renúncia ao pecado e ao Demônio.

A Quaresma tem os olhos voltados para a Vigília Pascal. A vela acesa no Círio Pascal, para a renovação das promessas feitas, será um dos grandes símbolos da vida em Cristo. O mesmo Cristo, as mesmas celebrações, mas um tempo novo!

Que durante a Quaresma chegue a todos o convite da Igreja a intensificarem o tempo de oração. Comecemos pela participação na Missa Dominical, preparada de preferência, em família. Propomos ainda a retomada de bonito costume: a ida da família à igreja, com todos os seus membros, escolhendo um horário que dê certo para todos, marcando presença na Missa paroquial e acolhendo os dons de Deus que são oferecidos em abundância. Depois a oração pessoal, especialmente com a Bíblia, descobrindo a riqueza da chamada leitura orante da Palavra de Deus.

Dom Alberto Taveira Corrêa -  Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.

9 de fevereiro de 2016

O método de Deus

O método de Deus

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O método de Deus é contrário ao dos homens

Jesus nasceu em Belém. “Tu, Belém de Éfrata, pequenina entre as aldeias de
Judá, de ti é que sairá para mim aquele que há de ser o governante de Israel. Sua origem é antiga, de épocas remotas. Por isso Deus os abandonará até o momento em que der à luz aquela que deve dar à luz. Então o resto de seus irmãos voltará para os filhos de Israel. Ele se levantará para apascentar com a força do Senhor, com o esplendor do nome do Senhor seu Deus. E estarão bem seguros, porque agora ele é grande até os limites do país, e ele próprio será a paz” (Mq 5, 1-14).

Quem já foi a Belém de Judá ou a outros lugares como Nazaré, onde viveu Jesus, sabe que aqueles lugares eram muito pequenos, desconhecidos pelo mundo. E Deus quis fazer-se carne naquela terra. Depois de tantas histórias e enfeites, pelos séculos afora, não é fácil imaginar a pequenez daqueles lugares, um “nada”.

Naquele momento, existia apenas uma criança numa gruta, nada mais impotente do que isso, como era impotente João Batista, último dos profetas, um homem vestido em farrapos e cinto de corda, que alguns anos depois anunciou a presença do Messias misericordioso, Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (Cf. Jo 1,29.36). Muito antes, era um nada, um pastor das estepes da Ásia, Abraão, de onde tudo começou. Ninguém teria apostado que a história mudaria desse modo, mas Deus sabia! 

Seu método é diferente!

Corramos depressa para dezembro de 2015. A incerteza avança em todas as partes, começando de nossa terra, pela violência que se espalha, alcançando nosso país em crise, a corrupção que envergonha a todos nós, para chegar a este mundo ferido, onde se pergunta a respeito dos melhores modos para reagir a ataques, migração forçada, uma verdadeira “guerra mundial em pedaços”, da qual fala o Papa Francisco, e uma humanidade sedenta de paz e misericórdia!

Parece que não vale nada olhar para uma criança, mas foi assim que Deus começou a mudar o mundo. O Papa nos leva a olhar para a impotência do Presépio, a aparente fraqueza do Evangelho, a pequenez onipotente do Altar da Eucaristia. Deus se esvaziou, e neste aparente sinal de fraqueza que é Cristo, o Rosto da Misericórdia, está a onipotência d’Ele. O Senhor muda tudo quando seu filho se faz homem, e quer mudar o mundo com as pessoas que ele, aos poucos, assume junto de si, pela história afora.

Qual é o método de Deus?

Este é o método de Deus, capaz de mudar o mundo, passando pela única estrada possível, o coração humano. Qualquer conquista de espaços, poder ou influência se revela estéril. Deus quer tocar, com a sua misericórdia, o coração das pessoas, o nosso coração. Nada mais! E nós queremos celebrar o Natal, neste ano que é especial, um Ano Santo da Misericórdia, um Jubileu. As trombetas da Igreja saem pelas ruas proclamando que é tempo de perdão e reconciliação, tempo de obras de misericórdia. “Talvez, demasiado tempo, tenhamo-nos esquecido de apontar e viver o caminho da misericórdia.
Por um lado, a tentação de pretender sempre, e só a justiça fez esquecer que este é apenas o primeiro passo, necessário e indispensável, mas a Igreja precisa ir mais além, a fim de alcançar uma meta mais alta e significativa. Por outro lado, é triste ver como a experiência do perdão na nossa cultura vai rareando cada vez mais. Em certos momentos, até a própria palavra parece desaparecer. Todavia, sem o testemunho do perdão, resta apenas uma vida infecunda e estéril, como se se vivesse num deserto
desolador. Chegou de novo, para a Igreja, o tempo de assumir o anúncio jubiloso do perdão. É o tempo de regresso ao essencial, para cuidar das fraquezas e dificuldades dos nossos irmãos. O perdão é uma força que ressuscita para nova vida e infunde a coragem para olhar o futuro com esperança” (Misericordiae vultus, 10). Pedir perdão, oferecer perdão, dar o perdão, este é o método de Deus.

A Palavra do Senhor, hoje anunciada, envolve-nos no mistério celebrado e no turbilhão maravilhoso da misericórdia. O oráculo do Profeta Isaías é proclamado numa situação dramática. A pessoas sem esperança o profeta anuncia: “O povo que andava na escuridão viu uma grande luz” (Is 9,1). Voltando-se para Deus, afirma confiante: “Fizeste crescer a alegria e aumentaste a felicidade” (Is 9,2). O que nos permite, ontem e hoje, passar da escuridão à luz e da tristeza para a alegria? O profeta diz que o jugo acabará, mas anuncia a chegada daquele que é “Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da Paz” (Is 9,5). E ele é um menino! Como é possível? “O amor zeloso do Senhor dos exércitos há de realizar estas coisas” (Is 9,6). Ele e só ele pode dar vida a uma sociedade em que reine a justiça, a paz e a alegria, e que dá a todos a coragem para viver. Esse é o método de Deus!

São Paulo, explicando o sentido da vinda de Jesus entre nós, vem com palavras cheias de esperança: “A graça de Deus se manifestou, trazendo salvação para todos os homens” (Tt 2,11). O Salvador, que nos foi dado, não é só uma criança nascida numa manjedoura, mas o sorriso Misericordioso de Deus para todos, porque ele não perde a esperança em nenhum ser humano. Ele veio para nos ensinar o caminho do bem, “a abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade” (Tt 2,12). “Ele se entregou por nós” (Tt 2,14), falando-nos do Pai, chamando-nos amigos e morrendo na Cruz por nós, para nos libertar de todo tipo de escravidão e reconduzir ao Pai à humanidade reconciliada. Esse é o método de Deus! E a Boa Nova nos foi proclamada no Evangelho. Ouvimos com alegria, mais uma vez, a narrativa do acontecimento do Natal. Presto minha homenagem a tantas crianças que hoje, tendo crescido em sua compreensão das Escrituras, acolhem com fé o anúncio do nascimento de Jesus. E o Evangelho logo nos conduz a acompanhar a notícia evangelizadora levada aos pastores, primeiras testemunhas do acontecimento da salvação. Acompanhando-os e participando de sua alegria, nós os vemos correndo até ab gruta de Belém, para depois anunciar aos outros o acontecido. O que encontraram? A alegria anunciada, a pobreza da aventura humana de Jesus, um “recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2,12). Poucos pastores, representantes de gente pobre e humilde, reconhecem o Messias. Este é o sinal divino e extraordinário do início de um tempo novo. Este é o método de Deus!

Quando receberam o anúncio dos anjos, os pastores pronunciaram palavras que se tornaram um convite: “Vamos a Belém, para ver o que aconteceu, segundo o Senhor nos comunicou” (Lc 2,15). Um outro lugar, Belém do Pará e não Belém de Judá, também em torno de uma manjedoura, Forte do Presépio, tornou-se espaço onde Deus quis nascer e quer nascer de novo. Com todas as nossas dificuldades, desafios e problemas, vamos de novo a Belém para ver o que aconteceu. Vamos à Belém de nossas raízes cristãs católicas. Busquemos a Belém de nossa primeira comunhão, das festas religiosas, Belém do Círio, Belém do povo calejado pelo calor, rostos molhados de chuva e suor,
olhares de água barrenta e florestas verdejantes. Esta é a nossa terra e aqui Deus quis plantar Sua habitação. Vamos a Belém com o coração pulsante de misericórdia com todos os homens e mulheres que clamam pela vinda de Jesus. Acolhamos o método de Deus agir, o jeito de Jesus pequeno e menino. Presépio, Bíblia e Altar são as nossas armas!

Quatrocentos anos de fundação de uma cidade nascida no Presépio. O dever de oferecer a Belém um jeito diferente de viver é agora assumido por nós. Com a graça especial do Natal, iniciaremos o ano do Quarto Centenário aqui, na Casa do Pão, na Eucaristia celebrada. Estamos para concluir o Ano Eucarístico, com o qual nossa Arquidiocese se preparou para o Congresso que se aproxima. De fato, o ponto alto dos quatrocentos anos será transformar Belém, Casa do Pão, na Capital Eucarística do
Brasil, durante o XVII Congresso Eucarístico Nacional, de 15 a 21 de agosto de 2016.
Eucaristia e misericórdia são as duas grandes riquezas a serem oferecidas, o método de
Deus para mudar o mundo

Dom Alberto Taveira Corrêa - Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.

A obesidade está ligada diretamente a fatores emocionais?

A obesidade está ligada diretamente a fatores emocionais?

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Uma gama de fatores que variam entre os indivíduos contribui para o desenvolvimento da obesidade

O que é obesidade? Uma doença? Falta de controle alimentar? Sua origem vem de fatores internos (orgânicos) ou externos (meio)?

São muitas as indagações que podemos fazer a respeito da obesidade, mas a quem realmente devemos atribuir o ônus dela?

A palavra vem do latim obesus (“ob” muito; “edere” comer), uma definição de aumento da quantidade de gordura corporal ou do tecido adiposo. Segundo o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5º edição), “a obesidade (excesso de gordura corporal) resulta do excesso prolongado de ingestão energética em relação ao gasto energético. Uma gama de fatores genéticos, fisiológicos, comportamentais e ambientais, que variam entre os indivíduos, contribui para o desenvolvimento da obesidade; dessa forma, ela não é considerada um transtorno mental. Entretanto, existem associações robustas entre obesidade e uma série de transtornos mentais (p. ex., transtorno de compulsão alimentar, transtornos depressivo e bipolar e esquizofrenia).”

Quais são os fatores que influenciam na obesidade?

O controle de ingestão de alimentos e o peso possuem complicadores devido às diversas influências: hereditárias e ambientais/culturais. No âmbito hereditário, existem síndromes genéticas que tiveram suas associações com a obesidade, assim como as alterações no campo do hipotálamo. Não entraremos no detalhe genético no momento, pois sabemos que a prevalência da obesidade está no fator externo, ambiental/cultural, e é nele que entramos no momento.

A comida e o afeto combinam-se desde o primeiro momento em que a mãe alimenta seu filho. O alimento não serve apenas para suprir as necessidades biológicas, mas também como resposta às tensões emocionais. O bebê depende integralmente de sua mãe, seja para que ela troque sua fralda, cuide de suas dores, faça-o dormir e alimente-o. Nessa dependência, o bebê já aprende que, quando ele chora, logo sua mãe o pega nos braços e, por muitas vezes, oferece-lhe o leite materno. Essa necessidade manifestada pelo choro nem sempre é fome, pode ser só um desejo de estar com a mãe; mas como sua única via de se comunicar é por meio do choro, a mãe pode não compreender que a necessidade dessa criança seja apenas afetiva e não nutricional, e a criança acaba associando o ato de comer ao colo da mãe, pois não há nada melhor que o colinho dela.

O ato de ser amamentado não só é rico em afeto, como também o ato de sugar oferece prazer para o bebê. É possível ver a reprodução desse estímulo no ato de chupar a chupeta ou o próprio dedinho, meios que não oferecem nenhum tipo de alimento, mas têm o mesmo movimento que sugar o peito da mãe. Percebam o quanto o ato de comer está ligado ao afeto.

Comer em excesso pode ser um mecanismo de defesa

Se, no entanto, o ato de comer é um comportamento aprendido desde bebê (a criança nasce com o instinto para comer, mas são seus cuidadores que a ensinaram a se alimentar), o ser humano pode associar o ato de alimentar-se à solução de suas necessidades emocionais, como aprendido no início de sua vida. Com isso, o comer em excesso poderia ser um mecanismo de defesa para aplacar essa angústia ou para enfrentar sentimentos de inadequação pessoal.

Formas de amenizar a angústia

O comportamento alimentar inadequado seria uma reação emocional “desajustada”, uma forma que o indivíduo encontra de minimizar suas angústias. Se ele descarrega suas angústias e tensões no alimento, será um forte candidato a desenvolver um quadro de obesidade, seja em grau leve como sobrepeso, seja em grau mais avançado como obesidade mórbida.

Aliado ao quadro emocional estão as reações neuroquímicas provocadas pelo alimento em nosso organismo, pois há vários alimentos que oferecem estímulos para melhorar nosso ânimo, prazer, bem estar e bom humor. O neurotransmissor mais comum e mais falado é a serotonina, pois a ausência dela pode manifestar carência de emoção, irritabilidade, sentimento de menos valia, choro e inúmeras alterações emocionais. Por isso, quando comemos um brigadeiro, um chocolate ou alimentos ricos em carboidratos, temos uma sensação de bem-estar.

Excessos na alimentação

Não é possível esconder-se atrás de uma forma alimentar, muito menos tornar-se escravo de um comportamento impulsivo ou compulsivo, em que não se consegue obter controle sobre o que se come. Podemos comer de tudo, porém, de forma equilibrada, sem excessos. Se você percebe alguns excessos em sua alimentação, já tentou várias formas de emagrecer e não conseguiu, avalie suas emoções e procure um psicólogo para ajudá-lo a encontrar o ponto de equilíbrio entre elas e a alimentação.
Aline Rodrigues - é psicóloga há 10 anos, pós-graduada em Psicanálise Aplicada à Saúde Mental é missionária do segundo elo da Comunidade Canção Nova.

Como se manter longe do vício

Como se manter longe do vício


Uma vez erguido, é preciso manter-se em pé

Estamos agora no quinto estágio da abordagem motivacional, em que a pessoa busca manter-se na ação realizada, tentando afastar-se do uso abusivo e nocivo da substância psicoativa. Trata-se da etapa de manutenção. A comprovação da efetividade, nessa fase, é a sua estabilidade, sendo que o desejável é que nela o indivíduo permaneça por anos. No entanto, diferente do que a maioria das pessoas imagina, essa não é uma etapa estática. Ao contrário, é dinâmica, pois precisa de tempo para seu estabelecimento e exige um constante movimento do dependente e daqueles que o cercam para auxiliá-lo a não retomar o caminho anterior de uso da droga.

Aqueles que desejam ajudar, sobretudo os membros da família, devem manter os ganhos do tratamento, estimulando sempre o novo comportamento. Para isso, é possível lançar mão de uma prática estratégia de apoio.

Ela consiste em:
-resistir à tentação;
-buscar e integrar-se em algum grupo;
-reconhecer e administrar as recompensas.

No consultório, para ilustrar de modo claro e simples esse estágio do processo de mudança, trago a figura de uma bicicleta. Uma vez em movimento, é preciso que o ciclista mantenha-se em equilíbrio para que ele não caia nem se machuque. Para isso, é essencial que a bicicleta não pare, pois isso fatalmente levaria o seu condutor à queda. Nesse caminho, pode haver distrações que tentem o condutor a parar. Para isso, é bom que haja interação com outros ciclistas que seguem na mesma direção. Por fim, concluo a comparação lembrando o quanto é importante sentir o vento, a sensação de liberdade e de prazer no ato de pedalar, aproveitando bem as recompensas dessa prática saudável.

Essa fase do tratamento exige maturidade para entender que é preciso, mais do nunca, vigiar, pois se manter no caminho iniciado exige da pessoa um constante e renovado compromisso para, assim, evitar a recaída. Como em uma dança, é hora de “manter o ritmo” para não tropeçar, desequilibrar-se e cair. A atenção aos passos agora é fundamental, pois a música segue e o dançar da vida continua.

“Assim, quem crê estar firme, tenha cuidado para não cair” (1 Coríntios 10,12)

Érika Vilela - Mineira de Montes Claros (MG), é fundadora e moderadora geral da comunidade ‘Filhos de Maria’. Cursou Medicina pelas Faculdades Unidas do Norte de Minas e, atualmente, faz especialização em Psiquiatria pelo Centro Brasileiro de Pós-graduações.


6 de fevereiro de 2016

Quaresma: Concentre-se na sua conversão

Estamos iniciando o tempo da Quaresma, e por isso nada melhor do que este tempo para ajudar – nos em nosso caminho de conversão pessoal para Deus.

O tempo da Quaresma é sempre marcado como um tempo forte para a meditação da Palavra de Deus, Oração e Jejum. É o tempo em que a igreja reforça a necessidade de uma renovação espiritual em cada um de nós!

O belo deste tempo, é que também o Senhor faz com que por meio de todas estas práticas de oração e penitência, aconteça um desvincular – se do pecado e do Mal. Com isso nos enchemos de Deus e nos esvaziamos de nós mesmos e ainda quebramos muitas vezes o círculo vicioso que o pecado criou dentro de nós, dentro dos nossos corações…

Na Quarta Feira de Cinzas, na oração da Missa de Cinzas, a igreja reza assim:

“ Concedei-nos ó Deus todo poderoso, iniciar com este dia de jejum o tempo da Quaresma para que a penitência nos fortaleça contra o espírito do Mal.”

Portanto este caminho da Quaresma se torna também um caminho de combate espiritual, de luta contra a tentação e contra o tentador; e nos impulsiona a sermos cada vez mais Livres de todo o Mal!

Não percamos tempo, mas sim entremos de cheio neste tempo de conversão pessoal e de preparação para a Páscoa do Senhor.

Aqui ficam algumas dicas para que possamos viver bem este tempo:

– Façamos uma boa revisão de vida: Rever como tem sido os nossos passos, rever o que temos escolhido em nosso caminho, refletirmos por quais brechas temos permitido que a tentação se instale em nosso interior: seja pelo orgulho, pela soberba, vaidade, arrogância, mentira, pornografia, ira, preguiça… Não tenhamos medo de nos colocarmos frente à nossa verdade, e a partir desta verdade encontrada termos o propósito de mudarmos de atitude pela graça do Senhor, mas também pelo nosso esforço pessoal!

– Façamos uma boa confissão: A confissão é o meio mais eficaz para nos livrarmos de todo o pecado, e como nos ensina o Padre Gabriele Amorth: “A confissão é mais eficaz que qualquer exorcismo.” 

– Como tradição, a igreja nos convida ao sacrifício e a penitência: Podemos fazer a escolha de vivermos também sobre a prática de alguma penitência ou mortificação neste tempo. Penitência esta que nos ajudará a nos desvincularmos dos apetites de nossa carne. Essa mortificação e penitência pode ser: Abster – se de carne, de doces em geral, de chocolate, deixar a bebida, o cigarro, deixar de ver novelas, abster – se de alguns passeios, de refrigerante; de hábitos que temos e que nos fazem constantemente cair no pecado, enfim, aquilo que o Senhor lhe inspirar ao coração, mas tudo isso com a intenção de fortalecer o espirito e vencer as fraquezas da carne.

– Práticas que nos ajudarão viver este tempo: A via Sacra rezada e meditada; Oração e Meditação da Palavra de Deus, o Silêncio como meio de encontro com Deus; a Esmola; o Jejum as Quartas e Sextas Feiras…

– Sempre que possível o Santo Sacrifício do Senhor que é a Santa Missa, mas ao menos no Domingo temos como cristãos a obrigação não é meu povo?!

Aqui são somente algumas sugestões para poder lhes ajudar neste tempo da Quaresma. Mas que o Senhor te ilumine neste tempo Sagrado em que entramos e lhe possa fazer viver intensamente este tempo.

“A graça de Deus opera se o homem coopera…”, façamos então a nossa parte e creiamos que Deus é sempre Fiel e fará aquilo que Lhe cabe.

Gostei muito da expressão que ouvi e que para mim se resume o tempo Quaresmal: A Quaresma é um tempo de nos concentrarmos em nossa conversão!

Deus abençoe você e seus propósitos!

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Danilo Gesualdo, é membro da Comunidade Canção Nova e atua junto ao Ministério de Cura e Libertação, residindo em nossa sede em Cachoeira Paulista.


Como perceber a chegada da menopausa?

Como perceber a chegada da menopausa?

Foto: i Stock by getty images
É importante para a mulher saber identificar os sinais que apontam a chegada da menopausa

Este é um assunto um pouco assustador para a maioria das mulheres: a menopausa! Período onde os ovários não produzem mais hormônios suficientes para continuar o ciclo menstrual, caracterizando a infertilidade. A mulher para de menstruar e, após um ano sem sangramento, diz-se que ocorreu a menopausa, iniciando o período chamado climatério.

Muito mais que algo simplesmente físico, a menopausa representa um degrau dentro das fases naturais do ciclo da vida: o envelhecimento. Claro que, nos dias de hoje, mulheres com 40-55 anos estão no auge da vida, conciliando maturidade com experiência e estabilidade, cheias de novos planos e sonhos. Tratamentos de beleza, cirurgias plásticas e horas de academia podem garantir uma aparência jovial, disfarçando as marcas que o tempo foi causando. Mas a verdade mesmo é que lidar com isso pode ser bastante difícil. Medo, incerteza, perda do autocontrole, mudanças nos relacionamentos e alterações físicas. Algumas pessoas sentem muita dificuldade em aceitar que estão envelhecendo.

Sintomas comuns

Na prática, essa fase exige que muitas mulheres tenham de lidar com diversos sintomas, que mais parecem ser uma nova adolescência. Calores estranhos, alteração de hormônios, mudança do corpo, queda de cabelo, secura de pele, ganho de peso, humor (super) instável, falta de desejo sexual… Parece uma montanha russa de sentimentos e sensações (os maridos que o digam!). Os sintomas podem começar a aparecer mesmo quando a menstruação ainda está normal. Eles podem ser aliviados pela terapia hormonal, quando não existem contraindicações. A idade esperada para a menopausa varia de 35 a 60 anos (maioria entre 45-50 anos), e não depende de quando se começou a menstruar. Algumas podem ter a sorte de ter como único sinal a parada do sangramento. A maioria, porém, passa por um período de grande irregularidade, alternando entre falhas e menstruações fortes (até hemorragias graves) por um a dois anos.

Mais um terço de vida depois da menopausa

Depois de tantas notícias ruins, posso ter causado certo desânimo. Mas quero convidá-la a olhar a menopausa com outros olhos. Com o aumento da expectativa de vida atual, a mulher chega a esta fase tendo pelo menos um terço da vida pela frente. Nos primeiros 20 anos, tínhamos energia, mas éramos imaturas e sem independência. Dos 20 aos 40-50 anos, estávamos construindo nossa estrutura (estudo, trabalho, dinheiro, criação dos filhos…). A partir daí, a mulher se encontra, provavelmente, na melhor fase de sua vida. Relacionamentos estabelecidos, obrigações mais maleáveis, estrutura construída, maturidade emocional, independência. Precisamos olhar essa passagem da menopausa como um novo começo para uma etapa melhor. Envelhecer é difícil sim, em especial se não temos a consciência de que essa vida terrena é passageira e rápida, e que o melhor ainda está por vir. Mas quando conseguimos ver a beleza de cada etapa, tudo ganha sentido, tudo valeu a pena.

Quanto mais caminhamos, mais podemos constatar o bem que fizemos e o legado que deixamos. Podemos nos alegrar com os frutos que já podemos colher. E, no fim, entender que essa vida é só um tempo de amar e ser amado, de sonhar com o céu e se empenhar no que realmente importa: chegar lá!
Roberta Castro - é Ginecologista e especialista em terapia familiar. Coordenadora do Ministério de Música e Artes da Renovação Carismática Católica no Estado do Espírito Santo.