Depressão infantil: conheça as principais causas
Tenho notado meu filho mais triste, sozinho, com mau humor, aborrecendo-se frequentemente, hipersensível, chorando facilmente, sentindo-se inútil e com ideias de perseguição. Em alguns momentos, ele sente desejo de sair de casa e pensa até em suicídio. O que é isso?
Pode ser que seu filho esteja desenvolvendo um quadro de depressão ou tal transtorno já esteja instalado, pois os sintomas descritos acima são de depressão. Porém, há outros sintomas que exigem atenção: comportamento agressivo, alteração no sono, mudanças no rendimento escolar, socialização diminuída, mudança de atitude na escola, queixas somáticas, perda da energia habitual e mudanças no apetite são sintomas secundários de depressão infantil.
Os sinais mais sutis se encontram nas reações físicas, principalmente em crianças menores, como queixa de dor no estômago, dor de cabeça ou outras dores físicas infundadas, gerando ausências em sala de aula por alguns minutos e até mesmo faltas devido às queixas.
A depressão está inserida na classificação diagnóstica como um transtorno do humor que abrange fatores não só emocionais, mas também comportamentais, cognitivos, sociais, fisiológicos e até mesmo religiosos. Nem sempre a depressão vem isolada, ela também pode estar associada a outros quadros de desajustes emocionais, variando sua manifestação de pessoa para pessoa.
Pensamentos pessimistas
Nas crianças, é comum que a depressão as leve a desenvolver pensamentos pessimistas, acreditando que “tudo o que puder dar errado dará” por culpa dela. Outro comportamento comum das crianças é a distração. Elas parecem estar vagando em seus pensamentos internos, o que altera diretamente a atenção e a concentração, interferindo em seu rendimento escolar. Em um conceito amplo, podemos dizer que a depressão é uma distorção cognitiva de como a criança passa a ver o mundo, como se ela colocasse um óculos de lentes preta e passasse a ver o mundo dessa forma, sem cor, sem vida e sem sentido.
Transtorno atual
A depressão infantil é um transtorno atual, por isso não há estudos aprofundados, mas sim uma iniciação científica, visto que se trata de algo novo que vem crescendo dia após dia.
Creio que muitos podem se perguntar no momento: O que levaria uma criança a desenvolver o quadro depressivo? Acredito que a evolução tecnológica, a fragilidade dos vínculos interpessoais e até mesmo a dificuldade dos pais de lidar com os filhos e com o mundo têm sido os fatores que mais contribuem para esse transtorno. O mundo tem se tornado agressivo para as crianças, e muitas podem nem mesmo querer crescer, o que gera outro desajuste emocional, ao qual chamamos de síndrome de Peter Pan. As crianças têm medo de enfrentar o mundo, pois este tem se tornado cada vez mais difícil.
Os adultos são a janela do mundo
As exigências, o mercado de trabalho, as realizações, a relação com o poder e a necessidade de tê-lo, geram adultos ansiosos, estressados, frágeis e depressivos, e é assim que as crianças acabam visualizando a vida, pois os adultos são a janela do mundo para as crianças. É o adulto quem apresenta a elas as relações e o mundo. Mas como fazer essa apresentação se o próprio adulto se “esconde” dentro de sua casa? Antes de questionar as crianças e conduzi-las a tratamentos, não seria mais interessante verificar as relações familiares e sociais em que elas estão inseridas? Será que esses adultos, responsáveis, provedores e educadores estão verdadeiramente saudáveis ou ainda não são capazes de reconhecer seus medos e limites?
Se sou exigente, perfeccionista, impetuoso, agressivo, competitivo, dinâmico e ativo no mercado de trabalho, como tenho lidado com meu filho em casa? Exijo dele da mesma forma? Provavelmente sim! E assim torno-me criador de uma criatura que pode não dar conta de sofrer frustrações, de compreender as limitações dos outros, que não aprende a perdoar nem a suportar o mundo, desejando não viver nele e se fechando numa realidade em preto e branco.
Aline Rodrigues - é missionária do segundo elo da Comunidade Canção Nova.
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