A Palavra de Deus

A Palavra de Deus

DOPAS

DOAÇÃO, ORAÇÃO, POBREZA, ALEGRIA E SIMPLICIDADE

31 de março de 2015

Por que ler a Bíblia?


Por que ler a Bíblia?

É preciso ler todos os livros da Bíblia, entendendo que tudo converge para Jesus

A Bíblia é palavra inspirada, é Deus que se revela aos homens; em contrapartida, é necessária a fé de quem a lê. É preciso a adesão da fé para que essa palavra produza frutos na vida de quem se debruça sobre a Palavra de Deus e acredita na ação divina. E para que esta fé exista é preciso contar com o auxílio do Espírito Santo que nos direciona a Deus e nos dá o entendimento necessário para aceitar e crer na Revelação.

Já nos ensinou São Jerônimo: “Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo”. Não podemos ignorar Jesus. Temos de contar com o Espírito Santo, que nos conduz na leitura da Sagrada Escritura e nos põe no caminho do Cristo. Ler e acreditar na Sagrada Escritura é caminhar com o Senhor, é ouvir o Seu convite: “Vem e segue-me!”

Daí a importância de lermos a De Verbum Sagrada Escritura, em especial os Evangelhos. Toda a Bíblia é Revelação de Deus. O Antigo Testamento e o Novo Testamento possuem a mesma importância, mas os Evangelhos têm um lugar de excelência, pois ali se encontra a vida de Jesus e todos os outros livros se convergem para o centro que é o Cristo.

Orienta-nos a Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina: Ninguém ignora que entre todas as Escrituras, mesmo do Novo Testamento, os Evangelhos têm o primeiro lugar, enquanto são o principal testemunho da vida e doutrina do Verbo encarnado, nosso salvador.

É preciso ler todos os livros da Bíblia, entendendo que tudo converge para Jesus. E quando lemos os quatro Evangelhos não é diferente. É importante ler estes livros para percebermos vários aspectos da vida de Jesus. Os quatro Evangelhos se completam. Cada um possui suas características próprias e vistos em conjunto nos ajudam a conhecer e seguir Jesus.

O Evangelho segundo São Marcos, por exemplo, quer nos apresentar a pessoa de Jesus. Precisamos conhecê-Lo, pois decidimos segui-Lo. Com o Evangelho de São Mateus, considerado o mais catequético dos quatro, aprendemos ensinamentos de Jesus, pois só é possível segui-Lo se soubermos como escolher o Seu caminho nas situações da vida. O Evangelista São Lucas nos apresenta a universalidade da mensagem de Cristo. É para todos! E somos chamados a anunciar essa mensagem a todos. E, por fim, o Evangelho segundo São João, que possui uma literatura mais simbólica, pois nos propõe a fé nos mistérios de Jesus, que é Deus.

Conhecer Jesus, saber Seus ensinamentos, levar a mensagem de salvação aos outros e experimentar fé nos mistérios divinos, eis alguns dos motivos pelos quais devemos ler e estudar os Evangelhos. Além disso, nos permitir compreender que Jesus é o centro da Sagrada Escritura, e assim ler cada um dos outros livros da Bíblia com suas características próprias e relacionando-os com os demais [livros bíblicos], é um bom caminho para aceitar o convite da Igreja de que nos debrucemos gostosamente sobre o texto sagrado (Dei Verbum), ou seja, sintamos seu sabor, seu gosto na nossa vida.
Denis Duarte - Especialista em Bíblia e Cientista da Religião. Professor da Faculdade Canção Nova e do Instituto de Teologia Bento XVI.

Sintomas de uma aridez espiritual


Sintomas de uma aridez espiritual

Há momentos na vida que tudo está perfeitamente bom; outros apresentam-se nebulosos

Quando menos esperamos, as tempestades chegam. O vento forte parece arrancar-nos da segurança que antes havíamos experimentado, mas basta uma linda manhã com céu azul para percebermos que a tempestade se foi e deixou atrás de si um grande trabalho de reconstrução.

Nossa vida espiritual passa por esse mesmo processo. Há momentos em que conseguimos fazer uma linda experiência com o amor de Deus. Oramos e sentimos a presença d’Ele ao nosso lado em muitos momentos de nossa caminhada espiritual. Contudo, há tempos em nossa vida de oração que o Senhor parece estar longe de nossa presença.

No campo da espiritualidade, chamamos esses momentos de “aridez espiritual”.Caminhamos sob o sol escaldante da incerteza e buscamos um Oásis que nos sacie com a Água da Vida, e assim nos devolva a certeza de antes, a qual havíamos perdido.

Nossa vida espiritual e de oração não são estáveis; ao contrário, são instáveis. Poderíamos compará-las a um gráfico com altos e baixos. Há momentos em que tudo está perfeito e sentimos Deus com todo o nosso ser. Em outras ocasiões, não conseguimos percebê-Lo ao nosso lado.

Quando muitas pessoas entram no processo de enfrentar, na vida de fé, um deserto espiritual, desesperam-se. Não conseguem compreender que a vida de oração é um caminhar constante. Somos eternos peregrinos em busca de Deus.

Olhando sob outra perspectiva, os desertos espirituais são importantes para nossa vida de oração. Se os nossos momentos de oração fossem estáveis, correríamos o risco de nos acostumarmos e entrarmos no comodismo espiritual; e então a monotonia tomaria conta do nosso ser. Mas quando surge, na vida, um momento de aridez, tomamos consciência de que as dificuldades são necessárias para o nosso crescimento humano e espiritual. E assim somos obrigados a nos desinstalar e sair em peregrinação em busca d’Aquele que pode saciar todas as nossas mais profundas sedes.

Quem enfrenta uma aridez espiritual terá de caminhar em busca do oásis, no qual se encontra o próprio Deus. Encontrando-O, redescobriremos a alegria do encontro. No entanto, há muitas pessoas que desanimam na travessia dos desertos espirituais da vida e estacionam no meio da caminhada. Uma vez estacionadas, perdem o ânimo e não conseguem chegar à Fonte da Vida. Perdem-se em si mesmas e em seus próprios medos.

Na vida de oração, não fazemos a experiência de Deus somente nos momentos bons. O Senhor também se mostra presente quando não sentimos Sua presença conosco. Na travessia do deserto, é o próprio Deus quem caminha ao nosso lado, segurando nossa mão e dizendo ao nosso coração: “Não tenha medo, pois eu estou com você. Não precisa olhar com desconfiança, pois eu sou o seu Deus. Eu fortaleço você, eu o ajudo e o sustento com minha direita vitoriosa” (Is 41,10).
Padre Flávio Sobreiro - Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP. Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre – MG. Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Carmo (Cambuí-MG).

A espiritualidade da Quinta-feira Santa


A espiritualidade da Quinta-feira Santa

Aqui começa o Tríduo Pascal, a preparação para a grande celebração da Páscoa, a vitória de Jesus Cristo sobre a morte, o pecado, o sofrimento e o inferno

Este é o dia em que a Igreja celebra a instituição dos grandes sacramentos da ordem e da Eucaristia. Jesus é o grande e eterno Sacerdote, mas quis precisar de ministros sagrados, retirados do meio do povo, para levar ao mundo a salvação que Ele conquistou com a Sua Morte e Ressurreição.

Jesus desejou ardentemente celebrar aquela hora: “Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa antes de sofrer.” (Lc 22,15).

Na celebração da Páscoa, após instituir o sacramento da Eucaristia, ele disse aos discípulos: “Fazei isto em memória de Mim”. Com essas palavras, Ele instituiu o sacerdócio cristão:“Pegando o cálice, deu graças e disse: Tomai este cálice e distribuí-o entre vós. Tomou em seguida o pão e depois de ter dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim.” (cf. Lc 22,17-19)

Na noite em que foi traído, mais Ele nos amou, pois bebeu o cálice da Paixão até a última e amarga gota. São João disse que “antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo ao Pai, como amasse os seus que estavam no mundo, até o extremo os amou.” (Jo 13,1)

Depois que Jesus passou por toda a terrível Paixão e Morte de Cruz, ninguém mais tem o direito de duvidar do amor de Deus por cada pessoa.

Aos mesmos discípulos ele vai dizer, depois, no Domingo da Ressurreição: “Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20,23). Estava, assim, instituída também a sagrada confissão, o sacramento da penitência; o perdão dos pecados dos homens que Ele tinha acabado de conquistar com o Seu Sangue.

Na noite da Ceia Pascal, o Senhor lavou os pés dos discípulos, fez esse gesto marcante, que era realizado pelos servos, para mostrar que, no Seu Reino, “o último será o primeiro”, e que o cristão deve ter como meta servir e não ser servido. Quem não vive para servir não serve para viver; quem não vive para servir não é feliz, porque a autêntica felicidade o tempo não apaga, as crises não destroem e o vento não leva; ela nasce do serviço ao outro, desinteressadamente.

Nessa mesma noite, Jesus fez várias promessas importantíssimas à Igreja que instituiu sobre Pedro e os apóstolos. Prometeu-lhes o Espírito Santo, e a garantia de que ela seria guiada por Ele a “toda a verdade”. Sem isso, a Igreja não poderia guardar intacto o “depósito da fé”, que São Paulo chamou de “sã doutrina”. Sem a assistência permanente do Espírito Santo, desde Pentecostes, ela não poderia ter chegado até hoje e não poderia cumprir sua missão de levar a salvação a todos os homens de todas as nações.

”E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece, mas vós o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós.” (Jo 14, 16-17).

Que promessa maravilhosa! O Espírito da Verdade permanecerá convosco e em vós. Como pode alguém ter a coragem de dizer que, um dia, a Igreja errou o caminho? Seria preciso que o Espírito da Verdade a tivesse abandonado.

”Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito.” (Jo 14, 25-26)

Na Última Ceia, o Senhor deixou à Igreja essa grande promessa: O Espírito Santo “ensinar-vos-á todas as coisas”. É por isso que São Paulo disse a Timóteo que “a Igreja é a coluna e o fundamento da verdade” (1Tm 3, 15). Quem desafiar a verdade de doutrina e de fé, ensinada pela Igreja, vai escorregar pelas trevas do erro.

E, na mesma Santa Ceia, o Senhor lhes diz: “Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade…” (Jo 16, 12-13)

Jesus sabia que aqueles homens simples não tinham condições de compreender toda a teologia cristã; mas lhes assegura que o Paráclito lhes ensinaria tudo, ao longo do tempo, até os nossos dias de hoje. E o Sagrado Magistério dirigido pelo Papa continua assistido pelo Espírito de Jesus.

São essas promessas, feitas à Igreja na Santa Ceia, que dão a ela a estabilidade e a infalibilidade em matéria de fé e costumes. Portanto, não só o Senhor instituiu os sacramentos da Eucaristia e da ordem, na Santa Ceia, mas colocou as bases para a firmeza permanente da Sua Igreja. Assim, Ele concluiu a obra que o Pai Lhe confiou, antes de consumar Sua missão na cruz.
Felipe Aquino - Viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”

Esta é a grande semana


Esta é a grande semana

A Semana é Santa e é grande por causa do mistério de Cristo

“A Sagrada Escritura, confirmada pela experiência dos séculos, ensina à família humana que o progresso, grande bem para o homem, traz também consigo uma enorme tentação. De fato, quando a hierarquia de valores é alterada e o bem e o mal se misturam, os indivíduos e os grupos consideram somente seus próprios interesses e não o dos outros.


Por esse motivo, o mundo deixa de ser o lugar da verdadeira fraternidade, enquanto o aumento do poder da humanidade ameaça destruir o próprio gênero humano. Se alguém pergunta como pode ser vencida essa miserável situação, os cristãos afirmam que todas as atividades humanas, quotidianamente postas em perigo pelo orgulho do homem e o amor desordenado de si mesmo, precisam ser purificadas e levadas à perfeição por meio da cruz e ressurreição de Cristo. Redimido por Cristo e tornado nova criatura no Espírito Santo, o homem pode e deve amar as coisas criadas pelo próprio Deus. Com efeito, recebe-as de Deus; olha-as e respeita-as como dons vindos das mãos de Deus” (Gaudium et Spes 37).

O acontecimento primordial da fé cristã é o Mistério Pascal de Jesus Cristo, em sua Morte e Ressurreição. Acreditamos com toda a força de nossa alma que a vida humana encontra sentido justamente em Cristo. Nele todas as esperanças podem se realizar e todos os esforços pelo bem e pela verdade chegam a porto seguro. Quando professamos a fé, temos a certeza de que Jesus Cristo é caminho, Verdade e Vida para todos. Cabe-nos respeitar as pessoas que têm outras convicções religiosas e existenciais, mas não nos é lícito omitir-nos na proclamação da verdade da fé.

Em torno da Ressurreição de Cristo, toda a prática religiosa cristã se organizou, no correr dos séculos. O dia dos dias é o domingo, pois Jesus venceu a morte, o pecado e a dor no primeiro dia da semana. Assim, para os cristãos esta realidade supera os ciclos naturais, ainda que dias, noites, meses e anos sejam vividos por nós junto com as outras pessoas. Vivemos entre dois polos de tensão, “dependurados” na certeza da Ressurreição e na volta do Senhor, no fim dos tempos, quando Deus for tudo em todos. Por isso a Igreja clama com confiança: “Anunciamos, Senhor, a vossa Morte, proclamamos a vossa Ressurreição! Vinde, Senhor Jesus!”

Do Domingo veio a semana cristã, dele se ampliaram os horizontes celebrativos, para que o mistério de Cristo se faça sempre presente e atual. Do dia da Ressurreição veio a Páscoa anual, celebrada com toda solenidade. Os mistérios da vida de Cristo vieram, pouco a pouco, a ser comemorados, sempre com a Santa Missa, presença e renovação do Sacrifício do Calvário, tudo marcado pela abundante proclamação da Palavra de Deus. As pessoas que escolheram seguir Jesus Cristo e o fizeram com radicalidade, que nós chamamos de santos e santas, são recordadas no dia de sua Páscoa pessoal na morte, o que levou a Igreja a celebrar, também com a Santa Missa, seus exemplos e sua intercessão orante pelos que caminham rumo à pátria definitiva.

Nosso calendário é chamado “litúrgico” porque se organiza em torno do único mistério, Jesus Cristo, nosso Salvador, que morreu e ressuscitou para nos salvar. A cada ano, retornamos apenas às mesmas celebrações, mas nos encontramos crescidos e mais amadurecidos na fé, para testemunhá-la mais ainda.

Este deve ser o programa de vida do cristão. Entende-se assim porque nossas famílias incutiram em nós o gosto pelas celebrações da Igreja. Batismo, Primeira Comunhão, Crisma, Matrimônio marcam este ritmo, a que se acrescentam as devoções das famílias, ou as festas de padroeiros, Círios, Coroações, Novenas, Procissões. Parecemos agradavelmente teimosos, sem permitir que outras realidades nos engulam de vez! Olho assim para a realidade amazônica, mas quero ver mais longe, por saber que em todos os quadrantes há cristãos assim dispostos a manter viva, não só a fé, mas também uma sadia influência na cultura do tempo em que vivemos.

Entretanto, nosso calendário católico oferece ao mundo uma semana especial, e estamos às suas portas, chamada santa por causa do Senhor que se faz presente com intensidade, suscitando a conversão aos valores do Evangelho. Chegue a todos o convite da Igreja Católica para a grande missão chamada Semana Santa!

Esta semana é grande porque a Palavra de Deus é oferecida com abundância. A Semana é Santa e é grande por causa do mistério de Cristo celebrado na Liturgia a partir do Domingo de Ramos, para chegar ao Tríduo Pascal, de Quinta-feira Santa, ao cair da tarde, até Domingo de Páscoa, tendo seu ponto mais alto na Vigília Pascal na Noite Santa.

Não dá para sermos espectadores, pois tudo o que acontece é em vista de nossa vida cristã e de nossa salvação. Quando foi publicado o cartaz da Campanha da Fraternidade de 2015, a figura do Papa Francisco realizando o lava-pés na Semana Santa deixou uma forte impressão em todo o país. O rito não tem nada de teatral, nem mesmo de gestos do passado. É extremamente atual e provocante! E a Sexta-feira Santa traz consigo o chamado ao seguimento de Jesus, para conduzir-nos depois à Páscoa, celebrada em seu coração, da Vigília Pascal para o Domingo.

E que dizer dos grandes sermões pronunciados na Semana Santa? Em nossa Belém, o Sermão das Três Horas da Agonia, com as Sete Palavras de Jesus na Cruz, na Sexta-feira Santa, abre ouvidos e corações a cada ano. Pelas ruas, a Via-Sacra, o Sermão do Encontro, o descendimento da Cruz, tudo se torna anúncio, resposta de fé e vida nova para todos. Além das celebrações litúrgicas e dos grande sermões, os acontecimentos pascais são também encenados com capricho por uma infinidade de grupos. A Paixão de Cristo é o episódio da história da humanidade mais representada em peças teatrais. Quanta gente já encontrou emoção e conversão assistindo nas praças públicas estes espetáculos.

Permaneça em nós, na grande Semana, o apelo de Santo Atanásio, que vale como convite: “É muito belo passar de uma para outra festa, de uma oração para outra, de uma solenidade para outra solenidade. Aproxima-se o tempo que nos traz um novo início e o anúncio da santa Páscoa, na qual o Senhor foi imolado. O Deus que desde o princípio instituiu esta festa para nós, concede-nos a graça de celebrá-la cada ano. Ele que, para nossa salvação, entregou à morte seu próprio Filho, pelo mesmo motivo nos proporciona esta santa solenidade que não tem igual no decurso do ano. Esta festa nos sustenta no meio das aflições. Por ela Deus nos concede a alegria da salvação e nos faz amigos uns dos outros. É este um milagre de sua bondade: congrega nesta festa os que estão longe e reúne na unidade da fé os que, porventura, se encontram fisicamente afastados” (Das Cartas pascais de Santo Atanásio, bispo).
Dom Alberto Taveira Corrêa - Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.

A importância do Domingo de Ramos

A importância do Domingo de Ramos


A entrada “solene” de Jesus em Jerusalém foi um prelúdio de Suas dores e humilhações

A Semana Santa começa no Domingo de Ramos, porque celebra a entrada de Jesus em Jerusalém montado em um jumentinho – o símbolo da humildade – e aclamado pelo povo simples, que O aplaudia como “Aquele que vem em nome do Senhor”. Esse povo tinha visto Jesus ressuscitar Lázaro de Betânia havia poucos dias e estava maravilhado. Ele tinha a certeza de que este era o Messias anunciado pelos profetas; mas esse mesmo povo tinha se enganado no tipo de Messias que Cristo era. Pensavam que fosse um Messias político, libertador social que fosse arrancar Israel das garras de Roma e devolver-lhe o apogeu dos tempos de Salomão.

Para deixar claro a este povo que Ele não era um Messias temporal e político, um libertador efêmero, mas o grande Libertador do pecado, a raiz de todos os males, então, o Senhor entra na grande cidade, a Jerusalém dos patriarcas e dos reis sagrados, montado em um jumentinho; expressão da pequenez terrena. Ele não é um Rei deste mundo! Dessa forma, o Domingo de Ramos dá o início à Semana Santa, que mistura os gritos de hosanas com os clamores da Paixão de Cristo. O povo acolheu Jesus abanando seus ramos de oliveiras e palmeiras.

Esses ramos significam a vitória: “Hosana ao Filho de Davi: bendito seja o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel; hosana nas alturas”. Os ramos santos nos fazem lembrar que somos batizados, filhos de Deus, membros de Cristo, participantes da Igreja, defensores da fé católica, especialmente nestes tempos difíceis em que esta é desvalorizada e espezinhada. Os ramos sagrados que levamos para nossas casas, após a Missa, lembram-nos de que estamos unidos a Cristo na mesma luta pela salvação do mundo, a luta árdua contra o pecado, um caminho em direção ao Calvário, mas que chegará à Ressurreição.

O sentido da Procissão de Ramos é mostrar essa peregrinação sobre a terra que cada cristão realiza a caminho da vida eterna com Deus. Ela nos recorda que somos apenas peregrinos neste mundo tão passageiro, tão transitório, que se gasta tão rapidamente. E nos mostra que a nossa pátria não é neste mundo, mas sim na eternidade, que aqui nós vivemos apenas em um rápido exílio em demanda da casa do Pai. A Missa do Domingo de Ramos traz a narrativa de São Lucas sobre a Paixão de Nosso Senhor Jesus: Sua angústia mortal no Horto das Oliveiras, o Sangue vertido com o suor, o beijo traiçoeiro de Judas, a prisão, os maus-tratos causados pelas mãos do soldados na casa de Anãs, Caifás; Seu julgamento iníquo diante de Pilatos, depois, diante de Herodes, Sua condenação, o povo a vociferar “crucifica-o, crucifica-o”; as bofetadas, as humilhações, o caminho percorrido até o Calvário, a ajuda do Cirineu, o consolo das santas mulheres, o terrível madeiro da cruz, Seu diálogo com o bom ladrão, Sua morte e sepultura.

A entrada “solene” de Jesus em Jerusalém foi um prelúdio de Suas dores e humilhações. Aquela mesma multidão que O homenageou, motivada por Seus milagres, agora vira as costas a Ele e muitos pedem a Sua morte. Jesus, que conhecia o coração dos homens, não estava iludido. Quanta falsidade há nas atitudes de certas pessoas! Quantas lições nos deixam esse Domingo de Ramos! O Mestre nos ensina, com fatos e exemplos, que o Reino d’Ele, de fato, não é deste mundo. Que Ele não veio para derrubar César e Pilatos, mas veio para derrubar um inimigo muito pior e invisível: o pecado. E para isso é preciso se imolar; aceitar a Paixão, passar pela morte para destruir a morte; perder a vida para ganhá-la. A muitos o Senhor Jesus decepcionou; pensavam que Ele fosse escorraçar Pilatos e reimplantar o reinado de Davi e Salomão em Israel; mas Ele vem montado em um jumentinho frágil e pobre.

Muitos pensam: “Que Messias é este? Que libertador é este? É um farsante! É um enganador merece a cruz por nos ter iludido”. Talvez Judas tenha sido o grande decepcionado. O Domingo de Ramos ensina-nos que a luta de Cristo e da Igreja e, consequentemente, a nossa também, é a luta contra o pecado, a desobediência à Lei sagrada de Deus, que hoje é calcada aos pés até mesmo por muitos cristãos que preferem viver um Cristianismo “light”, adaptado aos seus gostos e interesses e segundo as suas conveniências. Impera, como disse Bento XVI, “a ditadura do relativismo”. O Domingo de Ramos nos ensina que seguir o Cristo é renunciar a nós mesmos, morrer na terra como o grão de trigo para poder dar fruto, enfrentar os dissabores e ofensas por causa do Evangelho do Senhor. Ele nos arranca das comodidades e das facilidades, para nos colocar diante d’Aquele que veio ao mundo para salvar este mundo.
Felipe Aquino - Viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos

23 de março de 2015

A origem da Quaresma


A origem da Quaresma

A Quaresma foi inspirada numa grande catequese que a Igreja primitiva realizava

Dentre todas as solenidades cristãs, o primeiro lugar é ocupado pelo mistério pascal, porque devemos nos preparar para vivê-lo convenientemente. Por isso, foi instituída a Quaresma, um tempo de quarenta dias para chegarmos dignamente à celebração do Tríduo Pascal.

A Quaresma, como prática obrigatória, foi instituída no século IV, mas, desde sempre, os cristãos se preparavam para a Páscoa com oração intensa, jejum e penitência. O número de quarenta dias tem um significado simbólico-bíblico: quarenta são os dias do dilúvio, da permanência de Moisés no Monte Sinai, das tentações de Jesus. Guiados por esse tempo e pelas práticas – como que guiados por uma bússola –, buscamos os tesouros da fé para crescer no seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo.

“Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo” (Cf. Joel 12, 12-13).

Este tempo de quarenta dias foi inspirado numa grande catequese que a Igreja primitiva realizava. Ela durava quarenta dias, tempo em que os pagãos (catecúmenos) se preparavam para receber o batismo no Sábado Santo, dentro da Solenidade da Vigília Pascal. Acompanhavam também os irmãos que tinham cometido pecados graves para retornarem à fé. Esse tempo era marcado pela penitência e oração, pelo jejum e pela escuta da Palavra de Deus. Eles eram os “penitentes”, os quais renovavam a fé e recebiam o batismo ou eram reintegrados à comunidade no Sábado Santo.

Na Quarta-feira de Cinzas, iniciamos o tempo mais rico e profundo da liturgia. Na verdade, esse tempo, que abrange a Quaresma, Semana Santa e Páscoa até Pentecostes, é um grande retiro, centro do Mistério de Cristo e da nossa fé e salvação. Tempo privilegiado de conversão e combate espiritual, de jejum medicinal e caritativo. A Quaresma ainda é, sobretudo, tempo de escuta da Palavra de Deus, de uma catequese mais profunda, que recorda aos cristãos os grandes temas batismais em preparação para a Páscoa.

Toda a nossa vida se torna um sacrifício espiritual, que apresentamos continuamente ao Pai em união com o sacrifício de Jesus sofredor e pobre, a fim de que, por Ele, com Ele e n’Ele, seja o Pai em tudo louvado e glorificado. Por isso, a Quaresma é um caminho bíblico, pastoral, litúrgico e existencial para cada cristão pessoalmente e para a comunidade cristã em geral, que começa com as cinzas e termina com a noite da luz e do fogo, a noite santa da Páscoa da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Vamos refletir sobre os rumos de nossa espiritualidade até a Páscoa de Nosso Senhor Jesus, ou seja, a vida nova que o Ele tem para nós, os exercícios quaresmais de conversão. A liturgia da Quarta-feira de Cinzas manda proclamar o Evangelho em que Nosso Senhor fala da esmola, da oração e do jejum, conforme Mateus 6,1-8. 16-18.

Padre Luizinho - natural de Feira de Santana (BA), é sacerdote na Comunidade Canção Nova.

Elegância e harmonia caminham juntas


Elegância e harmonia caminham juntas

Estar ao lado de uma pessoa elegante equivale à sensação de encontro com a harmonia

Lembro-me como se fosse hoje. Eu estava num restaurante na região do Bom Retiro, em São Paulo, um bairro conhecido por receber pessoas de todo o país para fazer compras de roupas. O espaço era relativamente pequeno para a quantidade de pessoas esfomeadas e apressadas que ali estavam. Eu havia acabado de entrar e estava com sacolas penduradas até o cabelo. Fiquei imensamente feliz ao ver que um senhor de meia-idade havia terminado sua refeição e estava se levantando para sair. Não sentia meus pés de tanto que havia andado até aquele momento! Sentei-me e logo vi uma senhora entrar com duas meninas lindas; eram suas filhas.

Foram em direção a uma mesa que havia acabado de ser desocupada quando, do nada, surge uma moça falando alto: “Esse lugar é meu. Eu vi primeiro”. Ela jogou a bolsa sobre a mesa, na tentativa de apropriar-se dela, quando a filha mais nova, de mais ou menos doze anos, a pegou do chão e entregou à moça: “Desculpe, fique à vontade”. Ela disse isso na maior educação, realmente desejando que a moça espaçosa se sentisse confortável ali. Logo em seguida, outras cadeiras foram desocupadas ao meu lado, e a mãe, com muita fineza, pediu-me para sentarem-se ali. Conversamos nesse curto espaço de tempo e percebi o quão eram educadas.

Logo em seguida, ouvimos a moça gritando novamente, porque seu pedido havia sido trocado. Esbravejou dizendo que ela tinha o direito de ser bem atendida. Os garçons se entreolharam e, quase que num movimento sincronizado, levantaram a sobrancelha. Só faltou o balão dizendo: “Pra que esse show todo?”.

Coincidentemente, a sobremesa que a filha mais velha havia pedido também havia sido trocada. Ela fez sinal com a mão para o garçom, que logo se aproximou. Ela perguntou o nome dele e, educadamente, perguntou se havia a possibilidade de trocar seu pedido, pois havia vindo por engano. Prontamente ele disse ‘sim’ e, em questão de segundos, voltou com o pedido certo, enquanto a moça brava continuava falando alto e reclamando, batendo o pé no chão, olhando para o relógio e se abanando na esperança de chamar a atenção de alguma forma. Seu pedido ainda não havia sido trocado.

Não conheço nada sobre a moça, muito menos sobre a mãe com suas duas filhas, mas, naquele momento, entendi que ser elegante é muito mais do que se pode aparentar externamente por meio de uma postura contida, de falar baixo, de saber portar-se, enfim. Vem de dentro para fora. É algo harmônico, a ponto de trazer ordem ao caos. Diz de um silêncio que se faz ouvir, de uma delicadeza e discrição que se fazem notar; porém, totalmente sem necessidade de chamar à atenção.

Fiquei com elas por aproximadamente vinte minutos, tempo suficiente para perceber que elas sabiam falar e calar no momento certo. Dar atenção e recebê-la de volta num movimento natural de quem se conhece e, por isso, sabe de sua própria importância, não depende de nada ou ninguém que a convença disso.

Para mim foi uma aula de elegância. Percebi que posso desenvolvê-la e que o trabalho para isso se assemelha ao ato de regular a cor na tela da TV por exemplo. O ponto é o equilíbrio: Se pesar na cor, ficará gritante, a imagem ficará estourada e desconfortável; se tirar toda a cor, ficará sem definição, sem graça e com uma ausência que também desconforta.

Independente da situação, da pessoa ou de sua história, a elegância se mostra por meio da harmonia na forma de ser simplesmente o que se é.

A partir de então, tenho prestado mais atenção na minha postura, no meu modo de falar ou calar, de querer chamar à atenção ou de me esconder e de me vestir. E isso tem dado certo! Fácil não é, pois exige esforço tanto para me enxergar na situação quanto para chegar ao equilíbrio, mas que dá resultado, isso dá!

No fundo, sabemos quando passamos do limite, sendo deselegantes. Talvez, o problema seja a falta de agilidade e a rapidez entre o pensamento e a ação coerente, e também da vontade de melhorar a cada dia.

Uma coisa é certa: é praticamente impossível ser elegante quando se tem a síndrome de Gabriela: “Eu cresci assim, vou ser sempre assim, Gabriela, sempre Gabriela..”. É como querer juntar água e óleo.

Na dúvida, questione-se. A resposta está aí dentro e, se solicitada, virá para fora com muito gosto e prazer, com a missão de ajudá-la a crescer, descobrir-se, melhorar e se enxergar com mais nitidez. Tudo é questão de treino e dedicação.

Elegância não se compra, vem de dentro, e todas nós somos capazes dela. Às vezes, ela se encontra de forma bruta, mas pode ser lapidada com o simples exercício de olhar para dentro de si mesma, deixando de lado o que as pessoas esperam de você, sendo livre para assumir sua identidade única no mundo. Dessa forma, saberá como se portar de forma harmônica e elegante em todos os lugares onde estiver e com quem estiver.
Márcia Ribas - formada em Comunicação Social (Rádio e TV), pós graduada em Counseling

Como afetos e estímulos ajudam no desenvolvimento da criança

Como afetos e estímulos ajudam no desenvolvimento da criança

Muitos pais não têm a real noção da importância de como podem contribuir para o desenvolvimento mental, emocional e físico de seus filhos. O afeto tem um papel predominante para que as crianças se sintam confiantes, além dos estímulos físicos, que podem ser oferecidos desde o ventre materno, pois contribuem para o amadurecimento psicomotor.

Entretanto, os pais precisam ter cuidado para que isso não se torne uma neurose e sobrecarregar as crianças com excesso de atividades, visando otimizar o desenvolvimento e obtendo resultados não esperados. Crianças submetidas ao excesso de pressão podem se tornar ansiosas e apresentar dificuldades de aprendizado.

Brincadeiras de rolar as crianças, brincar de “ serra, serra, serrador”, levantar os braços e pernas, fazem parte da interação entre adultos e crianças e permitem o desenvolvimento físico, o qual as prepara para engatinhar, andar e realizar outras atividades que fazem parte do dia a dia delas. Existem exemplos de crianças criadas sem amor num berço, que não andam aos três anos de idade, mas, após a fisioterapia com essas pequenas brincadeiras, retomam o desenvolvimento.

O amor é transmitido por palavras e atos, os toques e os elogios servem como estímulos para as crianças buscarem novas atividades. Uma característica interessante de quando se conta uma história ou faz-se uma brincadeira que elas gostem, é vê-las pedirem que esta se repita várias vezes. Os pais reclamam que as crianças não se cansam, porque estão em processo de aprendizado.

A inteligência também pode ser desenvolvida com atividades, tais como jogos, brincadeiras de roda, música e teatro. Cantigas de roda e de ninar, ou uma simples brincadeira de recortar ou pintar, preparam as crianças para atividades mais maduras.

A simplicidade é importante, as atividades diárias de cuidado com a criança, tais como o banho, a alimentação, o colocar para dormir entre outras, são oportunidades para estimulá-las. Passeios e idas ao cinema ou parquinhos podem ser experiências para se trabalhar a criatividade e o espírito de explorador de ambiente.

Os professores também podem contribuir com o desenvolvimento intelectual, oferecendo um ambiente acolhedor, onde o aprendizado cognitivo, as emoções e a afetividade podem e devem ser trabalhadas, pois algumas crianças iniciam sua vida escolar muito cedo.

Assim como para os pais, os jogos, as cantigas e as brincadeiras também servem como ferramentas para estimular atitudes e comportamentos que serão fundamentais na vida futura das crianças.

Ou seja, não importa a atividade, o importante é que esses momentos sejam acompanhados de estímulos e carinhos.
Ângela Abdo - coordenadora do grupo de mães que oram pelos filhos da Paróquia São Camilo de Léllis (ES) e assessora no Estudo das Diretrizes para a RCC Nacional.

O Diálogo pode ajudar a sair das crises


O Diálogo pode ajudar a sair das crises

É preciso dialogar para aprender a ser sincero

A onda de insatisfação popular neste momento da sociedade brasileira é interpelativa. Essa interpelação precisa afetar desde os governos, passando por todas as instituições, religiosas, educativas e culturais, até os ambientes familiares, envolvendo cada cidadão em particular. A lista das insatisfações inclui, prioritariamente, os rumos da governabilidade, os funcionamentos no conjunto da sociedade, como também não exclui o que é de caráter estritamente existencial.

O momento está caracterizado pelo peso de exigências que parecem inatingíveis. Projeta, numa vala de lamentações e desânimos, a credibilidade que deveria sustentar os processos e impulsionar inovações capazes de apontar as saídas para as crises que se abatem sobre essa pobre sociedade. Pobre, sobretudo, porque tendo a oportunidade de se organizar adequadamente, carece de líderes competentes para imprimir rumos novos aos processos, envergadura às instâncias ocupadas e inventividades que não permitam o encastelamento de chefias e representações no gênero literário próprio do profeta Jeremias: a lamentação.

Agora, em meio à crise, é hora da aprendizagem. De utilizar o desafio próprio do interno de toda crise – econômica, política, existencial – para desenvolver a capacidade de conduzir processos e legar à cultura, tecido constituinte da sociedade, um horizonte novo. De partir da crise para criar a consistência mais adequada e, assim, não correr o risco de perder o que se tem de bom e, mais terrivelmente, não conseguir avançar, abrindo mão das oportunidades. Alguns focos são importantes e decisivos neste momento do País, como também acontece na vida de cada cidadão. A perda de foco e o desespero de abraçar tudo e todos ao mesmo tempo podem ser fatais, a exemplo de um náufrago que se debate muito, perdendo as forças e a chance de continuar a viver, bem próximo do porto procurado.

Entre os focos essenciais neste momento, como reação e resposta, é fundamental incluir a importância capital das lideranças que precisam despontar nos diferentes ambientes e no coração das instituições. Como bem advertem os que refletem sobre o assunto, não se está à procura de chefes, mas de líderes. A liderança se constrói essencialmente pelo caminho determinante do foco para este momento, que é o diálogo. Nossa cultura precisa exercitar-se na capacidade do diálogo, o que não significa muita conversa, pois se conversa muito, fala-se sobre tudo, até mesmo daquilo que não é da própria conta. Mas o resultado são conchavos interesseiros. Tramam-se derrubadas e impõem-se prejuízos para os outros. A mesquinhez da cultura da disputa e da incompetência humana e profissional produz o fracasso do outro e a ascensão daquele que passa a ocupar o lugar vazio sem o esforço honesto e qualificado.

A escassez de líderes, em todos os níveis, ocasionada pela falta do diálogo, tem criado e reforçado uma cultura mesquinha cujas soluções se dão exclusivamente pelo prisma do dinheiro. A economia, então, torna-se perigosa arma e não instrumento de regulações para garantir a solidariedade e a justiça. Ao contrário, produz privilégios e perpetua a exclusão social. A ausência de lideranças e do diálogo vai deixando os funcionamentos institucionais, religiosos, políticos e governamentais em campo de guerra onde uns lutam contra os outros, instigados pelos ciúmes e pelas invejas que envenenam e corroem.

Para superar os aspectos negativos dessa realidade, o enfrentamento da crise e tudo o que ela envolve, em respeito à onda de insatisfação popular, deve se eleger o diálogo como prioridade. Esse pode ser o mecanismo para reconfigurar a cultura, no atual momento, esgarçada e sem forças para garantir a mínima credibilidade em relação a governos, instituições, políticos, investidores e investimentos. As condições necessárias se esvaem não porque foram transportadas para a estratosfera, mas porque as escamas dos olhos não permitem a clareza que o momento atual exige para fazer despontar lideranças e convencer cada cidadão da responsabilidade e importância de sua contribuição. É hora, sobretudo, de dialogar. Ninguém pode se encastelar em suas casas e escritórios. É hora de descer às ruas, ir ao encontro dos pobres, dar ouvidos ao povo, é hora de se aproximar de todos.

Certamente, nesse momento, líderes governamentais não despontarão e não serão capazes de soluções inovadoras, nascidas de dentro da crise, se não exercitarem-se incansavelmente no diálogo. Não se trata de negociações palacianas visando à distribuição de fatias do poder ou da busca mesquinha de garantias de vitórias político-partidárias. Trata-se do diálogo que gera a cultura da “pertença”, da dignidade, da reverência ao outro e da compreensão da cidadania vivida como instrumento determinante na construção da sociedade nova que precisa nascer. Trata-se de algo muito simples. Do diálogo filosoficamente entendido como atitude própria do homem capaz de se dirigir e de responder ao outro como igual, para com ele estabelecer uma relação. Essa é a primeira resposta às insatisfações populares, sintomáticas da necessidade de mudanças.

O diálogo, sempre e em todas as circunstâncias, evitando arbitrariedades e autoritarismos, é o caminho permanente para gerar uma cultura digna da nação que somos. É preciso dialogar para aprender a ser sincero e, na sinceridade, fazer o que se faz com seriedade. Quem não dialoga não diz de si, não diz a verdade. Quem não sabe dizer de si, não escuta. E quem não diz a verdade trava o diálogo e a consequência disso será sempre o fracasso e a insatisfação. Não há quem dê conta dessa onda.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo - Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte

Cinco virtudes de São José que todo homem deveria ter


Cinco virtudes de São José que todo homem deveria ter

A vida dos santos precisa ser para nós como um livro vivo, no qual lemos as virtudes que têm sua fonte no próprio Cristo

Pelo menos, este é o objetivo da Igreja quando se canoniza alguém: dizer aos cristãos que a santidade é possível e propor um caminho para ajudá-los a chegar a este propósito, fim de todo homem, criado à imagem e semelhança de Deus. Trata-se de vidas que se permitiram ser modeladas pela graça, a tal ponto que chegam a ser um anúncio da santidade de Deus mesmo. Neste mês de março, a Igreja nos propõe celebrarmos a solenidade de São José, pai adotivo de Jesus. Quais poderiam ser então as virtudes vividas por José, as quais todos os homens são chamados a imitar? Esta é uma tarefa um tanto quanto árdua, pois sua figura é marcada pelo escondimento e pela discrição.

O Catecismo da Igreja Católica diz que “a pessoa virtuosa é aquela que livremente pratica o bem” (CIC 1804). E o bem não poderia ser outra coisa senão a própria vontade de Deus. Ora, vemos no Evangelho segundo Mateus que José foi dócil a essa vontade. E nessa docilidade, vemos uma manifestação da virtude da fé, pois por meio dela, “o homem livremente se entrega todo a Deus” (CIC 1814). “Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa.” (Mt 1,24). Na busca de fazer sempre a vontade do Pai, podemos vislumbrar também em José a virtude da prudência, dado que esta « dispõe a razão prática a discernir, em qualquer circunstância, nosso verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para realizá-los » (CIC 1806). Pois, afinal de contas, onde poderia estar nosso bem verdadeiro senão na prática da vontade de Deus?

Neste mesmo Evangelho, vemos uma outra virtude em São José: ele era um homem justo. O texto bíblico o diz explicitamente (cf. Mt 1,19). Este termo, dentro do contexto bíblico, vai muito além do significado de justiça que temos em nossas sociedades contemporâneas. Ele exprime a ideia de alguém que é fiel, «que observa a lei». E esta fidelidade à lei, esta observância gera, por consequência, uma retidão no agir, seja para com Deus, seja para com os homens. Vemos, então, a virtude da justiça : « A justiça é a virtude moral que consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido » (CIC 1807). Em sua vida, diante daquilo que Deus lhe pedia, José não poderia lhe dar outra a não ser a realização de sua santa vontade.

Podemos também afirmar que São José tinha a virtude da fortaleza, uma das quatro virtudes cardeais. Pois, a fortaleza consiste em tornar o homem capaz de ter «segurança nas dificuldades, firmeza e constância na procura do Bem» (CIC 1808). E diante do que José viveu com Maria, antes do nascimento de Jesus, a procura de um lugar para que ela desse à luz, e depois fugindo da perseguição de Herodes, sem a virtude da fortaleza, talvez José não tivesse suportado a pressão das dificuldades exteriores. Essa virtude também o ajudou a permanecer na procura deste Bem, ou seja, da vontade de Deus que lhe havia sido claramente manifestada.

Por fim, José foi aquele que viveu a virtude do amor. Sem ela, ele não teria assumido viver a vontade de Deus como ela se lhe apresentou. « A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor a Deus » (CIC 1822). Ao amarmos o Senhor, amamos igualmente Sua vontade e assumimos firmemente todas as consequências que lhe são vinculadas. Desta maneira, podemos ver na vida de São José, mesmo que contada tão brevemente pelos evangelhos, a presença deste movimento de amor que o levou a amar a Deus até as últimas consequências.
André Botelho - casado e pai de três filhos. Com formação em Teologia e Filosofia Tomista

14 de março de 2015

Como incentivar as crianças a gostar da Palavra de Deus?

Como incentivar as crianças a gostar da Palavra de Deus?

Incentivar as crianças a gostarem da Palavra de Deus é um valioso investimento.

As crianças são de grande importância para o Reino de Deus. É prazer de Deus, por intermédio do Seu Filho Jesus Cristo, alcançar o coração delas. Conduzi-las a ter um encontro pessoal com Jesus é um grande desafio, mas também a mais doce esperança de um mundo melhor. Não foi por acaso que Jesus ordenou que deixassem as crianças irem a Ele. O Senhor estava diante de cristãos em potencial. Ao proferir essas palavras, diz a Escritura que Ele estendeu as mãos sobre as crianças e as abençoou.

O ensino bíblico para crianças deve ser valorizado por todos que fazem parte da vida delas. Este, sim, é um valioso investimento! Não vai existir fase mais adequada – para que sejam construídos e reconstruídos os pilares para uma vida saudável e comprometida com o mundo – do que a infância.

A figura da criança é apresentada, na Bíblia, desde muito cedo. Moisés e João Batista são exemplos de apóstolos que eram comprometidos com o mundo espiritual desde que eram crianças. Moisés recebeu um chamado, João Batista foi batizado no Espírito enquanto sua mãe, Isabel, recebia a visita de Maria.

A Palavra de Deus nos ensina por onde e como conduzir os filhos a este encontro com Deus, preservando a criança dos valores passageiros, impostos por ensinamentos que vêm de outras palavras. Como a palavra proferida pelas novelas, pelos excessos de desenhos animados, pelos colegas da escola e, também, pelo livre acesso a certos conteúdos da internet. É preciso deixar claro que a Palavra à qual me refiro está na Sagrada Escritura. Portanto, os filhos deverão ter a oportunidade de conhecê-la com a decisão da família de ser ou não ser uma família cristã. E a partir disso promover ações possíveis em que seus filhos consigam se aproximar da leitura bíblica.

Será primeiramente pelo testemunho dos pais que os filhos vão se deixar seduzir pela Palavra do Senhor. É comum ver pais ensinarem aos filhos quem é o Papai do Céu e a pedirem a Sua bênção, contudo, o tempo passa e este ensinamento não evolui. É uma fé tipicamente folclórica. A criança não frequenta a igreja, nunca viu os pais lendo a Palavra, não experimenta fazer caridade desde a mais tenra idade, não cresce habituada a reconhecer os seus pecados (mesmo tão mínimos) e cresce longe do costume de orar pelas pessoas que estão ao seu redor, em sua cidade e no mundo.

Incentivar um filho a gostar de ler e viver a Palavra de Deus é, antes de tudo, habituá-lo ao ambiente que tenha sinais de Deus. A criança é muito inteligente para perceber quando a família fala e não vive. Principalmente, aquelas que dizem crer em Deus, mas não testemunham esta crença com atos concretos de fé.

Seria muito bom que, antes de dormir, as crianças ouvissem histórias bíblicas ou assistissem a DVDs sobre os milagres e o amor de Jesus. É importante escolher um lugar da casa em que seja possível colocar algo que sinalize que, naquele ambiente, os seus proprietários são cristãos. As visitas, os vizinhos e os familiares precisam saber e respeitar essa decisão. É fundamental também educar os filhos dentro dos ensinamentos do Evangelho, mostrando-lhes sempre, com as leituras, como Deus gostaria que eles crescessem em graça e sabedoria.

Mesmo tendo a religião e a espiritualidade como base familiar, é necessário cautela, prudência, informação e inteligência para que nada saia diferente do que se espera. Várias são as passagens bíblicas que confirmam este querer de Deus com relação aos nossos filhos. Deuteronômio 6:4-9; Marcos 10:13-16; Josué 4:1-9 são passagens bíblicas que causam nas crianças a curiosidade sobre o mundo espiritual.

Como incentivar as crianças a gostar da Palavra de Deus?

Sendo pais que se lembrem do jeito de ser de Jesus! Caso contrário, os filhos terão aversão não só à Palavra como também a tudo que lembre o Divino. Em seguida, colocando em prática o que aqui foi proposto.

Os catequistas também precisam fazer uso de metodologias mais inovadoras e tecnológicas para esses ensinamentos ministrados nas paróquias. O sacerdote, por sua vez, ao perceber a presença de crianças nas Celebrações Eucarísticas, deverá referir-se a elas de forma especial, distante de uma linguagem complexa. Dentro desse contexto é muito bom ressaltar que nossa espiritualidade nos aproxima de Deus, com isso, contagiamos as pessoas que estão ao nosso redor sendo amáveis, dóceis e responsáveis com nossa família e com o mundo no qual estamos inseridos, usando uma linguagem decente e respeitosa. E demonstrando que queremos ser filhos de Deus amáveis e amados. Este será sempre um bom começo pra que os nossos rebentos possam entender a Palavra de Deus e gostar dela.
Judinara Braz - Administradora de Empresa com Habilitação em Marketing.
Psicóloga especializada em Análise do Comportamento.

Olhar para o Alto e para frente


Olhar para o Alto e para frente

Olhar para frente é descobrir as veredas a serem percorridas no cotidiano

Quem aprende a dirigir, para tirar uma carteira de habilitação, ouve com frequência de seus instrutores a observação de que bom motorista deve ter também visão lateral, para enxergar o que acontece ao seu lado. Na realidade, é preciso olhar para os lados, para frente e para trás, pelos retrovisores. Com o tempo, o que parecia impossível torna-se saudável rotina, contribuindo para a segurança de condutores, passageiros e os demais veículos em circulação. Pode ser uma parábola contemporânea do jeito de viver próprio dos cristãos. É que lhes cabe uma atenção contínua às pessoas, aos fatos e acontecimentos, sem perder o rumo.

Olhar ao redor suscitará a atenção da caridade. Olhar para trás será o saudável exercício da memória, com a qual reconhecemos as falhas, para corrigi-las, e damos graças a Deus por tudo o que nos concedeu.

Entretanto, há duas direções para as quais nosso olhar precisa continuamente se voltar, se queremos dar testemunho coerente e ser sinais de Deus para o nosso tempo, a saber, olhar para o alto e olhar para frente. No diálogo com Nicodemos (Cf. Jo 3, 14-21), aquele visitante que alguém chamou de adorador noturno, cuja figura entra em cena outras vezes (Cf. Jo 7, 50; Jo 19, 39), o Senhor indica o olhar da fé que dá sentido à nossa existência e nos abre a estrada da salvação: “Assim também será levantado o Filho do Homem, a fim de que todo o que nele crer tenha vida eterna” (Jo 3, 14-15). Numa discussão com interlocutores que o provocavam, assim disse Jesus: “Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que ‘eu sou’, e que nada faço por mim mesmo, mas falo apenas aquilo que o Pai me ensinou” (Jo 8, 28). Mais tarde Jesus retoma o tema, afirmando que quando for levantado da terra, todos seriam atraídos a Ele (Cf. Jo 12, 32).

Olhar para o alto das montanhas da existência, que se encontram na experiência da presença de Deus e da salvação que nos é oferecida em Jesus Cristo. Há um risco em nosso tempo de nivelar tudo na altitude zero, sem projetar grandes ideais, sem sonhos de perfeição moral, considerando todas as atitudes e opções como indiferentes. Vale pensar nos conteúdos absorvidos nos admiráveis meios de comunicação colocados à nossa disposição. Sem uma educação, e esta começa na família, para valores consistentes, valerá tudo e precisaremos aguardar algum tempo para verificarmos as consequências. É bom lembrar que impérios gloriosos de outros séculos caíram não só pelos percalços políticos, como também pela decadência moral das caladas da noite!

O que existe de mais alto e mais digno para a vida humana, para que nosso olhar de fé se volte reverente, é a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Voltar os olhos para ela é encontrar o amor maior, a prova definitiva de que, “de fato, Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3, 16-17). O desafio para o cristão é proclamar que a certeza da glória e realização para toda a humanidade está na Cruz de Cristo (Cf. Gl 6, 14), na qual se encontram dois amores: o amor infinito e eterno de Deus, que transborda da Trindade para a humanidade, no Filho amado que deve ser ouvido e que responde, com amor de Deus e de homem a este eterno amor. Dali mesmo, da Cruz de Cristo, brota a torrente de amor, com os braços abertos a todos os homens e mulheres de todos os tempos, chamados a se amarem mutuamente, com o mesmo amor que vem desta fonte inigualável.

Ninguém olhe apenas para o chão do pecado, para baixo, onde se encontram tantas misérias humanas, mas todos ergam seus olhos para o sinal glorioso da salvação.

É ainda a Cruz que suscita outro olhar, sempre para frente. Certa feita, Jesus chamou nada menos que a “multidão, juntamente com os discípulos, e disse-lhes: ‘Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me! Pois quem quiser salvar sua vida a perderá; mas quem perder sua vida por causa de mim e do Evangelho, a salvará'” (Mc 8, 34-35). Para viver com dignidade e ser sinal de Deus, o cristão há de seguir a Jesus. Trata-se de renunciar a ter um programa próprio, certamente marcado por interesses egoístas, para lançar-se na maravilhosa aventura do discipulado, o seguimento de Jesus. Quem dá tal passo, olha para frente e descobre as veredas a serem percorridas no cotidiano, mesmo com as eventuais dificuldades.

Os dias que vivemos podem ser fonte de desânimo para muitas pessoas. É que fomos iludidos com os sonhos de consumo, nossos olhos brilharam com as ofertas das vitrines, e até nos apegamos a nossos maravilhosos aparelhinhos, cada vez mais caros, considerados como mágicos ou até ilusoriamente feitos objetos de piedade. Muitos até os querem abençoados, mas sem terem a coragem de mostrar o que reservam em suas memórias! As negociatas dos grandes do mundo se multiplicaram aos milhões, empresas pareciam transformadas em minas do Rei Midas. Parecia que todo mundo teria casa própria, carro do ano, dinheiro na poupança, saúde para dar e vender! De repente, a dura realidade volta, fica difícil pagar o combustível do carro ou as dívidas do cartão de crédito, os hábitos de luxo se revelam ilusórios!

Os governos não sabem, mesmo quando não o admitem publicamente, como sair da terrível enrascada da crise gerada pelo egoísmo e pela competição desenfreada. Observe-se, a modo de exemplo, o que disseram recentemente instituições de credibilidade: “A inquestionável crise por que passam, no Brasil, as instituições da Democracia Representativa, especialmente o processo eleitoral, decorrente este de persistentes vícios e distorções, tem produzido efeitos gravemente danosos ao próprio sistema representativo, à legitimidade dos pleitos e à credibilidade dos mandatários eleitos para exercer a soberania popular… É necessário que todos os cidadãos colaborem no esforço comum de enfrentar os desafios, que só pode obter resultados válidos se forem respeitados os cânones constitucionais, sem que a Nação corra o risco de interromper a normalidade da vida democrática”. (Declaração conjunta das presidências da CNBB e da OAB).

Volta à tona a mesma proposta de Jesus, cujo nome é Cruz, que pede seguimento do Evangelho. As práticas sugeridas pelo Senhor passam pela sobriedade e pela partilha, apontam para mãos que se lavam da iniquidade cometida, conversão verdadeira, seriedade e dedicação no trabalho, diálogo sincero, superação da tendência de acusação mútua, construção de pontes entre os grupos diferentes na sociedade. Podem parecer até ingênuas estas estradas do evangelho, mas, sem elas, ninguém vai para frente e nem alcança os cumes da verdadeira realização, cujo nome verdadeiro é salvação.

A escolha é nossa!
Dom Alberto Taveira Corrêa - Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.

Por que ler a Bíblia?


Por que ler a Bíblia?

É preciso ler todos os livros da Bíblia, entendendo que tudo converge para Jesus

A Bíblia é palavra inspirada, é Deus que se revela aos homens; em contrapartida, é necessária a fé de quem a lê. É preciso a adesão da fé para que essa palavra produza frutos na vida de quem se debruça sobre a Palavra de Deus e acredita na ação divina. E para que esta fé exista é preciso contar com o auxílio do Espírito Santo que nos direciona a Deus e nos dá o entendimento necessário para aceitar e crer na Revelação.

Já nos ensinou São Jerônimo: “Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo”. Não podemos ignorar Jesus. Temos de contar com o Espírito Santo, que nos conduz na leitura da Sagrada Escritura e nos põe no caminho do Cristo. Ler e acreditar na Sagrada Escritura é caminhar com o Senhor, é ouvir o Seu convite: “Vem e segue-me!”

Daí a importância de lermos a Sagrada Escritura, em especial os Evangelhos. Toda a Bíblia é Revelação de Deus. O Antigo Testamento e o Novo Testamento possuem a mesma importância, mas os Evangelhos têm um lugar de excelência, pois ali se encontra a vida de Jesus e todos os outros livros se convergem para o centro que é o Cristo.

Orienta-nos a Dei Verbum, Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina: Ninguém ignora que entre todas as Escrituras, mesmo do Novo Testamento, os Evangelhos têm o primeiro lugar, enquanto são o principal testemunho da vida e doutrina do Verbo encarnado, nosso salvador.

É preciso ler todos os livros da Bíblia, entendendo que tudo converge para Jesus. E quando lemos os quatro Evangelhos não é diferente. É importante ler estes livros para percebermos vários aspectos da vida de Jesus. Os quatro Evangelhos se completam. Cada um possui suas características próprias e vistos em conjunto nos ajudam a conhecer e seguir Jesus.

O Evangelho segundo São Marcos, por exemplo, quer nos apresentar a pessoa de Jesus. Precisamos conhecê-Lo, pois decidimos segui-Lo. Com o Evangelho de São Mateus, considerado o mais catequético dos quatro, aprendemos ensinamentos de Jesus, pois só é possível segui-Lo se soubermos como escolher o Seu caminho nas situações da vida. O Evangelista São Lucas nos apresenta a universalidade da mensagem de Cristo. É para todos! E somos chamados a anunciar essa mensagem a todos. E, por fim, o Evangelho segundo São João, que possui uma literatura mais simbólica, pois nos propõe a fé nos mistérios de Jesus, que é Deus.

Conhecer Jesus, saber Seus ensinamentos, levar a mensagem de salvação aos outros e experimentar fé nos mistérios divinos, eis alguns dos motivos pelos quais devemos ler e estudar os Evangelhos. Além disso, nos permitir compreender que Jesus é o centro da Sagrada Escritura, e assim ler cada um dos outros livros da Bíblia com suas características próprias e relacionando-os com os demais [livros bíblicos], é um bom caminho para aceitar o convite da Igreja de que nos debrucemos gostosamente sobre o texto sagrado (Dei Verbum), ou seja, sintamos seu sabor, seu gosto na nossa vida.
Denis Duarte - especialista em Bíblia e Cientista da Religião.

Dicas para não mimar os filhos


Dicas para não mimar os filhos

Ensinar o significado do ‘não’ ajuda os filhos para a vida

Nos dias de hoje, onde as facilidades são muitas, surge uma dúvida na educação dos filhos: será que os pais equilibram bem responsabilidades e bônus ou criam pequenos despostas que estão presos ao próprio umbigo , com probabilidades de se tornar uma adulto imaturo, mimado e egoísta. Por outro lado, existem pais que exigem demais e transformam crianças em adultos prematuros, que passam o resto da vida em busca da infância perdida.

A regra básica de convivência é não ceder a todas as vontades e impor limites, como exemplo, quando vamos a um shopping e as crianças querem comprar. Cuidado para não comprar tudo o que ela quer ou sempre que sair terá a obrigação de comprar algo. Entretanto, isso não impede que, em alguns momentos específicos, possa comprar algo, quando o orçamento e o comportamento da criança permitem.

Uma técnica importante é as crianças terem mesada e serem conscientizada de que, se gastarem tudo, na próxima saída não terão dinheiro para comprar; essa é uma forma de treinar para o consumo adulto consciente.

Os filhos são especialistas em chantagem e aprendem a reconhecer os pontos fracos dos pais, portanto, mantenha- se firme naquilo que não pode ser negociado.

Ensinar o significado do ‘não’ ajuda os filhos para a vida. Os pais precisam ser persistentes, pois a estratégia dos filhos é cansarem os pais, para que eles cedam. Então, mantenha o seu ‘não’. Não se sinta culpado por não poder dar algo material. Tudo isso passa, o que não pode faltar é o amor, o carinho e o apoio familiar.

No modelo antigo, os pais diziam não e saiam de perto, hoje os pais ficam explicando muito. Não se desculpe por cumprir regras. É preciso dialogar para que possam entender os motivos, mas precisam entender que precisam aceitar a autoridade dos pais. Como exemplo, uma mãe explica que a criança não pode tomar sorvete antes do almoço, porque tira o apetite. Isso nem sempre é entendido, mas precisa ser aceito.

Um ponto importante é preparar o filho para o mundo. Se os pais entregarem tudo na mão, terão dificuldades de adquirir autonomia em coisas maiores, pois já não as têm em outras menores. O mercado atual precisa de sobreviventes, portanto, além da autonomia é necessário introjetar valores para que possam ser autônomos sem perder a noção de respeito pelo outro.

Uma pergunta que não cala no coração das mães é qual a quantidade de responsabilidade podem dar aos filhos. Um atleta não começa levantando grandes pesos, mas à medida que vai treinando com pequenos pesos, vai criando musculatura para mais peso. Com os filhos não é diferente, comece dando pequenas tarefas, como recolher e guardar o brinquedo utilizado; à medida que eles vão crescendo, aumente as responsabilidades.

É importante ensiná-los a reconhecer os pontos positivos das obrigações que são cumpridas com eficiência, pois isso reforça o comportamento positivo. Os pais precisam de um alerta: nem tudo precisa de elogio, porque, quando o filho crescer, terá que fazer atividades que nem sempre serão reconhecidas pelos outros, mas é importante que continuem a fazer.

A convivência diária pode ser uma fonte infinita de aprendizados, por isso precisam utilizar as situações cotidianas, sejam elas boas ou ruins, para ensinar como viver em comunidade, desenvolver a maturidade e afetividade dos filhos.
Ângela Abdo - coordenadora do grupo de mães que oram pelos filhos da Paróquia São Camilo de Léllis (ES)

A maior crise da atualidade


A maior crise da atualidade

Somos parte de uma sociedade em crise

Esta é uma clamorosa convocação proclamada pelo profeta Joel em época remota, há cerca de 400 anos antes de Cristo. O clamor do profeta é um apelo que indica o caminho para se vencer as pragas. Hoje, ainda que não acolhida pela vivência da religiosidade, é oportuno ouvi-la e compreendê-la como interpelação para enfrentar as crises que estão desarrumando o funcionamento da sociedade. Particularmente, é importante escutá-la quando se chega à conclusão de que a maior crise na atualidade é a de confiança. A credibilidade está em baixa, em razão de posturas e práticas adotadas na esfera privada e no inadequado tratamento do que é de domínio público. É hora de um recomeço, que é complexo e altamente exigente. Esse processo exige a indispensável ação e posicionamentos de lideranças, para que se alcance um novo tempo pela força da credibilidade que cada cidadão precisa prezar. Ser digno de confiança é o aspecto mais honroso da vida particular, profissional e cidadã.

As muitas reformas necessárias para superar os graves problemas enfrentados pelo país demandam a mudança prioritária e urgente do próprio coração, que é referência simbólica da confluência da racionalidade e dos sentimentos. O coração é lugar da produção e da manutenção de uma consciência pautada em valores cidadãos, no gosto pelo altruísmo e no mais nobre sentido de respeito ao outro. A incompetência humanística de lideranças e a falta de densidade espiritual são os mais desafiadores obstáculos que impedem a recuperação da confiança.

A mesquinhez de se priorizar o atendimento de interesses cartoriais, a estreiteza dos egoísmos, a busca do lucro e da acumulação de riquezas sem parâmetros éticos produziram processos de desumanização que agora não são fáceis de serem revertidos. Sem a recuperação da confiança, alicerçada na verdade das ações e na reverência pela justiça, de nada adiantará a operação de um conjunto, mesmo significativo, de reformas. As mudanças precisam ser precedidas e acompanhadas pela reforma do coração. “Rasgai o coração” precisaria se tornar uma “onda” que leva a um despertar novo da consciência. Um movimento que deveria envolver, inicialmente, os mais altos dirigentes, os ocupantes de cargos representativos, os formadores de opinião e os que têm papel mais decisivo na construção da sociedade. Essa “onda” deve incluir o cidadão simples, que paga o preço mais alto por tudo o que está na raiz da falta de confiança.

A crise de credibilidade envenena os funcionamentos de instituições diversas e desestabiliza as relações interpessoais. Trata-se de um sério problema que não se enfrenta sem a recuperação da competência humanística e também espiritual. A carência dessa qualificação leva às escolhas equivocadas que impedem a sociedade de funcionar nos parâmetros da verdade e da justiça. É hora de fixar o olhar não apenas nas dinâmicas viciadas em tantos segmentos, setores e instâncias. É urgente e prioritária uma reconfiguração do sentido mais profundo que rege o coração.

“Rasgar o coração” é prática que sempre se começa por uma escuta mais atenta e permanente dos clamores dos mais pobres. É inadiável o exercício de reconhecer e buscar superar as muitas misérias, todas produzidas pela falta de cidadania. Trata-se de tarefa capaz de gerar novas lideranças. “Rasgai os corações” é convocação e também um alerta. Indica que eventuais novas estruturas e funcionamentos, se não forem alcançados sem a geração interior e pessoal de novas atitudes, mais cedo ou mais tarde, se tornarão também corruptos, pesados e ineficazes.

É hora de ouvir o clamor dos mais pobres. Estamos todos desafiados a enfrentar a crise de credibilidade com novas respostas, particularmente com um discurso político que não seja paliativo. A sociedade na qual estamos inseridos estampa a vergonha de uma generalizada falta de envergadura moral e solidária. Um mal que cria o ambiente propício para sermos, cedo ou tarde, as próprias vítimas de alguma praga. O alcançar de um novo tempo tem como ponto de partida o convite: Rasgai o coração!
Dom Walmor Oliveira de Azevedo - O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte,

7 de março de 2015

8 de Março Dia Internacional da Mulher

Mulher Como Esta...


Para tal tempo, em dias como estes, foste chamada por Deus pra neste mundo
ser testemunha rica e altissonante como pessoa, filha, esposa e mãe!
Para tal tempo, em dias tão sombrios, de ódio e tristeza e muito desamor,
tu podes semear em muitas vidas as bênçãos do amor e compaixão.
Para tal tempo de conturbação. Deus exige de ti dedicação;
no lar, na igreja, em qualquer lugar; podes ser uma bênção, um traço de união.
Em tempos de descrença e de pavor é isto o que te pede teu Senhor:
um coração cheio de fé ingente. Voltado sempre pra teu reino eterno.
Os caminhos são muitos, a estrada é longa, muitas vezes deserta, tortuosa,
e sempre, sempre mostrará valor de uma vida separada pra servir.
Jamais teus olhos fugirão do alvo, do ideal de Deus pra teu viver;
erguerás marcos em cantos de vitória, edificando em santidade e luz.
Serás mulher de fé, tal qual Ana, “Valorosa e prudente como Ester”,
tão doce e pura e bem-aventurada como Maria, a mãe do Salvador.
De geração em geração teus filhos te chamarão bem-aventurada.
Mulher como esta, filha, esposa e mãe, recebe a aprovação do teu Senhor.
Andrônica Borges Alcântara, na Revista Visão Missionária.

Será que estou fazendo a vontade de Deus?

Será que estou fazendo a vontade de Deus?

Deus tem planos específicos para cada um de nós

Em Sua bondade e sabedoria infinitas, Deus define coisas importantes e especiais para nossa vida e nos conduz à realização de cada uma delas de acordo com a permissão que lhe damos. No entanto, justamente porque somos livres, muitas vezes guiados por nossas emoções e desejos, fazemos escolhas erradas e nos desviamos do plano que o Pai Eterno traçou para a nossa felicidade. Aí, sentimo-nos abatidos e, às vezes, perdemos até mesmo o sentido da vida. É como quem está em alto mar orientado por uma bússola e, fazendo uso da sua liberdade, resolve jogá-la fora e guiar-se sozinho.

No início, pode até parecer divertido e libertador, mas, depois de um tempo, começa a perceber os perigos a sua volta e procura, a todo custo, reencontrar o caminho para o porto seguro. O pior é que, nesta busca pelo porto, agarramo-nos aos destroços de coisas e conceitos vazios que nos fazem afundar ainda mais. E isso tem acontecido muito em nossos dias, onde a cultura do liberalismo nos envolve e arrasta para longe dos desígnios de amor que Deus tem para nós. Mas existe uma esperança! Com o auxílio da Graça Divina, sempre é tempo de reencontrarmos a bússola e voltarmos para os braços de Deus.

Dias atrás, uma jovem me procurou pedindo um minuto de atenção. Falou-me dos encontros e desencantos que a vida tem lhe proporcionado, das emoções feridas pela insegurança de um relacionamento que não deu certo, da frustração ao ver sua vida profissional abalada junto com as emoções e a dor de não ser acolhida como gostaria que fosse. Estava fragilizada, mas sua confiança no amor de Deus ainda a mantinha em pé. Aliás, ela mesma afirmou que foi este o motivo que lhe fez vir ao meu encontro. Depois de poucas palavras, concluiu com uma voz embargada e olhos rasos de lágrimas: “Eu só queria descobrir qual é a vontade de Deus para minha vida!”.

Foi justamente ali, enquanto ouvia aquela jovem e fazia um esforço tremendo para não dar sinal de que meu tempo já havia acabado, que decidi escrever sobre esse assunto. Acredito que saber discernir a vontade de Deus a nosso respeito é o segredo para a felicidade. Isso muda o rumo da nossa história e dá sentido a todas as coisas. Mas há um porém: não existe um manual com respostas prontas para essa descoberta. Assim como nossa vida é única diante de Deus, a vontade d’Ele a nosso respeito também é, e esta se revela sutilmente nas entrelinhas dos acontecimentos da nossa história. É preciso interpretá-la! Não podemos insistir em dizer para Deus o que queremos sem antes percebermos o que Ele realmente quer para nós, e isso exige humildade e perseverança.

O fato é que, conscientes ou não, lidamos com o nosso querer e o querer de Deus o tempo todo. Às vezes, estamos de comum acordo, e isso é maravilhoso, mas nem sempre é assim. E quando percebemos que nosso querer não traz paz e tudo indica que Deus nos reserva o contrário do que desejávamos, precisamos ter a coragem e a firme decisão de viver o abandono e optarmos pelo querer de Deus se a nossa meta for a felicidade. Isso é fácil? Claro que não! Aliás é muito difícil e nossa natureza parece que até range por dentro sem querer se dobrar, mas a vida prova que esta é a melhor escolha. No entanto, é importante lembrar que submissão à vontade de Deus é diferente de comodismo e falta de ideal.

É ter a coragem de sonhar, fazer planos e lutar por eles sim! Porém, dando a Deus a liberdade para mudá-los caso seja este o Seu querer. É algo desafiante, mas libertador. A Palavra do Senhor diz que Deus tem desígnios de felicidade para nossa vida (Jereminas 29, 11). E, por intermédio de Jesus, Ele nos mostrou o caminho que nos leva a ela. Por isso, quando vivemos de acordo com Seus ensinamentos expressos nas Sagradas Escrituras, nossa vida funciona em harmonia mesmo em meio às lutas; e quando os ignoramos, nossa vida se desintegra mesmo que pareça termos tudo que desejávamos.

O que eu disse àquela jovem digo também a você: confie seguramente no amor de Deus e acredite. Se você for fiel, Ele não vai desampará-lo! Quanto mais você se aproximar do Senhor, por meio de uma vida comprometida com a oração e a prática da caridade, mais confiança adquire e mais cresce no amor. Sendo assim, já não terá medo do que venha acontecer em sua vida no próximo instante, porque, seja o que for, será o melhor meio que Deus escolheu para sua felicidade.

“O amor lança fora todo temor” (1 Jo 4,18)
Dijanira Silva: Dijanira Silva, missionária da Comunidade Canção Nova, 

Existe receita para ser uma mulher feliz?

Existe receita para ser uma mulher feliz?

“Posso fazer tudo que quero, mas nem tudo me convém. Posso fazer tudo que quero, mas não deixarei que nada me escravize.” (1 Cor 6,12)

Muita gente já escreveu sobre como as mulheres devem ser. Há uma infinidade de guias na internet e nas bancas de jornal com regras para isso e normas para aquilo: ‘Fique magra e linda em 10 dias” ou ”Seja a melhor profissional em cinco passos”, bem como ”30 dias para ser a melhor mãe do bairro” e até “Como agarrar o seu homem’’ etc. Em alguns casos, até nas falas de nossas mães e avós existem comentários como “Faz assim que é batata!”, na hora de dar conselhos sobre a vida.

Se você crê em Deus e busca viver de fé, lamento decepcioná-lo, mas essas ”receitas de bolo” estão longe de dar certo na sua vida.

Sofremos grande opressão social em meio a uma ditadura de costumes, modas, ideias e valores que propõem a liberdade feminina, mas, na verdade, aprisionam as mulheres, que, forçadas a ‘se enquadrar’ em um padrão inatingível, se martirizam e se frustram em busca da tal felicidade em cápsulas. Todas precisam necessariamente ser casadas, magras, loiras, mães perfeitas, com estudos e carreira construídos só de acertos, com direito a muitas selfies dessa vida feliz nas redes sociais? Quem disse?

As convenções sociais, a modernidade (ou a tradição), esse blá-blá-blá autoritário não leva em conta que cada pessoa é única, criada e moldada de modo singular, com um dia a dia que pode ou não conter esses parâmetros sociais para trazer uma vida plena e feliz.

Daí, diante de tanta pressão, aumentam os conglomerados de mulheres infelizes, pois se adequar a todos os requisitos ditados pela sociedade é tarefa hercúlea; afinal, cá pra nós, Mulher Maravilha é só no filme.

As mulheres de fé precisam lembrar que, como filhas de Deus, são livres para sonhar e fazer escolhas sempre, e isso não pode ser um problema, mas devem fugir daquilo que não edifica; ao contrário, escraviza.

Santa Teresinha dizia que Deus não coloca em nosso coração um sonho irrealizável. Porém, antes de se lamuriar porque sua vida não está como você sempre sonhou e ficar correndo atrás das modinhas de “como ser uma mulher perfeita”( que tem uma validade muito curta, o que aumenta ainda mais a pressão social) já parou para pensar se os sonhos do seu coração foram plantados em Deus ou baseados na ficção, na vida dos outros e nos delírios midiáticos com os quais somos bombardeados diariamente?

Aproveite para trocar o consumo de conteúdos vazios por alguma leitura que edifique suas ideias e sua alma. A oração pessoal e os sacramentos são vivências de fé que aumentam nossa intimidade com Deus e ajudam a tomar decisões com mais discernimento e atitude cristã.

Uma dose de bom senso, com pés no chão e coração em Deus, que pode tudo, não custa nada e fará com que nós, mulheres, percebamos que somos protagonistas de nossa história. Talvez a sua vida se adeque a algum dos padrões atuais mencionados ou a outros, mas a mulher que vive de fé deposita sua felicidade em Deus, não na busca desenfreada por seguir uma convenção social.

Gosto de lembrar de Nossa Senhora, tão à frente do seu tempo, que aceitou ser mãe do Menino Jesus sem se preocupar com o que os outros iriam pensar ou se era adequado aos padrões da época. Disse ‘sim’ aos planos de Deus, que não estavam em nenhum script social e é para nós, exemplo de uma mulher de fé. Que possamos pedir sua intercessão, para nos livrar de tudo que escraviza nossa vida e possamos ser mulheres de fé que sabem fazer escolhas livres e segundo a vontade de Deus.
Mariella Silva de Oliveira: Mineira , esposa, católica, feliz e amante de uma boa prosa. Jornalista, professora universitária,