Estamos terminando o mês de outubro, mês das missões. Os cristãos sempre tiveram consciência que Cristo os empenham numa missão que deverá durar até o fim dos tempos: anunciar Jesus como Senhor e Salvador e propor a todos os povos a conversão ao Evangelho, recebendo o Batismo e ingressando na Igreja de Cristo.
É interessante como esta ideia, tão simples, tão fundamental e presente no Novo Testamento, hoje parece estranha e impertinente a muitos cristãos, que pensam que anunciar o Evangelho e desejar que outros povos e pessoas se convertam ao Cristo seria um desrespeito a outras religiões e uma prepotência inaceitável da parte dos cristãos. Pensam, estes cristãos, que se todas as religiões são boas, para que converter seus adeptos? Pensam também que Cristo é o principal revelador do Pai, mas não é o único: nas outras religiões, também há uma revelação de Deus e nenhuma crença pode pensar que é a única que revela a verdade.
Segundo esta tese, Buda, Maomé, Confúcio e outros mestres religiosos são também reveladores de Deus... Assim, vai morrendo o ardor missionário em muitos irmãos nossos, num flagrante desrespeito à ordem tão clara e direta do Senhor e dos Apóstolos: “Ide, proclamai, ensinai, fazei discípulos!” – Seguindo o raciocínio desses cristãos cristãos, nós, brasileiros, seríamos hoje ainda adeptos da religião dos índios e dos africanos....
Em dois importantes documentos atuais o Magistério da Igreja rebate e desaprova totalmente esta visão: a Encíclica Redemptoris Missio (RM), do Santo Padre João Paulo II, e a Declaração Dominus Iesus (DI), da Congregação para a Doutrina da Fé. A convicção da Igreja é a seguinte:
(1) “Cristo é o único salvador de todos, o único capaz de revelar e de conduzir a Deus... A salvação só pode vir de Jesus Cristo. Os homens somente poderão entrar em comunhão com Deus por meio de Cristo, e sob a ação do Espírito. Se não excluem mediações participadas de diversos tipos e ordem, todavia elas recebem significado e valor unicamente de Cristo, e não podem ser entendidas como paralelas ou complementares desta” (RM 5).
A ideia é clara: somente em Cristo há salvação e os não-cristãos podem até salvar-se, mas porque Cristo morreu por todos, por toda a humanidade. Todo aquele que siga retamente sua consciência, de certo modo está dizendo “sim” a Cristo, Verbo do Pai. Nenhum fundador de religião pode ser colocado no mesmo nível de Cristo. Se algo de bom tais mestres ensinaram, foi sob a ação do Espírito de Cristo, que enche a face da terra. No entanto, são fragmentos de verdade, ordenados à plenitude que somente em Cristo se realiza!
(2) Também é errado afirmar: “Tudo bem, o Filho de Deus, Verbo eterno, é a verdade plena. Mas Jesus, Verbo feito homem, encarnado, não poderia ser revelador de toda a verdade, pois é apenas um ser histórico, preso no tempo, no espaço, numa cultura particular. Assim, o cristianismo, ligado ao Jesus da história, não pode pensar que tem a plenitude da revelação. Ora, o Papa previne: “É contrário à fé cristã introduzir qualquer separação entre o Verbo divino e Jesus Cristo. O Verbo, que no princípio estava com Deus, é o mesmo que se fez carne” (RM 6). Em outras palavras: o Verbo eterno, único e completo revelador do Pai, é Jesus de Nazaré. O Verbo e Filho eterno encarnou-se pessoalmente em Jesus! Portanto, no Filho feito homem está a plenitude da verdade e da vida!
(3) Além do mais, anunciar a verdade de Jesus não desrespeita a religião de ninguém: “O anúncio e o testemunho de Cristo, quando feitos no respeito das consciências, não violam a liberdade” (RM 7). A fé não deve nunca ser imposta, mas deve ser sempre proposta com coragem, convicção e honestidade. Nós cremos que Jesus é o único Salvador da humanidade e seria uma traição calar isto. A Igreja tem o dever de servir a humanidade anunciando integral e lealmente o Evangelho, com toda a sua radicalidade.
A missão será sempre uma urgência e uma missão permanentes da Igreja: não é propaganda, mas missão e serviço que nascem do próprio mandato de Cristo. Terminemos com as palavras do próprio Papa:
“Por quê a missão? Porque para nós foi-nos dada esta graça de anunciar aos gentios a insondável riqueza de Cristo (Ef 3,8). A Igreja, e nela cada cristão, não pode esconder nem guardar para si esta novidade e riqueza, recebida da bondade divina para ser comunicada a todos os homens. Aqueles que estão incorporados na Igreja católica devem sentir-se privilegiados, e, por isso mesmo, mais comprometidos a testemunhar a fé e a vida cristã como serviço aos irmãos e resposta devida a Deus...” (RM 11).
Dom Henrique Soares da Costa
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