A Palavra de Deus

A Palavra de Deus

DOPAS

DOAÇÃO, ORAÇÃO, POBREZA, ALEGRIA E SIMPLICIDADE

6 de agosto de 2010

Perdoa-me se eu orar errado! 
Pe. Zezinho, scj 

Oro sem saber orar. Falo contigo, a quem eu nunca vi, cuja voz jamais ouvi e cuja presença às vezes não sinto. A Ti, a quem nós que seguimos Jesus chamamos de Pai. Não entendendo o mistério de um só Deus que é três pessoas eu falo da minha vontade de conhecer-te e de aprender a falar contigo. Nem sempre sei o que dizer, e não sei dizer o que sinto. Meus diálogos contigo padecem do meu limite de não saber conversar com alguém que nunca vi. 

Assim sendo, perdoa-me, se eu orar errado; se disser coisas que não correspondem aos fatos, ou se me referir a Ti de maneira errada ou inconveniente. Acontece que não sei como és, não conheço o som da tua voz e vivo da fé que recebi dos meus antepassados, fé que a Igreja me oferece. Não sei crer sozinho. Preciso de outros para desenvolver e expressar a minha fé. Mas os outros também não sabem tudo. Então, cremos e oramos como sabemos e dentro dos nossos limites. 

É o meu primeiro pedido: que me ensines a falar contigo. Ainda não sei me dirigir a Ti. Mentiria se dissesse que sei. 

5 de agosto de 2010

     Desci à casa do oleiro a fim de encomendar um vaso. 
     No momento em que esperava para ser atendido, meus olhos admirados passeavam de um objeto a outro, encantados com sua beleza. 
Foi quando reparei em um canto um pequeno pedaço de barro. Pareceu-me abandonado. Aproximei-me e, ali mesmo, fui testemunha de uma coisa espantosa. Remodela-me, Senhor! - repetia com ar sofredor a pobre criatura. 
Impressionado, dirigi-me ao oleiro: 
   Amigo, sempre apreciei teu trabalho. Como todos sabem, a m elhor obra é a que sai de tuas mãos, no entanto, me recuso a acreditar que por mero descuido relegaste um pequeno pedaço de barro à mais triste solidão. 
   Ele me fitou em silêncio, a princípio pensei que fosse condenar minha aflição, mas após alguns minutos se pronunciou: 
   Caro amigo, aprecio tua preocupação, porém o pequeno barro de nada me serve, te garanto que não tem jeito não. 
   Como assim, me recuso a acreditar que tão hábil oleiro não saiba o barro aproveitar. 
   Julgaste-me mal. Este barro é que é um enganador, garanto que milhares de vezes o tomei entre as mãos e todas as vezes decepcionado, me vi forçado a abandoná-lo. É impossível trabalhar com ele, e se o deixo perto de mim é porque mesmo assim o amo de coração. Mas que defeito tão grave é este? É simples, não se deixa modelar. Entendo! - exclamei desconcertado. 
   Neste dia, deixei a olaria pensativo. Quantas vezes pedimos, imploramos... E não sabemos aproveitar as oportunidades que a vida nos dá. Cada dia uma nova porta se abre à nossa frente. Cada dia somos chamados a fazer a experiência da Ressurreição. 
   Podemos aceitar o convite e caminhar ou ficar parado, olhando mais uma porta se fechar. Remodela-me, Senhor! - repetia o pequeno barro. Será que ele queria ser remodelado? E você? 
Regina Célia Suppi 
Importa-se conosco 
Pe. Zezinho, scj 

      Duvido que Deus se importe conosco! - disse aquele prisioneiro, zangado com o fato de que haviam morrido cinco companheiros seus nas celas vizinhas. E concluiu: - Estamos aqui, abandonados de tudo e de todos. Até Deus se esqueceu de nós. Ele nunca perdoou nosso crime! 
(Gn 4,13) 
        Escutar um homem gritando isso pelos corredores e sua voz ressoando nos nossos ouvidos, dói, dá vontade de voltar lá e, como padre, tentar uma conversa com ele. Mas não vai aceitar. Afinal, que explicação teria eu, que acredito em Deus, para uma pessoa que se sente abandonada por Ele? Que frases da Bíblia usarei, se de antemão sei que não vai acreditar nelas. Que pensamentos clássicos da fé usarei, se ele já decidiu que não acredita neles? 
        O fato é que, sofrendo, machucado na alma, ele acha que Deus não se importa com ele, porque seu sofrimento nunca foi amenizado. A verdade é que muitos não se arrependem. Querem ser perdoados sem ter que perdoar. Querem clemência sem penitência. Não importam-se com Deus e querem que Deus se importe com eles. Na verdade, Deus importa-se, mas não do jeito que eles acham que deveria ser. O bandido que trouxe seu revólver e o esfregou no altar para dar sorte na hora de usá-lo tinha a noção mais errada possível de religião e de Deus. Ele e aquele homem que matou três soldados para tirar um companheiro de crime de uma viatura não estão sozinhos. Muita gente diz isso: "-Acho que Deus me jogou aqui e me esqueceu. Ele não se importa com o que acontece comigo". 
     Aí vem Jesus e diz que devemos olhar os lírios do campo e que devemos procurar, primeiro, o reino de Deus, que o resto nos será dado como acréscimo. Este primeiro o Reino é que pesa! Se não o procuramos nem queremos que ele venha cheio de misericórdia e de serviço aos irmãos, não haverá resto de acréscimo. Vem Jesus e diz que Deus não deixará que seja desperdiçado nem um fio de nossos cabelos (Lc 21,18) e sabe de cada fio de cabelo que temos na cabeça. Mas, como convencer uma pessoa que Deus se importa conosco e com cada célula de nosso corpo, se acontecem coisas ruins com as pessoas e Ele não interfere? 
    O mistério do bem e do mal sempre existirá. Quem por acaso, fizer uma leitura acurada do livro de Jó, vai descobrir que o livro se debruça sobre o mistério do sofrimento humano do começo ao fim. Desgraça após desgraça, só no fim é que Jó entende que Deus se importa com ele. Durante todo o período de sofrimento, assaltavam-lhe dúvidas cruéis. Era demais para a sua cabeça. Jó é um pouco de todos nós. Quando estamos bem não nos importamos muito com Deus. Quando estamos mal, gostaríamos que Ele se importasse conosco. 
Como explicar ao ser humano, que o mistério da graça é mistério que se pode tentar entender, mas que não é fácil? Que tem que haver correspondência? Jesus curou gratuitamente o homem da piscina de Bethesda e sem que o homem pedisse. Mas ao encontrá-lo no Templo cobrou uma vida honesta para que não caísse numa pior (Jo 5.2-14). Cobrou de Pedro, de Judas, de todos. Avisou que haveria cruz! A graça pode até vir de graça, mas não fica de graça. Tem que haver resposta. O episódio da figueira que não produzia frutos porque não era estação foi dramático. Um exemplo que assustou os discípulos. Temos que produzir frutos. Não temos nem a desculpa de dizer que não era aquela a estação (Mt 21,18-21). 
     Vivemos cercados de mistérios e um deles é a existência do mal no mundo. O bem nos parece natural que exista. É o mal que dói sempre além da conta, porque é um mistério que incomoda. Como o mau não tem estação para injetar o seu veneno, o bom não pode esperar o tempo de fazer o bem. Se procurado, tem que ter o que oferecer! Pense dessa maneira no Deus que se importa! Ele se importa para que nos importemos! 
      Oremos para entender os desafios da vida... 

4 de agosto de 2010

Parceiros do Criador 
Pe. Zezinho, scj 

       Somos todos esse poço de limites. Cremos, achamos ter achado Deus e logo vem a tentação de nos acharmos seus parceiros privilegiados. Fazem isso os fundadores de novas igrejas, os fundadores de novos grupos dentro de uma Igreja. Organizamo-nos como num exército de fiéis e começamos a dizer, não como obreiros, mas como mestres de obra, que Deus quer que terminemos a Sua obra desse jeito: isto é, do nosso jeito. 
        É impressionante observar com que facilidade decidimos qual o caminho, quais os tijolos e quais as pedras que se pode usar na construção do Reino de Deus. Estas orações, estes cantos, este ritual, esta disciplina, estas palavras e este jeito de crer... Tem que ser o nosso. Os demais não estão construindo com Deus... 
Deus tem muitos parceiros inconvenientes. Assim que ajuntam número suficiente de seguidores, começam a se comportar não como servidores, mas como sócios e mestres de obra. Gentilmente e com um sorriso angelical, até com lágrimas e cabeça torta, vão impondo o seu jeito de construir o Reino. Afinal, fazem milagres, expulsam demônios, curam e convertem pessoas. Deles Jesus diz que no dia da verdade se apresentarão como parceiros Dele. E Jesus não os reconhecerá, mesmo tendo construído impérios religiosos (Mt 7,21-26). Construíram o reino do jeito deles, mas não do jeito de Deus (Mt 7,25). 
        Uma das expressões mais perigosas de se pronunciar é essa: Deus me disse! Tomemos cuidado com quem a diz e conosco mesmos. Na maioria das vezes é desvio de trabalhador auto-nomeado mestre-de-obras que inventa detalhes inúteis e, diante do possível protesto de quem trabalha na construção, inventa que foi Deus quem quis. 
Deus nos quer a todos como parceiros. Mas está claro no livro santo que o projeto é Dele. Quando criamos o nosso e o forçamos, insistindo que veio de Deus, a parceria terminou. 
       Deus dá a graça de realizar maravilhas em seu nome. Madre Tereza de Calcutá, Vicente de Paulo, Frederico Osanam e outros grandes construtores do Reino, junto a outros grandes pensadores do Reino como Thomás de Aquino Alberto Magno e milhares que serviram e até deram sua vida pelos outros, toda essa gente assumiu a parceria de tornar este mundo melhor do que o encontraram. A Igreja os aponta como santos. Viveram sancionados e portavam na sua vida o selo de qualidade, o "ISO" de Deus. Dos que se auto-nomearam parceiros, mas fizeram o que queriam com a doutrina e o amor é melhor nem falar. É coisa de remador que desviou o barco para onde mais lhe interessava... 
                                
       Dia do Padre  (São João Maria Batista Vianney)

        João Maria Batista Vianney sem dúvida alguma, se tornou o melhor exemplo das palavras profetizadas pelo apóstolo Paulo: "Deus escolheu os insignificantes para confundir os grandes". Ele nasceu em 8 de maio de 1786, no povoado de Dardilly, ao norte de Lyon, França. Seus pais, Mateus e Maria, tiveram sete filhos, ele foi o quarto. Gostava de freqüentar a igreja e desde a infância dizia que desejava ser um sacerdote.
        Vianney só foi para a escola na adolescência, quando abriram uma na sua aldeia, escola que freqüentou por dois anos apenas, porque tinha de trabalhar no campo. Foi quando se alfabetizou e aprendeu a ler e falar francês, pois em sua casa se falava um dialeto regional.
         Para seguir a vida religiosa, teve de enfrentar muita oposição de seu pai. Mas com a ajuda do pároco, aos vinte anos de idade ele foi para o Seminário de Écully, onde os obstáculos existiam por causa de sua falta de instrução.
      Foram poucos os que vislumbraram a sua capacidade de raciocínio. Para os professores e superiores, era considerado um rude camponês, que não tinha inteligência suficiente para acompanhar os companheiros nos estudos, especialmente de filosofia e teologia. Entretanto era um verdadeiro exemplo de obediência, caridade, piedade e perseverança na fé em Cristo.
     Em 1815, João Maria Batista Vianney foi ordenado sacerdote. Mas com um impedimento: não poderia ser confessor. Não era considerado capaz de guiar consciências. Porém para Deus ele era um homem extraordinário e foi por meio desse apostolado que o dom do Espírito Santo manifestou-se sobre ele. Transformou-se num dos mais famosos e competentes confessores que a Igreja já teve. 
     Durante o seu aprendizado em Écully, o abade Malley havia percebido que ele era um homem especial e dotado de carismas de santidade. Assim, três anos depois, conseguiu a liberação para que pudesse exercer o apostolado plenamente. Foi então designado vigário geral na cidade de Ars-sur-Formans. Isso porque nenhum sacerdote aceitava aquela paróquia do norte de Lyon, que possuía apenas duzentos e trinta habitantes, todos não-praticantes e afamados pela violência. Por isso a igreja ficava vazia e as tabernas lotadas.
      Ele chegou em fevereiro de 1818, numa carroça, transportando alguns pertences e o que mais precisava, seus livros. Conta a tradição que na estrada ele se dirigiu a um menino pastor dizendo: "Tu me mostraste o caminho de Ars: eu te mostrarei o caminho do céu". Hoje, um monumento na entrada da cidade lembra esse encontro.
    Treze anos depois, com seu exemplo e postura caridosa, mas também severa, conseguiu mudar aquela triste realidade, invertendo a situação. O povo não ia mais para as tabernas, em vez disso lotava a igreja. Todos agora queriam confessar-se, para obter a reconciliação e os conselhos daqueles que o consideravam um santo.
   Na paróquia, fazia de tudo, inclusive os serviços da casa e suas refeições. Sempre em oração, comia muito pouco e dormia no máximo três horas por dia, fazendo tudo o que podia para os seus pobres. O dinheiro herdado com a morte do pai gastou com eles.
    A fama de seus dons e de sua santidade correu entre os fiéis de todas as partes da Europa. Muitos acorriam para paróquia de Ars com um só objetivo: ver o cura e, acima de tudo, confessar-se com ele. Mesmo que para isto tivessem que esperar horas ou dias inteiros. Assim, o local tornou-se um centro de peregrinações.
   O Cura de Ars, como era chamado, nunca pôde parar para descansar. Morreu serenamente, consumido pela fadiga, na noite de 4 de agosto de 1859, aos setenta e três anos de idade. Muito antes de ser canonizado pelo papa Pio XI, em 1925, já era venerado como santo. O seu corpo, incorrupto, encontra-se na igreja da paróquia de Ars, que se tornou um grande santuário de peregrinação. São João Maria Batista Vianney foi proclamado pela Igreja Padroeiro dos Sacerdotes e o dia de sua festa, 4 de agosto, escolhido para celebrar o Dia do Padre.

2 de agosto de 2010

Dia Litúrgico: Tempo Comum, Semana XVIII, Segunda-Feira

         Evangelho (Mt 14,13-21): Naquele tempo, ao ser informado da morte de João, Jesus partiu dali e foi, de barco, para um lugar deserto, a sós. Quando as multidões o souberam, saíram das cidades e o seguiram a pé. Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes.
Ao entardecer, os discípulos aproximaram-se dele e disseram: «Este lugar é deserto e a hora já está adiantada. Despede as multidões, para que possam ir aos povoados comprar comida!». Jesus porém lhes disse: «Eles não precisam ir embora. Vós mesmos dai-lhes de comer!». Os discípulos responderam: «Só temos aqui cinco pães e dois peixes». Ele disse: «Trazei-os aqui».
      E mandou que as multidões se sentassem na relva. Então, tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção, partiu os pães e os deu aos discípulos; e os discípulos os distribuíram às multidões. Todos comeram e ficaram saciados, e dos pedaços que sobraram recolheram ainda doze cestos cheios. Os que comeram foram mais ou menos cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.

Comentário: 
Ergueu os olhos para o céu...
       Hoje, o Evangelho toca nossos "esquemas mentais"... Por isso, hoje, como nos tempos de Jesus, podem surgir as vozes dos prudentes para sopesar se vale a pena determinado assunto. Os discípulos, ao ver que se fazia tarde e, como não sabiam como atender àquelas pessoas reunidas em torno de Jesus, encontraram uma saída honrosa: «Que possam ir aos povoados comprar comida!» (Mt 14,15). Não podiam esperar que seu Mestre e Senhor contrariasse esse raciocínio, aparentemente tão prudente, dizendo-lhes: «Vós mesmos dai-lhes de comer!» (Mt 14,16). Um ditado popular diz: «Aquele que deixa Deus fora de suas contas, não sabe contar». E é verdade, os discípulos —e nós também— não sabemos contar, porque nos esquecemos freqüentemente, de acrescentar o elemento de maior importância na soma: Deus mesmo entre nós.                                     Os discípulos fizeram bem as contas; contaram com exatidão o número de pães e peixes, mas ao dividí-los mentalmente entre tanta gente, eles obtinham sempre um zero periódico; por isso optaram pelo realismo prudente: «Só temos aqui cinco pães e dois peixes» (Mt 14,17). Não percebem que eles têm a Jesus —verdadeiro Deus e verdadeiro homem— entre eles! Parafraseando a São Josemaria, não nos seria mal recordar aqui que: «os empreendimentos de apostolado, está certo —é um dever— que consideres os teus meios terrenos (2 + 2 = 4). Mas não esqueças nunca! que tens de contar, felizmente, com outra parcela: Deus + 2 + 2...». O otimismo cristão não é baseado na ausência de dificuldades, de resistências e de erros pessoais, mas em Deus que nos diz: «Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos» (Mt 28,20). Seria bom se você e eu, quando confrontados com as dificuldades, antes de darmos uma sentença de morte à ousadia e ao otimismo do espírito cristão, contássemos com Deus. Tomara possamos dizer como São Francisco, naquela oração genial: «Onde houver ódio que eu leve o amor», isto é, onde as contas não baterem, que contemos com Deus. 
Dom Xavier Romero