A Palavra de Deus

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14 de julho de 2018


Espírito Santo: a força vivificante de um Deus em movimento




Foto ilustrativa: evgenyatamanenko by Getty Images


A graça do mistério de um Deus dinâmico

Ano de 1989, estava com apenas dez anos de idade, prestando atenção na professora de Ciências, que explicava à classe o que era o vento. Dizia ela:

“Vocês conseguem ver o vento?”
– “Não”. Respondia a classe.
– “Vocês conseguem pegá-lo?”
– “Não.” Tornavam a responder os alunos.
– “Vocês conseguem sentir o vento?”
– “Sim”. Afirmavam eles.
– “E o que é o vento?” Perguntou a professora.

Os alunos, então, ficaram em silêncio, porque não sabiam dar uma resposta diante do mistério escondido naquela pergunta. A professora, com um leve sorriso, diante daquele silêncio, respondeu:

“O vento é o ar em movimento”.

Jesus disse a Nicodemos: “O vento sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem e nem para onde vai (…)” (Jo 3,8).

O vento é um agente da natureza misterioso. Não podemos prendê-lo, tampouco podemos definir o seu curso e a sua ação, e ao mesmo tempo em que sopra forte, destruindo o que não está firme, também surge como uma brisa suave, que refresca e traz serenidade. Assim é o Espírito Santo de Deus, o Qual sempre foi simbolizado pelos antigos, como vento, (Hebraico: rúah = hálito de Deus, sopro, respiração; Grego: pneuma = soprar, respirar, espírito aéreo; vento).

Se o vento é o ar em movimento “como ensinou-me a minha boa professora” podemos dizer que o Espírito Santo é Deus em movimento, Deus que não para de trabalhar, como nos falam as Sagradas Escrituras: “Meu Pai trabalha sempre e Eu também trabalho” (Jo 5,17). É a ação contínua de Deus de forma misteriosa, sensível e poderosa. É o “Vento” que guiou e guia a Igreja de Cristo ao longo da história, Ele é o vento que até hoje sopra sobre as “velas do barco da salvação”, que é a Santa Igreja, e a conduz rumo à pátria definitiva, a Jerusalém Celeste.

No dia de Pentecostes, a Palavra de Deus diz que, antes de descer sobre os Apóstolos o Espírito em forma de “línguas de fogo”, Ele entrou no lugar como “vento impetuoso” (At 2,2). E até o próprio Jesus, antes da Ascensão, “soprou” (o mesmo rúah de Gênesis 2,7) sobre os Apóstolos o Espírito Santo (Cf. Jo 20, 22).

O “vento”, na Bíblia, é muito mais do que um símbolo ou uma forma de ilustrar o Espírito Santo, porque para os antigos, o vento era sinal de vida ativa, sinal da presença misteriosa de Deus, era a Vida do próprio Deus incutida no homem, aquilo que lhes dá dinamismo “dynamis” que quer dizer força, capacidade, movimento.

Muitos têm uma concepção errônea de que o Espírito age apenas em alguns momentos, e nos esquecemos de que estamos cercados pela ação contínua de Deus, pois Ele não só mora em nós pelo “sopro” do nosso batismo (sacramento), como também nos envolve, nos movimenta e quer guiar a nossa vida, em qualquer lugar e a qualquer momento. Ah! Como seríamos cristãos diferentes se permitíssemos que o “Vento” de Deus soprasse a todo instante as “velas do nosso barco”, para que fosse, de fato, o condutor de nossas ações!

Espírito Santo, uma pessoa da Trindade

Muitos se esquecem de que Ele é uma Pessoa e, sendo assim, podemos senti-Lo como sentimos o vento, de modo que, podemos ter um relacionamento de intimidade e profundidade com Ele. Podemos falar com Ele e ouvir a Sua voz: “O vento sopra onde quer e ouves a sua voz”. Quantos já perderam a “audição” e, o pior, o gosto pela oração, porque não pedem a efusão do Espírito Santo, não entram em comunhão com Ele. Tantos vivem uma profunda aridez espiritual “igual a da terra sem água”, porque não cultivam uma intimidade com a Pessoa do Espírito. Podemos dizer que, como os discípulos de Éfeso, muitas pessoas que são batizadas ainda dizem: “nem sequer sabemos que existe um Espírito Santo” (Cf At 19,2b).

O Papa João Paulo II diz em sua Encíclica Dominum et Vivificanten “Senhor que dá a Vida”: “O sopro da vida divina, o Espírito Santo, exprime-se e faz-se ouvir, da forma mais simples e comum, na oração. É belo e salutar pensar que, onde quer que no mundo se reze, aí está presente o Espírito Santo, sopro vital da oração” (Parágrafo 65).

Não nos esqueçamos de que Deus está conosco agora e está trabalhando, Ele não para, Ele age em nós continuamente na Pessoa do Espírito Santo e, quer ter uma comunhão conosco onde quer que estejamos: em nosso trabalho, nossos estudos, nossas amizades e, principalmente, em nossa forma de orar: “Da mesma forma, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza, porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis” (Romanos 8: 26).

Assim, como temos sensibilidade ao vento, Deus quer fazer de nós pessoas sensíveis à Sua presença doce e poderosa. Deus quer que sejamos pessoas de comunhão com o Seu Santo Espírito. Não podemos mais viver indiferentes à Pessoa do Espírito Santo, como se Ele estivesse preso num lugar ou surgisse na nossa vida de vez em quando! E, como está a sua intimidade com Ele? Você ouve a voz d’Ele? Você O sente, como sente o vento e ar que respira? Você é sensível à presença de Deus, onde quer que esteja? Você se considera um amigo do Espírito Santo?

Onde quer que você esteja agora, Deus quer que você O sinta, e se você ainda não souber que caminho seguir, pois não há mais vida em seu interior, Ele quer soprar sobre você, e não é um vento qualquer, é o Sopro da Vida! Por isso, peçamos juntos:

“Vem, Espírito Santo! Quero sentir a Tua presença, quero tê-Lo como meu melhor Amigo. Vem, Espírito Santo!”.

Daniel Machado: natural de São Bernardo do Campo-SP, é membro da Canção Nova desde 2002. Psicólogo formado pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo, também estudou filosofia pelo Instituto Canção Nova. Atualmente é coordenador do Núcleo de Psicologia Canção Nova que tem por objetivo assessorar e auxiliar a formação dos membros desta instituição.

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