Falo enquanto ela ainda brilha! Depois, não sei se meu escrever será atual. Talvez sim porque haverá em alguma outra mídia alguma outra criança prodígio. De São José dos Campos, 7 anos de idade, ela é uma simpatia, criança prodígio, fenômeno de mídia, inteligência acima da média, pensamento infantil, mas lógico e articulado, atriz-mirim dos sonhos de qualquer cineasta ou diretor de televisão. Não é todo dia que aparece, na mídia, uma Shirley Temple ou uma pequena Maísa.
Os pais a levaram, Raul Gil, um descobridor de talentos a valorizou e tratou-a como criança "na" mídia, mas não "de" mídia. Entendeu os limites da infância de Maísa. Silvio Santos assumiu-a no seu programa, mas tratou-a como criança "de" mídia. Era como se ela soubesse das implicações do novo papel.
Para Maísa, enquanto estava na mídia, mas não era de mídia, a brincadeira foi boa. Mas aos poucos foi ficando séria. Uma coisa é ser "do" condomínio e outra é ir lá e estar "no" condomínio. As obrigações são menores. Maisa, aos 7 anos, não conseguiu brincar de ser atriz mirim e funcionária do SBT. Silvio Santos não conseguiu deixar de ser patrão. Imagino que ela era remunerada pelo ibope que dava à emissora. Imagino que os pais sabiam dos limites da sua filha. Quero imaginar também que compreendiam o alcance da brincadeira-trabalho de sua pequena Maísa.
Quem viu os programas e o passar do tempo, percebeu a mudança. Eu mesmo gravei um dos programas e mostrei-o aos meus alunos de Prática e Crítica de Comunicação. Era um diálogo sobre religião, Adão e Eva, paraíso, castigo, Deus... Eram dois fenômenos de mídia: o velho e vivido apresentador, capaz de comunicar-se com qualquer pessoa e a criança que dominava as luzes e as câmeras. Ele, fazendo perguntas capciosas, um pouco adultas demais, para provocar a argúcia da menina, ela, respondendo do seu jeito brincalhão porque, para Maísa, falar e aparecer diante das câmeras ainda era um brinquedo.
Mas algo deu errado. Maísa chegou ao seu limite. A brincadeira um dia doeu, como dói brincar de cordas, em cima de uma cadeira. Num dos pulos, a criança cai e esfola o rostinho e o joelho. Em cima do palco e sob os holofotes, Maísa chorou sentidamente, quando se viu super-exposta e chamada de palavra que não lhe agradou. Bateu a cabecinha contra a câmera e, assustada com algo inusitado, voltou a ser a criança normal que, diante de um triz, deixa de ser atriz. E o triz foi a humilhação a que se sentiu exposta.
O apresentador de tantas décadas certamente não quis humilhá-la, até porque é pessoa gentil e de fino trato. Brincou, mas Maísa não estava mais na peça. Atrizes disfarçam e seguram o temperamento diante da multidão, mas crianças simplesmente param de brincar. Aqui entram os pais, a platéia, os telespectadores, os educadores, os psicólogos, os juízes e o ibope. Sabiam os pais até onde Maísa poderia ir? Entendia a platéia que Maísa estava trabalhando demais e, às vezes, em situação de adulta? Perceberam os telespectadores que a cordinha esticara ao máximo? E os juízes? Viram? Esperaram o momento de agir? E o ibope? E a mídia. Não foi mídia demais para aquela cabecinha?
Fica a reflexão sem julgamentos. Crianças, por mais brilhantes que sejam, não estão prontas para tanta exposição na mídia, que não poucas vezes tritura as pessoas para saírem do outro lado do tubo no formato certo. Também não estão prontas para montar cavalos xucros na arena. Que montem, no máximo, um carneiro manso ou um mini-jegue. O tombo será mais engraçado e menor. Mas que para elas seja brincadeira. Se uma delas cair, não se humilhe a criança que caiu.
Dizem que um juiz proibiu sua presença naquele formato e naquele programa. E o Sr. Abravanel, vulgo Silvio Santos, um dos mais experimentados apresentadores das últimas décadas sabia ou não sabia? Se não sabia, faltou-lhe a maior das percepções. Se sabia, arriscou, pelos pontos na audiência. Ele que domina a mídia, não teria desta vez escorregado pelos pontos da audiência? Ou era também uma brincadeira de vovô que não queria ter dito o que disse? Chamar uma criança de covarde ou medrosa na frente de milhões de amiguinhos e telespectadores é coisa altíssimo risco. Quem leva crianças à televisão precisa refletir sobre isso. "Na" mídia, ou "de" mídia? Que o "script" delas seja maleável. Crianças, quando sobem mais alto, correm mais risco de se machucarem. A televisão, como suas torres, é mais alta que montanha.
Pe Zezinho scj
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