É próprio do nosso eu melhor infundir força e coragem, consolar, acarinhar como faz a mãe ao seu único filho, provocar comoção e lágrimas, transmitir paz e inspirar projetos de vida, a nós e aos outros, facilitando sua realização e desfazendo impedimentos.
Então sentimos intensa calma no íntimo, doce serenidade invade todo o ser.
No fundo do coração acende-se docemente algo misterioso que faz amar o Criador e desperta ternura pela criação, em que se queira possuí-Ia nem dominá-la, porque, finalmente, é sentida como criatura dele.
Estamos em paz e serenidade quando nos comovemos e sentimos ternura por cada criatura no mais íntimo das entranhas, e agradecemos a Deus por cada uma.
Estamos em paz e serenidade quando somos capazes de queixar-nos pela sensibilidade ainda tão grosseira e chorar pelos milhões de pobres cristos que com nossas afrontas, egoísmos e indiferenças, ou nossas cumplicidades sem consciência, crucificamos hoje.
Estamos em paz e serenidade quando cresce a confiança em Deus e nos irmãos, bem como a esperança, e quando o amor começa a inundar a vida, as relações com os irmãos e com o Pai.
Estamos em paz e serenidade quando sentimos alegria e felicidade pelas coisas de Deus e seus segredos, e o caminho que trilhamos com ele que conduz à liberdade.
Quando estivermos em paz pensemos em não ser orgulhosos, mas redimensionar-nos o mais possível, meditando no pouco que valemos quando estamos deprimidos, sem aquele estado de paz dado por Deus. Porque só Deus pode proporcionar essa paz, assim, sem motivo.
Porque é próprio do Criador entrar e sair da nossa vida fazendo com que ela alcance o cume infinito do seu amor.
Porque é próprio de Deus oferecer emoções de alegria e felicidade e presentear a plenitude e a unidade do nosso eu finalmente recomposto e unido no nicho do nosso eu melhor , arrancando do coração toda tristeza e perturbação, astuciosamente inoculadas pelo eu pior.
É preciso estar bem alerta ao rumo dos pensamentos. Se o pensamento inicial, com seus valores, se os meios e fins que os nossos pensamentos se propõem tendem para a paz de cada ser humano e criatura da Criação, então significa que vêm do nosso eu melhor e louvam realmente a Deus, nosso criador e Pai.
Giuliana Martirani - Do livro: A civilização da ternura
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