Muitos livros e poucos leitores
Pe. Zezinho, scj
Especialista ou não, o estudioso de comunicação católica que perpassasse o seu olhar pelos últimos 30 anos de comunicação, nos púlpitos, na mídia impressa, no rádio e na televisão, nos shows e espetáculos e nas liturgias acabaria entre o positivo e o negativo, e, mais cedo ou mais tarde, teria que usar as palavras: confusa, errática, atabalhoada, perplexa.
Foi e continua louvável o gigantesco esforço dos católicos em atingir o seu rebanho com uma mensagem catequética compreendida por todos e em fazer uso dos meios para chegar aos fiéis. Investiu-se muito em comunicação e foi feito de tudo, na maneira mais sincera possível para impedir o fluxo de católicos para outras igrejas ou para trazê-los de volta ou para firmar os católicos nas suas comunidades no seu catolicismo. Em algumas dioceses o resultado foi claro e palpável, noutras faltou alguma coisa, isto, no dizer dos próprios bispos e sacerdotes.
O ponto crucial foi a formação do catequista, a formação dos comunicadores, a começar pelos padres. Não havendo normas coletivas, a grande maioria dos pregadores, sacerdotes e leigos, agiu do jeito que sabia de maneira atabalhoada, de maneira amadorística, e, quando houve cursos, nem todos os comunicadores os freqüentaram. O resultado foi um crasso individualismo de um grande número de comunicadores que, embora bem intencionados e querendo comunicar a catequese católica, acabaram fazendo-a do seu jeito personalista, ressaltando excessivamente o próprio nome e o próprio rosto, ou o grupo o fez de maneira fechada e não poucas vezes sectária: Não abriu espaço para outras correntes de espiritualidade.
Faltou um projeto de comunicação nacional da Igreja do Brasil. Se houve, eu não vi. Faltou um projeto que poderíamos chamar de global, abrangente, ao qual todo e qualquer comunicador estivesse atrelado. Com sensíveis melhorias nas revistas e jornais católicos, bastante melhoria nas emissoras de rádio e televisão, faltou para um grande número dos que a operam um preparo maior, faltaram os cursos especializados. Ainda temos muitos comunicadores que não leram nem mesmo o Catecismo da Igreja Católica. Percebe-se pelo seu discurso. É feito de frases feitas e decoradas.
De um grande número de comunicadores não se exigiu uma formação acadêmica, não se exigiu formação jornalística e não se pediu, o que é pior, formação em catequese. Foram lá, com sua piedade, seu desejo de ajudar, mas com conhecimento fraco e pequeno. Isso inclui sacerdotes e leigos. Valeu muito a cara, a coragem, o entusiasmo, a generosidade, o desejo de evangelizar, valeu menos o estudo, o diploma, o preparo, a prova de que sabiam do que estavam falando.
O problema continua, pois, se ligarmos o rádio e a televisão, veremos muitos desses irmãos católicos a dizer coisas que não combinam nem com a Bíblia nem com o catecismo. Mas está lá esbanjando simpatia, carinho, bondade. Demonstrando pequeno conhecimento das doutrinas católicas, parcializaram a catequese por falta de abrangência. A situação é tal, que quando um irmão chama a atenção para essa falta de conteúdo catequético, evidentemente sempre com as raras exceções, há quem se ofenda, por acreditar que no seu caso, ele está oferecendo a catequese católica, quando, na verdade, está oferecendo de maneira muito parcial, a catequese com a qual ele concorda: doutrina seletiva.
Não há repercussão de documentos básicos, não se toca mais no Vaticano II, nem Puebla, nem mesmo Aparecida. Não se tocam nas encíclicas dos últimos 50 anos, não se repercute o que a Igreja ensina. Fica-se muito no que o movimento ensina, ou no que o indivíduo acha que deve ensinar. Fica-se no fervor, no entusiasmo espiritual e nos conselhos cheios de emoção, mas abandonou-se a catequese e a teologia primeira.
Leciono comunicação há quase 30 anos, gravo os programas de televisão e de rádio, leio, percorro as mais diversas estações e os canais de comunicações das igrejas e percebo que somos vítimas da mesmice. É tudo muito repetitivo e isso demonstra a falta de conhecimento dos comunicadores. Se lessem mais e estudassem mais, teriam muito mais a dizer, mas estão fechados na sua pequena comunicação e nos seus grupos de espiritualidade e não se abrem. Sabem que existem documentos e encíclicas, mas às vezes não lembram nem o seu nome e demonstram claramente que não os leram.
Se falam de nomes e de livros de catequese, não levam a conversa adiante, porque tem dificuldade de dizer qual o conteúdo daquelas mensagens. Simplesmente não leram, mas estão lá oferecendo uma catequese, que destoa da catequese oferecida nos últimos 50 anos aos católicos. Parecem o garçom que, diante de uma terrina da mais suculenta sopa, cheia de grandes nacos de verdura e de carne, mergulha sua concha e põe apenas caldinho no prato do ouvinte. Eles mesmos não fazem uso e não oferecem o conteúdo sólido desses documentos.
Tenho falado à exaustão sobre isso, a tempo e a contratempo como pede São Paulo, mas parece que não chega à maioria dos comunicadores. Ou não acreditam ou se irritam, e se magoam profundamente. Verdade é verdade e fato é fato e não há como negá-lo: continuam não lendo e por isso não oferecem o pensamento dos Papas, dos últimos 50 anos e os documentos da Igreja na América Latina. Simplesmente não estudaram e não leram, não são catequistas de verdade porque não repercutem o pensar de toda a Igreja.
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