A Palavra de Deus

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DOPAS

DOAÇÃO, ORAÇÃO, POBREZA, ALEGRIA E SIMPLICIDADE

8 de abril de 2020


Nas tempestades da vida, tenha esperança 








Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Esperança e fé precisam caminhar juntas

“Por vários dias, não vimos nem o sol, nem as estrelas, e a violenta tempestade continuava a nos ameaçar. Já tínhamos perdido toda a esperança de salvação” (At 27, 20).

Qual a situação da sua vida que necessita de esperança?

       Mesmo que, por vários dias, meses e anos a sua vida esteja sem sol e sem estrelas, o tempo nublado com nuvens cinzentas, não se deixe envolver pelo desânimo. As dificuldades não podem fazer da sua vida uma contínua tempestade agitando o seu interior a ponto de dizer já perdeu toda a esperança. Por mais que os acontecimentos causem medo e sejam assustadores, Deus está conosco! Nas tempestades da vida tenha esperança! Em vez de dizer que já perdeu toda a esperança, proclame: ainda tenho um restinho de esperança, que me faz ver a salvação que vai acontecer!

       Durante a caminhada da vida os ventos contrários irão ocorrer, portanto, é necessário coragem e confiança para continuar a caminhar. Há momentos em que os passos estão lentos, e parece que estamos andando para trás. A vida é assim, mesmo com ventos contrários, somos desafiados a desbravar cada dificuldade e a perceber que vamos driblando e passando por elas.

       Uma das áreas da vida que mais abalam uma pessoa é o lado material, e quando o resultado do “balanço geral” de uma vida inteira é prejuízo, essa pessoa entra num desespero total. É urgente verificar o valor que você está dando para a sua vida; conforme passa o tempo o mundo vai tornando-se mais perigoso e as coisas valendo mais que a vida. As perdas materiais não podem fazer de você uma pessoa infeliz.

       Imagine um navio com duzentas e setenta e seis pessoas sendo jogado de um lado para o outro durante vários dias por causa da violência da tempestade, e neste navio há seus familiares e amigos. O que vale nessa hora é a vida de cada pessoa, o navio pode afundar.

       A Eucaristia tem que ser para o cristão o centro de sua vida, Ela nos reanima para continuarmos a caminhada do dia-a-dia. A cada Eucaristia nos abastecemos de esperança.

       Tem Jeito!

Cleto Coelho – Comunidade Canção Nova

Isolamento social é um ato de amor








Foto ilustrativa: MundusImages by Getty Images

       Queridos irmãos e irmãs em Cristo, uma das palavras que mais temos escutado nos últimos dias é isolamento social. Para muitos, a pandemia do coronavírus não passa de uma histeria coletiva. Contudo, quando olhamos para outros países, e neste momento em especial para a Itália, deparamo-nos com a certeza de que a pandemia é uma realidade perigosa e que mata. Por isso mesmo, o isolamento social é o caminho para frear o avanço do coronavírus.

Isolamento social não é egoísmo

       Isolar-se socialmente, neste momento, não é um ato de egoísmo, mas sim uma prova de amor ao próximo e a nós mesmos. No Evangelho de hoje lemos: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força! O segundo mandamento é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo! Não existe outro mandamento maior do que estes” (cf. Mt 12,30-31). O que não desejamos para nós também não devemos oferecer ao próximo. Amar implica cuidar da vida e da saúde dos nossos irmãos e irmãs.

       Amar o próximo, nestes tempos de pandemia, significa estarmos distante fisicamente, hoje, para nos abraçarmos alegremente no futuro. Santa Teresinha do Menino Jesus nos ensina que, mesmo distantes um dos outros, podemos estar unidos em oração: “Pensar em uma pessoa que se ama é rezar por ela”.

       Rezemos uns pelos outros e nos cuidemos mutuamente, respeitando as orientações das autoridades civis e religiosas.

Receba minha bênção!

Padre Flávio Sobreiro - 
Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP e Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre (MG), padre Flávio Sobreiro é pároco da Paróquia São José, em Toledo (MG), e padre da Arquidiocese de Pouso Alegre (MG). 

Afaste-se da doença chamada “verborreia”








Foto ilustrativa: HbrH by Getty Images

       Caro internauta, por acaso você já foi incumbido de fazer algo em sua atividade profissional, em casa mesmo ou em qualquer situação de sua vida que o levou a exclamar: “Isso é muito difícil de se fazer” ou “Quanta dificuldade eu estou passando para realizar tal tarefa!”? Tenho certeza que sim. Eu mesmo poderia citar muitas dessas situações que vivi ao longo de minha vida, porém, nesse momento, recordo-me de uma situação em particular e gostaria de expô-la para você.

       Antes de entrar para a Canção Nova, eu trabalhava na metrologia de uma firma de usinagem. Uma de minhas tarefas diárias era desenvolver programas de medição em um equipamento comumente chamado de “máquina tridimensional”. Certa vez, fui incumbido pelo meu chefe de desenvolver um programa de computador que fizesse a medição completa de uma determinada peça que estava sendo produzida naquela época. Quanta dificuldade eu tive para cumprir essa tarefa!

       Recordo-me de que levei quase uma semana de intensos trabalhos. Em muitos momentos, achei que não fosse conseguir cumpri-la. Para dar conta dessa tarefa, veja o que eu me propus fazer: acordava bem cedo, ainda de madrugada, e, às três horas da manhã, eu já estava no meu setor de trabalho com um “joystick” nas mãos desenvolvendo o programa. Esse era o horário mais propício, porque, além do silêncio do ambiente externo, a máquina era pouco requisitada para os demais trabalhos que requeria seu uso. Assim eu poderia trabalhar com mais tranquilidade.

       Ahhh! Ainda tem um detalhe… Nesse horário da madrugada, a minha companhia de programação, além dos apitos causados pelos sensores da máquina, eram as músicas daquele maravilhoso CD de Salmos, o “Ao mestre do canto” gravado pela Eliana Ribeiro. Dessa forma, concluí a tarefa depois de muito trabalho.

Será que você sofre dessa doença?

       Bom!, fiz uma breve partilha de uma tarefa bastante complicada que eu precisei cumprir e tenho a certeza de que você já viveu muitas experiências que também se encaixariam muito bem nesse contexto. Porém, existe uma “atividade” que seria infinitamente mais laboriosa que essa que acabei de citar e que qualquer outra atividade muito custosa que você teve que fazer. Quer saber que atividade seria essa? Respondo: fazer silêncio.

       Caro internauta, observe como a tentação é grande! Apenas para introduzir o assunto, percebam quantas palavras eu me permiti usar. Será que também não acabei de ter uma crise de verborreia? Até mesmo um detalhe que, a princípio, não seria necessário para o entendimento da história que contei, eu resolvi incluir no texto. Portanto, sem querer julgar ou acusar ninguém, acredito que posso afirmar que eu e você sofremos dessa doença.

       O Livro “Um cartucho – Silêncio com Deus” traz a afirmação do filósofo francês católico Gustave Thibon, que é digna de nos enrubescer a face: “no mundo atual, há mais saliva que sangue”. É uma afirmação curta, direta, precisa e, acima de tudo, verdadeira. Fala-se muito, multiplicam-se as palavras de maneira exagerada, gastam tempo e saliva e, o que é pior, o essencial está sendo esquecido. Fala-se muito e mal. Nossas palavras têm se tornado, cada vez mais, apenas e tão somente ecos de outras palavras.

Faça silêncio!

       Outra afirmação muitíssimo inspirada foi-nos dada de presente pelo cardeal Robert Sarah em seu livro “Força do Silêncio”: “Um mundo feito de propaganda, de argumentos infindáveis, de vitupérios, de críticas ou, simplesmente, tagarelices é um mundo no qual não vale a pena viver. Os católicos que se associam a esse tipo de alarido, os que adentram na Babel das vozes, de certa maneira, exilam-se da Cidade de Deus”.

       Que tal nos afastarmos um pouco da loquacidade, da tagarelice? Veja, não é para nos emudecer de uma hora para outra, mas falar o necessário. Tenho certeza que fará muito bem a você. Quero concluir esse artigo com mais uma afirmação do cardeal Sarah: “O silêncio é difícil, mas nos torna aptos a nos deixar conduzir por Deus”.

Deus abençoe você e até a próxima!

Gleidson de Souza Carvalho - 
Missionário da Comunidade Canção Nova, candidato às ordens sacras, licenciado em Filosofia e bacharelando em Teologia, ambos pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP). 

O coronavírus me fez refletir










Foto ilustrativa: fizkes by Getty Images

       Pelo menos em uma coisa o coronavírus me ajudou: estou, praticamente, decidido sobre o que estudar na faculdade. Ou vai ser tecnologia da informação ou direito. Sim, são cursos bem diferentes, mas o motivo para escolher um dentre esses dois é o mesmo: se, no futuro, houver outra pandemia, eu preciso ser um hacker ou um legislador, para poder, de alguma maneira, limitar o número de bobagens que as pessoas publicam neste tempo.

        Como meu pai está de quarentena em casa, porque viajou recentemente para São Paulo, ele não consegue fazer outra coisa que não acompanhar cada notícia, vídeo, áudio, texto ou meme que recebe nos seus incontáveis grupos de WhatsApp e encaminhar tudo de volta para os grupos e contatos que ele tem. É um trabalho árduo de informação, diz ele, mas alguém tem que fazer. E fala isso com um ar de seriedade que constrange.

       Se ficasse só no WhatsApp, eu nem me importaria tanto. O problema é quando essa histeria me alcança. Vou escrever e ninguém vai acreditar, mas vou escrever mesmo assim, para que vocês saibam o tipo de pais que eu tenho e o tipo de filho obediente que sou. Não temos saído de casa para nada, exatamente como manda o figurino, exceto quando absolutamente necessário. E hoje foi um desses dias. Alguém tinha que ir à mercearia. Pão, queijo, banana, laranja, maçã, alface. Minha mãe decidiu – a partir de algum vídeo que recebeu no WhatsApp – que comer frutas e verduras é fundamental para melhorar a imunidade, principalmente quando estamos sem tomar sol, trancafiados o dia inteiro num apartamento.

Coronavírus e uma simples ida à mercearia

       Decidir quem iria sair de casa para fazer esse serviço não foi difícil: meu pai ainda não completou os sete dias de quarentena, minha mãe é hipertensa, e minha irmã só tem dez anos; então, não havia outra opção além de mim. Aliás, vale a pena abrir aqui um parênteses para falar da minha irmã. Tudo bem que ela só tem dez anos, mas desconfio que ela só descobriu que estávamos confinados anteontem, no quinto dia!

       Eu até gosto de celular, mas ela estabeleceu um padrão inédito quando o assunto é vício. Ela consegue fazer tudo sem tirar os olhos da tela e os fones dos ouvidos: tomar café, escovar os dentes, tomar banho, ver televisão, dormir… O pior é que, agora que ela descobriu sobre o coronavírus, sei que ela torce, interiormente, para o mundo virar um cenário de The Walking Dead. Não sei de onde ela tirou a ideia de que uma menina que não consegue lavar um prato iria conseguir escapar de um zumbi.

       Esqueçamos minha irmã e voltemos à minha aventura fora de casa. Como falei, ficou decidido que eu iria, e eu estava bem tranquilo quanto a isso. Eu até iria me voluntariar mesmo. Só que eu não estava preparado para o que minha mãe iria aprontar.

       Eu peguei o dinheiro na caixinha e ia saindo, com a pequena lista gravada na memória. Minha mãe deu um grito quando viu que abri a porta e me ordenou que voltasse. Passou quase cinquenta minutos explicando os cuidados que eu teria que ter, desde a hora em que fosse apertar o botão do elevador (ela tinha visto um vídeo sobre usar palitos de dente para não se contaminar), até a hora de pegar o troco. Mas quem deixou o processo incrivelmente lento foi meu pai.

       Para cada recomendação da minha mãe, ele dizia que tinha visto um vídeo falando exatamente daquilo, e falava e-xa-ta-men-te, separando bem as sílabas, como algum professor seu deve fazer na escola. Aí, minha mãe precisava parar e esperar meu pai procurar o vídeo no celular, o que demorava muito, porque além de ele participar de trocentos grupos, ele nem sabe mexer no WhatsApp direito.
Todo cuidado é pouco?

       O resultado, para encurtar a conversa, é que para poder ir para a mercearia, que fica a menos de cem metros do nosso condomínio, tive que vestir calça, sapato, uma camisa UV amarela, uma jaqueta de couro do meu pai e, pasmem!, as joelheiras, cotoveleiras e o capacete que eu usava quando tinha doze anos e andava de skate. Como não tínhamos máscara, minha mãe improvisou uma usando um lenço rosa da minha irmã. Para completar o figurino, que parece ter saído de algum filme pós-apocalíptico, meu pai me fez usar os óculos escuros dele, que devem ter saído da moda antes de ele conhecer a minha mãe. Minhas armas? Três tubinhos carregados de álcool em gel.

       Minha mãe se despediu de mim como se nunca mais fosse me ver – e confesso que essa era a minha vontade naquela hora. Eu nem poderia me livrar de tudo quando descesse do elevador, porque estariam todos me acompanhando pela janela.

       Nem vou contar como foi a reação das pessoas quando entrei na mercearia vestido daquela maneira. Para encerrar, quando eu estava voltando, todos me aguardavam na janela. Assim que me viu de lá de cima, minha mãe fez festa, meu pai começou a me filmar, certamente para mandar para os grupos dele, e minha irmã… Bem, minha irmã não conseguiu esconder a decepção dela. Tenho certeza de que, na imaginação dela, eu voltaria correndo, sendo perseguido por centenas de zumbis.

José Leonardo Ribeiro Nascimento, missionário da comunidade Canção Nova – Aracaju (SE).

Reacender a chama da esperança em tempos de COVID-19









       O mundo contemporâneo, adoecido, esgotado, já não suporta as mesmas dinâmicas. O momento atual exige novas posturas, novas respostas. É preciso mudar, abrir-se às lições e aprendizados decorrentes da pandemia da Covid-19 – que será vencida, mas, lamentavelmente, com sacrifícios de muitos –, sinal incontestável do esgotamento do atual modelo social. Com humildade, é fundamental reconhecer: somente uma dinâmica pode presidir, com êxito, este necessário processo de transformação. Não é suficiente uma solidariedade momentânea, que se resume a doar sobras, para “desencargo de consciência”, como se costuma dizer. Urgentes são as ações verdadeiramente eficazes
em favor dos pobres e dos vulneráveis.

       A situação já é caótica e pesada, com pessoas passando fome – e “a fome dói”, conforme bem diz o povo sertanejo, evidenciando sua sensibilidade social. Há, pois, máxima urgência em se efetivar ações solidárias, consistentes, com o envolvimento e articulação de igrejas, universidades, empreendedores, famílias, jovens altruístas, homens e mulheres generosos.

COVID-19 e a urgência da solidariedade

       O mundo exige criatividade e assertividade na constituição de redes de solidariedade. Dedicar-se a uma ação solidária, realmente transformadora, é exercício com frutos que vão além da ajuda emergencial aos que dependem de amparo para não morrer à míngua. Tem a força educativa que faz compreender a importância do outro. Permite reconhecer que distinções fundamentadas no acúmulo de posses e prestígios de nada valem quando vem uma pandemia, como a do terrível coronavírus, fazendo arder, igualmente, a pele do rico e do pobre, do doutor e do iletrado, do crente e do ateu.

       O exercício da solidariedade permite enxergar: a vida só será bem vivida quando se reconhecer que é dom para todos. E todos têm o direito de vivê-la como dom. A vida precisa ser bem cuidada, com equilíbrio de hábitos, tratamento adequado do meio ambiente, no horizonte da ecologia integral. Um caminho que exige disposição para se envolver em ações solidárias. Agora, mais do que nunca – não apenas como retórica – a solidariedade deve, de fato, emergir em novas formas de governar, ser selo de autenticidade da fé, fundamento de uma cidadania qualificada, caminho para o desenvolvimento integral. No entanto, há ainda uma longa distância a percorrer.

       Muitos, com a consciência entorpecida, ainda insistem em considerar “gesto de solidariedade” o sacrifício de “uma gota no oceano” das próprias posses. Mas, desafiando o egocentrismo, a situação atual empurra o mundo a reconhecer que solidariedade é algo diferente para, assim, encontrar novo caminho, definir novas dinâmicas e práticas. As resistências serão grandes e se revelarão especialmente nos gestos egoístas e mesquinhos. Também naqueles que, passada esta pandemia, permanecerão insanos e nescientes – não sabem que, ao permanecerem imutáveis, conduzem a sociedade, velozmente, a novas pandemias.

O que se pode esperar?

       Em meio à luta, sem tréguas, envolvendo todos os segmentos da sociedade, desafiados a contingenciamentos e a cuidados urgentes com os mais pobres, há de se compreender: a atual moldura da contemporaneidade é uma lista enorme de falimentos, fácil de serem identificados ouvindo analistas sérios. Dedicar-se a essa lista não é agourar ou alimentar sentimentos pessimistas, de fracasso. Trata-se da humilde atitude de deixar-se iluminar e orientar por um novo saber que possa conduzir a humanidade a um ciclo novo, condizente com suas conquistas e avanços. Caminho para convencer a humanidade de que a vida não é simples produto de leis e da matéria.

       No horizonte da sociedade está a interrogação inquietante: o que se pode esperar? É hora da autocrítica necessária e, nessa tarefa, os cristãos, os homens e mulheres de boa vontade devem aprender, de novo, no contexto de seus conhecimentos e experiências, o que é a esperança. É o que o mundo precisa, certamente retomando as raízes da solidariedade – princípio inegociável, que possibilita à humanidade enfrentar falimentos, reconhecer que só o amor redime e reacende a chama da esperança.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo -
O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atual membro da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para as Igrejas Orientais. 

O exercício das “pequenas coisas” durante a quarentena

                                                          









Foto Ilustrativa: by Getty Images / martin-dm

       Caminho é o livro fruto de uma atividade sacerdotal que São Josemaría Escrivá escreveu. Entre outros temas, nessa obra, o santo traz diversas considerações sobre as “pequenas coisas”, sendo, a primeira delas: “Fazei tudo por Amor. Assim não há coisas pequenas: tudo é grande. A perseverança nas pequenas coisas, por Amor, é heroísmo”. Cada uma das considerações sobre o tema me fez refletir sobre esse tempo de quarentena em que nossas atividades e obras estão limitadas.

       Excetuados os profissionais da saúde e de serviços essenciais, protagonistas das grandes coisas (que lhes são cotidianas), nós que estamos limitados às nossas próprias casas, devemos nos ater as pequenas coisas. São Josemaría Escrivá orienta que: “Persevera no cumprimento exato das obrigações de agora. – Esse trabalho – humilde, monótono, pequeno – é oração plasmada em obras que te preparam para receber a graça do outro trabalho – grande, vasto e profundo – com que sonhas”.

       Neste momento de quarentena, o ficar em casa é a exata obrigação de agora, por mais que seja tedioso e que desorganize a rotina, principalmente para aqueles que nunca trabalharam em home office, a graça que esse ato nos trará é a superação desta crise na saúde com um menor número de vítimas e com nossas famílias e amigos saudáveis.

Qual exercício praticar durante a quarentena?

       Embora recolhidos em nossos lares, são muitas as “pequenas coisas” que podemos praticar. A oração, a leitura bíblica, o estudo da doutrina católica, o diálogo com os familiares e várias outras que, talvez, há muito tempo foram deixadas de lado, em razão de uma rotina tumultuada. Mesmo uma ligação para um amigo ou familiar pode resultar em grande alegria para quem à recebe. E as novas tecnologias nos permitem várias formas de contato: por voz, vídeo ou mensagem. O importante é a demonstração de carinho. Nas palavras de São Josemaría Escrivá: “Um pequeno ato, feito por Amor, quanto não vale!”.

       Portanto, não se deixe tomar pela angústia desse tempo de incerteza. Mesmo restrito à própria casa, não se isole dos amigos e da família. O santo nos questiona: “Já paraste a considerar a enorme soma que podem vir a dar ‘muitos poucos’?”. Então, vos pergunto: “já considerou a enorme boa ação de um pouco de oração, de um pouco de estudo, de um pouco de diálogo, principalmente neste momento de isolamento?”.

Abasteça-se de pensamentos bons e positivos

       Afasta de ti esses pensamentos de solidão e impotência. Vê nas pequenas coisas as boas obras que pode empreender. Não digas que não pode sair, lembre-se de que deves ficar. Não pense que não há o que fazer, mas no quanto pode alcançar com um pouco por vez. Resista aos pensamentos negativos e mantenha o foco no fazer, no construir e nas boas obras. Faça sua oração e tenha, na bênção de Deus, a certeza de que superará as dúvidas que essa pandemia trouxe consigo. Evite o excesso de informação que tem lhe causado angústia. Atente-se à fontes de notícias confiáveis, que visam o bem maior e não a mera audiência e o sensacionalismo.

       Sejamos, assim, um pequeno parafuso, como o santo nos aconselha: “Não sejas… bobo. É verdade que fazes o papel – quando muito – de um pequeno parafuso nessa grande empresa de Cristo. Mas sabes o que significa o parafuso não apertar o suficiente ou saltar fora do seu lugar? Cederão as peças de maior tamanho ou cairão sem dentes as rodas. Ter-se-á dificultado o trabalho. – Talvez, se inutilize toda a maquinaria. Que grande coisa é ser um pequeno parafuso!”. Que assim seja.

Luis Gustavo Conde - 
Catequista atuante na evangelização de jovens e adultos. Palestrante focado na doutrina cristã.