A Palavra de Deus

A Palavra de Deus

DOPAS

DOAÇÃO, ORAÇÃO, POBREZA, ALEGRIA E SIMPLICIDADE

3 de outubro de 2012

CORAGEM: NÃO TENHAIS MEDO


Que bela exortação, que belo consolo, que injeção de ânimo, o evangelho: “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino”. Como nas nossas origens, vamos nos tornando cada vez mais um pequenino rebanho; o Senhor nos vai purificando, vai fazendo sua Igreja, a gosto ou a contragosto, perceber que ela está no mundo, mas é diferente do mundo: seu modo de pensar, de viver, de avaliar, de agir não pode ser aquele do mundo.

Efetivamente, vamos nos sentindo cada vez menos compreendidos e menos à vontade na bem-pensante sociedade atual. Somos, enfim, um pequenino rebanho; e a nós o Senhor diz: “Não tenhais medo, pequenino rebanho!” O Pai nos quis dar o Reino – e o Reino é o próprio Jesus, que nos envolve de vida e nos ilumina com seu santo Evangelho! Não tenhais medo!

E, então, Jesus nos exorta: “Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói. Porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. Que palavras belíssimas: O Senhor nos convida à coragem de “vender” a vida, “vender” nossos bens – isto é, relativizar tudo – para fazer de Deus o nosso único absoluto!
Na verdade, Jesus nos convida a esperar de verdade a vida eterna, esperar de verdade que um dia estaremos todos em Deus por meio de Jesus Cristo! O que Jesus hoje os pede é a coragem de viver no mundo, mas sem ser do mundo, sem meter o nariz nesse mundo de modo a perder Deus de vista! Afinal, é tão fácil absolutizar o relativo!

Ah, irmão! Tenhamos – você e eu – a coragem de colocar realmente o tesouro de nossa vida ali, onde a traça não corrói! A vida é preciosa demais para perdê-la com bobagens! Mas, somente veremos isto se estivermos vigilantes, se na união profunda com Jesus pela oração, pela escuta de sua santa Palavra, pela fiel participação nos sacramentos, mantivermos a saudade das coisas do céu.

Aliás, este é uma das carências da Igreja atual: ter quem nos fale do céu, que nos faça sentir desejo do céu, saudade do céu! Uma Igreja que não saiba desejar, sonhar e se encantar com o céu que o Senhor nos prepara, perderá de vista o mais profundo de sua missão, errará o foco e tomará por absoluto o que é apenas relativo – mesmo que seja coisa importante. Coisas importantes com que se preocupar, a Igreja as tem; coisa essencial, somente Jesus, nosso céu, o céu que o Pai nos deu! E – como recordou Bento XVI no Brasil: “esta saudade do céu, esta sede de Deus não é uma alienação, uma fuga da realidade, mas um ver a realidade com os olhos de Deus e, assim, ver realmente, com realismo!”

Por tudo isto, não temais, pequenino rebanho: o Pai vos espera; dar-vos-á o seu Reino. Vale a pena sofrer e suportar contradições nesta vida; vale a pena caminhar com o Senhor, como parte do seu rebanho, que é a Mãe católica! Como dizia São Bernardo de Claraval: “nossa vida neste mundo é semente de eternidade!”
Dom Henrique Soares da Costa

A FORÇA DE VONTADE


 Quase sempre há no homem uma grande soma de forças que ele deixa inativas. O conhecer-se, acertadamente, é um maravilhoso segredo para fazer muitas e grandes coisas. Ficamos impressionados diante de certos trabalhos realizados pela necessidade. Em situações de necessidade, o homem se transforma e muda, por assim dizer, de natureza. A inteligência se engrandece, adquire penetração, lucidez e precisão maravilhosas; o coração se dilata e nada assombra a sua audácia; até o corpo adquire mais vigor.

Por quê? Criaram-se, por ventura, novas faculdades no homem? Não, mas as faculdades que dormiam foram despertadas. Onde tudo era repouso, tornou-se movimento, convergiu para um fim determinado. Aguilhoada pelo perigo, a vontade se desenvolve em sua irresistível potência; ordena imperiosamente a todas as faculdades que concorram para a ação comum; presta-lhe sua energia e sua decisão. Espanta-se o homem ao sentir-se inteiramente mudado. O que apenas ousaria imaginar, o impossível de ontem, torna-se o fato realizado do presente.

O que praticamos, nas circunstâncias extremas e sob o império da necessidade, nos deixa ver o que podemos no curso ordinário da vida. Para obter é mister querer; mas querer, com vontade decidida, resoluta e inconcussa; com vontade que caminha para o fim sem desanimar com os obstáculos ou fadigas. Mas, às vezes, parece-nos ter vontade quando só temos vaidades. Quereríamos, se não fora preciso romper com nossa preguiça, afrontar certos perigos, vencer certas dificuldades. Escasseando de energia a nossa vontade, molemente desenvolveremos nossas faculdades e cairemos desfalecidos ao meio do caminho.

Querer com firmeza assegura o sucesso nas empresas difíceis; por meio dela, dominamos a nós mesmos, condição indispensável para dominar as coisas. Há dois homens em cada homem: um, inteligente, ativo, elevado, nobre em seus pensamentos e em seus desejos, submetido às leis da razão, cheio de ousadia e generosidade; outro inteligente, sem arrojo, sem expediente, não se atrevendo a levantar nem a cabeça nem o coração acima do pó da terra, envolvido inteiramente nos instintos e nos interesses materiais.

O último é um ser de sensações e de gozos; nem lembrança de ontem nem previsão de amanhã. Para ele, a hora presente, o gozo presente é que constituem a felicidade; tudo o mais é nada. Em contrapartida, o primeiro instrui-se com as lições do passado, sabe ler no futuro. Há para ele outros interesses que os de momento; não circunscreve em tão estreito círculo o que se chama à vida, à aspiração da alma imortal. Sabe que o homem é uma criatura formada à imagem de Deus, levanta o pensamento e o coração para o céu, conhece a sua dignidade, compenetra-se da nobreza da sua origem e de seus destinos, paira acima da região dos sentidos. Que direi ainda? Ao gozo, prefere o dever.

Nenhum progresso sólido e permanente é possível se não favorecemos a parte nobre da alma, sujeitando-lhe o homem inferior. O que se domina a si mesmo facilmente domina as circunstâncias. Uma vontade firme e perseverante, além de outras qualidades, liga ou subjuga as vontades mais fracas e lhes impõe, naturalmente e sem esforço, a sua superioridade.

A obstinação é um defeito gravíssimo, pois que fecha nossos ouvidos aos conselhos; porque, a despeito de toda a consideração de prudência ou de justiça, nos encadeia a nossos sentimentos, pensamentos e resoluções: planta vivaz, cuja raiz é o orgulho. Entretanto, os perigos da obstinação são, talvez, menores que os da inconstância. Se a obstinação nos cega, concentrando nossas faculdades em um só ponto, às vezes em um erro, a inconstância enfraquece estas faculdades, ora deixando-as ociosas ora aplicando-as com mobilidade, sem repouso, a mil diversos objetos. A inconstância nos torna incapazes de terminar qualquer empresa. O inconstante colhe o fruto antes da maturidade, recua diante dos mais insignificantes obstáculos; uma leve fadiga, um leve perigo a amedronta, deixa-a à mercê de todas as paixões, de todo o sucesso, de todo o homem que possa ter interesse em dominá-lo; finalmente, fecha os ouvidos aos conselhos da justiça, da razão e do dever.

"Quereis adquirir vontade perseverante, firme e premunir-vos contra a inconstância? Formai convicções firmes, traçai-vos um sistema de vida e nada confieis ao acaso do que lho puderdes subtrair. Os sucessos, as circunstâncias, a vossa previdência de curto alcance não raro vos obrigarão a modificar os planos que houverdes concebido. Não importa, pois não deve esse ser motivo para, de novo, os não formar; isto não vos autoriza a vos entregardes cegamente ao curso das coisas e a caminhar à ventura, pois não nos foi dada a razão como guia e apoio?"

Traçar, de antemão, uma linha de atuação e só agir depois de maduras reflexões é proceder com notável superioridade sobre os que se conduzem ao acaso. O homem que se guiar por estes princípios, ouso afirmá-lo, levará incontestável vantagem sobre os que se portem de outro modo. Se estes são seus auxiliares, naturalmente os porá debaixo de suas ordens e se verá constituído chefe; se são seus adversários ou inimigos, os desbaratará, ainda que com menos recursos.

Consciência reta e tranquila, vontade firme, plano bem concebido, eis os meios para levar a bom termo as empresas difíceis. Isto pede-nos alguns sacrifícios, concordo; supõe trabalho interior, enérgico e perseverante, pois que é mister começar por se vencer a si próprio; mas, assim na ordem intelectual e moral, como na física, nas coisas do tempo, como nas da eternidade, só merece e obtém a coroa o que sabe na luta afrontar as fadigas e os perigos.

O texto foi escrito por Jaime Balmes (1810-1848), jovem e brilhante filósofo espanhol, notável também por sua atividade jornalística e política. É um trecho do seu pequeno e denso livro El Criterio (1845), sua obra mais conhecida, na qual expõe uma série de considerações, simples, claras e certeiras, sobre o pensamento e sobre a vida prática, que merecem ser sempre levadas em consideração.
Jaime Balmes

1 de outubro de 2012

EVANGELHO PARA SEGUNDA E TREÇA-FEIRA


Ano B - Dia: 01/10/2012 Segunda-feira

Quem é o mais importante?
Lc 9,46-50
Os discípulos começaram a conversar sobre qual deles era o mais importante. Mas Jesus sabia o que eles estavam pensando. Então pegou uma criança e a pôs ao seu lado. Aí disse:
- Aquele que, por ser meu seguidor, receber esta criança estará recebendo a mim; e quem me receber estará recebendo aquele que me enviou. Pois aquele que é o mais humilde entre vocês, esse é que é o mais importante.
Quem não é contra vocês é a favor de vocês.
João disse:
- Mestre, vimos um homem que expulsa demônios pelo poder do nome do senhor, mas nós o proibimos de fazer isso porque ele não é do nosso grupo.
Então Jesus disse a João e aos outros discípulos:
- Não o proíbam, pois quem não é contra vocês é a favor de vocês.


Leitura Orante

Preparo-me para a oração, rezando com todos os internautas:

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Creio, Senhor Jesus, 
que sou parte de seu Corpo.
Trindade Santíssima
- Pai, Filho, Espírito Santo,
presente e agindo na Igreja
e na profundidade do meu ser,
eu vos adoro, amo e agradeço.
E invoco o Espírito Santo para que me ilumine na Leitura Orante:

- Vinde Espírito Santo,
enchei os corações dos vossos fiéis.
E acendei neles o fogo do vosso amor.
- Enviai, Senhor, o vosso Espírito e tudo será criado.
- E renovareis a face da terra.
Oremos: Ó Deus, que instruistes os corações dos fiéis 
com as luzes do Espírito Santo, 
fazei que apreciemos retamente todas as coisas, 
segundo o mesmo Espírito 
e gozemos sempre da sua consolação. 
Por Cristo Senhor nosso. Amém.
1. Leitura (Verdade) - O que a Palavra diz?
Começo lendo atentamente o texto do dia, possivelmente, na minha Bíblia: Lc 9,46-50, e observo pessoas, palavras, relações, lugares.
Os que decidem seguir Jesus Cristo, às vezes, se confundem e podem desejar coisas e posturas que deixaram, como "ser o mais importante". É a tentação da competição, da vaidade, do poder. Jesus sabia disto e fez uma explicação: pegou uma criança e a pôs a seu lado. Disse que receber uma criança - o que não acrescenta prestígio nenhum a ninguém - é receber o Pai. Para Ele, o mais humilde, a pessoa sem pretensões, desarmada, é a mais importante. E volta a falar da unidade no nome do Senhor.
2. Meditação (Caminho) O que o texto diz para mim?
Ao seguir Jesus Cristo, jamais vou me deixar dominar pelo espírito de competição e pela tentação de julgar, pela tentação do poder. Na Conferência de Aparecida, os bispos lembraram que devemos entrar nesta dinâmica de Jesus que acolhe os mais fracos e pequenos: "A resposta a seu chamado exige entrar na dinâmica do Bom samaritano (cf. Lc 10,29-37), que nos dá o imperativo de nos fazer próximos, especialmente com o que sofre, e gerar uma sociedade sem excluídos, seguindo a prática de Jesus que come com publicanos e pecadores (cf. Lc 5,29-32), que acolhe os pequenos e as crianças (cf. Mc 10,13-16), que cura os leprosos (cf. Mc 1,40-45), que perdoa e liberta a mulher pecadora (cf. Lc 7,36-49; Jo 8,1-11), que fala com a Samaritana (cf. Jo 4,1-26). (DAp 135).  
3. Oração (Vida) O que o texto me leva a dizer a Deus?
 Rezo:
Jesus Mestre, disseste que a vida eterna consiste
em conhecer a ti e ao Pai.
Derrama sobre nós, a abundância
do Espírito Santo!
Que ele nos ilumine, guie e fortaleça no teu seguimento,
porque és o único caminho para o Pai.
Faze-nos crescer no teu amor,
para que sejamos, como o apóstolo Paulo
testemunhas vivas do teu Evangelho.
Com Maria,
Mãe Mestra e Rainha dos Apóstolos,
guardaremos tua Palavra,
meditando-a no coração.
Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, tem piedade de nós.
4.Contemplação (Vida e Missão) Qual meu novo olhar a partir da Palavra? 
Vou olhar o mundo e a vida com os olhos de Deus. Vou entrar na dinâmica de Jesus que acolhe os mais fracos e pequenos. Escolho uma frase ou palavra para memorizar. Vou repeti-la durante o dia.

Bênção
- Deus nos abençoe e nos guarde. Amém.
- Ele nos mostre a sua face e se compadeça de nós. Amém.
-Volte para nós o seu olhar e nos dê a sua paz. Amém.
- Abençoe-nos Deus misericordioso, Pai e Filho e Espírito Santo. Amém.


Ano B - Dia: 02/10/2012 Terça-feira

O mais importante no Reino
Mt 18,1-5.10
Naquele momento os discípulos chegaram perto de Jesus e perguntaram:
- Quem é o mais importante no Reino do Céu?
Jesus chamou uma criança, colocou-a na frente deles e disse:
- Eu afirmo a vocês que isto é verdade: se vocês não mudarem de vida e não ficarem iguais às crianças, nunca entrarão no Reino do Céu. A pessoa mais importante no Reino do Céu é aquela que se humilha e fica igual a esta criança. E aquele que, por ser meu seguidor, receber uma criança como esta estará recebendo a mim.
- Cuidado, não desprezem nenhum destes pequeninos! Eu afirmo a vocês que os anjos deles estão sempre na presença do meu Pai, que está no céu.

Leitura Orante

Preparo-me para a Leitura, rezando ao Espírito, com todos os internautas:.

Espírito Santo
que procede do Pai e do Filho,
tu estás em nós, falas em nós,
rezas em nós, ages em nós.
Te pedimos: ajuda-nos a fazer espaço às tuas palavras,
à tua oração, para que possamos conhecer
o mistério da vontade de Deus na história.
Acende em nós aquele mesmo fogo
que ardia no coração de Jesus,
quando ele falava do reino de Deus.
Somente tu, Espírito Santo, podes acendê-lo
e a ti, portanto, apresentamos a nossa fragilidade,
a nossa pobreza, o nosso coração apagado,
para que tu o reacendas com o calor da santidade da vida,
do amor fraterno e da potência do Reino.
Amém.
1. Leitura (Verdade) O que diz o texto do dia?
Leio atentamente o texto, na Bíblia: Mt 18,1-5.10.12-14 - O mais importante

Os que decidem por seguir Jesus Cristo encontram alguns problemas.
O primeiro é a competição. Está na pergunta feita a Jesus: "Quem é o mais importante no Reino do Céu?" E a resposta é dada por Jesus através de uma parábola viva: chama uma criança e a coloca na frente de todos. Diz que se não mudarem de vida e não ficarem como as crianças, nunca entrarão no Reino do céu. Naquele tempo, a criança não era considerada. Era símbolo dos pobres, fracos e humildes, pessoas sem pretensões.

O segundo problema é o julgamento, ou seja, pensar que algumas pessoas estão irremediavelmente perdidas. O pastor deixa as 99 ovelhas que não se perderam e vai procurar a ovelha que se perdeu. Jesus veio ao mundo para salvar o que pensamos estar perdido.
2. Meditação (Caminho) 
Quero seguir Jesus Cristo e para isto jamais poderei deixar-me dominar pelo espírito de competição e pela tentação de julgar.

Os bispos, em Aparecida, na V Conferência, lembraram também o perigo da globalização. Disseram: "Conduzida por uma tendência que privilegia o lucro e estimula a concorrência, a globalização segue uma dinâmica de concentração de poder e de riqueza em mãos de poucos. Concentração não só dos recursos físicos e monetários, mas sobretudo da informação e dos recursos humanos, o que produz a exclusão de todos aqueles não suficientemente capacitados e informados, aumentando as desigualdades que marcam tristemente nosso continente e que mantêm na pobreza uma multidão de pessoas. O que existe hoje é a pobreza de conhecimento das novas tecnologias e do uso e acesso a elas. Por isso, é necessário que os empresários assumam sua responsabilidade de criar mais fontes de trabalho e de investir na superação dessa nova pobreza." (DAp 62).
3.Oração (Vida) O que o texto me leva a dizer a Deus?
Rezo a Oração que nos faz todos irmãos,
Pai Nosso ...
4.Contemplação (Vida e Missão) Qual meu novo olhar a partir da Palavra?
Hoje, vou olhar as pessoas com olhar de fraternidade e não me permitirei sentimentos de competição ou juízos sobre as pessoas.

Bênção
- Deus nos abençoe e nos guarde. Amém.
- Ele nos mostre a sua face e se compadeça de nós. Amém.
- Volte para nós o seu olhar e nos dê a sua paz. Amém.
- Abençoe-nos Deus misericordioso, Pai e Filho e Espírito Santo. Amém. 
Ir. Patrícia Silva, fsp 

A FORÇA DE VONTADE


Quase sempre há no homem uma grande soma de forças que ele deixa inativas. O conhecer-se, acertadamente, é um maravilhoso segredo para fazer muitas e grandes coisas. Ficamos impressionados diante de certos trabalhos realizados pela necessidade. Em situações de necessidade, o homem se transforma e muda, por assim dizer, de natureza. A inteligência se engrandece, adquire penetração, lucidez e precisão maravilhosas; o coração se dilata e nada assombra a sua audácia; até o corpo adquire mais vigor.

Por quê? Criaram-se, por ventura, novas faculdades no homem? Não, mas as faculdades que dormiam foram despertadas. Onde tudo era repouso, tornou-se movimento, convergiu para um fim determinado. Aguilhoada pelo perigo, a vontade se desenvolve em sua irresistível potência; ordena imperiosamente a todas as faculdades que concorram para a ação comum; presta-lhe sua energia e sua decisão. Espanta-se o homem ao sentir-se inteiramente mudado. O que apenas ousaria imaginar, o impossível de ontem, torna-se o fato realizado do presente.

O que praticamos, nas circunstâncias extremas e sob o império da necessidade, nos deixa ver o que podemos no curso ordinário da vida. Para obter é mister querer; mas querer, com vontade decidida, resoluta e inconcussa; com vontade que caminha para o fim sem desanimar com os obstáculos ou fadigas. Mas, às vezes, parece-nos ter vontade quando só temos vaidades. Quereríamos, se não fora preciso romper com nossa preguiça, afrontar certos perigos, vencer certas dificuldades. Escasseando de energia a nossa vontade, molemente desenvolveremos nossas faculdades e cairemos desfalecidos ao meio do caminho.

Querer com firmeza assegura o sucesso nas empresas difíceis; por meio dela, dominamos a nós mesmos, condição indispensável para dominar as coisas. Há dois homens em cada homem: um, inteligente, ativo, elevado, nobre em seus pensamentos e em seus desejos, submetido às leis da razão, cheio de ousadia e generosidade; outro inteligente, sem arrojo, sem expediente, não se atrevendo a levantar nem a cabeça nem o coração acima do pó da terra, envolvido inteiramente nos instintos e nos interesses materiais.

O último é um ser de sensações e de gozos; nem lembrança de ontem nem previsão de amanhã. Para ele, a hora presente, o gozo presente é que constituem a felicidade; tudo o mais é nada. Em contrapartida, o primeiro instrui-se com as lições do passado, sabe ler no futuro. Há para ele outros interesses que os de momento; não circunscreve em tão estreito círculo o que se chama à vida, à aspiração da alma imortal. Sabe que o homem é uma criatura formada à imagem de Deus, levanta o pensamento e o coração para o céu, conhece a sua dignidade, compenetra-se da nobreza da sua origem e de seus destinos, paira acima da região dos sentidos. Que direi ainda? Ao gozo, prefere o dever.

Nenhum progresso sólido e permanente é possível se não favorecemos a parte nobre da alma, sujeitando-lhe o homem inferior. O que se domina a si mesmo facilmente domina as circunstâncias. Uma vontade firme e perseverante, além de outras qualidades, liga ou subjuga as vontades mais fracas e lhes impõe, naturalmente e sem esforço, a sua superioridade.

A obstinação é um defeito gravíssimo, pois que fecha nossos ouvidos aos conselhos; porque, a despeito de toda a consideração de prudência ou de justiça, nos encadeia a nossos sentimentos, pensamentos e resoluções: planta vivaz, cuja raiz é o orgulho. Entretanto, os perigos da obstinação são, talvez, menores que os da inconstância. Se a obstinação nos cega, concentrando nossas faculdades em um só ponto, às vezes em um erro, a inconstância enfraquece estas faculdades, ora deixando-as ociosas ora aplicando-as com mobilidade, sem repouso, a mil diversos objetos. A inconstância nos torna incapazes de terminar qualquer empresa. O inconstante colhe o fruto antes da maturidade, recua diante dos mais insignificantes obstáculos; uma leve fadiga, um leve perigo a amedronta, deixa-a à mercê de todas as paixões, de todo o sucesso, de todo o homem que possa ter interesse em dominá-lo; finalmente, fecha os ouvidos aos conselhos da justiça, da razão e do dever.

"Quereis adquirir vontade perseverante, firme e premunir-vos contra a inconstância? Formai convicções firmes, traçai-vos um sistema de vida e nada confieis ao acaso do que lho puderdes subtrair. Os sucessos, as circunstâncias, a vossa previdência de curto alcance não raro vos obrigarão a modificar os planos que houverdes concebido. Não importa, pois não deve esse ser motivo para, de novo, os não formar; isto não vos autoriza a vos entregardes cegamente ao curso das coisas e a caminhar à ventura, pois não nos foi dada a razão como guia e apoio?"

Traçar, de antemão, uma linha de atuação e só agir depois de maduras reflexões é proceder com notável superioridade sobre os que se conduzem ao acaso. O homem que se guiar por estes princípios, ouso afirmá-lo, levará incontestável vantagem sobre os que se portem de outro modo. Se estes são seus auxiliares, naturalmente os porá debaixo de suas ordens e se verá constituído chefe; se são seus adversários ou inimigos, os desbaratará, ainda que com menos recursos.

Consciência reta e tranquila, vontade firme, plano bem concebido, eis os meios para levar a bom termo as empresas difíceis. Isto pede-nos alguns sacrifícios, concordo; supõe trabalho interior, enérgico e perseverante, pois que é mister começar por se vencer a si próprio; mas, assim na ordem intelectual e moral, como na física, nas coisas do tempo, como nas da eternidade, só merece e obtém a coroa o que sabe na luta afrontar as fadigas e os perigos.

O texto foi escrito por Jaime Balmes (1810-1848), jovem e brilhante filósofo espanhol, notável também por sua atividade jornalística e política. É um trecho do seu pequeno e denso livro El Criterio (1845), sua obra mais conhecida, na qual expõe uma série de considerações, simples, claras e certeiras, sobre o pensamento e sobre a vida prática, que merecem ser sempre levadas em consideração.
Jaime Balmes

TRÍPLICE FORMA DE PRATICAR A MISERICÓRDIA


Vimos que Jesus nos indicou três maneiras de praticarmos obras de misericórdia: a primeira a ação, a segunda a palavra e a terceira a oração.

Santa Faustina depois desenvolve este tema dizendo: 'existe uma tríplice forma de praticar a misericórdia: a palavra misericordiosa - pelo perdão e pelo consolo; em segundo lugar - onde não é possível pela palavra, oração - e isso também é misericórdia; em terceiro - obras de misericórdia' (D. 1158).

Então a palavra que Jesus fala é a palavra misericordiosa, palavras que levam consolo e perdão. A oração é uma grande arma que Deus colocou nas nossas mãos, para usarmos. Neste momento podemos e devemos dobrar os joelhos para rezar pela paz no mundo. Nós não podemos chegar ao Afeganistão, para aliviar o sofrimento dos nossos irmãos atingidos pela violência da guerra, mas podemos rezar por eles. E rezando, tocaremos o coração do nosso Deus e terá compaixão daquele povo trazendo-lhe a paz.

E, para aqueles que pensam que precisam ter dinheiro, para fazer obras de misericórdia, Jesus responde-lhes: para muitas almas que às vezes se preocupam por não possuírem bens materiais, para com elas praticar a misericórdia. No entanto, tem um mérito muito maior a misericórdia do espírito, que é acessível a todos. Se a alma não praticar a misericórdia de um ou outro modo, não alcançara a minha no dia do juízo' (D. 1317).
Palotino da Paróquia da Divina Misericórdia RJ 
Pe. Antônio de Aguiar Pereira, SAC

QUAL É A DIREÇÃO DE SUA VIDA?


Para onde você está indo? Onde quer chegar? O que você já fez da sua vida? O que pretende ainda realizar? Onde está a tua descendência? Estas e tantas outras perguntas o ser humano faz, constantemente, ao longo da sua vida!

Poderíamos dizer que somente um adulto pergunta sobre a própria vida, mas isso é um engano, pois até mesmo a mais simples pergunta de uma criança representa a sua dúvida sobre a vida. Porém, cabe a cada um de nós não parar nas perguntas, mas buscar, constantemente, uma resposta. Por que digo constantemente? Pelo simples fato de que, a cada pergunta respondida, outras surgirão!

Podemos chegar a um estado de desespero, de depressão ou de profunda angústia. Isso é muito provável para aqueles que somente buscam respostas para suas perguntas, sem avaliar a fonte, o lugar de onde estão saindo estas respostas. Demos um passo adiante nesta nossa reflexão. Para responder a simples pergunta “para onde estou indo?”, devemos perguntar primeiramente: “quem sou eu?”. Assim teremos o início de uma resposta coerente e verdadeira.

No Salmo 8, o autor sagrado pergunta “Senhor, quem é o homem para cuidar dele tanto assim?”. A resposta encontramos em Gênesis 1,27: “Façamos o homem a nossa imagem e semelhança”. Aqui, começamos a encontrar a resposta essencial e vital de cada um de nós. Se partirmos desta afirmação do Gênesis, que somos criados à imagem e semelhança de Deus, partimos de uma realidade de vocação, ou seja, de um chamado.

A vocação acima falada é a imagem de Deus que somos, ou seja, o Senhor nos chama a sermos Sua imagem, Imago Dei. Mas não é um chamado passivo que espera uma resposta. Não! A imagem divina que somos é uma vocação ativa de Deus a nós. Antes mesmo de respondermos à pergunta que toda criança faz: "O que vou ser quando crescer?", podemos responder: "quem somos"? Fomos criados à imagem do Pai por amor. Nenhuma outra criatura, no mundo, tem este dom tão grande de ser imagem do Criador; porém, todo chamado exige uma reação.

A resposta é a semelhança à qual Deus nos criou. Ou seja, com o dom da liberdade podemos responder e corresponder a essa semelhança naquilo que escolhemos e fazemos. Na certeza de que não basta apenas um agir moral reto, mas uma profunda adesão total e completa daquilo que é uma resposta decidida e definitiva de cada um de nós ao Criador. Ou seja, uma profunda decisão interior a uma constatação de um dom recebido.

Tendo esta consciência de quem somos, podemos dizer que nenhuma pergunta ficará sem resposta, pois a vida não se faz de perguntas, mas de vocação e respostas dadas, a cada dia, a um amor que ultrapassa as barreiras da nossa ignorância e do nosso tempo, mas respeita, porque o verdadeiro amor é aquele que gera liberdade, por isso nos espera até o último momento.

Para onde você está indo? Eu espero que seja ao encontro com o nosso Deus Amor!
Padre Anderon Marçal