A Palavra de Deus

A Palavra de Deus

DOPAS

DOAÇÃO, ORAÇÃO, POBREZA, ALEGRIA E SIMPLICIDADE

4 de maio de 2012

PODE UM CRISTÃO MENTIR?


O salmista não se mostra muito generoso, quando, num momento de decepção, exclama: "Todos os homens são mentirosos" (Sl 116,11). Ser amante da verdade é um aprendizado. Para fugir de complicações, todos temos a tendência para a dissimulação, isto é, procuramos enganar para nos safar de eventuais punições. Só Jesus mesmo para poder dizer: "Eu sou a verdade" (Jo 14,6).

Conheço algumas circunstâncias - as mentirinhas profissionais - em que não se produz culpa. Por exemplo: a enfermeira avisa, ao aplicar uma injeção: "não vai doer". Ou o pároco, quando vai pedir ajuda financeira aos fiéis: "esta é a última campanha que vamos fazer". São as tais mentirinhas inocentes, que não prejudicam ninguém. Mas São Tomás de Aquino ensina que existe uma situação, na qual podemos até mentir em assunto sério. É quando alguém pergunta se nós cometemos certos crimes. É lícito negar, mesmo sendo culpados, porque o ônus da prova cabe ao acusador.

O critério melhor para aquilatar a vileza de uma mentira é verificar o mal que ela produz e os sofrimentos que provoca. A contragosto, refiro-me a homens e mulheres que ocupam cargos de maior relevância como ministros do Supremo Tribunal Federal. Não posso deixar de comentar a fraqueza de alguns ao basearem seu raciocínio contra os direitos das crianças anencefálicas (melhor seria dizer meroencefálicas), com argumentos mais do que equivocados.

Vários ministros e ministras afirmaram que não podem aceitar a intromissão de razões religiosas para julgar a favor da vida dessas crianças. Isso é uma afirmação falsa. É notório que os maiores defensores das crianças provém das fileiras das Igrejas. No entanto, nenhum representante veio argumentar com razões religiosas. Ninguém debateu com argumentos bíblicos. Nenhum aduziu que o Papa não quer.

Os argumentos foram todos humanitários, filosóficos, científicos e de amor à vida. Tais ministros, conscientemente, afrontaram o bom senso, construindo seu voto em cima de uma base errônea. Isso deu um sentimento de insegurança a todos nós. Só vejo uma possibilidade, de eles recuperaram, aos poucos, a confiança da nação seriamente abalada: julgar, com retidão, os envolvidos no mensalão. “A verdade vos libertará” (Jo 8, 32).
Dom Aloísio Roque Oppermann scj
Arcebispo Emérito de Uberaba - MG

3 de maio de 2012

EVANGELHO DE QUINTA E SEXTA-FEIRA

Ano B - Dia: 03/05/2012 Quinta-feira

O Caminho, a Verdade e a Vida
Jo 14,6-14
Jesus respondeu:
- Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém pode chegar até o Pai a não ser por mim. Agora que vocês me conhecem, conhecerão também o meu Pai. E desde agora vocês o conhecem e o têm visto.
Filipe disse a Jesus:
- Senhor, mostre-nos o Pai, e assim não precisaremos de mais nada.
Jesus respondeu:
- Faz tanto tempo que estou com vocês, Filipe, e você ainda não me conhece? Quem me vê vê também o Pai. Por que é que você diz: "Mostre-nos o Pai"? Será que você não crê que eu estou no Pai e que o Pai está em mim?
Então Jesus disse aos discípulos:
- O que eu digo a vocês não digo em meu próprio nome; o Pai, que está em mim, é quem faz o seu trabalho. Creiam no que lhes digo: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Se vocês não crêem por causa das minhas palavras, creiam pelo menos por causa das coisas que eu faço. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quem crê em mim fará as coisas que eu faço e até maiores do que estas, pois eu vou para o meu Pai. E tudo o que vocês pedirem em meu nome eu farei, a fim de que o Filho revele a natureza gloriosa do Pai. Eu farei qualquer coisa que vocês me pedirem em meu nome.


Leitura Orante
Preparo-me para a Leitura da Palavra com todos os internautas, rezando:
Espírito de amor, dai-nos o dom do
vosso santo temor,
para que, conscientes de
nossas fragilidades,reconheçamos a força de vossa graça.
Vinde, Espírito Santo, E dai-nos um novo coração. 
Amém
1. Leitura (Verdade) O que diz o texto do dia?
Leio atentamente, na Bíblia, o texto: Jo 14,6-14, e observo como Jesus fala do Pai.
Filipe queria vê-lo e Jesus . Veja no texto quantas vezes Jesus fala do Pai. Ele está no Pai e o Pai está nele. Ele fala em nome do Pai. O Pai é que nele realiza as obras. E Jesus, finaliza este texto, garantindo que toda coisa boa que pedirmos em nome dele, ele vai atender.
2. Meditação (Caminho) O que o texto diz para mim, hoje? 
É Deus, o Pai que age em mim? Deixo que ele me conduza? É importante recordar o que disseram os bispos, em Aparecida: "A admiração pela pessoa de Jesus, seu chamado e seu olhar de amor despertam uma resposta consciente e livre desde o mais íntimo do coração do discípulo, uma adesão de toda sua pessoa ao saber que Cristo o chama por seu nome (cf. Jo 10,3). É um "sim" que compromete radicalmente a liberdade do discípulo a se entregar a Jesus, Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14,6). É uma resposta de amor a quem o amou primeiro "até o extremo" (cf. Jo 13,1). A resposta do discípulo amadurece neste amor de Jesus: "Te seguirei por onde quer que vás" (Lc 9,57). (DAp 136).
3.Oração (Vida) O que o texto me leva a dizer a Deus?
Rezo, espontaneamente, com salmos ou outras orações e concluo:
Espírito vivificador,
a ti consagro o meu coração:
aumenta em mim o amor a Jesus, Vida da minha vida.
Faze-me sentir filho amado do Pai. Amém.
Ó Jesus Mestre, Verdade, Caminho e Vida, tem piedade de nós.
4.Contemplação (Vida e Missão)Qual meu novo olhar a partir da Palavra?
Meu novo olhar é de filho/a que, como dizia Alberione, "vive em Deus e comunica Deus"
Bênção
- Deus nos abençoe e nos guarde. Amém.
- Ele nos mostre a sua face e se compadeça de nós. Amém.
- Volte para nós o seu olhar e nos dê a sua paz. Amém.
- Abençoe-nos Deus misericordioso, Pai e Filho e Espírito Santo. Amém.


Ano B - Dia: 04/05/2012 Sexta-feira
Jesus, o caminho para o Pai
Jo 14,1-6
Jesus disse:
- Não fiquem aflitos. Creiam em Deus e creiam também em mim. Na casa do meu Pai há muitos quartos, e eu vou preparar um lugar para vocês. Se não fosse assim, eu já lhes teria dito. E, depois que eu for e preparar um lugar para vocês, voltarei e os levarei comigo para que onde eu estiver vocês estejam também. E vocês conhecem o caminho para o lugar aonde eu vou.
Então Tomé perguntou:
- Senhor, nós não sabemos aonde é que o senhor vai. Como podemos saber o caminho?


Leitura Orante
Preparo-me para este momento de oração, em rede com todos os internautas que chegam para este encontro com a Palavra, rezando:
Espírito de verdade,
a ti consagro a mente e meus pensamentos: ilumina-me.
Que eu conheça Jesus Mestre
e compreenda o seu Evangelho.
Ó Jesus Mestre, Verdade, Caminho e Vida, tem piedade de nós.
1. Leitura (Verdade) O que diz o texto do dia?
Leio atentamente, na Bíblia, o texto: Jo 14,1-6, e observo Jesus volta a exortar à fé. E responde a uma pergunta de Tomé.
À pergunta ele responde fazendo uma completa definição de si: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém pode chegar até o Pai a não ser por mim". Comentando este texto, o Bem-aventurado Tiago Alberione diz: "Estabelecer-se totalmente em Jesus Mestre Verdade (mente), Caminho (vontade) e Vida (sentimento); até chegar à suprema altura da nossa personalidade: eu que penso em Jesus Cristo, eu que amo em Jesus Cristo, eu que quero em Jesus Cristo; é o Cristo que pensa em mim, que ama em mim, que quer em mim".
Alberione fundamenta a espiritualidade da Família Paulina em Jesus Mestre Verdade, Caminho e Vida.
2. Meditação (Caminho) O que o texto diz para mim, hoje? 
Onde fundamento a minha espiritualidade? Há tantos métodos bons, baseados na Palavra de Deus. Importante é que tenha um que me leve a viver em Jesus Cristo, ou melhor, que eu deixe Jesus Cristo viver em mim. Os bispos, em Aparecida, disseram: "Jesus Cristo é o Filho de Deus verdadeiro, o único Salvador da humanidade. A importância única e insubstituível de Cristo para nós, para a humanidade, consiste em que Cristo é o caminho, a Verdade e a Vida. "Se não conhecemos a Deus em Cristo e com Cristo, toda a realidade se torna um enigma indecifrável; não há caminho e, ao não haver caminho, não há vida nem verdade". No clima cultural relativista que nos circunda, onde é aceita só uma religião natural, faz-se sempre mais importante e urgente estabelecer e fazer amadurecer em todo o corpo eclesial a certeza de que Cristo, o Deus de rosto humano, é nosso verdadeiro e único salvador." (DAp 22).
3.Oração (Vida) O que o texto me leva a dizer a Deus?
Rezo a oração:
Senhor Jesus, Tu és o Caminho!
Em meio a sombras e luzes,
alegrias e esperanças, tristezas e angústias,
Tu nos levas ao Pai.
Não nos deixes caminhar sozinhos.
Fica conosco, Senhor!
Tu és a Verdade!
Desperta nossas mentes
e faze arder nossos corações com a tua Palavra.
Que ela ilumine e aqueça os corações sedentos de justiça e santidade.
Ajuda-nos a sentir a beleza de crer em Ti!
Fica conosco, Senhor!
Tu és a Vida!
Abre nossos olhos para te reconhecermos
no "partir o Pão", sublime Sacramento da Eucaristia!
Alimenta-nos com o Pão da Unidade.
Sustenta-nos em nossa fragilidade.
Consola-nos em nossos sofrimentos,
Faze-nos solidários com os pobres, os oprimidos e excluídos.
Fica conosco, Senhor!
Jesus Cristo: Caminho, Verdade e Vida,
No vigor do Espírito Santo,
Faze-nos teus discípulos missionários!
Com a humilde serva do Senhor, nossa Mãe Aparecida, queremos ser:
Alegres no Caminho para a Terra Prometida!
corajosas testemunhas da Verdade libertadora!
promotores da Vida em plenitude!
Fica conosco, Senhor! Amém!
Jesus Mestre, Verdade, Caminho e Vida, tende piedade de nós!
4.Contemplação (Vida e Missão) Qual meu novo olhar a partir da Palavra?
Meu novo olhar é em busca do seguimento de Jesus Cristo, com este esquema:
1) caminhando sobre as pegadas (adesão da vontade),
2) escutando a sua doutrina (adesão da inteligência),
3) vivendo no seu amor e na sua graça (adesão do coração e do espírito)
Bênção
- Deus nos abençoe e nos guarde. Amém.
- Ele nos mostre a sua face e se compadeça de nós. Amém.
- Volte para nós o seu olhar e nos dê a sua paz. Amém.
- Abençoe-nos Deus misericordioso, Pai e Filho e Espírito Santo. Amém.
Irmã Patricia Silva, fsp

NOS CAMINHOS DA ORAÇÃO

 
Na simplicidade da vida e na riqueza espiritual de Santa Teresinha do Menino Jesus encontramos uma definição do que seja a oração em toda a sua beleza e plenitude.

“Para mim, a oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado para o céu, é um grito de gratidão e de amor, tanto no meio da tribulação como no meio da alegria”.

Muitos livros já foram, estão sendo, e serão escritos sobre esse tema. Na perspectiva cristã a oração é alimento para a alma. Assim como o corpo humano necessita de nutrientes e vitaminas para manter-se saudável, a vida espiritual também necessita alimentar-se da oração para crescer sempre mais no amor, na fé e na esperança.

Se uma pessoa não se alimenta adequadamente, pode contrair uma anemia, e terá que repor as vitaminas que seu organismo necessita para funcionar normalmente. Em nossa vida espiritual acontece o mesmo processo: se não alimentamos nossa alma com uma vida de oração, adquirimos, com o passar do tempo, uma anemia espiritual.

Essa anemia espiritual faz com que a vida e tudo o que dela decorre torne-se algo somente funcional. Perde-se o motivo e o sentido daquilo que se realiza no cotidiano da vida. Imune ao desgaste dos problemas e dos sofrimentos a pessoa, muitas vezes, sente-se sem motivação para continuar a caminhada. A vida perde o sabor, porque falta o ingrediente principal no cardápio espiritual da vida: a oração.

Quando já sem forças para continuar sua caminhada, a pessoa olha para trás, vê apenas uma vida na qual simplesmente realizou tarefas por obrigação, mas não deu sentido a elas. Na oração encontramos o motivo maior que nos coloca em contato com aquilo que realizamos. Nossa ação é consequência daquilo que nós somos espiritualmente, caso contrário nos tornamos apenas escravos de um ideal ou projeto.

Muitas pessoas se perguntam: “Por que orar?” Oramos não porque Deus precise das nossas orações, mas para que nosso coração seja aberto para percebermos a presença de Deus Pai em nós. Uma vida espiritual, sem a oração, torna-se tão seca quanto um jardim que nunca é regado. Sem água as flores morrem aos poucos. É a água, o adubo, o cuidado que temos com o jardim que faz com que ele cresça e seja belo! Na vida de oração o mesmo processo acontece: se não dedicarmos um tempo para estarmos a sós com Deus, iremos aos poucos deixando nossa espiritualidade seca e sem vida.

Nem sempre os momentos de oração são agradáveis. Em nossa humanidade deficiente, há dias em que oramos e não sentimos absolutamente nada. Parece que estamos ali, mas Deus não está do nosso lado. A caminhada espiritual é um percurso inconstante e nem sempre linear. A nossa vida de oração é semelhante a um gráfico que tem seus momentos de auge e depois ocorrem as quedas. Esse processo é conhecido pelos grandes mestres da oração e místicos como desertos espirituais.

Talvez, se a nossa vida de oração fosse sempre constante e perfeita, corrêssemos o risco de nos acomodarmos e pensar que não precisamos mais orar. Os desertos espirituais nos tiram do nosso comodismo espiritual e nos ensinam que Deus também está presente nos momentos em que não estamos percebendo a Sua presença ao nosso lado.

Alguns desistem de atravessá-lo [deserto espiritual] em sua caminhada de oração e abandonam o percurso pela metade. Quando isso ocorre, a pessoa se afasta de Deus e busca por suas próprias forças encontrar sentido na vida. Quando descobre que o sentido da vida está no Senhor e que, sem Ele, a caminhada é vazia, volta para os braços do Pai e redescobre na oração a luz que lhe retira das sombras de uma noite na qual estava sem rumo e perdido.

Quando oramos fazemos a experiência de Deus em nós. Uma vida de oração transforma a alma num jardim florido, no qual cada flor revela um dom de Deus para ser colocado a favor de cada irmão e irmã. No cotidiano da nossa história a oração é uma ponte que nos liga a Deus e aos nossos irmãos.
Padre Flávio Sobreiro

PROCUREMOS A INTIMIDADE COM JOSÉ


Tens de amar muito São José, amá-lo com toda a tua alma, porque é a pessoa que, com Jesus, mais amou Santa Maria e quem mais privou com Deus: quem mais O amou, depois da nossa Mãe. Ele merece o teu carinho, e a ti convém-te buscar o seu convívio, porque é mestre de vida interior e pode muito diante do Senhor e diante da Mãe de Deus (Forja, 554).

Nas coisas humanas, José foi mestre de Jesus; conviveu diariamente com Ele, com carinho delicado, e cuidou d'Ele com abnegação alegre. Não será esta uma boa razão para considerarmos esse varão justo, esse Santo Patriarca, em quem culmina a fé da Antiga Aliança, como mestre de vida interior? A vida interior não é outra coisa senão uma relação de amizade assídua e íntima com Cristo, para nos identificarmos com Ele. E José saberá dizer-nos muitas coisas sobre Jesus. Por isso, não abandonemos nunca a devoção que lhe dedicamos: Ite ad Ioseph, ide a José, como diz a tradição cristã, servindo-se de uma frase tirada do Antigo Testamento.

Mestre de vida interior, trabalhador empenhado no seu ofício, servidor fiel de Deus, em relação contínua com Jesus: este é José. Ite ad Ioseph. Com São José, o cristão aprende o que significa pertencer a Deus e estar plenamente entre os homens, santificando o mundo. Procuremos a intimidade com José, e encontraremos Maria, que encheu sempre de paz a amável oficina de Nazaré. (É Cristo que passa, n. 56)

A Igreja inteira reconhece em São José o seu protetor e padroeiro. Ao longo dos séculos, tem-se falado dele sublinhando diversos aspectos da sua vida, continuamente fiel à missão que Deus lhe confiou. Por isso, desde há muitos anos, agrada-me invocá-lo com este título muito íntimo: nosso pai e senhor.

São José é realmente pai e senhor: protege e acompanha no seu caminho terreno aqueles que o veneram, como protegeu e acompanhou Jesus enquanto crescia e se tornava homem. (É Cristo que passa, n. 36)
São Josemaría Escrivá

ENTRE LAICIDADE E FÉ

 
O Brasil é um Estado laico. Esta afirmação é exata e adequada ao cenário contemporâneo. A laicidade do Estado brasileiro é um tema que tem ocupado um relevante lugar na pauta de discussões, indispensáveis no conjunto de assuntos de interesse para a vida da sociedade. Contudo, a compreensão da laicidade do Estado ainda vai demandar um considerável percurso.

Compreender o Estado laico é evitar o comprometimento de princípios e valores inegociáveis que traz, como consequência, prejuízos no funcionamento e na organização social. Essas dinâmicas estão, atualmente, se defrontando com um processo de secularização que afeta a vida. Há uma perda da capacidade de escuta e compreensão do Evangelho de Jesus Cristo como mensagem revigorante e transformadora.

O grave problema, nesse caso, é o entendimento sobre o mundo e a humanidade que não considera a dimensão da transcendência. Os desdobramentos daí advindos têm implicações antropológicas com incidências na própria existência humana. É preciso advertir sobre a estrada sem saída que é o discurso sem Deus, contra a religião, contra o cristianismo. Não se pode depredar o tesouro da fé, força estruturante e sustentadora da vida, da história e das pessoas.

Por isso mesmo, é um grave equívoco entender a laicidade do Estado como estrada na contramão do que é próprio da religiosidade. Esta laicidade não é a possibilidade de um relacionamento quase inimigo com a religião e a fé professada. Trata-se de uma configuração que tem sempre como ponto de partida o significado e o alcance de tudo o que promove a cidadania, entendida como a condição de igualdade de todos, implicando em desdobramentos que levem a uma sociedade justa e solidária.
Que no horizonte, com a corresponsabilidade de todos, a complexa e não pouco pesada estruturação do Estado, nas diversas instâncias, dê conta de tecer uma nova realidade, aplicando urgentes correções de rumos e dinâmicas, para superar e mudar cenários já inaceitáveis e sacrificantes da vida de tantos, especialmente dos mais pobres. Neste âmbito, a fé tem tarefa iluminadora. Alcança raízes que a laicidade do Estado deve respeitar e cultivar.

O Estado precisa sim contar com a inteligência própria da fé. A dinâmica que se professa no Cristianismo é determinante no sucesso da compreensão da vida, da dignidade humana e das metas para uma sociedade que deve ser justa e fraterna. Assim, é importante que a laicidade do Estado dê um lugar adequado à religião, não podendo dispensar o que vem da dinâmica da fé cristã.

Pode-se imaginar o que seria da cultura brasileira se não fosse radicalmente marcada pela força do cristianismo? Tudo seria muito diferente. Certamente, uma cultura, em todos os sentidos, bastante empobrecida. E torna-se próxima a ameaça desse empobrecimento quando se estabelece a contraposição entre o pensamento laico e o religioso. Dá-se lugar a uma perspectiva positivista, utilitarista, que desconsidera o sentido transcendente intocável da dignidade humana. Um pensamento que, por opção ou deficiências de caráter filosófico e antropológico, sacrifica dimensões, gera lacunas e perigosas regulamentações.

Exatamente por isso, a Igreja Católica sempre se posiciona, por meio de suas dioceses e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, com sua força colegial, à luz da fé professada e da Verdade do Evangelho da Vida. Assim, ajuda o Estado no exercício de valores éticos e a sociedade no seu caminho. É verdade que a laicidade do Estado não lhe outorga qualquer prerrogativa de interferência em âmbitos da religião. No entanto, a fé, por suas propriedades, tem importantes contribuições a oferecer ao Estado.

Não se trata de interferência ou intromissão indevida. É indispensável a contribuição advinda da fé, dada ao Estado e à sociedade no seu conjunto, por ter suas raízes na profundidade do mistério de Deus. Nessa caminhada, a Igreja Católica, por meio da 50ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, emitiu notas e mensagens em defesa dos territórios e dos direitos dos povos indígenas, quilombolas, pescadores artesanais e demais populações tradicionais; sobre as eleições municipais 2012 e a reforma do Código Penal. As iluminações da fé cristã são antídoto para uma laicidade distante da transcendência, para corrigir descompassos, vencer a corrupção, valorizar a vida em todas as suas etapas e dimensões.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte

O QUINTO MANDAMENTO: NÃO MATARÁS



"Não matarás" (Ex. 20,13). Este mandamento atesta que a vida humana é sagrada e desde seu início ela supõe a ação criadora de Deus e mantém-se para sempre numa relação especial com o Criador, seu único fim. A ninguém é lícito destruir diretamente um ser humano inocente, pois é um ato gravemente contrário à dignidade da pessoa e à santidade do Criador. O direito inalienável à vida de cada ser humano, desde a sua concepção, é um elemento constitutivo da sociedade civil e da sua legislação. Quando o Estado não coloca a sua força ao serviço dos direitos de todos, e em particular dos mais fracos, e entre eles dos concebidos ainda não nascidos, passam a ser minados os próprios fundamentos do Estado de direito. Assim, o Quinto Mandamento proíbe e os considera como gravemente contrários à lei moral: O homicídio direto e voluntário e a cooperação nele. O aborto direto, querido como fim ou como meio, e também a cooperação nele, crime que leva consigo a pena de excomunhão, porque o ser humano, desde a sua concepção, deve ser, em modo absoluto, respeitado e protegido totalmente. A eutanásia direta, que consiste em pôr fim à vida de pessoas com deficiências, doentes ou moribundas, mediante um ato ou omissão duma ação devida. O suicídio e a cooperação voluntária nele, enquanto ofensa grave ao justo amor de Deus, de si e do próximo: a responsabilidade pode ser ainda agravada por causa do escândalo ou atenuada por especiais perturbações psíquicas ou temores graves.

São consideradas práticas contra o respeito à integridade corpórea da pessoa humana os raptos e sequestros de pessoas, o terrorismo, a tortura, as violências, a esterilização direta. As amputações e as mutilações duma pessoa só são moralmente consentidas para indispensáveis fins terapêuticos. Proteger a vida humana requer também do homem um devido cuidado com a saúde física, da nossa e da dos outros, evitando todavia o culto do corpo e toda a espécie de excessos. Por isso deve ser evitado o uso de substâncias que colocam em risco a saúde e também o abuso dos alimentos, do álcool, do tabaco e dos remédios.

Esse mandamento é um clamor pela paz, o Senhor, que proclama «bem-aventurados os obreiros da paz» (Mt 5, 9), pede a paz do coração e denuncia a imoralidade da ira, que é desejo de vingança pelo mal recebido, e do ódio, que leva a desejar o mal ao próximo. Essas atitudes, se voluntárias e consentidas em matéria de grande importância, são pecados graves contra a caridade. A paz no mundo, a qual é exigida para o respeito e desenvolvimento da vida humana, não é a simples ausência de guerra ou equilíbrio entre as forças em contraste, mas é «a tranquilidade da ordem» (S. Agostinho), «fruto da justiça» (Is 32, 17) e efeito da caridade. A paz terrena é imagem e fruto da paz de Cristo.

Para isso se exige a distribuição equitativa e a tutela dos bens das pessoas, a livre comunicação entre os seres humanos, o respeito da dignidade das pessoas e dos povos, a assídua prática da justiça e da fraternidade. Por outro lado, o Catecismo da Igreja Católica ensina que o uso da força militar é moralmente consentido quando há a certeza de um dano permanente e grave; a ineficácia de outras alternativas pacíficas. Essa alternativa é fundamentada na possibilidade concreta de êxito; quando há ausência de males piores, considerado o poder atual dos meios de destruição. Porém, devemos fazer tudo o que é razoavelmente possível para evitar, de qualquer modo, a guerra, devido aos males e injustiças provocados por ela.

É necessário, em especial, evitar a acumulação e o comércio de armas não devidamente regulamentadas pelos poderes legítimos; assim como as injustiças, sobretudo, econômicas e sociais; as discriminações étnicas e religiosas; a inveja, a desconfiança, o orgulho e o espírito de vingança. Tudo quanto se fizer para eliminar estas e outras desordens ajudará a construir a paz e a evitar a guerra.

Portanto, a ordem do Senhor para não matar é acima de tudo um mandamento que respeita a dignidade da pessoa humana como um direito inalienavél, condenando todas as formas de violação ao homem desde do momento da concepção até a morte natural, evitando assim, toda violência física, psíquica e social. Desta forma, para vivermos a santidade proposta neste mandamento, devemos, acima de tudo, respeitar o ser humano, afastando toda atividade nociva a ele, procurando sempre a paz.
Redação Portal
Fonte: Catecismo da Igreja Católica, 2258 a 2330