A Palavra de Deus

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DOPAS

DOAÇÃO, ORAÇÃO, POBREZA, ALEGRIA E SIMPLICIDADE

29 de junho de 2015

Sete doenças espirituais apontadas pelo Papa Francisco


Sete doenças espirituais apontadas pelo Papa Francisco

Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Papa Francisco menciona algumas doenças espirituais que enfraquecem o serviço ao Senhor

1 – Esquizofrenia existencial: vida dupla de quem abandona o serviço pastoral e preenche o vazio com diplomas e títulos acadêmicos.

2 – Alzheimer espiritual: presente em quem constrói ao seu redor muros e hábitos, tornando-se escravo de ídolos esculpidos com as próprias mãos, visto naqueles que dependem completamente do presente, dos caprichos, paixões e manias.

3 – Planejamento excessivo: tira a liberdade do Espírito Santo e, portanto, também dos outros.

4 – Endurecimento mental e espiritual: a consequência perigosa é que as pessoas se tornam “máquinas de práticas” e não “homens de Deus”.

5 – Ação excessiva: ação de quem se descuida de “sentar-se aos pés de Jesus”.

6 – Complexo dos eleitos: narcisismo que olha apaixonadamente a própria imagem e não vê a imagem de Deus nos mais fracos e necessitados.

7 – Fofoca e tagarelice: doença grave. Começa com duas fofocas e toma a pessoa, fazendo com que ela se torne “semeadora de joio” (como satanás). Mata, a sangue frio, a fama de colegas e irmãos de comunidade.

Diante desses males, só o Espírito Santo é o sustento para cada esforço de purificação e conversão; só Maria pode curar as feridas do pecado e, como Mãe, sustentar cada pessoa para que esta seja saudável, santa e santificadora, e possa levar a cura a quem precisa dela.
Por Rodrigo Luiz dos Santos 
Baseado na reflexão do Papa Francisco à Cúria Romana.

Aprenda a cultivar a vida interior


Aprenda a cultivar a vida interior

Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Nas fontes batismais, cultivamos a vida interior que norteia nossas escolhas no cotidiano

A Páscoa é celebrada durante as semanas que se seguem ao dia da Ressurreição do Senhor, nas quais procuramos conhecer mais os sacramentos, as orações e a própria vida da Igreja. Trata-se de um tesouro inesgotável, do qual desejamos continuamente haurir a seiva que sustenta a presença cristã no mundo. A fonte é sempre o Senhor Jesus Cristo, Cabeça do Corpo que é a Igreja, com Sua graça comunicada a todos os cristãos. Nele fomos enxertados pelo batismo, nele desejamos permanecer e produzir frutos (Cf. Jo 15, 1-8). A vida cristã é uma divina aventura, conduzida pela graça de Deus, a fim de que nós manifestemos visivelmente a obra que o Senhor realiza em nossas almas, fazendo a nossa parte na construção do Reino de Deus. Sim, a cada cristão, renascido nas fontes batismais, cabe a tarefa de desenvolver a vida divina que lhe foi concedida.

Começa por dentro, no cultivo daquilo que chamamos vida interior, por meio do cuidado com a semente de vida plantada por Deus em nosso coração. Vale uma pergunta a respeito das ocasiões em que nos encontramos sozinhos, olhando no espelho da própria consciência, para verificar se estamos cuidando com carinho do que Deus mesmo plantou em nós. Como é a nossa oração pessoal? Como utilizamos o tempo livre? Para que exista coerência em nossa existência, há que se cuidar do lado de dentro, a ser continuamente examinado, com o que a Igreja chama de exame de consciência, feito no confronto o que Deus pensa para nós. É fácil perguntar o que penso sobre minha vida, até porque podemos ser juízes tendenciosos em causa própria. Muito mais exigente e libertador é deixar que a luz de Deus ilumine o recôndito de nossa alma. De fato, a Escritura ensina: “Feliz o homem a quem Deus corrige! Não rejeites, pois, a repreensão do Poderoso, porque ele fere, mas trata da ferida; golpeia, mas suas próprias mãos curam” (Jó 5, 17-18).

O cuidado com a vida interior pode contar com duas fontes preciosas, que se completam maravilhosamente. Trata-se da Palavra de Deus, lida, ouvida e praticada, e mais a vida de oração. Como estamos tratando de cristãos desejosos de aprofundar sua vivência pessoal da fé, vale para todos a insistência em rezar mais e rezar melhor. É escolher mesmo um tempo para rezar. A sabedoria da Igreja nos indica as orações da manhã e da noite, a leitura orante da Palavra de Deus, a participação na Eucaristia como ponto alto da semana, além do Rosário e as devoções pessoais, cultivadas com carinho. E a história dos santos nos legou pequenas flechas, dardos de amor dirigidos ao Senhor, chamados “jaculatórias”, começando da invocação do nome de Jesus.

Quantos “peregrinos” aprenderam a dizer “Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus vivo, tem piedade de mim, que sou pecador”, invocação repetida inúmeras vezes durante o dia, a chamada “Oração de Jesus”. Impressionante é a força libertadora da memória que se enche de coisas boas, das quais a melhor é o cultivo da amizade com Deus. O que importa é nortear o programa de vida com escolhas claras, priorizando o que passa na frente, que é seguir a Jesus Cristo.

Toda planta frutífera vem a ser podada de tempo em tempo. Daí vem a magnífica afirmação do Senhor: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não dá fruto em mim, ele corta; e todo ramo que dá fruto, ele limpa, para que dê mais fruto ainda” (Jo 15, 1-2). Como acontece com a parreira de uva, também nossa vida cristã precisa ser podada e purificada. “Nossos pais humanos nos corrigiam, como melhor lhes parecia, por um tempo passageiro; Deus, porém, nos corrige em vista do nosso bem, a fim de partilharmos a sua própria santidade. Na realidade, na hora em que é feita, nenhuma correção parece alegrar, mas causa dor. Depois, porém, produz um fruto de paz e de justiça para aqueles que nela foram exercitados” (Hb 12, 10-11). Certamente não é fácil suportar os golpes de cinzel do divino escultor, que quer esculpir em nós uma obra de arte. Algumas podas permitidas pelo Senhor, como o sofrimento, o cansaço, as tribulações, a perseguição ou as crises pessoais não nos façam perder a esperança.

E chega a nossa vida o tempo dos frutos (Mt 7, 17-12): “Pelos seus frutos os conhecereis”. Nossa união com o tronco, de onde recebemos a seiva da graça, manifesta-se na caridade vivida, na atenção ao próximo, nos gestos e palavras correspondentes à fé professada. Não cabem na vida do cristão a insensibilidade diante do sofrimento nem a desatenção com aquilo que ocorre ao nosso redor. Nos dias que correm dos desastres naturais noticiados, como o terrível terremoto no Nepal, passando pelos vulcões e outros fenômenos, chegamos aos problemas criados pelos homens e mulheres de nossa geração. Há poucos dias, os bispos do Brasil, reunidos em sua 53ª Assembleia Geral, alertaram nosso povo para algumas das muitas mazelas que pedem o testemunho corajoso dos cristãos: “A corrupção, praga da sociedade e pecado grave que brada aos céus (Cf. Papa Francisco – O Rosto da Misericórdia, n. 19), está presente tanto em órgãos públicos quanto em instituições da sociedade.

Combatê-la, de modo eficaz, com a consequente punição de corrompidos e corruptores, é dever do Estado. É imperativo recuperar uma cultura que prima pelos valores da honestidade e da retidão. Só assim se restaurará a justiça e se plantará, novamente, no coração do povo, a esperança de novos tempos, calcados na ética. A credibilidade política, perdida por causa da corrupção e da prática interesseira com que grande parte dos políticos exerce seu mandato, não pode ser recuperada ao preço da aprovação de leis que retiram direitos dos mais vulneráveis”.

Nosso relacionamento com a família, o ambiente de trabalho e todos os níveis de contato com as pessoas e a sociedade devem transformar-se a partir de dentro do coração humano, para gerar uma nova cultura, aquela que o Papa Francisco chama de “cultura do encontro”. O Papa se relaciona com os outros como pessoa que encontra pessoas e que coloca profundamente em jogo a sua vida e busca que seu interlocutor coloque em jogo a si mesmo. É uma metodologia muito pessoal e envolvente, manifesta seu carisma, sua capacidade de ir ao coração do outro e convidá-lo a dar passos, a colocar-se em caminho pelo bem da humanidade. No grande vinhedo do mundo, há alguém que sabe vir de dentro do coração de Deus para que a cultura do Evangelho se espalhe!
Dom Alberto Taveira Corrêa - Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.

A lei da vida


A lei da vida

Temos uma nova lei a implantar, primeiro em nossos corações, para depois contagiar outras pessoas e a sociedade

“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13, 34; Jo 15, 12). Ao saberem do mandamento que agrada mais a Jesus, seus discípulos de todos os tempos se surpreendem e descobrem horizontes abertos e antes inimagináveis para sua vivência do seguimento de Jesus. A novidade e o segredo se encontram numa palavra, “como”! Nosso Senhor não lhes oferece normas de bom comportamento ou civilidade, ou regras para o trânsito da vida, numa convivência respeitosa. Em nosso tempo, há sociedades extremamente organizadas, com os limites bem definidos em direitos e deveres, e que ao mesmo tempo se tornam frias e secas no relacionamento humano.

É que as fontes das decisões ficaram restritas à terra, sem que as pessoas se abram ao transcendente, à vida que vem do céu! A pretendida laicidade do Estado tem produzido muitos frutos negativos. Já o Concílio Vaticano II (Gaudium et Spes, 36), alertava: “Se com as palavras ‘autonomia das realidades temporais’ se entende que as criaturas não dependem de Deus e que o homem pode usar delas sem as ordenar ao Criador, ninguém que acredite em Deus deixa de ver a falsidade de tais assertos. Pois, sem o Criador, a criatura não subsiste. De resto, todos os crentes, de qualquer religião, sempre souberam ouvir a sua voz e manifestação na linguagem das criaturas. Antes, se se esquece Deus, a própria criatura se obscurece”.

Se praticamente todos os seres humanos, em algum momento, reconhecem a existência de Deus, há um valor que só pode ser experimentado por revelação, o fato de sermos filhos de Deus. Só aquele que é o Filho eterno do Pai, desde toda eternidade compartilhando a alegria do amor que é o Espírito Santo, pode anunciar e abrir as portas para que a humanidade compartilhe este valor único, “somos filhos de Deus”. E é do alto, por dom de Deus, que desce gratuitamente o presente do amor da Santíssima Trindade, para que nos amemos na terra como fomos amados. Jesus traz consigo uma “cultura” diferente das lutas pelos interesses individualistas presentes na humanidade, cujos resultados são sobejamente conhecidos, e têm nomes como guerras, opressão, violência e muitos outros.

Podemos pedir licença e entrar na casa da Santíssima Trindade, verificando como vivem as pessoas divinas, com a ajuda dos ensinamentos da Igreja (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 45-48): “O mistério central da fé e da vida cristã é o mistério da Santíssima Trindade. Os cristãos são batizados no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Deus deixou alguns traços do seu ser trinitário na criação e no Antigo Testamento, mas a intimidade do seu Ser como Trindade Santa constitui um mistério inacessível à razão humana sozinha, e mesmo à fé de Israel, antes da Encarnação do Filho de Deus e do envio do Espírito Santo. Tal mistério foi revelado por Jesus Cristo e é a fonte de todos os outros mistérios.

Jesus Cristo nos revela que Deus é Pai, não só enquanto é Criador do universo e do homem, mas sobretudo porque, no seu seio, gera eternamente o Filho, que é o seu Verbo, ‘resplendor da sua glória, e imagem da sua substância’ (Hb 1, 3). O Espírito Santo, que Jesus Cristo nos revelou, é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Ele é Deus, uno e igual ao Pai e ao Filho. Ele procede do Pai (Jo 15, 26), o qual, princípio sem princípio, é a origem de toda a vida trinitária. E procede também do Filho, pelo dom eterno que o Pai faz de Si ao Filho. Enviado pelo Pai e pelo Filho encarnado, o Espírito Santo conduz a Igreja ‘ao conhecimento da Verdade total’ (Jo 16, 13). A Igreja exprime a sua fé trinitária confessando um só Deus em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. As três Pessoas divinas são um só Deus, porque cada uma delas é idêntica à plenitude da única e indivisível natureza divina. Elas são realmente distintas entre si, pelas relações que as referenciam umas às outras: o Pai gera o Filho, o Filho é gerado pelo Pai, o Espírito Santo procede do Pai e do Filho”.

O Pai vive “fora de si”, gerando e amando o Filho, desde toda a eternidade. O Filho vive totalmente para o Pai e o Espírito Santo é amor do Pai e do Filho. A lei é esta! Não se vive para si, mas na doação contínua, desde a eternidade. “Por causa desta unidade, o Pai está todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo, o Filho está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo, todo inteiro no Pai, todo inteiro no Filho” (Catecismo da Igreja Católica, 255).

Jesus propõe nada menos do que esta vida para seus discípulos, quando propõe como “seu” mandamento o amor recíproco. É que trazia dentro de si a experiência da eternidade vivida na comunhão da Santíssima Trindade! E ele diz que este mandamento é novo. “Eu vos dou um novo mandamento”. Novo significa: feito para os tempos novos. Então, de que se trata? Veja: Jesus morreu por nós. Portanto, amou-nos até a medida extrema. Mas que tipo de amor era o seu? Certamente não era como o nosso. O seu amor era, e é, um amor divino.

Ele disse: “Como meu Pai me ama, assim também eu vos amo” (Jo 15,9). Ele nos amou, portanto, com o mesmo amor com qual Ele e o Pai se amam. E com esse mesmo amor nós devemos nos amar mutuamente para realizar o mandamento novo. Na realidade, porém, você como homem, como mulher, não possui um amor dessa natureza. Mas se alegre porque, como cristão, você o recebe. E quem é que o doa? É o Espírito Santo que o infunde no seu coração, nos corações de todos os que têm fé. Existe, então, uma afinidade entre o Pai, o Filho e nós cristãos, graças ao único amor divino que possuímos. É esse amor que nos insere na Trindade. É esse amor que nos torna filhos de Deus. É por esse amor que o céu e a terra estão unidos como que por uma grande corrente. Por esse amor a comunidade cristã se insere na esfera de Deus e a realidade divina vive na terra lá onde existe o amor entre os que creem” (Chiara Lubich, 25 de abril de 1980).

Temos uma nova lei a implantar, primeiro em nossos corações, para depois contagiar outras pessoas e a sociedade, “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Não se trata de fazer uma cruzada para forçar pessoas à conversão, mas testemunho corajoso de valores diferentes. Quem assume como própria esta lei começa a ouvir mais, vai ao encontro dos outros para servir, toma sempre a iniciativa do amor, espalha o perdão, tem calma suficiente para não atropelar os passos no relacionamento com os outros, valoriza o que é diferente e tem ideias novas. Olhando para o céu, enxerga mais e melhor a terra, para transformá-la segundo plano de Deus.
Dom Alberto Taveira Corrêa -  Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.

A fraqueza das reações


A fraqueza das reações

O Papa Francisco, na sua Carta Encíclica Louvado Seja, aponta profeticamente a letargia no cenário de reações em busca de uma ecologia integral. Essa é uma realidade incontestável. Basta pensar que o Protocolo de Kyoto, que alcançou resultados abaixo do que se esperava, já caminha para o encerramento do prazo de validade. Em breve, será realizado em Paris mais um encontro mundial com o objetivo de refletir sobre o meio ambiente e a preservação do planeta. Porém, como se diz, “o papel aceita tudo”. Faltam efetivações – tem razão o Papa Francisco quando levanta a sua voz profética para apontar um gravíssimo problema: a fraqueza das reações. Por isso mesmo, ele convoca todos a contribuírem para uma profunda revolução cultural.

O processo de deterioração da qualidade de vida e a crescente degradação social é uma realidade incontestável. O sacrifício ambiental como condição para se alcançar “desenvolvimento”, sem dúvida, é um atentado à dignidade de toda pessoa. Contribui para multiplicar bolsões de miséria, ilhas de exclusão social e cultural, além de estimular as práticas alicerçadas no consumo exagerado. Assim, conduz a sociedade a uma desumanização com consequências irreversíveis. Não se pode deixar de considerar que esse terrível processo é desencadeado pela negação e substituição de valores inegociáveis, tão imprescindíveis quanto as fundações de um grande edifício. A crise moral em curso no coração da sociedade tem tudo a ver com o processo de degradação ambiental.

Há um descompasso patente e um desgoverno perverso que empurra a humanidade rumo ao crescimento econômico desmedido e descontrolado. Os ambientes urbanos estão, cada vez mais, se tornando pouco saudáveis, devido à contaminação proveniente de emissões tóxicas, além dos problemas de transporte, poluição visual e acústica. As cidades avançam para o caos em razão de seu equivocado funcionamento, com gastos excessivos – de seus moradores e governantes – sem inteligência clarividente. Demanda-se, principalmente das autoridades, rapidez na apresentação de respostas adequadas.

Com a crise ambiental, o preço mais alto é pago pelos pobres que, embora não raramente vivam próximos a lugares com grandes recursos naturais, produzem para poucos. Essa triste situação confirma a mediocridade de setores dos governos e dos vários segmentos da sociedade que têm o poder e o dever de mudar os cenários de injustiça, mas não o faz pela falta de lucidez e, também, em razão da ganância. Seguem na contramão de uma ecologia humana e integral. Lamentavelmente, prevalece o equivocado entendimento de que o mais importante é ajuntar para si as riquezas à custa dos pobres, como sublinha o Papa Francisco na oração final que conclui a Carta Encíclica.

O Santo Padre, pela força de sua autoridade, denuncia e adverte a respeito dos sinais que comprovam como o crescimento dos últimos dois séculos não significou, em todos os seus aspectos, um verdadeiro progresso integral e uma melhoria da qualidade de vida. Não bastarão as conferências sobre meio ambiente, nem mesmo as urgentes legislações adequadas. Ao se considerar a crescente desigualdade planetária, é urgente emoldurar as análises técnicas e o escrito dos protocolos com o indispensável desenvolvimento de uma capacidade de viver com sabedoria. Sublinha o Papa Francisco que é preciso pensar em profundidade e amar com generosidade.

Incontestavelmente, falta um viés e um substrato na ordem espiritual, frequentemente descartado pelo contexto contemporâneo, presidido pela lógica do lucro e da defesa mesquinha de interesses individuais, coletivos, ideológicos, institucionais e de nações. Por que existe a fraqueza das reações, como aponta profeticamente o Papa Francisco? Há uma inércia e uma insensatez, temperada com indiferença, diante do dever de se ouvir com atenção os clamores e lamentos dos abandonados do mundo. Essa escuta é insubstituível para sensibilizar e iluminar a inteligência. A ausência dessa escuta gera irracionalidades, como as guerras, a corrupção e a indisposição para partilhar.

Está em baixa a cultura que pode subsidiar e sustentar o processo urgente de reação diante da grave crise que ameaça o planeta. Por isso mesmo, embora seja evidente a necessidade de se mudar hábitos e lógicas, não se vê atitudes efetivas adotadas pelo grande conjunto de instituições e de pessoas. Quem pode e deve desencadear os processos de mudança não toma posição. Escutar os mais pobres, os que partilham o pouco que ainda possuem, é lição que deve ser aprendida para dar rumo novo à vida da sociedade. Na riqueza do horizonte delineado pelo Papa Francisco na Carta Encíclica Louvado Seja, é hora de conhecer melhor suas indicações, estudá-las e assumir compromissos. É indispensável que todos se empenhem na transformação da realidade, um cenário preocupante em razão da fraqueza das reações.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

Julho, mês do Sangue de Cristo


Julho, mês do Sangue de Cristo

Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Muito mais agora, que estamos justificados por Seu Sangue, seremos por Ele salvos da ira

O mês de julho é dedicado à devoção ao Preciosíssimo Sangue de Cristo, derramado pelo perdão dos nossos pecados. São João Batista apresentou Jesus ao mundo dizendo: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Sem o Sangue desse Cordeiro não há salvação.

São Pedro ensina que fomos resgatados pelo Sangue do Cordeiro de Deus mediante “a aspersão do seu sangue” (1Pe 1, 2). “Porque vós sabeis que não é por bens perecíveis, como a prata e o ouro, que tendes sido resgatados da vossa vã maneira de viver, recebida por tradição de vossos pais, mas pelo precioso Sangue de Cristo, o Cordeiro imaculado e sem defeito algum, aquele que foi predestinado antes da criação do mundo.” (1Pe 1,19).

O Papa Bento XIV (1740-1748) ordenou a Missa e o ofício em honra ao Sangue de Jesus, que foi estendida à Igreja Universal por decreto do Papa Pio IX (1846-1878). São Gaspar de Búfalo propagou fortemente essa devoção, tendo a aprovação da Santa Sé. Ele foi o fundador da Congregação dos Missionários do Preciosíssimo Sangue (CPPS), em 1815. São Gaspar nasceu, em Roma, aos 6 de janeiro de 1786.

O Papa São João Paulo II, em sua Carta Apostólica Angelus Domini, repetiu o que São João XXIII disse sobre o valor infinito do Sangue de Cristo, do qual “uma só gota pode salvar o mundo inteiro de qualquer culpa”.

O Sangue de Cristo representa a Sua vida humana e divina, de valor infinito, oferecida à Justiça Divina para o perdão dos pecados de todos os homens de todos os tempos e lugares. “Isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados” (Mt 26, 28).

Em cada Santa Missa, a Igreja renova, presentifica, atualiza e eterniza esse sacrifício expiatório pela redenção da humanidade. Em média, quatro vezes por segundo essa oferta divina sobe ao céu em todo o mundo, nas Missas.

O Catecismo da Igreja ensina que “nenhum homem, ainda que o mais santo, tinha condições de tomar sobre si os pecados de todos os homens e de oferecer-se em sacrifício por todos” (n. 616); para isso, era preciso um sacrifício humano, mas de valor infinito. Só Deus poderia oferecer esse sacrifício; então, o Verbo Divino dignou-se a assumir a nossa natureza humana para oferecer a Deus um sacrifício de valor infinito. A majestade de Deus é infinita; e foi ofendida pelos pecados dos homens. Logo, só um sacrifício de valor infinito poderia restabelecer a paz entre a humanidade e Deus.

Assim, o Sangue do Senhor nos libertou do pecado, da morte eterna e da escravidão do demônio. São Paulo diz: “Portanto, muito mais agora, que estamos justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm 5,9). Por Seu Sangue, Cristo nos reconciliou com Deus: “Por seu intermédio, reconciliou consigo todas as criaturas, por intermédio daquele que, ao preço do próprio sangue na cruz, restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus” (Cl 1,20).

Com o Seu Sangue, Cristo nos resgatou, fez de nós um povo Seu: “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o seu próprio sangue” (At 20,29). “Por esse motivo, irmãos, temos ampla confiança de poder entrar no santuário eterno, em virtude do Sangue de Jesus” (Hb 10,19).

“Cantavam um cântico novo, dizendo: ‘Tu és digno de receber o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste imolado e resgataste para Deus, ao preço de teu sangue, homens de toda tribo, língua, povo e raça’.” (Ap 5,9)

Hoje, esse Sangue redentor de Cristo está à nossa disposição de muitas maneiras. Em primeiro lugar, pela fé. Somos justificados por esse Sangue, ensina São Paulo: “Mas eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós. Portanto, muito mais agora, que estamos justificados pelo seu Sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm 5, 8-9). “Nesse Filho, pelo seu sangue, temos a Redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça” (Ef 1,7).

Esse Sangue redentor está à nossa disposição também no sacramento da confissão. Pelo ministério da Igreja e dos sacerdotes, o Cristo nos perdoa dos pecados e lava a nossa alma com o Seu precioso Sangue. Infelizmente, muitos católicos ainda não entenderam a profundidade desse sacramento e fogem dele por falta de fé ou de humildade. O Sangue de Cristo perdoa os nossos pecados na confissão e cura as nossas enfermidades espirituais e psicológicas.

O Catecismo ensina que, pelo Sangue de Cristo, a Igreja pode perdoar qualquer pecado: “Não há pecado algum, por mais grave que seja, que a Santa Igreja não possa perdoar. Não existe ninguém, por mais culpado que seja, que não deva esperar com segurança o seu perdão, desde que seu arrependimento seja sincero. Cristo, que morreu por todos os homens, quer que, em sua Igreja, as portas do perdão estejam sempre abertas a todo aquele que recua do pecado” (cf. n. 982).

Esse Sangue está presente na Eucaristia: Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus. “O cálice de bênção, que benzemos, não é a comunhão do Sangue de Cristo? E o pão, que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo? Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim. Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor ” (1 Cor 10,16-27).

“Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,53-56).

É pelo Sangue de Cristo que os santos e os mártires deram testemunho de sua fé e chegaram ao céu: “Meu Senhor, tu o sabes. E ele me disse: Esses são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro”(Ap 7,14).“Estes venceram-no por causa do sangue do Cordeiro e de seu eloquente testemunho. Desprezaram a vida até aceitar a morte” (Ap 12, 11).

É pelo Sangue derramado que Ele venceu e se tornou Rei e Senhor:

“Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome é Verbo de Deus. Um nome está escrito sobre o seu manto: Rei dos reis e Senhor dos Senhores” (Ap 19,13-16).
Felipe Aquino - Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”.

24 de junho de 2015

O que a educação pode fazer pelo coração humano?


O que a educação pode fazer pelo coração humano?

O coração educado cresce em sabedoria diante das pessoas e do eterno 

Pascal, pensador do século XVII, afirmava que “o coração tem razões que a própria razão desconhece: percebe-se isso de mil modos (…)”. Esta sua afirmação tornou-se célebre. O que entendia o pensador por coração? Teria este alguma relação com o grande e nobre desafio da educação?

O coração é um órgão vital do corpo humano, muito estudado, acompanhado e cuidado. A arte médica realizou muitas conquistas no tocante ao cuidado deste órgão vital. No entanto, o coração humano tem conotação mais ampla: é considerado a sede dos sentimentos, expressão da intimidade do ser humano, centro das grandes decisões existenciais e da vida. Para além de considerações fisiológicas, queremos centrar a atenção para aquilo que ele representa.

Podemos dizer que o coração representa o horizonte no qual o ser humano pode atingir o conhecimento de si, de seus sentimentos, de suas paixões, de seus impulsos, tendências, desejos e valores, de suas capacidades e aptidões. São aspectos da existência humana que ultrapassam a mera racionalidade; não são aspectos contrários à razão, mas mais profundos. Assim, o âmbito do coração recebe uma amplidão de possibilidades que está além da razão, sem ignorá-la; indica para experiências originárias de conhecimento! Nessa perspectiva, podemos identificar um horizonte de experiências, no qual a razão lógica não pode penetrar e que, todavia, toca dados objetivos autênticos, segundo uma ordem sua própria.

Tendo presente tais considerações, poderemos perguntar: o que a educação pode fazer pelo coração humano? No que ela pode cooperar para que esta dimensão decisiva da existência humana receba justas orientações para o desenvolvimento de uma existência humana verdadeiramente integrada e integradora? Como as instituições educativas abordam tais aspectos da existência humana, decisivos para o convívio social integrado, harmonioso e respeitoso?

Há, talvez, especialistas e técnicos na arte da educação que desconsideram tais afirmações e indicações. Haveria, talvez, daqueles que considerassem tudo isso tarefa exclusiva dos genitores, da família. Encontraremos outros ainda que, talvez, dirão que tudo isso nada tem a ver com educação… Será?

Certo é que encontramos tantas realidades em que respeito, valores, aptidões, desejos, sonhos, impulsos, regras, aspectos fundamentais do convívio humano civilizado são simplesmente transcurados, senão ignorados. E no empurra-empurra das responsabilidades, vemos um número crescente de pessoas sendo lançadas para as ‘periferias existenciais’.

Não resta dúvidas de que um número sempre maior de pessoas tem acesso à instituição escolar, pois cresceu o número daqueles que chegaram à universidade. Mas sob que condições? Quais seriam os resultados objetivos dessa realidade? Melhorou o convívio social? Vemos pessoas melhor formadas, mais bem informadas? Ora, informação não pode ser considerada sinônimo de formação. Quem, afinal, define o projeto sócio-educativo de um povo, duma nação? E para além de opiniões difusas, não é raro encontrar adolescentes analfabetos que há anos frequentam a instituição escolar; também não é raro encontrar pessoas que passaram pelo terceiro grau e que não conhecem regras básicas da língua madre. Também não é raro encontrarmos professores apavorados, reféns de grupos que agem impunemente; embora em alguns países eles possuem lugar social de destaque, são considerados mestres, gozam de respeito público!

Corações educados, orientados, formados e informados crescem em sabedoria e graça diante dos demais e do Eterno!
Canção Nova

Educação em pauta


Educação em pauta

A sociedade brasileira está convocada a conhecer as mudanças em curso no campo da educação

Um tema de interesse social incontestável. A educação é decisiva na vida de cada cidadão e no conjunto da cultura. Por isso mesmo, os processos educativos precisam ser bem acompanhados para evitar desvios e descompassos. Equívocos na condução desse campo podem condenar gerações a pagar alto preço. Nesse momento, a educação está em pauta e todos, particularmente as famílias, pensando no futuro das crianças e dos jovens, devem se informar e acompanhar tudo o que se propõe para essa área estratégica. Nesse caminho, é importante conhecer o documento final da 2ª Conferência Nacional de Educação (CONAE 2014), realizada entre 19 e 23 de novembro do ano passado.

Um aspecto positivo é a parceria entre Congresso Nacional, sistemas de ensino, órgãos educacionais e a sociedade civil, em busca de uma articulação da educação nacional como uma política de Estado. Os desdobramentos desse processo devem levar os vereadores de todos os municípios e os deputados estaduais a se empenharem na busca da efetivação do que é indicado no Plano Nacional de Educação. Mas para que ocorram avanços, todos os cidadãos precisam conhecer as propostas, refletir e expor suas convicções para os representantes do povo. É importante observar, especialmente, os interesses da família, instituição de imensurável relevância na sociedade.

Não se pode iludir diante da nefasta consideração de que a instituição familiar é algo antiquado. Também é inadequado o questionamento a respeito do modelo de família cristã, referência não apenas para os que professam a fé, pois é sustentáculo incontestável e imprescindível de toda a sociedade. Nesse sentido, é preciso redobrar a atenção e participar da luta para que o Plano Nacional de Educação não exclua a família do processo educativo.

Educar não é tarefa exclusiva do Estado. Reivindica-se que o Estado consiga cumprir a sua tarefa de promover um ensino qualificado, missão que lamentavelmente ainda não é bem exercida. Porém, para o Estado avançar no exercício desse dever, precisa decisivamente da contribuição das famílias, importantes comunidades educativas.

É no contexto familiar que o homem e a mulher são educados para viveram a plenitude de sua dignidade pessoal, em todas as dimensões. Há valores que só podem ser aprendidos na família. Por isso, a inclusão da prejudicial ideologia de gênero no Plano Nacional de Educação é motivo de preocupação. Trata-se de uma ideologia com fragilidades antropológico-culturais que, ao ser inserida no Plano Nacional, determinará o ensino de que ninguém nasce homem ou mulher, mas que deve construir sua identidade, isto é, o seu gênero, ao longo da vida. Gênero seria uma construção pessoal. As crianças não deveriam aprender que são meninos e meninas. Essa absurda compreensão estaria no material didático e o papel educativo da família seria anulado e usurpado. O poder educativo ficaria concentrado nas mãos do ente federado, a partir da orientação de uma ideologia nefasta.Por isso, afirmou bem o Papa Francisco que a “ideologia de gênero é contrária ao plano de Deus”.

Atenção, reflexão e acompanhamento são necessários porque muitos princípios e objetivos regem o Plano Nacional de Educação. As metas incluem a promoção da alfabetização, a universalização do atendimento escolar, melhoria da qualidade da educação, formação para o trabalho e para a cidadania, a promoção do princípio da gestão democrática da educação e, também, a promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do País. Esse documento estabelece, ainda, meta de aplicação de recursos públicos em educação, a partir do produto interno bruto, para assegurar atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e equidade. Além disso, o plano contempla a valorização dos profissionais da educação, a promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental.

Porém, a inclusão da chamada ideologia de gênero no Plano Nacional de Educação é ponto crucial que exige atenção e posicionamento dos cristãos e de todos os que não admitem a desconsideração de valores antropológicos inegociáveis. É urgente conhecer minimamente o assunto em questão. De modo rápido, todo cidadão deve buscar o diálogo com vereadores e deputados estaduais para que a ideologia de gênero seja radicalmente rechaçada. A sociedade não pode correr o risco de sofrer prejuízos irreversíveis. A educação está em pauta e é preciso, urgentemente, agir em defesa da família.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo - Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte

A família é uma escola de formação


A família é uma escola de formação

Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com
                                                                                                                                                                                                                            O seio da família é o ambiente privilegiado do encontro na gratuidade e no amor, uma escola

As crises no atual contexto da sociedade demandam qualificados investimentos em educação. A escola formal é muito importante, pode transformar processos, mas deve ser permanentemente repensada. Essa atitude reflexiva é necessária justamente para que a dimensão “formal” da escola, seu componente constitutivo, não se torne, no lugar de um processo libertador e alicerce de um novo humanismo, um caminho para a produção de polarizações e radicalismos, que tanto pesam sobre a sociedade. Preocupante também é a quantidade de diplomados sem capacidade para liderar e impulsionar processos, mesmo os mais simples. Trata-se de uma carência que atrasa a superação das muitas crises.

O tratamento inadequado da realidade educacional no país penaliza os estudantes e os processos de ensino. Se a educação é prioridade, torna-se inaceitável a imposição de sacrifícios às instituições educativas e aos seus destinatários: os alunos. Esses sacrifícios comprometem a formação pessoal e profissional. Por isso, espera-se lucidez política e governamental para que problemas criados por outros não imponham dificuldades aos que são esperança do futuro. No conjunto de instituições educativas, deve-se considerar a família, a primeira escola. Indicações oportunas, que precisam ser refletidas, estão na mensagem do Papa Francisco para o 49º Dia Mundial das Comunicações Sociais, celebrado pela Igreja Católica, no mundo inteiro, neste mês de maio. A mensagem sublinha que a família há de ser compreendida sempre como um ambiente privilegiado do encontro na gratuidade e no amor. Por isso mesmo, é uma escola.

Encontro e gratuidade têm que ser aprendidos, vivenciados e exercitados. Essa capacitação, de caráter espiritual, é indispensável para que a sociedade enfrente suas muitas dificuldades e encontre saídas. Não se pode limitar a compreensão da crise econômica, por exemplo, considerando que sua superação passa apenas por números e taxas. A falta de qualidade humanística, em todas as etapas da história, é o nascedouro de desastres. Trata-se de base para os descompassos, fonte de prejuízos na sociedade. Investir na formação humanística, que começa no contexto familiar, eis uma saída no processo exigente para prevenir e superar crises.

Por isso, a Igreja coloca a reflexão sobre a família no centro de suas prioridades. Será realizado em outubro deste ano, em Roma, a partir de convocação do Papa Francisco, o Sínodo dos Bispos que aprofundará essa reflexão. A Igreja é consciente do caráter determinante da família na sua missão e na sua constituição. Essa consciência sobre a importância do contexto familiar precisa ser cada vez mais partilhada por todas as instituições da sociedade, particularmente as governamentais.

A aprendizagem singular e insubstituível da comunicação na escola da família abrange a vivência de dinâmicas que qualificam para que se conviva com a diferença. Isso é exigência fundamental na vida contemporânea. É na família que se aprende a língua materna, uma força que desperta a capacidade de percepção e incita o sentido de viver e de fazer algo de bom e belo. A experiência de se constituir vínculos no contexto familiar é determinante na formação da competência para gerar respostas. É na família que se inicia também a configuração de uma indispensável espiritualidade, sem a qual não se dá conta de viver adequadamente.

Comprometida a instituição familiar, e consequentemente os processos de comunicação, muitos serão os prejuízos. Basta listar e analisar situações em que atores inadequadamente interagem, manifestam incompetência para uma comunicação capaz de gerar o que é bom e belo. A estrutura básica de cada pessoa, que inclui a capacidade para interagir, para ser edificada, depende da família, lugar singular do abraço, do apoio, dos olhares comunicativos, do silêncio, do rir e chorar juntos numa experiência de amor entre pessoas. A família precisa estar mais na pauta cotidiana de instituições e de governos, para que a sociedade não sofra grandes perdas e sacrifícios. O tratamento adequado dessa tão importante instituição é inadiável. Todos devem reconhecê-la como importantíssima escola.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo - Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte

Os filhos estão com excesso ou falta de amor?


Os filhos estão com excesso ou falta de amor?

Quando o assunto é educação, surgem as dúvidas: estamos permeando os filhos pela falta ou pelo excesso de amor?

Diante de um mundo na qual predomina o desequilíbrio econômico, onde alguns países possuem excesso de riqueza e outros a escassez de recursos, as pessoas acabam se acostumando a conviver com essas diferenças e, muitas vezes, deixam de perceber as consequências.

Na formação dos filhos também podemos ver excessos ou escassez nos relacionamentos. Por isso, precisamos nos perguntar como anda o equilíbrio da afetividade nas famílias, sejam elas carentes ou não, e quais consequências tem sido colhidas na vida adulta.

É claro que, como mantenedores das necessidades emocionais e físicas dos filhos, as ações dos pais impactam fortemente na constituição da psique dos filhos. Mas a falta de tempo e o excesso de culpa têm permeado muitas relações e trazido muitos sofrimentos. Por isso, é momento de estar mais presente e não assumir a responsabilidade das decisões que são tomadas pelos filhos, e que não pertencem aos pais.

As mães, no papel maternal, geralmente propiciam vínculos afetivos e amor incondicional a seus filhos, e mesmo não concordando com atitudes deles, não os abandona nem se rendem ao impossível. Entretanto, a escassez de tempo, a necessidade de vencer no mundo profissional e a opção de deixar outra pessoa em seu lugar pode levá-las a um vazio. Ao contrário, uma mãe que não trabalha, não têm projetos, pode passar um tempo em excesso com as crianças, levando-as [as mães] a considerar a maternidade um peso. Depois, por serem responsáveis pela felicidade da mãe, muitos filhos adultos apresentam uma conta afetiva alta, que os impede de seguir a vida. O equilíbrio na dose de afeto maternal vai definir quem os filhos serão emocionalmente.

Outro ponto importante é o relacionamento do casal, pois é a mãe quem abre espaço para a relação entre pai e filho (a); muitas vezes, as esposas competem pelo amor do filho, atrapalhando a criação de vínculos que vão organizar a afetividade dos filhos com os pais. É importante que o casal invista na vida a dois e também no convívio com os filhos, são amores diferentes que, bem equilibrados, se completam. Filhos são importantes, mas não são a única prioridade do casal.

Os pais, no papel masculino, contribuem com o cumprimento da lei, fazem o corte entre mãe e filho, permitindo que este se enxergue como indivíduo. Quando chega o tempo do filho buscar novos horizontes, faz o convite para sair do ninho em busca da liberdade, a qual traz responsabilidades e direitos. Escolhas fazem parte do processo de amadurecimento. Alguns pais excedem nas leis e gastam pouco tempo na convivência que ajudaria nesse aprendizado, ou, por insegurança, dificultam a saída de casa, criando filhos dependentes e frágeis.

É logico que as crianças não restringem suas relações apenas aos pais. À medida que crescem, expandem o convício social, mas, na primeira infância, as referências que marcam a existência das pessoas provêm do ambiente familiar.

A demonstração de afeto varia de pessoa para pessoa, sendo pais ou filhos. Alguns capricham no carinho, outros investem na educação ou têm um senso prático de solucionar problemas, não importa a forma, mas a criança precisa se sentir amada e valorizada para poder amar e valorizar o outro.

O texto nos leva a uma reflexão: o relacionamento com os filhos tem sido permeado pela escassez ou abundância? Ou, então, encontrou o equilíbrio que, possivelmente, formará adultos mais saudáveis e comprometidos com o equilíbrio do mundo.
Ângela Abdo - É coordenadora do grupo de mães que oram pelos filhos da Paróquia São Camilo de Léllis (ES)

19 de junho de 2015

Como faço para ouvir Deus?


Como faço para ouvir Deus?

Você já ouviu a voz de Deus? Como saber se realmente é Ele quem fala e não nós mesmos?

No início da Bíblia, encontramos um verbo vinculado a Deus em todo o Livro Sagrado: “Deus disse” (Gn 1,3). Ao longo de toda a Escritura, podemos observar que o Senhor mantém uma relação íntima com o homem, a qual é baseada no diálogo. O próprio Livro da Bíblia é um meio que Ele usa para nos falar. Mas você já ouviu a voz de Deus? Como saber se realmente é Ele quem fala, e não nós mesmos? Ele fala apenas com pessoas perfeitas?

Podemos nos assustar ao observarmos a vida dos santos e notar o nível de diálogo que eles mantinham com o Senhor. Santa Teresa, por exemplo, em certa ocasião em que viajava, caiu em uma poça de lama. Então, olhou para o céu e disse: “Senhor, por que tantas dificuldades no caminho se estou cumprindo Tuas ordens?”. O Senhor lhe respondeu: “Teresa, não sabes que é assim que trato os meus amigos?”. Ela retrucou: “Ah, Senhor, então é por isso que tens tão poucos!”.

Deus deseja ser próximo do homem, criar intimidade e amizade com ele. Observemos, por exemplo, a relação de Deus com Adão. Ao criá-lo, o Senhor permitiu que ele desse nome a toda criação e o alertou sobre o fruto proibido. O Senhor Deus também lhe disse: ‘Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada’” (cf. Gn 2,15s). Vejamos a proximidade com que o Senhor conservava o homem! Ele nos criou para convivermos em Sua intimidade.

Existe um caminho a ser seguido para chegar a uma escuta íntima de Deus, porém, é um caminho, não uma fórmula, pois há grande erro em buscar uma uniformidade quando queremos escutar o Senhor. Ele nos fez únicos e nos ama com um amor particular, portanto, nos fala de forma individual. O Senhor usa da linguagem que estamos acostumados, fala no idioma que compreendemos.

Vamos, então, observar alguns passos importantes nessa experiência:

– Buscar a Deus. Isso é obvio, mas precisa ser dito. Não ouviremos o Senhor se não o buscarmos. Deus é uma pessoa, e quando queremos dialogar com uma pessoa, procuramos meios para chegar a ela. Busque momentos para estar com o Senhor, só com Ele, sem celular, sem música, sem leitura, apenas com o Pai. “Quando rezar, entre no seu quarto, feche a porta e reze ao seu Pai” (Mt 6,6).

– Fale o que você quer falar. Muitos sofrem, pois ficam com a cabeça cheia durante a oração, pensam em muitas coisas, veem muitas situações e se distraem facilmente. O que pode nos ajudar é, ao chegarmos à capela, falarmos para Deus tudo o que queremos, gastar uns dez minutos de limpeza da mente, falar do cansaço, do trabalho, da família, e, após isso, silenciar um pouco.

– O desejo de ouvir, às vezes, atrapalha. Muitas vezes, criamos ansiedade e expectativas que nos atrapalham. A tensão não colabora para que nosso coração encontre o coração de Deus. É importante que haja liberdade em estar com Ele, sem obrigações, sem cobranças. Não cobre Deus para que fale, e não se cobre uma atitude ou a necessidade de fazer alguma coisa. Esteja livremente junto d’Ele.

– Silencie. Estamos falando de diálogo, uma grande dificuldade da relação humana, pois não aprendemos a ouvir o outro. A agitação e o ritmo acelerado que a sociedade vive nos deixam sempre apressados, querendo tudo para agora. Assim, não deixamos as pessoas falarem, antecipamo-nos à fala do outro, queremos adivinhar o que ele vai dizer. Do mesmo jeito que agimos com as pessoas, na agitação, transferimos para Deus. Após um momento de oração, de dizer tudo o que quer a Deus, é importante dar tempo para que Ele fale, é necessário silenciar no ambiente e em nosso coração. O princípio de uma boa escuta é dar tempo para o outro falar.

Deus realmente falou comigo?

Deparamo-nos, às vezes, com essa dúvida. Para isso, precisamos sempre ter em mente que o Senhor não se contradiz. Por isso, se aquilo que ouvirmos for contra alguma lei que Ele já instituiu, contra o amor ao outro ou contra a Igreja, ficará fácil saber que não vem d’Ele.

Conforme criamos intimidade com o Senhor, reconhecemos com mais rapidez Sua voz em nossa consciência. Ele também nos fala nos fatos, na Bíblia, por meio de uma música ou por intermédio de outra pessoa. Particularmente, eu já O ouvi num momento de contemplação a Jesus Eucarístico. O Senhor também já falou diretamente ao meu coração. Em um outro momento, Ele respondeu minha pergunta por meio de um fato: eu queria saber se era da vontade d’Ele que algo acontecesse em minha vida, e as coisas se esclareceram de tal forma, que eu vi a mão de Deus agindo sobre mim.

Diante das experiências que trago, há um ponto importantíssimo que prova, realmente, se Deus falou comigo. Quando Ele fala, Suas palavras ecoam por muito tempo, e o que Ele diz se cumpre. “O que disse, executarei; o que concebi, realizarei” (Isaías 46,11). Deus é fiel ao que diz, e o que Ele fala fica gravado em nós, não se apaga, porque Sua voz ecoa em nossa existência.

O Senhor deseja cultivar, com cada um de Seus filhos, uma relação pessoal e íntima. Reze e peça essa intimidade ao Espírito Santo, pois Ele é o mediador.

Que o Senhor nos dê um coração aberto e ouvidos atentos à Sua voz.
Paulo Pereira - José Paulo Neves Pereira. É missionário da Comunidade Canção Nova e atua no setor de Midias sociais da Canção Nova. 

18 de junho de 2015

Ainda existem homens de Deus?


Ainda existem homens de Deus?

Mesmo que pareça raridade, existem sim homens tementes a Deus

Essa pergunta é geralmente feita por mulheres que desejam namorar e casar com um homem que seja diferente da maioria que se vê hoje. Entendamos “homens de Deus” como aqueles que assumem compromissos e responsabilidades, que sejam cavalheiros. Resumindo: dons masculinos que estão intrínsecos no ser, por isso, são naturais (podemos até dizer que são obrigações do homem, já que todas essas qualidades são desdobramentos do amor). E se existe a capacidade de amar, existe a necessidade de eles serem assim. E realmente está difícil encontrá-los hoje em dia.

Se pensarmos em tudo isso que é o natural, ainda acrescido de intimidade com Deus, amor às Suas Leis e desígnios, um rapaz que tenha a sensibilidade de perceber as realidades eternas, sobrepondo-se às suas circunstâncias e aos planos humanos, pode parecer ainda mais impossível.

Às vezes, você menina, até achou que estava pedindo demais, não é mesmo? Contudo, esse é o desejo do Altíssimo para você, mulher de Deus. Não se deixe conformar com menos! Ainda existem homens de Deus? É claro que existem homens tementes ao Senhor! Mesmo que lhe pareça raridade, não há dúvidas de que há muitos rapazes por aí que são de Deus, que são homens de oração e levam uma vida coerente com o Evangelho. Alias, só pertencem mesmo ao Senhor aqueles que demonstram essas características com atitudes e com a vida.

Então, você pode estar pensando: “A resposta não parece ser simples assim! Se existem homens de Deus, porque é tão difícil os encontrar?”

Realmente, não vemos muitos homens honrados, porque a mentalidade do mundo veio corromper toda a beleza do amor, tanto em homens quanto em mulheres. Deixe eu lhe contar um segredo: também é muito raro encontrar uma mulher de Deus.

O primeiro ponto que “pega”, quando o rapaz quer ser fiel ao Senhor e começa a namorar, é a castidade. Muitas vezes, e digo muitas mesmo, são as namoradas que não estão querendo viver a castidade, são elas que provocam o rapaz. Mas não estamos aqui para discutir o que um sexo faz de errado e o outro também, nem para mensurar quem tem mais culpa. A principal mensagem que quero deixar é a seguinte: homens de Deus são atraídos por mulheres de Deus e vice-versa.

Pessoas convertidas de verdade não se deixam levar só por um rostinho, um corpinho, um sentimento de fogo de palha ou outra superficialidade. É aí que já filtramos muitos candidatos. Sim, é um processo racional, o qual você tem de aprender a fazer ou vai se deixar levar por qualquer um. Não diminua suas chances, é você quem deve escolher melhor. Em todo início de relacionamento devemos encontrar afinidades na outra pessoa, e que essas afinidades sejam em torno das coisas do Senhor.

Moça, seja de Deus; assim, os homens que pertencem a Ele encontrarão você! Que sua vida seja um testemunho do amor divino. O rapaz reconhecerá em você uma beleza diferente, sem os apelos da sensualidade. Preste atenção em suas roupas, de verdade! Quando nós homens nos encantamos com as curvas de uma mulher, nossos instintos sexuais são provocados, e não nosso interesse no que há em sua alma. Percebemos uma beleza que vem mais pela aparência do que somente pela doçura.

Depois, quando nos aproximarmos mais, sua fidelidade nos sugestiona uma mulher forte. Então, somos impulsionados a ser ainda mais fiel e forte, não para competir, mas para fortalecer nossa relação com o Senhor e com nós mesmos. Essa sua fidelidade e força nos relembra e reafirma nosso dom de proteger vocês mulheres. Sabemos que esses dons (proteção, fidelidade e força) só os encontraremos em Deus, e queremos buscá-los ainda mais. A mulher se torna sustento ao homem por aquilo que ela é, sem forçar nada.

Por último, quando temos a certeza de que aquela mulher é de Deus, convencemo-nos de que não temos o direito de extrair nem tocar no que nela pertence exclusivamente ao Senhor. Nesse ponto, já nos comprometemos a respeitá-la e amá-la para sempre, porque enxergamos que ela porta algo sagrado. Seu corpo, seus dons, suas aspirações, sua dignidade e alma, antes de serem nossos, são de Deus. O Senhor se antecipou nela para nos encontrar e, agora, Ele nos põe como guardião do nosso sagrado. O homem aprende a salvaguardar a sensibilidade, a feminilidade, a sexualidade das mulheres e até aquilo que não entendem em vocês. Assim, sentimo-nos homens ainda mais completos. Isso expressamos não só na castidade, mas, em grande parte, por meio dela, desde o namoro até no casamento (também na castidade própria de casados).

Não estou, com tudo isso, jogando a responsabilidade para as mulheres, apenas digo que vocês são um grande sinal da essência da verdadeira beleza, a qual é sustentada por uma fidelidade que gera força, uma força que vem daquilo que é sagrado: o amor. Os homens de Deus precisam desse amor.
Sandro Arquejada - É missionário da Comunidade Canção Nova.

O que é o Apocalipse?


O que é o Apocalipse?

A interpretação deste gênero literário requer critérios precisos 

A palavra grega “apokálypsis” quer dizer “revelação”. O Apocalipse quer incutir nos leitores uma confiança inabalável na Providência Divina em tempos difíceis para os cristãos. É uma forma literária, que era usada em Israel, repleta de simbolismos de números, animais, aves, monstros etc., e que não é fácil de ser hoje entendido. As páginas mais tipicamente apocalípticas do Antigo Testamento são os capítulos 7 a 12 do livro de Daniel.

Algumas características do gênero apocalíptico são:

As frequentes intervenções de anjo: aparecem como ministros de Deus ou como intérpretes das visões ou revelações que o autor do livro descreve (Ez 40,3; Zc 2,1s; Ap 7, 1-3; 8, 1-13). Simbolismo rico, singular. Animais podem significar homens e povos; feras e aves representam geralmente as nações pagãs; os anjos bons são descritos como se fossem homens, e os maus como estrelas caídas.

O recurso aos números 3, 7, 10, 12 e 1000 são símbolos de bonança; 3 1/2, símbolo de tribulação. Forte nota escatológica. Os apocalipses se voltam todos para os tempos finais da história, com intervenção solene de Deus em meio a um cenário cósmico, o julgamento dos povos, o abalo da natureza, a derrota dos maus e a exaltação dos bons.

Por que Jesus fez essa Revelação a São João, que estava preso na ilha de Patmos, no mar Egeu?

No fim do século I, era cada vez mais difícil a situação dos cristãos no Império Romano por causa da terrível perseguição dos imperadores. Tudo começou com Nero, no ano 64, e continuou na terrível perseguição de Domiciano (81-96). Muitos cristãos foram martirizados, mas muitos também estavam desanimados, abandonavam a fé (apostasia) e aderiam às práticas pagãs. Isso pode ser notado nas mensagens às sete igrejas da Ásia Menor: Éfeso, Laodiceia, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Filadélfia e Sardes. Foi em tais circunstâncias sombrias que São João escreveu o Apocalipse.

O livro visava encorajar os fiéis. O Apocalipse é, basicamente, “o livro da esperança cristã” ou da confiança inabalável no Senhor Jesus e Suas promessas de vitória. Ele quer anunciar a “vitória do bem sobre o mal”, do reino de Cristo sobre o reino do mal, especialmente para aquele momento muito difícil em que se encontrava a Igreja.

Nem todo o livro do Apocalipse está redigido em estilo apocalíptico. Compreende duas partes anunciadas em Ap 1,19-3,22, revisão de vida das sete comunidades da Ásia Menor às quais São João escreve em estilo pastoral; Ap 4,1-22,15, as coisas que devem acontecer depois. Esta é a parte apocalíptica propriamente dita para a qual se volta a nossa atenção: 4,1-5,14, a corte celeste com sua liturgia. O Cordeiro “de pé, como que imolado” (5,6), recebe em suas mãos o livro da história da humanidade. A mensagem principal é esta: “Tudo o que acontece no mundo está sob o domínio do Senhor, que é o Rei dos séculos”.

A parte apocalíptica do livro abre-se com uma grandiosa cena de paz e segurança, qualquer quadro de desgraça está subordinado a isso.

O núcleo central do sentido do Apocalipse apresenta, sob forma de símbolos, a luta entre Cristo e Satanás, luta que é o eixo de toda a história, e que já tem Cristo como vencedor, apesar dos sofrimentos dos cristãos. Os sete selos (septenários) revelam essa luta. A seguir, de 17,1 a 22,17, após os três septenários, ocorre a queda dos agentes do mal; 17,1-19,10: a queda de Babilônia (símbolo da Roma pagã); 19,11-21: a queda das duas bestas que regem Babilônia (o poder imperial pagão e a religião oficial do império romano); 20,1-15: a queda do Dragão, instigador do mal, satanás.

A seção final (21,1-22,15) mostra a Jerusalém Celeste, Esposa do Cordeiro, o oposto da Babilônia pervertida. Os versículos 22,16-21 constituem o epílogo do livro.

O Apocalipse de São João apresenta os grandes protagonistas da história da Igreja: a Mulher e o Dragão no capítulo 12; a Mulher-Mãe, que exerce sua maternidade por toda a história da salvação, se consumará na Jerusalém celeste, a Esposa do Cordeiro (Ap 21 s). As duas bestas, manipuladas pelo Dragão, sendo que a primeira sobe do mar e representa o poder imperial perseguidor (Roma); a segunda Besta sobe da terra (Ásia Menor), onde está o culto religioso do Imperador. (cf. Ap 13,1 e 11).

A batalha entre Miguel e o Dragão não corresponde à queda original dos anjos, mas significa a derrota de satanás, vencido quando Cristo venceu a morte por Sua Ressurreição e Ascensão. Deus lhe permite tentar os homens, nesses séculos da história da Igreja, a fim de provar e consolidar a fidelidade deles. Satanás só age por permissão de Deus.

Em resumo, as calamidades que o Apocalipse apresenta não podem ser interpretadas ao pé da letra, é uma linguagem figurada. Unindo as aflições na terra e a alegria no céu, quer dizer aos seus leitores que as tribulações desta vida estão de acordo com a Sabedoria de Deus; foram cuidadosamente previstas pelo Senhor, dentro de um plano harmonioso, onde nada escapa, embora não entendamos.

A mensagem mais importante é esta: ao padecer as aflições da vida cotidiana, os cristãos não devem desanimar. Foi uma forma de consolo que o Apocalipse queria incutir aos seus leitores; não só do séc. I, mas de todos os tempos da história; isto é, os acontecimentos que nos atingem aqui na terra fazem parte da luta vitoriosa do bem sobre o mal; é a prolongação da obra do Cordeiro que foi imolado, mas, atualmente, reina sobre o mundo com as suas chagas glorificadas (cf. c.5). Os cristãos na terra gemem, mas os bem-aventurados na glória cantam aleluia.

No céu, os justos não se desesperam com o que acontece com os que sofrem na terra; antes, continuam a cantar jubilosamente a Deus, porque percebem o sentido das nossas tribulações. O Apocalipse quer mostrar que essa mesma paz do céu deve ser também a dos cristãos na terra, porque, embora vivam no mundo presente, já possuem em suas almas a eternidade e o céu em forma de semente, pela graça santificante, que é a semente da glória celeste.

Assim, o Apocalipse oferece uma imagem do que é a vida do cristão e a vida da Igreja: uma realidade ao mesmo tempo da terra e do céu, do tempo e da eternidade. A vida do cristão é celeste, deve ser tranquila, como a vida dos justos que no céu possuem em plenitude aquilo mesmo que os cristãos possuem na terra.

A mensagem básica do Apocalipse é esta: as desgraças da vida presente, por mais aterradoras que pareçam, estão sujeitas ao sábio plano da Providência Divina, a qual tudo “faz concorrer para o bem daqueles que O amam” (Rm 8,28).

O Apocalipse finaliza com chave de ouro, num diálogo amoroso impressionante entre a Esposa, que é a Igreja, animada pelo Espírito Santo, e o seu Esposo no céu. É um diálogo que deve ser vivido por cada um dos cristãos que desejam o encontro com Cristo, um encontro que já começa na Eucaristia: João repete as palavras de Jesus no Evangelho (Jo 7, 37): “Quem tiver sede venha!” O Espírito e a Esposa dizem: Vem!”.
Felipe Aquino - Canção Nova

Um católico pode ser cremado?


Um católico pode ser cremado?

Muitas são as pessoas que morrem e têm como último pedido que seu corpo seja cremado
Uma hora ou outra, todos vão se deparar com a morte. Mas nós podemos ter um desejo ou fazer um pedido aos nossos familiares sobre o que eles devem fazer com nosso corpo? A verdade é que, depois de mortos, não podemos tomar decisões. Mas e a cremação, é possível? Vamos partir de outro ponto: a vida. De maneira geral, a vida é um dom precioso, mais ainda a vida do ser humano, afinal somos “imagem e semelhança” (Gn 1,26) do Senhor. Por essa razão, devemos ter todo cuidado, todo amor para com a nossa vida e a do próximo. Devemos ter os devidos cuidados no tocante à espiritualidade e à saúde, realizar exercícios físicos, ter uma boa alimentação.

É muito bom ver pessoas que cuidam do exterior e do interior. O cuidado com si mesmo é importante e recomendável pelo apóstolo Paulo, pois somos templos do Espírito Santo (cf. 1Cor 6,19), mas é claro que devemos ter cuidado com a vaidade!

Deus mora no ser humano, habita cada pessoa. A vida é dom divino, assim como o corpo também o é. E porque Deus mora na pessoa humana, cada homem deve, com gratidão, zelar pela vida e pelo corpo.

Com a morte da pessoa, o cuidado com ela continua?

Sim, deve continuar. A dignidade e o respeito pelo corpo do ser humano estão presentes na Sagrada Escritura, pode-se verificar que, desde o Antigo Testamento, os homens eram colocados em sepulturas (Gn 23,4), inclusive Abraão quis para sua esposa “a melhor sepultura” (23,6). Já no Novo Testamento, nosso Senhor Jesus Cristo foi colocado num sepulcro novo de José de Arimateia (Lc 23,51-53).

Mas quando se fala de cremação do corpo, algumas pessoas pensam que é um pecado, já que o corpo é templo do Espírito. “A Igreja conta esses que desejam ter o corpo cremado”.

Na verdade, a Igreja não é contra a cremação; ao contrário, até a permite. Há casos em que a cremação é necessária devido a alguma doença grave do falecido ou no caso de ele ter morrido fora de seu país e a família não teve condições de transportar imediatamente o corpo. Há também casos em que a pessoa desejava mesmo ser cremada.

No entanto, uma coisa precisa ficar clara: a cremação não deve ter fins supersticiosos, nem de uma crença que não condiz com a fé católica. O Catecismo nos ensina: “A Igreja permite a cremação, a não ser que esta ponha em causa a fé na ressurreição dos corpos” (n. 2301).

Às vezes, alguns filmes apresentam cenas muito emocionantes, quando o ator espalha as cinzas da pessoa amada como se a presença dela fosse ficar por ali vagando. Essa não é a nossa fé. Como católicos cristãos, nossa fé é de ressurreição. Quando se faz a opção pela cremação, seja por um pedido da pessoa ou por questão de saúde, tal atitude não deve negar a fé na ressurreição.
Padre Marcio - É sacerdote na Comunidade Canção Nova.

15 de junho de 2015

O dom do conselho

O dom do conselho

O dom de conselho nos ajuda a percebermos e escolhermos a melhor decisão para o nosso bem espiritual

Deus destinou o homem e a mulher para fins superiores, para a santidade e para a coerência entre fé e vida quotidiana. “Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos escolheu Nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante de seus olhos” (Ef 1,4). Cada um de nós deve ajudar os outros a atingir essa meta, que é vontade de Deus.

Para que possamos auxiliar o próximo com pureza e sinceridade de coração, devemos pedir a Deus esse precioso dom, com o qual O glorificaremos aos mostrarmos ao irmão o caminho da salvação e da santidade. É sob a influência desse ideal que a mãe ensina o filho a rezar, a praticar os primeiros atos das virtudes cristãs, da caridade, da obediência, da penitência e do amor ao próximo.

O dom de conselho aguça o nosso juízo. Com a sua ajuda, percebemos e escolhemos a decisão que será para maior glória de Deus e nosso bem espiritual. Não é fácil tomar uma decisão de importância, quer seja sobre a vocação, a profissão, os problemas familiares ou sobre qualquer outra matéria das que devemos enfrentar continuamente. Sem o dom de conselho, o juízo humano é demasiado falho.

Afirmam os teólogos que Deus não deixa faltar às suas criaturas o que lhes é necessário, e “tudo faz com número, peso e medida” (cf. Sb 11, 20). Em tudo resplandece a sua sabedoria. Por isso é que Deus é providente, providencia os meios para que cada criatura chegue retamente ao seu fim devido.

Mas para realizarmos determinada atividade, exercemos um processo mental que tem por objetivo examinar cuidadosamente não só a conveniência dessa atividade, mas também todas as circunstâncias em que ela se deve desenrolar. Muitas vezes, esse processo se efetua sem que dele tomemos plena consciência. Quando nos vemos diante de uma tarefa mais exigente do que as de rotina, a decisão é mais difícil e, por isso, torna-se mais consciente; a mente tem que se esforçar mais para fazer a opção mais adequada, e a decisão não é tão rápida. Muitas vezes, será necessário recorrer ao conselho de outra pessoa mais experimentada.

É por meio da virtude da prudência que cada cristão delibera sobre o que deve e não deve fazer. É a prudência que avalia os meios em vista do respectivo fim. Em correspondência à virtude da prudência, existe o dom do conselho, que permite ao cristão tomar as decisões oportunas sem a fadiga e a insegurança que, muitas vezes, caracterizam as decisões da virtude da prudência. Essa por si não basta para que o cristão se comporte à altura da sua vocação de filho de Deus, vocação esta que exige simultaneamente grande cautela e coragem.

Nem sempre a virtude humana vê nitidamente o modo de proceder corretamente. É preciso, pois, que o Espírito Santo lhe inspire a reta maneira de agir no momento oportuno.
Assim o dom do Conselho aparece como um regente de orquestra que coordena divinamente todas as faculdades do cristão para que tenha uma atividade harmoniosa e equilibrada.

Diz a Escritura que há um tempo exato para cada atividade (Ecl 3,1-8); fora desse momento preciso, o que é oportuno pode tornar-se inoportuno. Ora, nem sempre é fácil discernir se é oportuno falar ou calar, ficar ou partir, dizer ‘sim’ ou ‘não’. Nem as pessoas prudentes, após muito refletir, conseguem definir com segurança o que convém fazer. Ora é precisamente para superar tal dificuldade que o Espírito move o cristão mediante o dom do conselho.

“Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus: tempo para nascer e tempos para morrer; tempo para plantar e tempo para arrancar o que foi plantado; tempo para matar e tempo para curar; tempo para demolir e tempo para construir.”
Felipe Aquino - Canção Nova

Conheça o poder de suas palavras


Conheça o poder de suas palavras

Palavras podem nos devolver a paz ou nos roubar o direito da felicidade

Nem sempre é fácil fazer da palavra um bálsamo que cure as feridas e as marcas de um tempo de dores e sofrimentos. Muitas palavras chegam como tempestades arrancando a paz da alma. Outras chegam como uma brisa serena, refrescando o calor das emoções que esperam o momento crucial para explodir em momentos de raiva.

Jesus fez da palavra uma maneira humana de devolver a vida aos territórios da alma que se encontravam secos e sem esperança. Nas Palavras de Cristo, há a chance de recomeçar e a alegria das possibilidades escondidas no recomeço que dependia da acolhida de cada ouvinte. No vocabulário da vida, cada pessoa encontrava o direito de trilhar outros contextos de uma história que poderia ser reescrita com as marcas de um novo tempo.

Ao longo do dia, pronunciamos uma infinidade de palavras. Algumas nascem de nossas revoltas e contradições; outras já estavam guardadas no baú de nossas maldades, esperando somente o momento de desferirem o golpe fatal que deixaria marcas eternas na alma de alguém. O dicionário da alma pode produzir frutos de amor ou destruir canteiros de sonhos.

Quando o filho pródigo retornou para a casa do pai em busca de acolhimento, encontrou palavras de amor. O pai não lhe pediu explicações, pois ao olhar para o filho, já sabia que sua vida tinha se tornado uma tristeza. Não era preciso palavras naquele momento, apenas o olhar amoroso já expressava o que era necessário.

Em muitos momentos, perdoamos a quem nos ofendeu. No entanto, precisamos, antes, apresentar uma lista dos erros de quem nos magoou. O perdão é concedido mediante a lembrança de um passado que não deu certo. Antes do perdão surgem as palavras que fazem a ferida da alma sangrar com mais força.

Diante do pecado da mulher flagrada em adultério, Jesus não pediu explicações. Perdoou e incentivou-a a não pecar novamente. O perdão foi concedido sem uma carta de acusações. A palavra de ternura a libertou dos erros passados e ela teve a oportunidade de recomeçar a sua história a partir de novos parágrafos de esperança.

Nossas palavras somente serão um bálsamo quando o vocabulário de nossa alma tiver a ternura da misericórdia do amor de Deus. Quem faz das palavras uma arma para ferir o próximo cria dentro do seu próprio coração um campo de batalhas que aos poucos vai exterminando a si mesmo.
Padre Flávio Sobreiro

A importância do bom humor nos relacionamentos


A importância do bom humor nos relacionamentos

Quando o assunto é relacionamento, o bom humor é um dos ingredientes que não podem faltar

Sorrir é uma das melhores coisas da vida e não há dúvidas em relação a isso. Mas a verdade é que nem sempre lembramos de sorrir! Envolvidos pelos problemas e pelas exigências que nos cercam, muitas vezes, passamos o dia tensos, com rugas na testa, sem dar um sorriso sequer, perdendo assim, a oportunidade de proporcionar benefícios à nossa saúde e melhorar a qualidade de nossos relacionamentos. Aliás, quando o assunto é relacionamento, o bom humor é um dos ingredientes que não podem faltar.

Pode ser que o casal não tenha dinheiro, casa própria, carro nem tantas outras coisas que muitos defendem como condição para a felicidade, mas se esse casal tem amor e bom humor, ele aprende a aproveitar bem o tempo e é feliz aqui e agora.

Até porque, segundo o cardiologista Dr. Antônio Carlos Lopes, da Universidade Federal de São Paulo, “um indivíduo bem-humorado sofre menos e é mais feliz, porque produz mais endorfina, um hormônio que relaxa”. E não para por aí. O médico explica também que a endorfina aumenta a tendência de ter bom humor. Ou seja, quanto mais bem-humorado você está, maior é sua disposição e, consequentemente, mais bem-humorado você fica. Bom para você, melhor ainda para quem está ao seu lado, porque o bom humor é contagiante.

Já percebeu que, quando alguém tem a coragem de romper os paradigmas e dar uma boa gargalhada, queremos logo saber qual o motivo e ficamos ansiosos para sorrir juntos? É que sorrir torna a vida mais leve e as relações também. Aliás, a leveza é um dos primeiros impactos positivos que o bom humor proporciona numa relação. Por isso, apresento aqui algumas das inúmeras atitudes práticas que podem colaborar para que o bom humor triunfe entre você e seu amor:

1- Aproveite as oportunidades: Ninguém tem uma vida “cor-de-rosa” o tempo inteiro, é claro! E isso não seria nem mesmo normal. Risos e lágrimas sempre se entrelaçam enquanto vivemos. Então, quando perceber que o bom humor está lhe estendendo a mão, segure-o com todas as forças e aproveite para curtir a oportunidade com quem você ama.

Deem rizadas juntos, brinquem, contem casos, cantem, dancem e sorriam sem economizar. Tenho certeza que esses momentos serão sempre guardados como os mais importantes da vida a dois. E mais, cada vez que lembrar do que viveram juntos, sentirá vontade de rir novamente, mesmo que esteja sozinho andado pela rua. Às vezes, acontece isso comigo, e é muito bom! Quem nos vê sorrindo, às vezes, ri também e lucramos com isso. Então, fique atento e não perca as oportunidades de sorrir!

2- Quebre o gelo: Quando o clima está pesado e alguém faz um comentário engraçado, geralmente consegue tirar o foco do problema e alcançar o grande prêmio, que é melhorar o ambiente e a disposição das pessoas. No relacionamento, isso é muito importante, principalmente quando os dois estão cansados e resolvem ficar tensos e calados. Um imagina o que o outro está vivendo, mas, por uma razão qualquer, acabam silenciando também; então, o silêncio reina, e, neste caso, isso não é bom. Seja você o primeiro a descontrair, pois assim, os dois sairão ganhando e o amor agradecerá. Fazer “tempestade em um copo de água” não é sábio nem resolve o problema. Então, quebre o gelo e torne seu relacionamento muito melhor.

3- Não brinque com coisas sérias: Ter bom humor não significa ser inconveniente e buscar graça onde não existe. Uma piada ou um comentário “mesmo que seja engraçado”, fora de hora, pode ferir profundamente a outra pessoa. Para evitar isso, procure compreender como o outro se sente e o que realmente precisa no momento. Às vezes, mais do que sorrir, a pessoa está precisando é de um ombro amigo para chorar, e você ganhará muito se descobrir isso antes de usar, em primeira mão, o bom humor.

4- Viva cada coisa ao seu tempo: Partilhar os acontecimentos do dia com quem amamos é bom e edifica o relacionamento. Porém, é preciso atenção para não ficar falando o tempo inteiro a respeito de trabalho quando se encontram. A Palavra de Deus ensina que “há um tempo para cada coisa” (Ecle 3); então, é preciso deixar no trabalho os problemas que ele causa e levar para casa a disposição para viver algo bom com o outro que está a sua espera. Essa disposição interior já é o primeiro passo para viverem ótimos momentos juntos.

E são muitas as alternativas que você pode desenvolver para preservar o bom humor no seu relacionamento e assim encontrar o equilíbrio necessário para viver bem os seus dias. Até porque, segundo pesquisadores, o bom humor reforça também o sentimento de liberdade e sentir-se livre é o maior desejo do ser humano. Agora, consegui-lo em meio à alegria é um presente que está ao seu alcance. Então, não perca tempo, sorria sempre que possível. Sua saúde e seu amor agradecem!
Dijanira Silva - missionária da Comunidade Canção Nova

O amor é construído entre dores e alegrias

O amor é construído entre dores e alegrias

“O amor só é lindo quando encontramos alguém que nos transforma no melhor que podemos ser” (Mário Quintana)

O namoro é o momento do encontro de duas histórias; e todo encontro é sempre delicado. Não se começa a namorar sem uma história familiar, humana, afetiva, social, intelectual, espiritual… Quando homem e mulher se encontram, encontra-se também todo um histórico construído ao longo de muitas estações da vida. Por isso, o namoro precisa de tempo para que o conhecimento da história de cada um seja verdadeiro e profundo.

Namorar não é queimar etapas de um processo. No tempo de namoro, é preciso ter a coragem de não esconder a história um do outro. Quem esconde sua origem esconde-se de si mesmo. É preciso coragem para deixar-se conhecer e ser conhecido. Onde o medo domina o amor se esconde.

Nessas duas histórias que se encontram, há todo um passado que precisa ser partilhado e compreendido. O casal que não compreende o passado um do outro, vai usá-lo,diante das primeiras dificuldades, como argumento para ataques. Amar é também a arte da compreensão. Não há necessidade de concordar com possíveis erros acontecidos no passado de quem está se conhecendo agora, mas é necessária a misericórdia que abraça as fragilidades do outro e lhe dá a oportunidade de recomeçar.

Muitos começam o namoro apaixonados pela perfeição que enxergam naquele que dizem amar. Com o tempo, a perfeição vai dando lugar à realidade. Amor não é paixão, mas sim um estágio muito superior, que é construído entre dores e alegrias. Não existem pessoas perfeitas, mas seres humanos que desejam juntos construir uma história de felicidade apesar de suas limitações, pecados e fragilidades. Somente o casal que se descobre imperfeito poderá buscar a santificação no amor partilhado.

Não há como exigir que o outro ame 100%. Será no processo de conhecimento que ambos vão descobrir quanto cada um aprendeu a amar. Alguns aprenderam a amar 30%, porque a sua história de vida lhe proporcionou somente essa porcentagem. Outros vão amar 50%, e outros ainda apenas 10%. Como encarar e enfrentar essa realidade? Nem sempre será fácil. Exigirá paciência, compreensão, oração e muito amor para ser partilhado. Há disponibilidade interior para aceitar o que o outro pode lhe oferecer de amor no momento? Há misericórdia suficiente para acolher os 30% de amor que o outro pode oferecer? Há paciência para esperar que o amor cresça naquele coração que ainda está em fase de construção?

Há muitos casais de namorados perdidos em seus próprios relacionamentos, pois, quando estavam apaixonados, enxergavam que o outro o amava 100%, mas com o passar do tempo descobriram que só eram amados 20%. Amor é construção diária, é um superar as dificuldades tendo como objetivo a felicidade que abraça com misericórdia duas histórias que decidiram construir uma nova história em comum.

A paixão começa a mostrar os seus limites quando o amor começa a ser mais forte que a perfeição antes vislumbrada. Somente com o amor será possível construir uma vida a dois.
Padre Flávio Sobreiro